sexta-feira, 8 de março de 2019

Jatahy, ex-Município.


                         A antiga Câmara Municipal do Jatahy, na década de 1920.
                         FONTE: Facebook/Cachoeira Paulista em Fotos Antigas.

                   A expansão cafeeira pelo território valeparaibano e o fluxo intenso de tropeiros e viajantes impulsionaram o surgimento de vários povoados com a concessão de sesmarias ao longo do Caminho Novo da Piedade, principalmente no último quartel do século XVIII. Surgiram então diversos ranchos para pouso dos referidos tropeiros que mais tarde se transformariam em Vilas e cidades como Silveiras, Areias, São José do Barreiro, Jatahy, entre outras. Porém, com o advento da ferrovia, muitas localidades, distantes do novo meio de transporte, enfrentaram o ocaso, a decadência e se não conheceram a extinção, foram incluídas no rol das “Cidades Mortas”, parafraseando o escritor Monteiro Lobato. Por outro lado, a inauguração em 1928, da Rodovia Washington Luís, ou Rio - São Paulo (Estrada Velha e Rodovia dos Tropeiros) garantiu uma sobre vida a alguns municípios, mas não por muito tempo. Inclusive, a inauguração desta via de transporte ocorreu em Cachoeira Paulista (então conhecida somente por Cachoeira) no dia 15 de novembro de 1928, por determinação do Presidente da República Washington Luís que compareceu à solenidade batizando a rodovia com seu nome. Mais tarde, no entanto, em 1951 é inaugurada a Rodovia Presidente Dutra e assim como no exemplo da ferrovia, outras cidades entram em declínio. Tanto em um caso como em outro as cidades sobreviventes aproveitam seu passado histórico para atrair e desenvolver o turismo como Bananal, Areias e Silveiras; outras acabam sendo incorporadas a outras municipalidades, perdendo sua independência política como Jatahy que torna-se o foco de nossa análise.
                   De acordo com a análise do ex-prefeito de Cachoeira, Agostinho Ramos, a povoação do Jatahy surgiu à margem esquerda do ribeirão de mesmo nome por volta do ano de 1850. Conhecida também como Sapé, o povoado pertencia à Vila de Lorena e como tal venerava como padroeira Nossa Senhora da Piedade, sendo construída uma igreja para matriz. Conforme mencionado acima, o fluxo intenso de tropeiros e viajantes propiciou o surgimento de casas de negócios na florescente povoação, resultando na criação da Freguesia ou Distrito de Paz, pela Lei Provincial nº. 21, no dia 4 de abril de 1857. O primeiro vigário de Jatahy foi o Padre João Graciano de Faria que realizou o primeiro casamento no local, que foi o de Vicente Ferreira Freire e Joana Maria da Trindade. Ao morrer, aproximadamente em 1861, o Padre Graciano legou a Nossa Senhora da Piedade o terreno que havia obtido através de doação de sesmaria, onde construiu a imensa Casa Paroquial, além da Igreja Matriz e uma fazenda próxima da Estrada Velha. O último pároco de Jatahy foi o Padre Vicente Guaragua em 1888, que ficou louco e internado em um hospício, tendo então a paróquia anexada à de Cachoeira. Mesmo assim, a evolução política do Jatahy prosseguiu e devido à atuação política do Dr. Teófilo Braga, Deputado José Vicente de Azevedo, Coronel Bento da Rocha Soares e do Capitão Antônio Pinto Soares, foi criado o Município em 1889, ainda no Império.
                    A instalação da primeira Câmara Municipal da Vila do Jatahy ocorreu no dia 23 de fevereiro de 1889 com a posse dos vereadores eleitos Romualdo de Oliveira Leite, Pedro Xavier de Araújo, José Lopes de Araújo, José Rodrigues Lima, Estevão de Arão da Silva Vasconcelos e Eduardo Francisco de Toledo. No mesmo dia, após votação interna foi escolhido o Vereador José Lopes de Araújo para Presidente da Casa. Ainda de acordo com Agostinho Ramos, no seu apogeu a Vila do Jatahy possuía quatro máquinas beneficiadoras de café, apesar de este produto estar migrando para outras regiões na época, e praticava transações comerciais consideráveis com municípios vizinhos e com os diversos viajantes que continuavam com sua trajetória. A inauguração da Rodovia São Paulo-Rio em 1928, como já citado favoreceu o Jatahy, mas por curto espaço de tempo.
                     A Revolução de 1930, que culminou com a deposição de Washington Luiz e levou Getúlio Vargas ao poder, remodelou o quadro político brasileiro. Atrelada aos efeitos da crise econômica causa pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, os novos dirigentes políticos da nação aplicam uma série de intervenções nos Estados e municípios a fim de “enxugar” os gastos públicos e restaurar a capacidade econômica do país. Com exceção de Antônio Carlos de Andrada, Presidente de Minas Gerais que apoiou Getúlio, todos os presidentes dos Estados foram depostos e para substituí-los foram nomeados interventores federais. Em São Paulo foi deposto Júlio Prestes, Presidente do Estado e também Presidente da República eleito que deveria suceder Washington Luiz. Para a interventoria paulista Vargas nomeou João Alberto de Lins e Barros. Por sua vez, os municípios também tiveram seus prefeitos depostos do cargo, sendo nomeados outros, pelos interventores, resultando um complexo controle político concentrado nas mãos do chefe da nação. Em 1931, João Alberto emite uma circular notificando aos prefeitos que os municípios que não possuíssem uma renda anual superior a 100:000$000 (cem contos de réis) perderiam sua autonomia. Porém, a Revolução Constitucionalista de 1932 impediu a aplicação do projeto do interventor de Getúlio Vargas.    
                    Todavia, no ano de 1934, no governo de Armando de Sales Oliveira, a questão da renda mínima volta a ser discutido e mantém a circular de João Alberto. Dessa forma, o Município do Jatahy, que não conseguiu a renda exigida foi extinto e todo o seu território incorporado ao de Cachoeira pelo Decreto nº 6.448 de 21 de maio. No dia 15 de junho ocorreu a posse do Jatahy pela Prefeitura de Cachoeira na pessoa de Agostinho Ramos, Prefeito, e João Alfredo Cataldi, Delegado de Polícia, além de autoridades, Estadual e Federal. Embora fosse por força de Lei a anexação do Jatahy por Cachoeira, somente um único funcionário do município extinto, Antônio Pereira Coutinho compareceu à solenidade, devido a ausência do último prefeito de Jatahy, Sr. Tito Franco de Almeida Davies que, provavelmente se recusou a “entregar” pessoalmente a edilidade ao prefeito de Cachoeira. Com a incorporação a Cachoeira, o antigo Município do Jatahy passou a condição de Distrito e em seguida foi dividido em três comunidades que são: Sapé, Santa Cabeça e Jatahy, atualmente bairros de Cachoeira Paulista.
                    Mas havia a questão do Itagaçaba, que integrava o município extinto e incorporado também a Cachoeira. Conforme a análise de Sud Menucci, membro da Comissão que analisava a redistribuição dos municípios no Estado de São Paulo, na década de 1930, o Itagaçaba sempre esteve distante do centro do antigo Jatahy e ficaria muito mais distante da sede nova, a de Cachoeira. O bairro estava muito mais próximo do Município de Cruzeiro, separado apenas pelo Rio Paraíba. Por outro lado, Sud Menucci, mencionado em artigo histórico pelo neto Ralph Menucci, destaca que três balsas operavam no Paraíba, atendendo a população de 600 habitantes, então residentes no Itagaçaba. No dia 22 de fevereiro de 1935 Sud Menucci emite o seguinte parecer, afirmando que,  é “justamente a solução mais absurda a que se propõe neste processo para o caso intrincado dos districtos de paz de Jatahy e Itagaçaba, que formavam, até maio de 1934, o municipio de Jatahy, e pertencem hoje ao municipio de Cachoeira. (...) Mas Itagaçaba fica a 12 kms. de Jatahy e está localizado em frente á cidade de Cruzeiro, de que está separado apenas pelo rio Parahyba. A solução era, como não se tem cansado de o repetir esta Comissão, a sua annexação a Cruzeiro. Solução racional em todo o sentido: entre Cruzeiro e Itagaçaba ha tres balsas funccionando diariamente para o transporte de passageiros (e ha uma velha ponte, sempre promettida, sempre atacada, e sempre... protelada)".  Assim, pelo Decreto-Lei estadual nº 7054, do dia  03 de abril de 1935, é criado o Distrito de Itagaçaba e anexado ao Município de Cruzeiro. O Itagaçaba ficou sendo “cachoeirense” por menos de 12 meses e permanece “cruzeirense” até os dias de hoje. E do antigo Município do Jatahy ainda resta o prédio da extinta Câmara Municipal, atualmente sendo utilizado como uma escola.  Até a próxima.
                                                                                                                    Eddy Carlos.

Dicas para consultas.
RAMOS, Agostinho. Cachoeira Paulista. 1780-1970. 2 volumes. IHGSP. São Paulo, 1971.
REIS, Paulo Pereira dos. Lorena nos Séculos XVII e XVIII. Coleção Cadernos Culturais do Vale do Paraíba. Fundação Nacional do Tropeirismo. Centro Educacional Objetivo. São Paulo, 1988.
FÈLIX, Sandra Regina (Org.). Cachoeira Paulista. Fé, História e Tradição. Noovha América. São Paulo, 2005.
GIESBRECHT, Ralph Menucci. Onde está Jataí? In: blogdogiesbrecht.blogspot.com
 

Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br 

4 comentários:

  1. Apreciei muito este estudo sob as nossas raízes históricas. Vamos continuar o estudo.

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  2. Cidade onde meus bisavós nasceram. Adorei encontrar fatos sobre a cidade.

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    1. Ola boa noite,
      Estou a procura da família de meus bisavós que também nasceram lá, meu Bisavô se chamava Abílio de Oliveira Maciel.

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  3. O site myheritage tem muita informação sobre a Família Marcondes, que tem ligação com Oliveira. Procure por Nicácio Marcondes, que ele tem muita informação. Talvez possa ajudar

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