Estação de Bananal no início do século XX; extraído do site: www.gazetadebananal.com
Em artigos anteriores, mencionamos
que o surgimento da ferrovia tinha como objetivo suprir as necessidades de
transporte das sacas de café produzidas pelos fazendeiros do Vale do Paraíba.
Neste contexto, surgem como já citado, as duas principais que ligavam o Rio de
Janeiro à Cachoeira Paulista e desta à São Paulo e, mais tarde a de Cruzeiro à
Três Corações. Apesar de atenderem à demanda cafeeira a ferrovia chega com um
pouco de atraso, pois no último quartel do século XIX, o solo valeparaibano já
dava sinais de cansaço e desgaste devido às técnicas rudimentares do plantio da
rubiácea. Ainda assim, se a capital política do Império era a cidade do Rio de
Janeiro, a capital econômica era Bananal, tal como atualmente temos Brasília e
São Paulo respectivamente. Os principais cafeicultores de Bananal, conhecidos
como “Barões” do café, possuíam vultosos cabedais, com grandes depósitos nos
bancos ingleses. Dessa forma, quando a Coroa Imperial necessitava de
empréstimos, os banqueiros, principalmente de Londres só realizavam a transação
quando os fazendeiros de Bananal avalizassem os títulos da monarquia
brasileira.
Todavia, mesmo com essa forte
influência, Bananal ficou de fora do itinerário da E.F. D. Pedro II, cujo
traçado ligava o Rio de Janeiro à Cachoeira, então parte do município de
Lorena. Descontentes com tal situação, os fazendeiros resolvem construir sua
própria ferrovia, ligando Bananal a algum ponto da E.F. D. Pedro II,
possibilitando assim o escoamento das sacas de café para o Rio de Janeiro e daí
para o mercado europeu e norte-americano. O ponto escolhido é a Estação Saudade
próximo a Barra Mansa, realizando aí o entroncamento com a principal ferrovia,
autorizada pelo Governo Imperial. Com a união dos fazendeiros foi criada em 1880 a empresa “Estrada de
Ferro do Bananal”, chamada também de “Companhia Bananalense” em reunião
presidida por Laurinho José de Almeida, Visconde de São Laurindo. Para compor a
primeira diretoria foram escolhidos o Doutor João Alves Rubião Jr., Cândido
Ribeiro Barbosa (Barão de Ribeiro Barbosa) e Luciano José de Almeida Valim
(Barão de Almeida Valim). Apesar da empolgação inicial, a empresa, no entanto,
enfrenta dificuldades financeiras, quando é substituída por outra companhia
encabeçada por Dona Domiciana de Almeida Valim, proprietária da Fazenda
Resgate, e seu cunhado José de Aguiar Valim II. Assumindo as obras no ano de 1887, a nova firma conclui
os trabalhos em janeiro de 1889, contando com os engenheiros José Caetano Horta
Barbosa e Machado da Costa.
A intervenção de
Domiciana de Almeida Valim foi crucial para o destravamento das obras causadas
pelas dificuldades iniciais, devido ao prestígio e o respeito que a elite de
Bananal lhe devotava. Domiciana era viúva de Manoel de Aguiar Valim, riquíssimo
cafeicultor proprietário de escravos e que exercia influência e poder sobre os
demais fazendeiros a partir da Fazenda Resgate, e de seu soberbo solar na
cidade. Aliás, Domiciana bancou às próprias expensas, ou seja, do próprio bolso,
um ramal ligando os galpões de armazenagem da Fazenda Resgate direto a Estação
de Bananal. A referida Estação, por sua vez foi importada da Bélgica, sendo
totalmente metálica, incluindo o telhado, de chapas almofadadas duplas,
tornando-se a única no Brasil a ser pré-fabricada no exterior. Somente o
assoalho foi confeccionado com autêntico Pinho-de-Riga. Se a construção da
ferrovia já é considerada uma ousadia de iniciativa privada, a aquisição da
Estação metálica configura-se numa demonstração de opulência, pujança e uma
resposta ao suposto descaso por parte da Coroa, quando do advento da E.F. Pedro
II.
Assim sendo, a
ferrovia dos “Barões”, inaugurada em 1889, ainda no Império, partindo do
entroncamento da “Pedro II” no município fluminense de Barra Mansa, na Estação
Saudade, seguia por Santo Antônio, Cafundó, Rialto, Glória, Três Barras e,
finalmente Bananal, totalizando 26,677 km de extensão. Em 1918, a ferrovia passa a
pertencer à Central do Brasil, sendo encampada pela soma de 649:104$913
(seiscentos e quarenta e nove contos, cento e quatro mil, novecentos e três
réis), através do decreto nº 13.206. Em 1924, passa para o controle da “Oeste
de Minas”, voltando para o domínio da Central em 1931 com o decreto nº 19.602.
Na década de 1960, ela é totalmente desativada. Quanto à magnífica Estação,
depois de atender aos objetivos iniciais, transformou-se em Rodoviária de
Bananal por longo tempo, passou por descaso e abandono até ser restaurada em
meados da década de 1990 e, recentemente a locomotiva “302”, passou por total
processo de restauração. Atualmente, a Estação metálica funciona como centro
cultural do município de Bananal, sendo testemunha de um passado de riqueza,
opulência, escravidão e poder no Brasil Imperial.
.
Eddy
Carlos.
Para
saber mais:
CARVALHO e COSTA, Acrilson de e Levy
Tenório da. A Ferrovia no Vale do
Paraíba: Opulência e Decadência. Trabalho de Graduação em História pela UNIVAP.
São José dos Campos, 1996. edição mimeografada.
CASTRO e SCHNOOR, Hebe Maria Mattos
de e Eduardo. (Orgs.). Resgate, uma Janela
para o Oitocentos. Top Books Editora. S/d.
GRAHAM,Richard. Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX. Ed. UFRJ. Rio de Janeiro, 1997.
SOBRINHO, Alves Motta. A Civilização do Café. Editora Brasiliense. São Paulo, 3ª edição, 1978.
Muito bom o texto. Gratidão,Eddy Carlos.
ResponderExcluir.../...morando em Saudade (Barra Mansa ) viajei por essa ferrovia .... estimo que em 1957 .
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