Há algum tempo, a sociedade brasileira, principalmente o
setor empresarial, discutia constantemente a implantação do Trem de Alta
Velocidade (TAV) na Região Sudeste, destacando aí o Vale do Paraíba. Aguardado
com ansiedade e expectativa, principalmente pelos acionistas dos diversos
consórcios empresariais que almejavam “abocanhar” as licitações governamentais,
o projeto do também chamado “trem-bala” previa a construção de uma moderníssima
ferrovia para ligar as cidades de Campinas, São Paulo e o Rio de Janeiro,
“cortando” todo o Vale do Paraíba, paulista e fluminense. Tal projeto, segundo
o Governo Federal, seria destinado exclusivamente ao transporte de passageiros
e, além das cidades citadas, haveria a possibilidade de uma única parada no
Vale, em Aparecida, devido ao seu potencial turístico religioso. Outras cidades
valeparaibanas também pleiteavam uma estação do TAV, entre elas São José dos
Campos e Taubaté, alegando que possuem ambas, potencial econômico e humano.
Ora, segundo essa linha de raciocínio, Guaratinguetá e Cachoeira Paulista
também ostentam potenciais turísticos religiosos, enquanto que Jacareí,
conhecida como a “capital da cerveja”, também possui potencial econômico; esses
quesitos habilitariam tais cidades a pleitearem, também, uma estação do TAV.
Mas, se todas as localidades argumentarem e conseguirem estações do trem, que
ainda não saiu do papel, o mesmo deixaria de ser de “alta velocidade”,
tornando-se uma ferrovia convencional, só que de passageiros. O projeto de
construção do TAV está orçado em alguns bilhões de reais e, os editais das
licitações arrastam-se desde 2008, em decorrência dos já mencionados grupos
empresariais, exigirem do Governo Federal maior liberdade de ação durante e
após as obras, além do retorno vultoso de seus investimentos.
Entretanto,
enquanto autoridades, empresários e a mídia em geral, discutiam (e ainda
discutem, porém com menos alvotroço) a viabilidade do trem-bala, a atual
ferrovia que faz a ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, hoje
privatizada, opera abaixo de sua capacidade, transportando somente cargas. À
exceção de Jacareí, Guararema, Mogi das Cruzes, que foram excluídas após a
variante Parateí-Pagador Andrade, a antiga estrada de ferro “corta” todas as
cidades em território valeparaibano e poderia ser melhor utilizada para o
transporte de passageiros, ainda que turísticos, sejam de qualquer tipo,
religioso, cultural, histórico, etc. Algumas estações , apesar de antigas,
estão em condições de utilização, como a de Cruzeiro, Queluz, Lavrinhas,
Lorena, Guaratinguetá, Aparecida, Taubaté e São
José dos Campos. As demais, lamentavelmente estão abandonadas e em
estado precário como a de Engenheiro Passos, Cachoeira Paulista – a maior no
Vale do Paraíba – entre, outras. Recuperar tais estações e reativar os trens de
passageiros ficaria, com certeza, bem mais em conta do que investir no
trem-bala e, todas as cidades valeparaibanas poderiam usufruir desse meio de
transporte barato que é o trem.
Por
outro lado, a morosidade em decidir se constrói ou não o referido TAV, nos faz
refletir recordando que no passado, o governo brasileiro já cometeu fiascos
empresariais, justamente no setor ferroviário, como é o caso da Ferrovia do
Aço, plano audacioso do Presidente Ernesto Geisel, dentro do Programa de
Desenvolvimento Ferroviário. A ferrovia
que, segundo Geisel ficaria pronta em mil dias, não tinha nem projeto quando
foi lançada em 1974. Citando um texto de Paulo Brossard, as professoras Vera
Vilhena de Toledo Maria Odette Brancatelli e Helena Lopes afirmam que, durante
as obras, os “problemas sucederam-se, como erros graves de traçado e
perfurações. Máquinas importadas foram abandonadas; pontes, viadutos e túneis
ficaram inacabados; aterros danificados com a erosão; acampamentos fechados;
oficinas transformadas em currais”. A tão sonhada ferrovia que deveria ligar
Volta Redonda, em território fluminense a Belo Horizonte, passando pelas
cidades mineiras de Itatinga e Jeceaba, nunca foi concluída e no ano de 1984, o
Governo Federal anunciou o abandono total da fracassada empreitada.
Porém,
esse fato não é o único no ramo das ferrovias. Conforme já analisamos em artigo
anterior, vários projetos ferroviários fracassados foram lançados no Brasil,
entre o crepúsculo do Império, o advento da República e o primeiro quartel do
século XX, principalmente no Vale do Paraíba. A maioria de tais projetos foram
concebidos em função da Estrada de Ferro D.Pedro II e da São Paulo-Rio, que
formariam a Central do Brasil a partir de 1890. Algumas bem sucedidas foram a
Minas and Rio Raylway (Cruzeiro-Três Corações), o Ramal de Benfica
(Lorena-Piquete), a EFCJ (Pindamonhangaba-Campos do Jordão) e a ferrovia dos
barões de Bananal, a E.F. Bananalense (Bananal-Barra Mansa). Outros, como já
afirmamos no referido artigo anterior, revelaram-se um fracasso total, além do
descaso e desperdício do erário, como a projetada ferrovia São Sebastião a São
Bento do Sapucaí, passando por Paraibuna, São José dos Campos e Buquira
(Monteiro Lobato); a E.F. Norte de São Paulo, que previa a ligação de Taubaté a
Ubatuba, passando em São Luiz do Paraitinga; o projeto de ferrovia simples São
José-Buquira e, finalmente a estrada de ferro Resende a Areias, via São José do
Barreiro.
Entrementes,
no caso dessa última, havíamos afirmado no mesmo artigo supramencionado, que o
trem não chegou até a cidade de Areias; mas chegou de forma efêmera a São José
do Barreiro, como veremos a seguir, além de analisarmos mais projetos que não vingaram
omitidos anteriormente. O malogrado projeto para a construção da Estrada de
Ferro Resende a Areias, datava de 1872, quando ainda construía-se a Estrada de
Ferro Pedro II, futura Central do Brasil. A concessão havia sido entregue pelo
Governo Imperial ao engenheiro Rafael Arcanjo Galvão Filho e ao Tenente –
Coronel Joaquim Silvério Monteiro Leite, os quais obtiveram privilégio por 50
anos, com garantia de 7% de juros sobre o capital aplicado de 1.200:000$000
(hum mil e duzentos contos de réis), além de se apossarem de uma zona
territorial de 6 km em ambos os lados da estrada férrea a ser construída. Como
já havíamos afirmado, os trilhos deveriam partir da Estação de Suruby,
entroncando-se com a “D.Pedro II”, na Vila de Resende, passar pela Vila de São
José do Barreiro e seguir até o ponto final na Vila de Areias. O empreendimento
começou precariamente, com dificuldades financeiras para os detentores da
concessão imperial. O levantamento do capital necessário fracassou e a
concessão foi transferida para os empreiteiros da obra, Finnie Irmãos e Cia,
credores dos primeiros. Com o contrato assinado a 16 de setembro de 1874 e com
a redução do prazo do privilégio de 50 para 30 anos, a obra é retomada. No dia
15 de novembro de 1877 é inaugurado o trecho da Estação de Suruby a de Estalo
e, em 8 de janeiro de 1878, o trecho até Formoso, totalizando até aí uma
extensão de 20 Km a partir do entroncamento da “Pedro II”, com bitola de 1,00
metro, raio de curva de 100 metros e declividade de 3%.
Todavia,
em abril de 1888, o Governo Imperial modifica o contrato, garantindo ainda o
privilégio por 30 anos, mas limitando o capital aplicado a 400:000$000
(quatrocentos contos de réis), cujo rendimento permanecia a 7%, apenas durante
a construção, caindo para 5% após o término da mesma, o que contrariou
interesses de acionistas e empreiteiros. Mesmo com tais alterações, no dia 15
de agosto de 1891 é inaugurado, o trecho de 10 Km de Formoso a Vila do
Barreiro. Com as referidas modificações e troca de concessionários, a companhia
agora denominava-se Estrada de Ferro de Resende a Bocaína e no início de 1892
com a inauguração da estação ferroviária é aberto o tráfego de Resende a São
José do Barreiro, totalizando uma extensão de quase 39 Km; os trilhos ainda
avançaram pouco mais de 6,5 Km em direção a Areias, sendo interrompidas as
obras. Nova alteração se segue com a fusão da E.F. Resende a Bocaína com outra
de nome ignorado, formando a Companhia Viação Rio-São Paulo, que também faliu.
No dia 14 de agosto de 1893, a ferrovia Resende a Areias é leiloada em hasta
pública pelo valor de 220:000$000, sendo arrematada por uma companhia de
interesses locais, segundo a análise de Acrilson de Carvalho e Levy Tenório da
Costa. Tal companhia instala-se regularmente em 21 de março de 1894, passando a
explorar o tráfego ferroviário de Resende a São José do Barreiro, mas
desistindo do prolongamento dos trilhos até Areias; no local onde os mesmos
“pararam”, foi construído um girador de locomotivas. Além de Areias, os
projetos iniciais da mencionada estrada de ferro previam ligações para Queluz e
Itatiaia, incluindo eventuais ramais para Cruzeiro e Paraty; lamentavelmente
tais ligações ficaram só nos projetos.
Contudo,
a empresa vencedora do pregão enfrentou também dificuldades e, após diversas
tentativas de incorporar a E. F. Resende a Bocaína à E. F. Central do Brasil,
agora estatal federal, a mesma foi desativada em fins de 1928, sendo vendida,
juntamente com três locomotivas para a Usina Tamoio, pertencente à família
Morganti. Todo o material rodante (locomotivas e vagões) foi em seguida
transferida para usinas em Piracicaba e
Araraquara. No local, onde um dia trafegou o trem de Resende ao Barreiro,
restam algumas pontes e a própria estação ferroviária. Depois de sediar por
muito tempo a Câmara Municipal de São José do Barreiro, atualmente funciona a
sede do Sindicato Rural do município. E como afirmamos no artigo anterior, o
trem não chegou a Areias.
Ferrovia do Aço(inauguração) : As obras da construção civil da Ferrovia do Aço retomaram o ritmo e seguiram sem interrupções até seu término. No dia 14 de abril de 1989 as duas frentes de obras se encontraram no km 138 + 965 m da ferrovia, no município mineiro de Madre Deus, finalmente permitindo a circulação de trens na Ferrovia do Aço, após 14 anos de obras. A chamada Ferrovia dos Mil Dias tinha se tornado, na verdade, a Ferrovia dos 5.098 Dias. A conclusão da superestrutura e a entrada em operação comercial ocorreram no mês de julho seguinte.
ResponderExcluirA sua implantação implicou grandes e difíceis obras, principalmente túneis e pontes. O relevo acidentado por onde ela passa, elevou os custos de construção. Do projeto original foi eliminada a ligação entre Belo Horizonte e São Paulo pois não havia recursos para este trecho e que o caminho poderia ser feito utilizando a capacidade ociosa na linha existente entre Barra Mansa e São Paulo. Do trecho ligando Volta Redonda com Belo Horizonte quase todo o trajeto foi concluído, ligando Jeceaba (MG) à Barra Mansa (RJ). Vale a pena ressaltar que a continuação para o Rio de Janeiro era prevista para ser feita através da linha entre Barra Mansa (RJ) e o Rio de Janeiro. Quanto a finalização entre Jeceaba e Belo Horizonte, ela é desnecessária, pois já há uma outra linha em bitola larga que faz o mesmo trajeto, embora um pouco mais longo que o projetado. A concretização dos trechos faltantes não está nos planos do governo, pois não são mais prioritários. A ferrovia possui raio mínimo de curva de 960 m e rampa máxima de 1,5%, o que permite uma velocidade máxima de 140 km/h.Operação
Entre 1989 e 1997 a Ferrovia do Aço foi operada pela Superintendência Regional SR-3 da Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Em 1997, a ferrovia foi concedida a empresa MRS Logística, juntamente com a Linha do Centro, Ramal de São Paulo e a Linha Santos-Jundiaí, formando a Malha Regional Sudeste. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ferrovia_do_A%C3%A7o
MAPA COM O TRAÇADO DA FERROVIA DO AÇO : https://www.mrs.com.br/empresa/ferrovia-frota/
ResponderExcluirÉ conhecido o trajeto original da estrada de ferro Resende Bocaina? Será que ainda existem vestígios do leito da ferrovia? Moro em Resende e tenho curiosidade nestas questões.
ResponderExcluirSão Jose do Barreiro.
ExcluirFiz na data de hoje(28/04/2022( todo o trajeto de carro. Trata-se da denominada "estrada da limeira"
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