Vista panorâmica de Piquete no ano de 1906.
FONTE: Prefeitura Municipal de Piquete e Fundação Christiano Rosa.
Desde a segunda
metade do século XVI, a Coroa portuguesa passa a enviar expedições oficiais com
a função de reconhecer o território e explorar possíveis riquezas, como ouro e
prata. Essas expedições ficaram conhecidas como Entradas e não podiam
ultrapassar a Linha de Tordesilhas. Paralelamente, expedições não oficiais,
conhecidas como Bandeiras, partiam da Vila de São Paulo, para capturar e
escravizar indígenas, não se preocupando com a citada Linha de Tordesilhas.
Assim, bandeirantes e demais aventureiros, no encalço dos silvícolas, seguiam o
curso do Rio Paraíba pela margem direita até o chamado Porto da Cachoeira.
Cruzando o rio continuavam em direção à Garganta do Embaú, de onde atingiam o Sertão
dos Cataguases e a região das minas. Com a exploração aurífera, todo o tráfego
de mercadorias e carregamentos do valioso metal, passou a se efetuar pela
Estrada Real, onde seguiam o mesmo caminho, passando pelo povoado do Embaú até
Guaratinguetá; daí seguindo por Cunha (antiga Facão) até Paraty. Ora, a
atividade econômica impulsionada pelo ouro atiçava a cobiça de bandoleiros e
garimpeiros que tentavam manter consigo o metal extraído sem pagar o imposto
que a Coroa cobrava. Intensificando o contrabando, as autoridades portuguesas
instalavam postos de fiscalização e cobrança ao longo de diversos caminhos. Na
Estrada Real, o posto principal era o Registro da Mantiqueira, em território
mineiro, onde atualmente é a cidade de Passa Quatro e ainda em atividade em
1822, conforme o viajante francês Saint-Hilaire.
Entretanto, o quinto cobrado pelas
autoridades coloniais, além de outros tributos exorbitantes, somente incentivava
ao mencionado contrabando, o que fazia com que os fraudadores do erário
procurassem outras rotas de fuga da fiscalização lusitana. Ao mesmo tempo,
aumentava a concessão de sesmarias em terras valeparaibanas, então pertencentes
à Vila de Guaratinguetá. Em 18 de novembro de 1733, a Coroa portuguesa concedeu
uma sesmaria a Miguel Rodrigues de Morais no local denominado “Campinho”,
havendo notícia, no entanto, de outros que foram beneficiados antes como Manuel
Duarte Filgueiras, Manuel Fernandes Pinto e José Rodrigues Neves. Tais
concessões foram em terras da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade e, no ano
de 1741 o Capitão Lázaro Fernandes abriu um estreito caminho, ligando dessa
forma a referida freguesia às minas de Itagyba, atual cidade mineira
de Itajubá. Como essa senda tornou-se uma alternativa irresistível para os
contrabandistas de ouro e mercadorias, pois podiam fugir do controle do Registro
da Mantiqueira, o governo luso determinou a instalação permanente de um piquete
de milicianos e a formação de um novo posto de fiscalização. Embora instalado
no lado paulista da Mantiqueira, bem ao pé da serra, em território da Vila de
Guaratinguetá, esse posto ficou conhecido como o Registro de Itagyba, mais
tarde apenas como “Registro”. Após a emancipação política da Freguesia de Nossa
Senhora da Piedade, o Registro passou a pertencer à Vila de Lorena em 1788.
Conforme ocorrido com outras localidades, nas imediações do
Registro, desenvolveu-se um novo núcleo habitacional configurando
então, um novo bairro, agora parte integrante da Vila de Lorena. Com a
decadência das minas, o local passa a ser denominado por Registro Velho.
Segundo o Prof. José Geraldo Evangelista, a Vila de Lorena dividia-se em oito
companhias e, em 1801 o Registro Velho integrava a 7ª Companhia, juntamente com
o Porto do Meira, o Campinho, o Embaú, o Passa Vinte e o Embaú Acima
(Quilombo). Porém, o Registro iria exercer novamente a sua função militar durante
a Revolução Liberal de 1842, quando o governo imperial deslocou um segundo
piquete de cavalaria para impedir a união dos rebeldes paulistas com os rebeldes
mineiros. Diante desse episódio formou-se o conceito equivocado de que o
surgimento do povoado data de 1842. Prosseguindo então, com o crescimento do
Registro, os moradores do local solicitam permissão para erigirem uma capela em
22 de fevereiro de 1865, sendo batizada com o nome de São Miguel. No dia 22 de
março de 1875, através da Lei Provincial nº 10, o Registro Velho é elevado à
condição de freguesia com o nome de São Miguel de Piquete, sob a esfera
político-administrativa da Vila de Lorena. A capela solicitada, contudo, foi
construída em terras de Custódio Vieira da Silva.
O crescimento, ou melhor, o desenvolvimento da Freguesia do Piquete é
constatado, através do conteúdo da Ata da Câmara de Lorena, de 01 de dezembro
de 1885, citada pelo Prof. José Geraldo Evangelista. Na referida ata, o
Presidente da Câmara, Major Joaquim Vieira Teixeira Pinto, solicita material
escolar para os alunos das escolas da Freguesia do Piquete, sendo que desde
1878 já havia uma escola feminina. Em outro momento, o Barão da Bocaína,
Francisco de Paula Vicente de Azevedo, pretendeu instalar uma linha de bonde e
telégrafo de Lorena aos Campos do Buriqui, além da sugestão da mesma Câmara
para a construção de um ramal ferroviário até o antigo Registro, o que indica que
o local não estava ignorado. No entanto,
nem a linha de bondes e nem o ramal saíram do papel. Dessa forma, foi com
surpresa que a Câmara Municipal de Lorena recebeu o comunicado do Governo
Provisório Republicano de São Paulo, no qual sancionava o Decreto nº 166, de
Entrementes, na primeira década do século XX, Piquete vivenciou uma
fase de desenvolvimento e euforia devido à construção do tão sonhado
ramal ferroviário e da instalação da indústria de material bélico do Exército. Tal
ramal ligava Lorena a Fábrica de Pólvora Presidente Vargas, atualmente uma das
unidades da Imbel, administrada pelo Exército Brasileiro. Aliás, a referida
fábrica completou 114 anos de existência em 15 de março último, ao passo que o
ramal de Benfica foi desativado em 1977. Durante a Revolução Constitucionalista
de 1932, os rebeldes paulistas reforçaram o controle da região, instalando um
posto de comando e, apoderando-se da citada fábrica de pólvora, vital para o
esforço de guerra. Mais uma vez, o antigo Registro cumpre uma função militar,
embora dessa vez em lado oposto, ou seja, de rebeldes contra o governo central.
Em 11 de setembro de 1932, as forças legalistas de Vargas assumem o controle
total da Mantiqueira, incluindo Piquete.
Contudo, atualmente Piquete ainda vive em função da indústria bélica,
mas busca no turismo, principalmente o ecológico, novas fontes de renda. O
antigo Registro de Itagyba, hoje é conhecido como cidade-paisagem, devido à sua
localização ao sopé da Serra da Mantiqueira.
Eddy Carlos.
Dicas para consulta.
DONATO, Hernani. A Revolução de 32. Círculo do Livro.
São Paulo, 1982.
EVANGELISTA, José Geraldo. Lorena no século XIX. Coleção
Paulística. Volume VII. Imprensa Oficial. São Paulo, 1978.
GABRIEL, Sônia. Mistérios do Vale. JAC Editora. São José dos
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MÜLLER, Nice Lecocq. O Fato Urbano na Bacia do Rio Paraíba.
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REIS, Paulo Pereira dos. Lorena nos Séculos XVII e XVIII. Fundação
Nacional do Tropeirismo. Centro Educacional Objetivo. CERED. Caçapava,
1988.
SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. Uma Janela no Tempo: Os Godoy Fleming no Embaú. Editora Penalux.
Guaratinguetá, 2015.
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