sábado, 13 de janeiro de 2018

A Ponte do Euclides.

                                  A Ponte do Euclides em junho de 2014; fotografia do autor.

            No dia 18 de setembro de 2009, a Prefeitura Municipal de Cachoeira Paulista inaugurou a ponte Euclides Godoy no Embaú. Estando presentes na solenidade entre autoridades, políticos, cidadãos ilustres, a população local assistiu ao ato de descerramento da placa inaugural da ponte de concreto sobre o córrego denominado Rio Branco. Tal ponte, mais precisamente um pontilhão, substituiu a velha de toras de madeira e terra pilada que por muitos anos existiu no local. Com a obra, a Administração Pública tenta resolver de vez as constantes quedas ou rompimentos do antigo pontilhão em decorrência da ação do tempo e enchentes causadas pelas chuvas de verão. Sendo uma área de várzea, durante o período mencionado os córregos e ribeirões transbordam alagando boa parte da área e, ocasionalmente a força das águas arrastam tudo em seu caminho. Foi o que ocorreu com a ponte sobre o Rio Embaú que desabou devido às chuvas em janeiro desse ano e que, interligava as áreas rurais de Cachoeira Paulista e Cruzeiro (Embaú e Várzea Alegre). Essa ponte, que ainda não foi recuperada, está no itinerário da que estamos analisando e nesse sentido a obra inaugurada não restabelece a ligação com os dois municípios, mas evita o possível isolamento de duas residências caso o antigo pontilhão, já em estado precário, se rompesse nas próximas chuvas.
             No entanto, essa observação não desmerece e muito menos desqualifica a necessidade de se erigir a referida ponte, uma vez que as autoridades públicas buscaram evitar o mesmo que ocorrera com a do Rio Embaú, já mencionada. Ou seja, anteciparam-se e não esperaram a ponte cair para então realizar os estudos e análises, bem como os processos licitatórios para o empreendimento, o que acarretaria em um largo espaço de tempo. O Rio Branco tem sua nascente em território do Município de Lorena e no seu trajeto, no bairro do Embaú, possui três pontes, além da que é objeto de análise no presente artigo. Porém, duas há muito são de concreto, a saber: a que está construída na Rodovia Cristiano Alves da Rosa (Cachoeira-Piquete), ligando a área urbana do Embaú ao cemitério, também conhecida como ponte do Miróca (Rosmínio de Godoy Fleming), e a que faz ligação com a Várzea dos Cunha, ambas resistindo com a ação das enchentes. Como afluente do Rio Embaú na sua margem direita, o Rio Branco recebe por sua vez as águas do Córrego do Juqueta, o qual nasce próximo às Furnas e faz a junção com o precedente na propriedade da família do autor do presente relato, após dividi-la ao meio. Desse ponto em diante, principalmente nas enchentes, o rio torna-se mais volumoso e deságua no Rio Embaú após contornar as duas propriedades citadas no início e, com o rompimento do pontilhão ocorreria o isolamento total.
               A construção de pontes ou pontilhões sempre foi uma preocupação das autoridades, devido a intensa cobrança dos contribuintes e, não só na região, como em qualquer lugar, pois facilita os meios de locomoção e transporte de mercadorias. Analisando as Atas da Câmara Municipal de Cruzeiro, no período em que a mesma estava sediada no Embaú, encontramos alguns ofícios e requerimentos abordando sobre pontes nos rios, Embaú e Branco. Vamos focalizar no último, deixando o anterior para artigo a ser elaborado, como mencionado anteriormente. Citando algumas dessas atas, constatamos, por exemplo, que na Sessão Ordinária de 6 de abril de 1875, o Vereador Tenente Antônio Nunes Duarte propôs a instalação de pontilhões no Rio Branco e outro no Rio Embaú-Mirim, alegando que eram rios que impediam o trânsito público. Em outra sessão, também Ordinária, do dia 8 de outubro de 1875, o Presidente da Câmara Capitão Mariano Ferreira da Silva apresenta uma indicação mandando reparar a ponte do Rio Branco, “na estrada de Piquete”, onde haviam se quebrado alguns pranchões. Essa deve ser a ponte da rodovia, visto que o antigo caminho do Quilombo ligava também a Piquete, então bairro de Lorena. Na sessão Ordinária de 8 de maio de 1877, um novo requerimento pedindo o conserto da ponte e na de 25 de julho de 1877, a Casa recebe a proposta do oficial carpinteiro João Alberto da Silva, que se oferecia para reconstruir a mesma ponte. Não informa, porém, se foi aceita ou rejeitada a referida proposta.    
           Entrementes, com a recente inauguração foi homenageado conforme citado no início deste relato, o Sr. Euclides de Godoy. Representando uma das famílias mais tradicionais do Embaú, Euclides era filho de João de Godoy Fleming e Ricarda de Castro Fleming, proprietários da Fazenda Godoy, conhecida também como “do Embaú”. Filho primogênito, nasceu no dia 15 de maio de 1890 e se casou na Igreja do Embaú em 9 de julho de 1912 com Firmina Bastos. A consorciada, por sua vez era filha do Major Chrispim Bastos, rival político do Major Novaes e proprietário da Fazenda Rio Branco, e de Cândida Gomes Serapião. Euclides concluiu os estudos do antigo Ginásio no Colégio São José em Silvestre Ferraz, Minas Gerais em 1909. No inventário de seu
pai, em 1910 o homenageado aparece com o nome de Euclides de Godoy Fleming e herda grandes extensões de terra no Embaú-Mirím, que depois troca com o irmão José de Godoy. Quando do falecimento da mãe em 1956, herda entre outros bens, o imóvel que foi sua residência, onde atualmente funciona a Associação Criança Feliz, dirigida pela neta, a Professora Maria de Lourdes Godoy Oliveira Serapião. Do casamento Euclides teve três filhas: Ricarda Godoy, Maria Aparecida e Cândida Godoy. Professora de destaque no Embaú, Maria Aparecida discursou perante o então Prefeito de Cachoeira Agostinho Ramos em 1934, quando da incorporação do Embaú ao Município. Falecida prematuramente, Maria Aparecida deixa, ainda pequeno, o filho Darwin Antônio, hoje eminente jornalista radicado em Mogi das Cruzes, fruto da união com Antônio Valente. Atualmente, a principal rua do Embaú ostenta o nome da educadora. Outra filha de Euclides que se destacou na vida política do Embaú foi Cândida Godoy, conhecida pela alcunha de Dolinha, mãe de Maria de Lourdes. Apesar da atividade,  não se filiou a nenhum partido político. Tio, por parte de mãe, da ex-vereadora Adracir Fleming Bittencourt, Euclides foi, também vereador e foi amigo muito próximo de Agostinho Ramos. Após ficar viúvo em 1967, o homenageado falece em 1972. A homenagem prestada a memória de Euclides de Godoy, na tarde de 18 de setembro de 2009, sexta-feira, em meio às “nuvens” de pernilongos, a qual o autor deste relato esteve presente, soma-se às inúmeras já prestadas  outros membros da distinta família. Deveria, contudo, ser divulgado ou até explicado em salas de aula, não como apologia, mas de cunho informativo, pois a grande e imensa maioria da população, em qualquer lugar, desconhece a origem e o histórico de homenageados com seus nomes a prédios públicos, logradouros, estradas e pontes. Até a próxima.                                           
                                                                                                   
                                                                                                                             Eddy Carlos.


Dicas para consulta.
FEDERICI, Hilton. Atas da Câmara Municipal de Cruzeiro. Vol. I – Tomo A. (Período  
Imperial; 1873-1879). Da instalação do Município até a Proclamação da  República.
Edição da Câmara Municipal de Cruzeiro. Cruzeiro, 1979.
PASIN, José Luiz. Vale do Paraíba. A Estrada Real. Caminhos e Roteiros. Editora
Santuário. Aparecida, 2004.
RAMOS, Agostinho. Cachoeira Paulista. 1780-1970. 2 volumes. IHGSP. São Paulo; 1971.
SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. Uma Janela no Tempo. Os “Godoy Fleming” no Embaú.
Editora Penalux. Guaratinguetá, 2015. 

Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br                                                                 


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