FONTE: Modernidade e Urbanismo Sanitário. São José dos Campos; Ana Maria e Luiz Laerte.
Com o fracasso do sistema das Capitanias
Hereditárias, a Coroa Portuguesa resolve assumir diretamente a administração
colonial do Brasil, com a criação do Governo-Geral em 7 de janeiro de 1549, com
a nomeação do fidalgo Tomé de Sousa como Governador-Geral. Partindo de Lisboa
em 1º de fevereiro do mesmo ano, a frota que seguia para o Brasil trazia todo
um aparato político-administrativo a ser implantado na então colônia lusa na
América. Composta por três naus, duas caravelas, além de um bergantim, a
referida frota trouxe para os trópicos mais de mil passageiros dentre os quais,
400 degredados, 300 colonos, 200 soldados e 120 burocratas e funcionários
públicos. Compunha também o corpo administrativo colonial um Provedor-Mor, um Ouvidor-Geral
e um Capitão-Mor, cuja obrigação era a de auxiliar Tomé de Sousa a estabelecer
a lei e a ordem na colônia. No dia 29 de março de 1549, os viajantes atracam na
baía de Todos os Santos, onde o Governador-Geral dá início à fundação da
primeira capital do Brasil, Salvador. Integrava também a comitiva de Tomé de
Sousa, os primeiros padres da Companhia de Jesus, destacando-se Manuel da
Nóbrega. Nessa viagem veio ainda as primeiras cabeças de gado bovino, trazidas
das Ilhas do Cabo Verde. Tomé de Sousa permanece no cargo até julho de 1553,
quando é substituído por Duarte da Costa, o qual é por sua vez, substituído em fins de
1557 por Mem de Sá. Na viagem que trouxe Duarte da Costa, além de funcionários,
soldados, etc, vieram também mais jesuítas, entre eles José de Anchieta, que
juntamente com o Padre Manoel da Nóbrega se tornariam líderes jesuítas no
Brasil, na segunda metade do século XVI.
Durante mais de dois séculos (1549-1759), os padres da
Companhia de Jesus exerceram um papel decisivo, ao se revelaram uma força ativa
político-religioso, na conquista e “civilização” do Brasil. Mesmo com atritos
com os colonos e a administração colonial devido ás ações de combate à
escravização dos índios, os jesuítas vão espalhando-se pelo interior da
colônia, fundando aldeamentos religiosos ou as missões, onde os silvícolas eram
reduzidos de acordo com as normas e costumes europeus. A Companhia de Jesus
também era possuidora de diversas propriedades entre engenhos, fazendas
agrícolas ou de criação bovina, onde os índios aldeados eram empregados nas
tarefas diárias. Todavia, o projeto de catequização pôsto em prática resultou
em tragédia para os indígenas, pois facilitava a sua captura pelo bandeirismo
de preagem, uma vez que era retirado dos aborígines todo o impeto de
resistência física, devido à sua redução. Segundo Eduardo Bueno, os jesuítas
“se empenharam em submeter os índios aos rigores do trabalho metódico, aos
horários rijos, ao latim e à monogamia. Combateram o canibalismo, a poligamia e
o nomadismo e acabaram responsáveis pela extinção de várias tribos”. Porém,
graças à atuação evangélica, a gramática e o idioma tupi foram preservados. Levando
adiante o projeto colonial lusitano, apoiado pela igreja, os padres jesuítas
Manoel da Nóbrega e José da Anchieta fundam a Vila de São Paulo dos Campos de
Piratininga em 1554, na realidade um agrupamento de índios Guaianases,
liderados por Tibiriçá e João Ramalho, sob administração jesuíta. Com o
objetivo de expandir sua área de influência, tal como ocorrera na América
espanhola, com a catequização de índios “selvagens”, a Companhia de Jesus
estabelece uma fazenda de gado bovino no Vale do Paraíba paulista, ainda no
século XVI. A referida fazenda, na realidade era propriedade do Colégio Jesuíta
de São Paulo, o qual conforme afirmado, administrava a Vila do Planalto, e sua instalação
situava-se próximo ao Rio Comprido, local e córrego do mesmo nome atualmente
localizado entre as cidades de São José dos Campos e Jacareí. Segundo a análise
de Shirley Gomes da Silva, Solange Vieira, Valeria Zanetti, Nara Rúbia Martins
e Diovane Ribeiro, parece ser consenso “que as fazendas de gado eram um tipo de
propriedade privada dos próprios jesuítas com o intuito de autosustentar suas
missões (...) há indícios de que estes núcleos agregavam também a função de
gerar renda para a Companhia de Jesus nesse caso para os próprios Colégios a que
estavam atrelados”. Sendo assim, as fazendas jesuíticas ocultavam muitas riquezas
auferidas graças ao braço indígena, o que revoltava os colonos, proibidos de
escravizar os autóctones.
Além da fazenda do Rio comprido, onde era explorado
trabalho indígena, a Companhia de Jesus controlava também os aldeamentos de
Carapicuíba, M’Boy, Itaquaquecetuba e Itapecerica. O controle do braço servil
dos indígenas fez eclodir um antagonismo violento entre padres e colonos,
culminando na expulsão dos jesuítas da Capitania de São Vicente em 1640 e o
confisco de suas propriedades pela Coroa portuguesa. Ao mesmo tempo, os
aldeamentos com suas fazendas foram transferidos para o poder público com o
nome de “Aldeias Reais”. Em 1653,
a expulsão é revogada e os inacianos retornam à
Capitania de São Vicente, sendo-lhe restituídos os bens confiscados. Administrava
a fazenda e aldeia do Rio Comprido, denominado “Água Comprida” na época colonial,
segundo Altino Bondesan, o padre Manoel de Leão que em, 1680 transfere a aldeia
para um platô defronte a um pântano, cuja formação geográfica lembra uma
concha. Tal local deu origem à atual cidade de São José dos Campos, cujo marco,
zero onde se localiza a igreja Matriz, circunda o Banhado. Com a mudança, o
aldeamento passou a denominar-se Aldeia Nova, ao passo que o local do Rio
Comprido ficou conhecido com Aldeia Velha. Outros nomes identificariam o local,
como Nossa Senhora do Desterro; Residência de Paraíba do Sul em 1692. Assim
sendo, a figura do padre jesuíta Manoel de Leão está diretamente relacionada
com as origens da atual cidade de São José dos Campos; inicialmente como
administrador da Fazenda do Rio Cumprido, designado pelo Colégio da Vila de São
Paulo e a seguir como responsável pela transferência do núcleo para o platô na
orla do Banhado.
Entretanto, outras correntes historiográficas, incluindo
a historiografia oficial, atribuem ao também padre jesuíta José de Anchieta, a
fundação de São José dos Campos, o que não foi comprovado até presente momento
por nenhum pesquisador. A discussão em torno do nome de Anchieta teve inicio
com Manoel Eufrásio de Azevedo Marques quando publicou “Apontamentos Históricos
Geográficos da Província de São Paulo” no último quartel do século XIX. Segundo
Marques, São José dos Campos foi um aldeamento, por volta de 1564, “de índios
guaianases emigrados de Piratininga, sob a tutela do Padre José de Anchieta,
mas (...) foi algum tempo depois abandonado pelos jesuítas, que obtiveram,
pelos anos de 1643 a
1660, diversas data de terras”, onde
teriam fundado a aldeia, o qual daria origem à cidade. Seguindo a trilha de
Azevedo Marques, o historiador do I.H.G.S.P. (Instituto Histórico e Geográfico de
São Paulo) Eugênio Egas também relaciona o Padre Anchieta com as origens de
São José dos Campos, em obra publicada em 1925. A teoria da
participação do “Apóstolo” do Brasil na fundação de São José ganhou força e
consolidou-se com a versão “oficial” em 1977. Através de um concurso promovido
pela Prefeitura Municipal, o jornalista Agê Junior, vencedor do mesmo, difundiu
o nome de Anchieta como o verdadeiro fundador de São José dos Campos. Na obra
ganhadora do referido concurso, Agê Junior afirma que “a Aldeia do Rio Comprido
existiu e foi fundada pelo Padre José de Anchieta, renomados historiadores vêm
afirmando há mais de 100 anos. E 100 anos de tradição, sem que aparecesse prova
alguma ao contrário, devem ser respeitados”. O jornalista, porém, não revela
quem são os “renomados historiadores”, afirmando somente, que a documentação
que comprovaria o envolvimento de Anchieta na fundação da aldeia, foi destruída
no ano de 1759, devido ao confisco dos bens e expulsão dos jesuítas do Brasil
por ordem do Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo. Por outro
lado, os pesquisadores Shirley Gomes da Silva, Solange Vieira, Valeria Zanetti,
Nara Rubia Martins e Diovane Ribeiro, ao citar a critica de Hélio Damante à
tese em questão, afirmam que “não há elementos que comprovem a fundação da
Aldeia de São José no século XVI, muito menos sobre a participação de José de
Anchieta como seu fundador, tese que, a seu ver, seria fruto de um equívoco de
Azevedo Marques”. Aliás, a própria documentação jesuítica não confirma José de
Anchieta como o fundador da aldeia e sim Manoel de Leão, de acordo com a análise
dos autores citados. Ainda, segundo os mesmos, apesar de estudos variados,
textos e, até mesmo o brasão oficial atual apresentarem o padre José de
Anchieta “como o fundador da cidade um conjunto de informação obtida a partir
dos registros dos jesuítas, cartas, catálogos e biografias do acervo documental
da historiografia jesuítica não confirmam essa versão. (...) Nesse panorama, os
membros da Companhia de Jesus atribuíram ao jesuíta Manoel de Leão,
administrador da fazenda de gado, a fundação da Aldeia de São José, valendo-lhe
nos registros da Companhia de Jesus o título de patrono fundador” A única vez em que Anchieta esteve
em terras valeparaibanas, e comprovada documentalmente, ocorreu em 1561 quando
atuou como intérprete da expedição punitiva outra os índios do Vale do Paraíba.
Chefiado por Jorge Moreira, tal expedição era uma represália aos ataques da Confederação
dos Tamoios contra a Vila de São Paulo e o encontro entre as facções teria
ocorrido no local onde atualmente, se localiza São José dos Campos. Daí o
provável equívoco em torno do nome de Anchieta.
Entrementes de acordo com a análise de Altino Bondesan, a
Aldeia de São José, então pertencente a Vila de Jacareí, tem o primeiro
batizado realizado em 8 de janeiro de 1747 pelo Padre Francisco de Paulo. Nesse
período, a administração jesuítica punia com açoites em praça pública os índios
que se ausentassem da aldeia sem a licença de seus superiores. Analisando no contexto
da História Colonial, observamos que entre 1748 e 1765, a Coroa extinguiu a Capitania de São Paulo incorporando o seu território à do Rio de Janeiro,
juntamente com vilas e aldeias. Com a invasão castelhana no sul, empreendida pelo
General Dom Pedro de Cevallos, a rivalidade entre Portugal e Espanha foi
transferida da Europa para os trópicos sul-americanos. Diante da ameaça, o
governo luso, decide além de restabelecer a referida capitania, implantar uma
política de militarização da colônia, obrigando os próprios colonos a se
armarem contra o invasor espanhol. Com o restabelecimento, assume o governo da
Capitania de São Paulo, Dom Luis Antônio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de
Mateus, que logo implanta a política de militarização, à qual a sociedade colonial
paulista reagiu fugindo ao alistamento militar obrigatório e à alta carga
tributária. Segundo as professoras Vanessa Cristina Morais Oliveira, Maria
Aparecida Papali e Valeria Zanetti, para resolver esses impasses “a Coroa
portuguesa recrudesceu seu controle sobre a colônia, usando para isso as
Câmaras Municipais das vilas, as quais eram utilizadas como um meio de contenção
social, tendo em vista que os recrutamentos eram realizados nas vilas com o auxílio
da Câmara Municipal”. Soma-se a isso o fato de que, na segunda metade de do
século XVIII o aldeamento de São José do Parahyba, continha uma grande reserva
de braços indígenas que a Coroa cobiçava para levar adiante os planos de defesa
das fronteiras do sul colonial. Isso proporcionou para o surgimento do
Diretório dos Índios, cujo objetivo primordial era o arregimento dos índios em
seus próprios povoados. No caso da Aldeia de São José do Parahyba, as autoridades
coloniais escolheram como administrador do diretório, o Capitão-Mor da Vila de
Jacareí, José de Araújo Coimbra e para Capelão, o Padre Antonio Luiz Mendes.
Dessa forma, seguindo as diretrizes da Coroa, diversos povoados e aldeias foram
elevados à condição de vila, cujo objetivo principal era o de centralizar o
poder por meio da implantação da Câmara Municipal, uma vez que somente as vilas
possuíam tal órgão administrativo. E é assim que, para evitar a deserção dos
autóctones, a antiga aldeia jesuítica é elevada à vila com o nome de Vila de
São José do Parahyba, no dia 27 de julho de 1767. No mencionado dia assinaram o
auto de ereção da nova Vila, segundo Altino Bondesan, além do diretor Coimbra e
do Capelão Antonio Mendes, Leonardo José de Moura, Vigário de Jacareí; José
Corrêa da Silva, João Payo Peixoto, entre outros. Após a instalação do pelourinho
e da entoação do Te-Déum, teve início a escolha dos primeiros vereadores, sendo
escolhidos Vicente de Carvalho, Veríssimo Corrêa e Luiz Batista. Os edis, no
entanto, tiveram que assinar em cruz, pois não sabiam ler, nem escrever.
Todavia, mesmo cumprindo as determinações da Metrópole, a
situação da nova Vila era precária, pois faltava de tudo, inclusive substitutos
para juízes e demais oficiais da administração. Ao mesmo tempo, a Vila de
Jacareí, protestou desde o inicio, contra a criação de Vila de São José do Parahyba,
acusando a mesma de usurpar áreas territoriais próximas ao Rio Comprido,
iniciando um antagonismo, causando emboscadas e assassinatos e atravessando os
séculos. Para corroborar as afirmações dos edis de Jacareí, no ano de 1798, José
Arouche de Toledo Rendon,
protestava e criticava a elevação da Aldeia de São José á condição de Vila,
pelo fato de não ter passado pelo estágio da Freguesia. A Vila, porém, seguia o
seu ritmo e mesmo debilitada em alguns momentos, em outros a situação mostrava-se
diferente, devido ao seu aspecto quando visitada pelos diversos viajantes que a
visitaram. Cada um tinha o seu olhar critico, de acordo com suas convicções
político–econômico–sociais e, até mesmo preconceituosas, se levarmos em conta
de que a ampla maioria era de origem européia. Em 1817 passam pela Vila, vindos
do Rio de Janeiro rumo a São Paulo, pela Estrada Geral, os viajantes alemães
Spix e Martius, seguidos pelo austríaco Thomas Ender, que desenhou várias paisagens
valeparaibanas, incluindo a primeira igreja matriz da Vila de São José do Parahyba.
Em 1822, foi a vez do botânico francês Saint-Hilare, que ao passar pela
Vila afirma a mesma “ não passa de mísera
aldeia composta de casas pequenas, baixas e mal mantidas. A igreja é pequena e
só tem uma torre pouco elevada”. No ano
de 1854, Manoel Elpídio Pereira de Queiroz, em viagem ao Rio de Janeiro, vindo
de Jundiaí, ao chegar a São José afirma que a igreja matriz de exterior possui
uma aparência melhor que a de Jacareí, pois tem o campanário. Apesar de notar
que as casas são todas antigas, o fazendeiro percebe que “o povo (é) mais
vistoso”. Mesmo assim, comparando com outras vilas valepaibanas, a de São José
do Parahyba ainda é “ordinária”. Em 1860 é a vez de o jornalista
luso-brasileiro Augusto Emílio Zaluar passar por São José. Além de afirmar que
a localidade permanece em notável atraso, o viajante critica os edifícios
públicos e particulares, da igreja e as ruas mal alinhadas. Segundo o viajante
a população da vila se aproxima em 8.000 almas e à exceção de pessoas ilustres,
comerciantes e fazendeiros, “o resto da população é naturalmente indolente,
preguiçosa e alheia a todos os regalos da civilização, sem se importar qual
será a sua sorte no dia seguinte”. Ou seja, para Zaluar, a ampla parcela da
população joseense, que não pertencia à elite, era composta de vagabundos e
preguiçosos; ele, no entanto, faz uma descrição interessante do Banhado, hoje
cartão-postal da cidade: “Uma das causas mais dignas de observar-se nesta
localidade são os imensos brejos, o que dão aqui o nome de banhados, e que se
estendem em grande distância, aos pés da montanha que está assentada a vila”.
Aliás, em referência ao Banhado, já havia preocupação das autoridades da Vila,
quando os habitantes iam ao local “buscar água no meio do mato do Banhado,
infestado de cobras, de enormes jacarés e tantos outros bichos perigosos”. Isso
já no final do século XVIII, quando a Vila ainda não dispunha de um açude,
segundo a análise de Agê Junior.
Aos poucos, porém, mesmo com passos largos, a Vila de São
José progredia. De acordo com Azevedo Marques, a população do município entre
1869 e 1870 totaliza 13.800 almas, sendo 1.255 escravos. O café, como em todo o
território valeparaibano, era hegemônico na economia, tendo ao lado o cultivo
de algodão e cereais. Os impostos arrecadados somavam 4:209$300, a nível Municipal;
2:009$137, Provincial e 12:436$854, Geral. Mesmo não ostentando os soberbos
casarões rurais e palacetes urbanos, como de Bananal, por exemplo, a Vila de
São José do Parahyba possui algumas fazendas cafeeiras dignas de menção, como a Fazenda Montes Claros, a
Fazenda Cachoeira, localizada no Bairro do Varadouro; a Fazenda Santo
Agostinho, e a Fazenda
Ibirarema, no Bairro de Vargem Grande, etc. A chegada
da locomotiva no inicio de 1877 causou grande expectativa na população da Vila,
que previa um grande salto no progresso do local, agora com o nome de Vila de
São José dos Campos, decorrente de Lei Provincial de 2 de Abril de 1871. Em
meio ás enormes festividades organizadas pela Câmara Municipal, a população
contemplou a inauguração da estação ferroviária com a viagem inaugural do trem
vindo de Jacareí. Até 1925, trilhos e estação localizavam-se na parte alta da
cidade, quando são transferidas para uma planície próxima ao Banhado. No mesmo
ano da chagada da estrada de ferro à São José dos Campos, surge também o
primeiro jornal intitulado “Jovem América”, de propriedade de A. Sodré segundo Agê
Júnior e, mais tarde de Manoel Augusto Galvão. Outros surgiriam como “O
Parangaba”, de Euclides Miragaia, em 1882; Yetim” de Antonio Anjos Gaia; “O Flautim”
de Manoel Moreira da Rocha, em 1886; “O Progressivo”, de José Oliveira Neves e
Manoel Câmara, em 1897; “O Município” de Paulino Cortez, em 1898; “A Cidade”,
de José Monteiro Júnior, em 1900,etc.
Concomitantemente, entre o último quartel do século XIX e
as três primeiras décadas do século XX, São José dos Campos, apesar de ser
cidade pequena e interiorana, ficou conhecida pelos ares puros e saudáveis,
consideradas excelentes para a cura de tuberculosos. Conhecida como fase
Sanatorial, a cidade passou a receber doentes de várias partes do país, que
desembarcavam na Estação Ferroviária dia após dia, à procura de cuidados
médicos. Muitos, porém eram doentes sem recursos e geralmente abandonados pelos
próprios familiares. Mesmo havendo outra cidade propicia à cura da tísica, como
Campos do Jordão, os doentes eram encaminhados para São José dos Campos. Os
enfermos ao chegarem eram alojados em pensões, hotéis e até em casas
particulares, ocorrendo em muitos casos, de falecerem no dia da chegada. Muitos
doentes, no entanto, vinham acompanhados de familiares sadios, que terminaram
por se radicarem na cidade e, ao lado de outros que encontraram a cura acabaram
formando parte da população contemporânea de São José dos Campos. De acordo com
a análise de Douglas Carlyle Belculfiné, “o primeiro médico a fixar residência
na cidade, em 1876, foi o Italiano Giovanni Guglielmino, nome popularizado para
João Guilhermino. (...). Somente a partir da primeira década do século XX é que
chegaram ao município, procurando tratamento, os médicos Mario Nunes Galvão,
Gaspar Barbosa de Rezende e Nelson Silveira D’Àvila. Estes profissionais
obtiveram cura e, exercendo suas profissões no local, passaram a fazer parte
sua história”. Em 1924 é inaugurado o Sanatório Vicentina Aranha, um dos muitos
que existiram em São José
dos Campos no combate à tuberculose. Por outro lado, dividida em 1932 em zonas:
Sanatorial, Comercial, Residencial e Industrial, a cidade foi transformada em
Estância Climática, em 1935, sendo administrada pelos Prefeitos Sanitaristas
indicados pelo Governo do Estado. Tal fato proporcionou numa ampla melhoria no
abastecimento de água, tratamento e construções de novas redes de esgoto,
urbanização, etc. refletindo o combate à doença pulmonar.
Nesse ínterim, a fase industrial que começara tímida no
alvorecer do século XX, ganhou impulso após 1940 com a instalação da Companhia Siderúrgica
Nacional em Volta Redonda ,
acelerando o desenvolvimento industrial valeparaibano. Porém, segundo
Belculfiné, “o grande impulso foi mesmo a criação do Centro Técnico de
Aeronáutica (CTA) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)”. Com a
inauguração da Rodovia Presidente Dutra em 1951, diversas indústrias
instalaram-se em São José
dos Campos, tanto do setor automotivo, como químico e aeronáutico até o final
da década de 1960. Nesse período, e fase Sanatorial agonizava, devido às novas
formas eficazes no combate e eliminação da tísica. Atualmente, conhecida como
Capital do Vale do Paraíba, a cidade de São José dos Campos, sede da nova Região
Metropolitana, é conhecida devido ao pólo tecnológico-industrial que possui. Ao
mesmo tempo, embora em pequena escala, tenta conciliar a modernidade com o seu
passado histórico. Poucas são as construções preservadas, dentre as quais a
Biblioteca Pública Cassiano Ricardo, antigo Teatro e Prefeitura, a antiga sede
da Câmara Municipal; o Mercado Novo; a Capela Nossa Senhora Aparecida, que fora
propriedade do Coronel João Cursino, a capela São Miguel, do segundo cemitério
da cidade, a igreja São Benedito construída em Taipa em 1876, agora em fase
final de restauração, etc. Como testemunha do período Sanatorial restou o “Vicentina
Aranha”, que por pouco não foi demolido, graças a movimentação e agitação da
sociedade joseense. Lamentavelmente nada restou da antiga fazenda de gado jesuítica
do Rio Comprido. Até a próxima.
Eddy
Carlos.
Dicas para consultas.
BELLOTTO, Heloísa
Liberalli. Autoridade e Conflito no
Brasil Colonial: Governo do Morgado de Mateus. Coleção Texto e Documentos.
Imprensa Oficial. São Paulo, 1979.
BONDESAN, Altino. São José em Quatro Tempos.
Bentivegna Editora. São Paulo, 1967.
JÚNIOR, Agê. São José dos Campos e sua História. São
Paulo, 1978.
MARQUES, Manuel Eufrásio
de Azevedo. Apontamentos Históricos e
Geográficos da Província de São Paulo. Biblioteca Histórica Paulista Volume I. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.
PAPALI Maria Aparecida. (Org.). São José dos Campos: de Aldeia a Cidade. Coleção São José dos Campos. História e Cidade. Volume III. UNIVAP. São José dos
Campos, 2010.
SOUSA e SOARES, Ana Maria Santos e Luiz Laerte. Modernidade e Urbanismo Sanitário. São José dos Campos. Fundação Cultural Cassiano Ricardo. São José dos Campos, 2002.
ZALUAR, Augusto Emílio. Peregrinação pela Província de São Paulo (1860–1861). Biblioteca Histórica Paulista. Volume II. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976. São Paulo, 1976.
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ZALUAR, Augusto Emílio. Peregrinação pela Província de São Paulo (1860–1861). Biblioteca Histórica Paulista. Volume II. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976. São Paulo, 1976.
E-mail: eddycarlos6@gmail.com
Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br
Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br
Fantástica viagem ao passado.
ResponderExcluirHoje em dia, ainda que em tom de brincadeira, diz-se que Jacarei é um bairro de São José dos Campos, porém, lendo os relatos aqui, dá a entender que São José foi alçada à condição de Vila e tomou posse de algumas áreas que pertenciam a Jacareí. Ou seja, São José cresceu na sombra de Jacareí.
Muito importante, e interessante a sua publicação professor Eddy Carlos. Obrigado e parabéns!
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado. Desculpe responder só agora, depois de quase dois anos.
ExcluirObrigado por dedicar o seu tempo na criação desse texto. Eu amo SJC e temos que juntar o máximo possível de fatos para recontar a nossa história.
ResponderExcluirOtimo resumo da historia de São José dos Campos.
ResponderExcluirParabens !