No artigo referente a São José do
Barreiro, mencionamos que no seu auge, durante a segunda metade do século XIX,
a localidade possuía várias fazendas de café como São Benedito, Catadupa,
Barra, São Miguel, São Francisco e Pau d’ Alho. Esta última tornou-se o nosso
foco de análise, devido ao fato de ser uma das mais antigas e de ter hospedado,
como já citado no mesmo artigo referido, o príncipe D. Pedro em 1822, durante a
viagem a São Paulo. Construída entre 1817 e 1818, por João Ferreira de Souza,
considerado o fundador da Vila do Barreiro, a casa-sede da Fazenda Pau d’ Alho
foi sendo ampliada, de acordo com a evolução
da atividade cafeeira e dos lucros auferidos pela venda da rubiácea. Em
1822, ao trafegar pela região com sentido ao Rio de Janeiro, vindo de São
Paulo, o botânico francês Saint-Hilaire afirma que na Fazenda Pau d’ Alho “fica
a maior plantação que vi nesta estrada e a única em que a casa do fazendeiro
apresenta sobrado”. A estrada a que se refere Saint-Hilaire é a atual Rodovia
dos Tropeiros (antiga estrada ou Rodovia São Paulo-Rio) e na época do francês Estrada Geral; e
naquele tempo, a região do Barreiro pertencia à Vila de Areias.
Entretanto, o café ainda não havia se
consolidado na economia valeparaibana e
nacional, como ocorreria mais tarde. Mas já em 1822, João Ferreira de Souza era
proprietário de 66 escravos e colheria 400 arrobas de café. É neste contexto
que após a passagem de Saint- Hilaire, em abril de 1822, o príncipe D. Pedro
enceta a viagem a capital paulista que culminaria com o episódio do Ipiranga.
Partindo do Rio de Janeiro no dia 14 de agosto de 1822, acompanhado de uma
pequena comitiva, D. Pedro chega à Fazenda Pau d’ Alho no dia 17, sendo recebido
para o jantar pelo proprietário João Ferreira de Souza. No dia seguinte o mesmo
João Ferreira e o filho Francisco Ferreira de Souza integram-se a comitiva de
honra do futuro imperador na sua jornada até São Paulo. Dessa forma, a Fazenda
Pau d’ Alho, através de seu dono está relacionada aos acontecimentos políticos
e econômicos que propiciaram a emancipação política do Brasil de Portugal.
Todavia, a Fazenda Pau d’ Alho não
ostentou, da mesma forma que as demais fazendas da região, principalmente de
Bananal, sinais de luxo e fausto que revelassem a pujança econômica obtida pelo
café e, mais ainda, pelo braço escravo.
No Pau d’ Alho, não se vêem pinturas exuberantes como as elaboradas por Villaronga
nas propriedades bananalenses , nem os utensílios, como talheres, de prata ou
de ouro utilizados pelos barões do café como Luciano José de Almeida e Manoel
de Aguiar Vallim. Nem por isso João Ferreira de Souza e a esposa Maria Rosa de
Jesus eram considerados proprietários de segunda categoria. Em 1833 doariam uma
parte de suas terras para a construção da capela de São José, em torno da qual
surgiria São José do Barreiro, emancipada de Areias em 1859. Diferente, também
das demais fazendas era a senzala da Pau d’ Alho, construída em linha reta com
diversas portas e janelas e situada numa parte elevada do terreno, tendo o
telhado da mesma ficado mais alto que o da própria casa-sede. O normal era a
construção de senzalas em um plano inferior, com uma porta e sem janelas ou nos
porões das referidas casas-sede.
No ano de 1858, falece João
Ferreira e a propriedade é repassada para Zebedeu Antônio Airosa, que não
pudemos comprovar se era herdeiro do antigo proprietário. Sob este novo dono, a
Fazenda Pau d’ Alho, cujo nome é o mesmo de uma árvore outrora abundante na
região, passa a exibir um certo requinte nos móveis e utensílios, longe porém,
de se igualar às de Bananal, reafirmando. Ainda assim, é interessante notar, o
novo proprietário implantou um sistema mecânico para melhorar a moagem dos
grãos-de-café. Uma imensa engrenagem de madeira, movida por força hidráulica
põe em funcionamento 4 pilões que atuam intercaladamente, alcançando assim,
pelo menos para a época, um rendimento melhor na moagem do café. Em 2000, tivemos
a oportunidade de, juntamente com os colegas do curso de História da UNIVAP,
visitar a Fazenda Pau d’ Alho e assistir ao funcionamento deste magnífico instrumento
de engenharia do final do século XIX, bem como as demais instalações da
referida fazenda como a capela particular com seu majestoso oratório e a própria
senzala. Totalmente restaurada entre a década de 1970 e 1990, a Fazenda Pau d’
Alho, em conjunto com as demais fazendas de São José do Barreiro, integram
atualmente o chamado Consórcio do Vale Histórico. É um imenso prazer admirá-la , sob o ponto de
vista histórico, econômico e social o que valoriza nossa riqueza cultural. Vale
a pena visitá-la. Um grande abraço e até breve.
Eddy Carlos.
Dicas
para consulta.
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Casa Paulista. Edusp. São Paulo, 1999.
MAIA e MAIA, Thereza Regina de
Camargo e Tom. O passado ao vivo.
FDE. São Paulo, 1988.
MAIA e HOLANDA. Tom e Sérgio Buarque
de. Vale do Paraíba. Velhas Fazendas.
Companhia Editora Nacional. São Paulo, 1976.
PASIN, José Luiz. A jornada da Independência. A viagem
histórica do príncipe regente Dom Pedro pelo Vale do Paraíba em agosto de 1822.
Vale Livros. Aparecida, 2002.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda Viagem a São Paulo e Quadro
Histórico da Província de São Paulo. Biblioteca Histórica Paulista. Vol.
VI. Livraria Martins Editora. São
Paulo, 1976.
TOLEDO, Francisco Sodéro. Em busca das Raízes. Editora Santuário.
Aparecida, 1988.
Email: eddycarlos@ymail.com
Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br
Caro Eddy Carlos, gostei da apresentação, pois faz parte de meu passado.Andei lendo e consegui algumas informações a respeito do Capitão Mor Domingos da Silva Moreira (ou Leme) que participou da Jornada da Independência.Posso afirmar que ele foi casado com Maria Escolástica Ribeiro, descendente de Antonio Preto, Henrique Cunha Gago, Jaques Felix, etc, e é meu quinto avô paterno.
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