segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Pau d'Alho.

                                                Imagem capturada da internet.


              No artigo referente a São José do Barreiro, mencionamos que no seu auge, durante a segunda metade do século XIX, a localidade possuía várias fazendas de café como São Benedito, Catadupa, Barra, São Miguel, São Francisco e Pau d’ Alho. Esta última tornou-se o nosso foco de análise, devido ao fato de ser uma das mais antigas e de ter hospedado, como já citado no mesmo artigo referido, o príncipe D. Pedro em 1822, durante a viagem a São Paulo. Construída entre 1817 e 1818, por João Ferreira de Souza, considerado o fundador da Vila do Barreiro, a casa-sede da Fazenda Pau d’ Alho foi sendo ampliada, de acordo com a evolução  da atividade cafeeira e dos lucros auferidos pela venda da rubiácea. Em 1822, ao trafegar pela região com sentido ao Rio de Janeiro, vindo de São Paulo, o botânico francês Saint-Hilaire afirma que na Fazenda Pau d’ Alho “fica a maior plantação que vi nesta estrada e a única em que a casa do fazendeiro apresenta sobrado”. A estrada a que se refere Saint-Hilaire é a atual Rodovia dos Tropeiros (antiga estrada ou Rodovia São Paulo-Rio)  e na época do francês Estrada Geral; e naquele tempo, a região do Barreiro pertencia à Vila de Areias.
          Entretanto, o café ainda não havia se consolidado na economia valeparaibana  e nacional, como ocorreria mais tarde. Mas já em 1822, João Ferreira de Souza era proprietário de 66 escravos e colheria 400 arrobas de café. É neste contexto que após a passagem de Saint- Hilaire, em abril de 1822, o príncipe D. Pedro enceta a viagem a capital paulista que culminaria com o episódio do Ipiranga. Partindo do Rio de Janeiro no dia 14 de agosto de 1822, acompanhado de uma pequena comitiva, D. Pedro chega à Fazenda Pau d’ Alho no dia 17, sendo recebido para o jantar pelo proprietário João Ferreira de Souza. No dia seguinte o mesmo João Ferreira e o filho Francisco Ferreira de Souza integram-se a comitiva de honra do futuro imperador na sua jornada até São Paulo. Dessa forma, a Fazenda Pau d’ Alho, através de seu dono está relacionada aos acontecimentos políticos e econômicos que propiciaram a emancipação política do Brasil de Portugal.
            Todavia, a Fazenda Pau d’ Alho não ostentou, da mesma forma que as demais fazendas da região, principalmente de Bananal, sinais de luxo e fausto que revelassem a pujança econômica obtida pelo café e, mais ainda,  pelo braço escravo. No Pau d’ Alho, não se vêem pinturas exuberantes como as elaboradas por Villaronga nas propriedades bananalenses , nem os utensílios, como talheres, de prata ou de ouro utilizados pelos barões do café como Luciano José de Almeida e Manoel de Aguiar Vallim. Nem por isso João Ferreira de Souza e a esposa Maria Rosa de Jesus eram considerados proprietários de segunda categoria. Em 1833 doariam uma parte de suas terras para a construção da capela de São José, em torno da qual surgiria São José do Barreiro, emancipada de Areias em 1859. Diferente, também das demais fazendas era a senzala da Pau d’ Alho, construída em linha reta com diversas portas e janelas e situada numa parte elevada do terreno, tendo o telhado da mesma ficado mais alto que o da própria casa-sede. O normal era a construção de senzalas em um plano inferior, com uma porta e sem janelas ou nos porões das  referidas casas-sede.
                No ano de 1858, falece João Ferreira e a propriedade é repassada para Zebedeu Antônio Airosa, que não pudemos comprovar se era herdeiro do antigo proprietário. Sob este novo dono, a Fazenda Pau d’ Alho, cujo nome é o mesmo de uma árvore outrora abundante na região, passa a exibir um certo requinte nos móveis e utensílios, longe porém, de se igualar às de Bananal, reafirmando. Ainda assim, é interessante notar, o novo proprietário implantou um sistema mecânico para melhorar a moagem dos grãos-de-café. Uma imensa engrenagem de madeira, movida por força hidráulica põe em funcionamento 4 pilões que atuam intercaladamente, alcançando assim, pelo menos para a época, um rendimento melhor na moagem do café. Em 2000, tivemos a oportunidade de, juntamente com os colegas do curso de História da UNIVAP, visitar a Fazenda Pau d’ Alho e assistir ao funcionamento deste magnífico instrumento de engenharia do final do século XIX, bem como as demais instalações da referida fazenda como a capela particular com seu majestoso oratório e a própria senzala. Totalmente restaurada entre a década de 1970 e 1990, a Fazenda Pau d’ Alho, em conjunto com as demais fazendas de São José do Barreiro, integram atualmente o chamado Consórcio do Vale Histórico. É  um imenso prazer admirá-la , sob o ponto de vista histórico, econômico e social o que valoriza nossa riqueza cultural. Vale a pena visitá-la. Um grande abraço e até breve.
                                                                                                     Eddy Carlos.
Dicas para consulta.

LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Casa Paulista. Edusp. São Paulo, 1999.

MAIA e MAIA, Thereza Regina de Camargo e Tom. O passado ao vivo. FDE. São Paulo, 1988.

MAIA e HOLANDA. Tom e Sérgio Buarque de. Vale do Paraíba. Velhas Fazendas. Companhia Editora Nacional. São Paulo, 1976.

PASIN, José Luiz. A jornada da Independência. A viagem histórica do príncipe regente Dom Pedro pelo Vale do Paraíba em agosto de 1822. Vale Livros. Aparecida, 2002.

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda Viagem a São Paulo e Quadro Histórico da Província de São Paulo. Biblioteca Histórica Paulista. Vol. VI. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.

TOLEDO, Francisco Sodéro. Em busca das Raízes. Editora Santuário. Aparecida, 1988.


Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br




Um comentário:

  1. Caro Eddy Carlos, gostei da apresentação, pois faz parte de meu passado.Andei lendo e consegui algumas informações a respeito do Capitão Mor Domingos da Silva Moreira (ou Leme) que participou da Jornada da Independência.Posso afirmar que ele foi casado com Maria Escolástica Ribeiro, descendente de Antonio Preto, Henrique Cunha Gago, Jaques Felix, etc, e é meu quinto avô paterno.

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