segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A Fazenda Resgate.

A Fazenda Resgate e suas dependências. Imagem do início do século XX. Fonte: www.fazendaresgate.com.br 


         Em artigo anterior, o tema de nossa abordagem foi a Fazenda Boa Vista, propriedade de Luciano José de Almeida, um dos centros de influência e riqueza em Bananal. Após o falecimento de Luciano, tal cenário é ocupado pela também influente e exuberante Fazenda Resgate, de Manoel de Aguiar Vallim, genro do primeiro. Assim como o sogro, Vallim acumulou fortunas com o plantio do café, tráfico de escravos e, também empréstimos a juros. Este último constituía-se de uma cadeia de endividamentos, ligando mercadores entre si e os produtores, o que tornava um sistema privilegiado de acumulação de capital. A família Vallim no Brasil inicia-se José de Aguiar Toledo, pai de Manoel. Teria este nascido em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira território português no Atlântico, chegando ao Brasil em meados dos séculos XVIII. Com a intenção de garimpar ouro passou por São João Del Rey, Sabará, Baependi e São Tomé das Letras, onde se casou com a Maria do Espírito Santo Ribeiro Vallim. Com a decadência das Minas, o casal estabelece, no final do mesmo século, moradia próxima ao recém-aberto Caminho Novo de Piedade, às margens do Rio Bananal, local conhecido como Retiro. Praticando a cultura de anil e trigo, o referido casal funda a Fazenda de São Francisco da Formiga e já em 1822 exportava 1.000 arrobas de café, além de milho, arroz, feijão e toucinho e possuía em torno de 20 escravos. No ano de seu falecimento, em 1837, Aguiar Toledo era dono de 285 escravos e 2 fazendas, a Pinheiros e Resgate, sendo que nesta havia 321.500 pés de café. Deixando oito filhos, José de Aguiar Toledo, todavia, privilegia um somente, Manoel de Aguiar Vallim, que aos poucos adquire os direitos dos irmãos, tornando-se senhor absoluto da Fazenda Resgate. Em uma época em que era estimulado o casamento entre filhos de imensas fortunas, Manoel de Aguiar Vallim casa-se em 1844 com Domiciana Maria de Almeida, filha de Luciano José de Almeida e Maria Joaquina Sampaio de Almeida. A cerimônia foi realizada na capela da Fazenda Boa Vista e, dessa forma, além de fortalecer os laços políticos, econômicos e financeiros em Bananal e, mais tarde ao lado do sogro, ajudou a manter o prestígio do Partido Conservador. Com a morte de Luciano José de Almeida em 1854, Manoel de Aguiar Vallim passa a ser o único chefe inconteste não só do partido, mas de Bananal e adjacências. A influência do proprietário da Fazenda Resgate junto à Corte era tanta que diversas vezes avalizou empréstimos de Governo Imperial nos bancos ingleses. Apesar da riqueza e influência política, Vallim não conseguiu do Império títulos de nobreza como o de “Barão,” por exemplo, devido provavelmente ao comércio ilegal de escravos depois de 1850 (trata-se do caso do “Bracuhy”) o que “arranhou” seriamente a imagem de Vallim. Após a morte, porém, seria homenageado com o título de Comendador. Manoel de Aguiar Vallim falece em 1878 e deixa sete filhos que tivera com Domiciana, que faleceria em São Paulo em 1907. O inventário revela uma fortuna, também impressionante, um pouco mais do que o de Luciano José de Almeida. O total era de 2:847: 169$362 (dois mil, oitocentos e quarenta e sete conto, cento e sessenta e nove mil e trezentos e sessenta e dois réis), incluindo, além de bens imóveis, ouro, prata, apólices da divida pública do Brasil e dos EUA, dividas ativas em dinheiro (tinha a receber) quase 600 escravos e 1.200.000 pés de café aproximadamente. Além da Fazenda Regaste, integrava o patrimônio de Vallim as fazendas Independência, Três Barras, Bacaína - que herdara do sogro em 1854- alguns sítios e o palacete de 16 janelões no centro de Bananal, onde também possuía algumas casas de aluguel e o teatro Santa Cecília.
              Todavia, a mais importante das propriedades de Manoel de Aguiar Vallim era a Fazenda Resgate, considerada a mais bela de todas, sendo decorada com ricas obras de artes a afrescos belíssimos nas paredes das salas e da capela. Essa obras foram realizadas pelo pintor espanhol, nascido em Barcelona, José Maria Villaronga, que também realizou trabalho semelhante na Fazenda Rialto de propriedade do Barão de Ribeiro Barbosa (atualmente a Fazenda Rialto pertence ao município de Arapeí). A exuberância da Fazenda Resgate é destaque nos relatos de Augusto Emilio Zaluar, quando de sua passagem por Bananal. Enaltecendo a riqueza agrícola do município, o viajante português afirma que isso é fruto de muitas fazendas de primeira ordem e que teve “ocasião de visitar, além das do Srº. Barão da Bela Vista (Sobrinho de Vallim), a do Srº. Comendador Manoel de Aguiar Vallim, que se torna notável não só por ser uma das melhores propriedades do lugar, como pelo gosto com que são pintadas as salas e a capela da sua casa de moradia campestre. As pinturas são devidas ao hábil pincel do Srº. Villaronga”. Notemos na citação de Zaluar que o mesmo ao ser referir a Vallim o chama de Comendador, pois era um desejo de ostentar o titulo de nobreza, além do de Barão, como nos referimos anteriormente. Mas, mesmo “Comendador”, repetindo foi concedido postumamente.
            Contudo, assim como a Fazenda Boa Vista, a Resgate e muitas outras merecem ser visitadas, devido a sua imponência, beleza arquitetônica e artística e testemunha de um passado histórico e econômico que produziu fortunas, mesmo sabendo que tais fortunas devem-se ao trabalho escravo. Um grande abraço e até a próxima.

                                                                                      Eddy Carlos.



Dicas para consulta.
FREITAS, Maria Aparecida Rezende Gouveia de. Bananal. Cidade Histórica. Berço do Café. Massao Ohno Editor. São Paulo, 1981.

MAIA e HOLANDA, Tom e Sérgio Buarque de.  Vale do Paraíba-Velhas Fazendas. Editora Nacional / Edusp. São Paulo, 1975.

CASTRO E SCHNNOR, Hebe Maria Mattos de Eduardo. (Orgs). Resgate, uma Janela para o Oitocentos. Top Books Editora S/d.

ZALUAR, Augusto Emilio. Peregrinação pela Providencia de São Paulo. (1860-1861). Biblioteca Histórica Paulista. Vol. II. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.




Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br

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