domingo, 11 de setembro de 2016

A Fazenda Boa Vista (Solar dos Almeida).

                                                Imagem extraída da internet.


             Na edição de nº 681 do jornal “O Momento”, de Cachoeira Paulista, Estado de São Paulo, foi publicado um artigo de nossa autoria com titulo idêntico ao que estamos iniciando. Como afirmamos no mesmo, era prática comum os proprietários batizarem suas fazendas com nome de “Boa Vista”, devido, com certeza à paisagem que eles admiravam no Vale do Paraíba. A primeira “Boa Vista” que analisamos foi a de Manoel de Freitas Novaes em Cruzeiro que tinha por sede o Embaú, súdito inconteste da monarquia brasileira. A que analisaremos a seguir é a celebre residência de Luciano José de Almeida em Bananal e, sem menosprezar sua congênere de Cruzeiro, a mais importante e mais rica das “Boas Vistas” do Vale. Para podermos obter uma melhor compreensão, voltemos ao final do século XVIII.
            Em artigo anterior, intitulado “A Capital do Café” mencionamos que o responsável pela conclusão do “Caminho Novo da Piedade” o Capitão-Mor de Guaratinguetá, Manoel da Silva Reis, recebeu uma área imensa em forma de sesmaria em 1778. Autorizado pela Coroa Portuguesa, através de Martim Lopes Lobo de Saldanha, o beneficiado “retalhou” sua sesmaria em área pequenas, distribuindo-as entre seus auxiliares. Um desses foi Pedro Rodrigues d’Almeida Leal, que obteve a sétima parte do total da sesmaria de Manoel da Silva Reis. De acordo com análise de Maria Aparecida Rezende Gouveia de Freitas, Pedro Rodrigues, que possuía a patente de Alferes (equivalente a tenente) nasceu em 1715, na Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, território português. Tendo vinho ao Brasil, então Colônia, em data ignorada estabeleceu-se inicialmente em São João d’El Rei. Por volta de 1750 muda-se para Baependi, onde casa-se com Isabel da Silva Leme, nascida no local em 1728. Mais tarde o casal se transfere para a povoação de Santa Ana da Paraíba Nova (Futura Areias) da Vila de Guaratinguetá. Ao receber o “Sitio” de Manoel da Silva Reis, o Alferes e a esposa transferem-se para o local em 1780 que juntamente com demais doadas por Silva Reis formam o núcleo original de Bananal. O casal teve nove filhos ao todo e o terceiro seria o fundador da Fazenda Boa Vista. Trata-se de Luiz José de Almeida, nascido em 1761, o qual casou-se em 1791 com Anna Maria Joaquina da Conceição Rodrigues, nascida em Taubaté em 1763. Esse casal teve seis filhos, sendo que o caçula era Luciano José de Almeida. Porém, de um casamento anterior, Luiz José Teve um filho de nome Antonio José Nogueira. Ainda de acordo com Maria Aparecida Rezende, em suas pesquisas o nome “Boa Vista” indicava a sesmaria de Luiz José de Almeida, conhecida como as “Terras dos Almeidas” onde o mesmo formou a Fazenda Boa Vista, Cachoeira e Bocaína. A autora ao mencionar a morte de Luiz José de Almeida, afirma que faleceu em 1806 na “Fazenda Boa Vista”.
            Todavia, para compor o que viria a ser Fazenda Boa Vista, Luiz José recebeu terras também do sogro e em 1823, através de herança e compra de direitos passou a ser propriedade integral de Luciano José de Almeida, ou seja, ele tornou-se o único dono. O imenso e majestoso casarão que servia de sede e moradia foi construído em meados de 1840. Nele, Luciano José de Almeida viveu a vida inteira e ausentava-se somente quando havia ocasiões festivas e religiosas ou políticas e dirigia-se a Vila do Bananal, onde também possuía outro casarão, aquele com 22 janelões, construído em 1847. Em 1825 Luciano José Almeida contraiu matrimônio com Maria Joaquina Sampaio, nascida em Taubaté em 1803, e tiveram nove filhos. A Fazenda Boa Vista, à semelhança com outras grandes propriedades, era totalmente autossuficiente, ou seja, produzia tudo o que era necessário para sua substância. Além de imensos cafezais, o principal produto de sua economia, cultivava milho e cana, de onde de seus alambiques saia aguardente, e açúcar. Fabricava seus próprios móveis, velas, tecidos de algodão, linha para costura, etc. Até para os oficios divinos a Fazenda possuía capelão próprio e, entre os escravos haviam vários profissionais como tecelões, ferreiros, barbeiros, alfaiates, carpinteiros, boticários, sapateiros e outros. À importância econômica, juntava a política, quando em 1842, durante o movimento liberal, o Comendador Luciano José de Almeida hospedou o então Barão de Caxias e seu exército, o que o elevou no conceito dos políticos e nobres do império. No dia 3 de junho de 1854, falece aos 57 anos de idade, deixando uma imensa fortuna.
            Para termos uma dimensão de riqueza deixada por Luciano José de Almeida, vamos comparar com a do Major Novaes de Cruzeiro. Ao morrer em 1898, Manoel de Freitas Novaes tinha seus bens avaliados em pouco mais de 304:000$000 (trezentos e quatro contos de réis) O inventário de Luciano, iniciado em 1854 revelou o total de seus bens em 2:505:744:515$000 (dois milhões, quinhentos e cinco mil, setecentos e quarenta e quatro conto e quinhentos e quinze mil réis), entre ouro, prata, escravos  imóveis, etc. Além da Boa Vista, Luciano era dono também das Fazendas Cachoeira e Campo Alegre e, nas três possuía ao todo 810 escravos que cultivaram 1.810.000 pés de café. Sendo assim, toda a imensa e estrondosa fortuna foi conseguida com exploração do trabalho escravo, proporcionando aos senhores uma vida de luxo e fausto que ostentavam nos janelões e festas para convidados ilustres como políticos, nobres da Corte, bacharéis, etc. Nesses eventos, e não só na Fazenda Boa Vista, os comensais eram servidos com talheres de prata, taça e copo de fino cristal, paliteiros de ouro e prata, pratos e travessas de luxuosas porcelanas, numa demonstração de poder econômico e financeiro. Conforme citado no referido artigo anterior, a Fazenda Boa Vista transformou-se em hotel fazenda, com todos os seus móveis e utensílios utilizados pelos Almeida, muito bem preservados, além de ser utilizada para gravações de novelas e mini-series. Vale a pena visitá-la. Um abraço e até breve.

                                                                    Eddy Carlos.



Dicas de consulta.
FREITAS, Maria Aparecida Rezende Gouveia de. Bananal. Cidade Histórica. Berço do Café. Massao Ohno, Editor. São Paulo 1881

MAIA E MAIA, Tom e Thereza Regina de Camargo. O Passado ao Vivo. FDE. São Paulo, 1988

REIS, Paulo Ferreira dos. Lorena nos Séculos XVII e XVIII. Centro Educacional Objetivo. Fundação Nacional do Troperismo, 1988.


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