sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Os Liberais em Armas.


        Imagem extraída da internet, representando Raphael Tobias de Aguiar, líder da Revolução                                                       Liberal na Província de São Paulo.         


                    Após a proclamação da Independência, D.Pedro I tenta, através da Constituição de 1824, orientar a política da nação ao absolutismo. Com vários reveses que diluíam sua popularidade entre os brasileiros, o monarca abdica do trono em 1831 em favor do filho de 5 anos, Pedro de Alcântara. Até 1840, o Brasil foi governado pela Regência que enfrentou várias revoltas como a Balaiada, a Cabanagem e a Sabinada, além da Farroupilha, a mais longa (1835-1845) que tinham como objetivo adotar o sistema republicano e federativo de governo. Tais revoltas quase esfaleceram o Brasil em pequenos países a exemplo da América espanhola. Mas a unidade da nação foi mantida a custo de vidas e recursos. Ao mesmo tempo tratava-se uma luta no âmbito das facções políticas disputando o poder os Restauradores que desejavam a volta de D.Pedro I, os Conservadores e os Liberais. Com a morte de D.Pedro I (D.Pedro IV em Portugal) em 1834, os Restauradores perdem sua bandeira de luta e se unem aos Conservadores contra os Liberais. No mesmo ano de 1834 é promulgado o Ato Adicional que propõe a descentralização política tendo como base as Províncias em cuja aliança se firmaria o Império o que caracteriza um avanço do Partido Liberal.
                  Todavia, com o Partido Conservador no poder é promulgada a Lei de Interpretação do Ato Adicional no dia 12 de maio de 1840. O objetivo do Partido Conservador é reforçar o poder central diante das Províncias, eliminando o eventual federalismo e uma possível ameaça republicana, configurando daí uma guinada ao centralismo do Governo Imperial. Os Conservadores não mais longe; em 23 de novembro de 1841 recriam o Conselho de Estado e a 03 de dezembro do mesmo ano reformulam o Código do Processo Criminal. A implementação dessas leis colocam o Partido Liberal em situação delicada, principalmente com o novo Código de Processo Criminal que subtraía dos juízes de paz a atribuição de nomear delegados de polícia e inspetores de quarteirão que passavam a ser indicados pelo Chefe de Polícia de cada Província. Dessa forma as autoridades locais são atreladas ao poder central, ocupado pelo partido da situação (no caso o Conservador) e os senhores proprietários rurais tornam-se agentes do Império. A autoridade se burocratiza, sendo articulada hierarquicamente de cima para baixo.
                 Nesse ínterim, os membros do Partido Liberal entendem que seria impossível o retorno ao poder seguindo a legislação vigente e em São Paulo e Minas Gerais resolvem pegar em armas para defenderem seus ideais liberais. Na Província de São Paulo, a revolução é deflagrada na cidade de Sorocaba no dia 1º de maio de 1842, liderada pelo Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar (ex-presidente da Província), Gabriel dos Santos, Nicolau Pereira dos Santos Vergueiro (Senador do Império) e o Padre Diogo Antônio Feijó (ex-Regente do Império). Na Província de Minas Gerais a revolta eclode no dia 10 de junho, sendo liderada por Teófilo Benedito Ottoni (Deputado Geral do Império), José Feliciano Pinto Coelho da Cunha, Manoel Alves Branco, Padre José Antônio Marinho, entre outros. Ao focalizar nossa análise na Província de São Paulo, especificamente o Vale do Paraíba, veremos que a Revolução Liberal atinge a Vila de Lorena no dia 1º de junho de 1842, alastrando-se por Bananal, Areias, Silveiras, etc. Em Lorena assume a liderança o Padre Manoel Teotônio de Castro, sendo auxiliado por Joaquim José Moreira Lima, Antônio Luiz Domingues Bastos, Joaquim Guedes de Castilho, Antônio Dias Teles de Castro entre vários outros indivíduos. Apossando-se do armamento da Guarda Nacional os revoltosos enfrentam as forças legalistas compondo um total de quase mil homens, contando com voluntários inclusive do Embaú, onde foram convocados pelo Juiz de Paz local, o irlandês João Joaquim Fleming, proprietário da Fazenda Conceição, próxima do Quilombo.
                 Entretanto, os liberais afirmavam que a luta não era contra o Império e sim contra o Gabinete Conservador que mobilizara todos os recursos para sufocar o levante. Mas em Lorena, a luta decaiu para o âmbito familiar e pessoal. O Padre Manoel Teotônio de Castro ordena que fosse levado a sua presença “vivo ou morto” o seu cunhado José Vicente de Azevedo, membro do Partido Conservador; este avisado o tempo refugia-se em Guaratinguetá. A repressão, todavia, fica a cargo do então Barão de Caxias que depois de vencer as hostes de Tobias de Aguiar em Sorocaba e prender o Padre Feijó, promete aniquilar o último baluarte rebelde que se abrigaram em Silveiras. Ocorreu então um “banho” de sangue em Silveiras no dia 12 de julho de 1842, pondo fim ao movimento liberal na Província de São Paulo; em Minas terminou com a batalha de Santa Luzia no dia 20 de agosto.
              Consequentemente, sufocado o levante, iniciam os processos para julgar os culpados, mas em 1844 o Governo Imperial concede anistia a todos os envolvidos na Revolução Liberal. A partir de então, os partidos políticos alternam-se no poder e são tanto oposição como situação e não levam mais para o campo das armas suas convicções e são cooptados a apenas conduzir a política segundo as determinações do governo central. Ambos, conservadores e liberais, porém, iriam encontrar um adversário comum a partir. Na convenção de Itu no dia 16 de abril de 1873 é fundado o Partido Republicano cujos ideais inspirados no positivismo levariam à queda da monarquia em 15 de novembro de 1889. Um grande abraço e até breve.
                                                                                                                         Eddy Carlos.


Indicações para consulta.

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Formação do patronato político brasileiro. São Paulo. Editora Globo, 2001.

MARINHO, José Antônio. História da Revolução de 1842. Série Estudos Históricos. Vol.12. Editora UnB. Brasília, 1978.

RODRIGUES, Antônio da Gama. Gens Lorenensis. Do Sertão de Guaypacaré à Formosa Cidade de Lorena. Coleção Lorenense. Vol.VI. HL 2 Gráfica e Editora. Lorena, 2002.

SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. Uma Janela no Tempo: Os “Godoy Fleming” no Embaú. Editora Penalux. Guaratinguetá, 2015.




Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br

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