sábado, 9 de março de 2019

A Vila do Barreiro.


            Fotografia de 1958 da Praça Cel. Cunha Lara, em São José do Barreiro. Fonte: IBGE.

                Com o esgotamento da produção aurífera na região das Minas, sobretudo a partir do último quartel do século XVIII, muitos mineradores que não conseguiram amealhar riqueza suficiente abandonaram as “Gerais” e dirigem-se para outras partes da então colônia. Um dos destinos e, talvez, o mais procurado é a região próxima do chamado Caminho Novo da Piedade, o qual já mencionamos em artigos anteriores deu origem às cidades que atualmente integram o denominado Vale Histórico: Bananal, Arapeí, São José do Barreiro, Areias e Silveiras. Para incentivar o povoamento a Coroa Portuguesa concedia vastas extensões de terra em forma de sesmarias àqueles que interessassem para garantir-lhes o sustento e a seus familiares, com a condição de cultivar o terreno doado. Para muitos, como já dissemos, mineradores falidos tratava-se de uma ótima oportunidade para reverter a sua situação e, mais tarde com o “boom” do café, também para os bem-sucedidos (ou seus herdeiros) investirem seus cabedais na instalação de fazendas, plantio e aquisição para o eito.
                     No final do século XVIII, ao seguirem pela Serra da Mantiqueira com destino ao porto de Mambucaba, o Capitão Fortunato Pereira Leite, acompanhado de seu cunhado João Ferreira de Souza, além de familiares e agregados, detiveram-se próximo a um rio em que havia um atoleiro de passagem dificílima. Em 1785, tal região já era conhecida como o “Barreiro”, como consta na Carta de Doação de Sesmaria para Antônio João de Araújo, morador da Vila de Guaratinguetá, de 12 de agosto do mesmo ano. Vindos de Pouso Alto, no entanto, o Capitão Fortunato e João Ferreira, fundam um arraial e em 1820, é erguida uma capela em louvor a São José, o que faz com que o povoado passe a ser conhecido com o nome de São José do Barreiro. Pertencendo à Vila de Areias, que por sua vez havia se emancipado de Lorena em 1816, o Arraial do Barreiro é elevado à Freguesia, pela Lei provincial de 4 de março de 1842, após ter sido capela curada em 1836. Finalmente, pela Lei de 9 de março de 1859 é elevado à condição de Vila livrando-se dessa forma, da tutela política de Areias, e mantendo o nome de Vila de São José do Barreiro.
                 No município, desenvolveram-se diversas fazendas de café, fato que contribuiu para a evolução econômica do local, que é atestado por Augusto Emílio Zaluar, durante seu percurso na Vila do Barreiro, em 1860. Lembremos, no entanto, que desenvolvimento econômico nem sempre significa melhorias e bem-estar num contexto amplo, o que já era percebido por Zaluar, que afirma que as ruas da Vila do Barreiro, “são perfeitamente alinhadas, quase todas planas, e os prédios, ainda que pouco importantes pela maior parte, construídas com regularidade”. O viajante nota também que a Vila era dividida em dois bairros: o nobre “habitado pelas pessoas mais abastadas do lugar” e o outro “habitado pelas classes pobres, e quase todas as casas são ainda ali cobertas de sapé”. Zaluar faz também menção à Fazenda Catadupa, de propriedade de Roque Álvares de Magalhães, localizada próxima a uma dupla cachoeira que forma o Rio Formoso e que, junto com o Rio Barreiro torna-se um dos cartões postais dignos de apreciação na cidade. Por volta de 1870, de acordo com a análise de Azevedo Marques, a maior parcela da população de São José do Barreiro dedicava-se à lavoura cafeeira, exportando aproximadamente 200 mil arrobas do produto beneficiado, sendo muito bem aceito no Rio de Janeiro; dar para o mercado externo, integrando o grosso da produção valeparaibana. Outras fazendas compõe o cenário histórico do Barreiro, como a São Miguel, São Francisco, São Benedito, da Barra, construída em 1817 e a mais famosa; a Pau d’Alho, de João Ferreira de Souza que hospedou em 1822 o príncipe Dom Pedro, quando de sua viagem à São Paulo; o roteiro da independência do Brasil.
                Por outro lado, assim como muitas cidades paulistas, sobretudo do Vale do Paraíba, São José do Barreiro foi bombardeada e ocupada militarmente durante a Revolução de 1932, pelas forças legalistas de Getúlio Vargas, causando pânico, sofrimentos, perdas materiais e em vidas na população civil. Atualmente, a cidade de São José do Barreiro, tem no Turismo, a sua principal fonte de renda, juntamente com a Pecuária e a Agricultura. Alguns pontos turísticos, além das fazendas mencionadas, merecem ser visitados como o Theatro São José, inaugurado em 1886 e restaurado e reinaugurado em  1926; o Cemitério dos Escravos, construído por cativos, em 1884, para sepultar os senhores; e a casa da Câmara e Cadeia, atualmente o Fórum da cidade. Outro local de referência é o Clube dos 200, hotel-fazenda inaugurado em 1928 e frequentado por diversas personalidades como Washington Luís, Getúlio Vargas, Cândido Rondon, Juscelino Kubitschek e Assis Chateaubriand. Para incentivar e incrementar o turismo, foi criado o Circuito Turístico Vale Histórico, integrando além de São José do Barreiro, Silveiras, Areias, Bananal, Arapeí e Queluz. Tal projeto proporciona para que não se perca a história, cultura, tradição e principalmente a memória do Brasil colonial, aqui restrito ao Vale do Paraíba. Até a próxima.
                                                                                                             Eddy Carlos.

Dicas para consulta.
MAIA e MAIA, Thereza Regina de Camargo e Tom. O Passado ao vivo. FDE. São Paulo, 1988.
MARQUES, Manuel Eufrásio de Azevedo. Apontamentos da Província de São Paulo. Tomo I. Biblioteca Histórica Paulista. Vol. I. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.
REIS, Paulo Pereira dos. Lorena nos séculos XVII e XVIII. Fundação Nacional do Tropeirismo. Centro Educacional Objetivo. CERED. Caçapava, 1988.
SOUTO, Reynaldo Maia. São José do Barreiro. Apontamentos Históricos, Literários e Genealógicos. 09/03/1859-09/03/1959. Edição Comemorativa do 1º Centenário do Município de São José do Barreiro. Gráfica da Papelaria São José. Resende, 1959.
ZALUAR, Augusto Emílio. Peregrinação pela Província de São Paulo. (1860-1861) Biblioteca Histórica Paulista. Vol. II. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.

Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário