Fotografia de 1958 da Praça Cel. Cunha Lara, em São José do Barreiro. Fonte: IBGE.
Com o esgotamento
da produção aurífera na região das Minas, sobretudo a partir do último quartel
do século XVIII, muitos mineradores que não conseguiram amealhar riqueza
suficiente abandonaram as “Gerais” e dirigem-se para outras partes da então
colônia. Um dos destinos e, talvez, o mais procurado é a região próxima do
chamado Caminho Novo da Piedade, o qual já mencionamos em artigos anteriores
deu origem às cidades que atualmente integram o denominado Vale Histórico:
Bananal, Arapeí, São José do Barreiro, Areias e Silveiras. Para incentivar o
povoamento a Coroa Portuguesa concedia vastas extensões de terra em forma de
sesmarias àqueles que interessassem para garantir-lhes o sustento e a seus
familiares, com a condição de cultivar o terreno doado. Para muitos, como já
dissemos, mineradores falidos tratava-se de uma ótima oportunidade para
reverter a sua situação e, mais tarde com o “boom” do café, também para os bem-sucedidos
(ou seus herdeiros) investirem seus cabedais na instalação de fazendas, plantio
e aquisição para o eito.
No final do século XVIII, ao seguirem pela
Serra da Mantiqueira com destino ao porto de Mambucaba, o Capitão Fortunato
Pereira Leite, acompanhado de seu cunhado João Ferreira de Souza, além de
familiares e agregados, detiveram-se próximo a um rio em que havia um atoleiro
de passagem dificílima. Em 1785, tal região já era conhecida como o “Barreiro”,
como consta na Carta de Doação de Sesmaria para Antônio João de Araújo, morador
da Vila de Guaratinguetá, de 12 de agosto do mesmo ano. Vindos de Pouso Alto,
no entanto, o Capitão Fortunato e João Ferreira, fundam um arraial e em 1820, é
erguida uma capela em louvor a São José, o que faz com que o povoado passe a
ser conhecido com o nome de São José do Barreiro. Pertencendo à Vila de Areias,
que por sua vez havia se emancipado de Lorena em 1816, o Arraial do Barreiro é
elevado à Freguesia, pela Lei provincial de 4 de março de 1842, após ter sido
capela curada em 1836. Finalmente, pela Lei de 9 de março de 1859 é elevado à
condição de Vila livrando-se dessa forma, da tutela política de Areias, e
mantendo o nome de Vila de São José do Barreiro.
No município, desenvolveram-se
diversas fazendas de café, fato que contribuiu para a evolução econômica do
local, que é atestado por Augusto Emílio Zaluar, durante seu percurso na Vila
do Barreiro, em 1860. Lembremos, no entanto, que desenvolvimento econômico nem
sempre significa melhorias e bem-estar num contexto amplo, o que já era
percebido por Zaluar, que afirma que as ruas da Vila do Barreiro, “são
perfeitamente alinhadas, quase todas planas, e os prédios, ainda que pouco
importantes pela maior parte, construídas com regularidade”. O viajante nota
também que a Vila era dividida em dois bairros: o nobre “habitado pelas pessoas
mais abastadas do lugar” e o outro “habitado pelas classes pobres, e quase
todas as casas são ainda ali cobertas de sapé”. Zaluar faz também menção à
Fazenda Catadupa, de propriedade de Roque Álvares de Magalhães, localizada
próxima a uma dupla cachoeira que forma o Rio Formoso e que, junto com o Rio
Barreiro torna-se um dos cartões postais dignos de apreciação na cidade. Por
volta de 1870, de acordo com a análise de Azevedo Marques, a maior parcela da
população de São José do Barreiro dedicava-se à lavoura cafeeira, exportando
aproximadamente 200 mil arrobas do produto beneficiado, sendo muito bem aceito
no Rio de Janeiro; dar para o mercado externo, integrando o grosso da produção
valeparaibana. Outras fazendas compõe o cenário histórico do Barreiro, como a
São Miguel, São Francisco, São Benedito, da Barra, construída em 1817 e a mais
famosa; a Pau d’Alho, de João Ferreira de Souza que hospedou em 1822 o príncipe
Dom Pedro, quando de sua viagem à São Paulo; o roteiro da independência do
Brasil.
Por outro lado, assim como
muitas cidades paulistas, sobretudo do Vale do Paraíba, São José do Barreiro
foi bombardeada e ocupada militarmente durante a Revolução de 1932, pelas forças
legalistas de Getúlio Vargas, causando pânico, sofrimentos, perdas materiais e
em vidas na população civil. Atualmente, a cidade de São José do Barreiro, tem
no Turismo, a sua principal fonte de renda, juntamente com a Pecuária e a
Agricultura. Alguns pontos turísticos, além das fazendas mencionadas, merecem
ser visitados como o Theatro São José, inaugurado em 1886 e restaurado e
reinaugurado em 1926; o Cemitério dos
Escravos, construído por cativos, em 1884, para sepultar os senhores; e a casa
da Câmara e Cadeia, atualmente o Fórum da cidade. Outro local de referência é o
Clube dos 200, hotel-fazenda inaugurado em 1928 e frequentado por diversas
personalidades como Washington Luís, Getúlio Vargas, Cândido Rondon, Juscelino
Kubitschek e Assis Chateaubriand. Para incentivar e incrementar o turismo, foi
criado o Circuito Turístico Vale Histórico, integrando além de São José do
Barreiro, Silveiras, Areias, Bananal, Arapeí e Queluz. Tal projeto proporciona
para que não se perca a história, cultura, tradição e principalmente a memória
do Brasil colonial, aqui restrito ao Vale do Paraíba. Até a próxima.
Eddy Carlos.
Dicas para consulta.
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Comemorativa do 1º Centenário do Município de São José do Barreiro. Gráfica
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ZALUAR, Augusto
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São Paulo. (1860-1861) Biblioteca Histórica Paulista. Vol. II. Livraria
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Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br
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