No dia 18 de setembro de 2009, a
Prefeitura Municipal de Cachoeira Paulista inaugurou a ponte Euclides Godoy no
Embaú. Estando presentes na solenidade entre autoridades, políticos, cidadãos
ilustres, a população local assistiu ao ato de descerramento da placa inaugural
da ponte de concreto sobre o córrego denominado Rio Branco. Tal ponte, mais
precisamente um pontilhão, substituiu a velha de toras de madeira e terra pilada
que por muitos anos existiu no local. Com a obra, a Administração Pública tenta
resolver de vez as constantes quedas ou rompimentos do antigo pontilhão em
decorrência da ação do tempo e enchentes causadas pelas chuvas de verão. Sendo
uma área de várzea, durante o período mencionado os córregos e ribeirões
transbordam alagando boa parte da área e, ocasionalmente a força das águas
arrastam tudo em seu caminho. Foi o que ocorreu com a ponte sobre o Rio Embaú
que desabou devido às chuvas em janeiro desse ano e que, interligava as áreas
rurais de Cachoeira Paulista e Cruzeiro (Embaú e Várzea Alegre). Essa ponte,
que ainda não foi recuperada, está no itinerário da que estamos analisando e
nesse sentido a obra inaugurada não restabelece a ligação com os dois
municípios, mas evita o possível isolamento de duas residências caso o antigo
pontilhão, já em estado precário, se rompesse nas próximas chuvas.
No entanto, essa observação não desmerece
e muito menos desqualifica a necessidade de se erigir a referida ponte, uma vez
que as autoridades públicas buscaram evitar o mesmo que ocorrera com a do Rio
Embaú, já mencionada. Ou seja, anteciparam-se e não esperaram a ponte cair para
então realizar os estudos e análises, bem como os processos licitatórios para o
empreendimento, o que acarretaria em um largo espaço de tempo. O Rio Branco tem
sua nascente em território do Município de Lorena e no seu trajeto, no bairro
do Embaú, possui três pontes, além da que é objeto de análise no presente
artigo. Porém, duas há muito são de concreto, a saber: a que está construída na
Rodovia Cristiano Alves da Rosa (Cachoeira-Piquete), ligando a área urbana do
Embaú ao cemitério, também conhecida como ponte do Miróca (Rosmínio de Godoy
Fleming), e a que faz ligação com a Várzea dos Cunha, ambas resistindo com a
ação das enchentes. Como afluente do Rio Embaú na sua margem direita, o Rio
Branco recebe por sua vez as águas do Córrego do Juqueta, o qual nasce próximo
às Furnas e faz a junção com o precedente na propriedade da família do autor do
presente relato, após dividi-la ao meio. Desse ponto em diante, principalmente
nas enchentes, o rio torna-se mais volumoso e deságua no Rio Embaú após contornar
as duas propriedades citadas no início e, com o rompimento do pontilhão
ocorreria o isolamento total.
A construção de pontes ou pontilhões
sempre foi uma preocupação das autoridades, devido a intensa cobrança dos
contribuintes e, não só na região, como em qualquer lugar, pois facilita os
meios de locomoção e transporte de mercadorias. Analisando as Atas da Câmara
Municipal de Cruzeiro, no período em que a mesma estava sediada no Embaú,
encontramos alguns ofícios e requerimentos abordando sobre pontes nos rios,
Embaú e Branco. Vamos focalizar no último, deixando o anterior para artigo a
ser elaborado, como mencionado anteriormente. Citando algumas dessas atas,
constatamos, por exemplo, que na Sessão Ordinária de 6 de abril de 1875, o
Vereador Tenente Antônio Nunes Duarte propôs a instalação de pontilhões no Rio
Branco e outro no Rio Embaú-Mirim, alegando que eram rios que impediam o
trânsito público. Em outra sessão, também Ordinária, do dia 8 de outubro de
1875, o Presidente da Câmara Capitão Mariano Ferreira da Silva apresenta uma
indicação mandando reparar a ponte do Rio Branco, “na estrada de Piquete”, onde
haviam se quebrado alguns pranchões. Essa deve ser a ponte da rodovia, visto
que o antigo caminho do Quilombo ligava também a Piquete, então bairro de
Lorena. Na sessão Ordinária de 8 de maio de 1877, um novo requerimento pedindo
o conserto da ponte e na de 25 de julho de 1877, a Casa recebe a
proposta do oficial carpinteiro João Alberto da Silva, que se oferecia para
reconstruir a mesma ponte. Não informa, porém, se foi aceita ou rejeitada a
referida proposta.
Entrementes, com a recente inauguração
foi homenageado conforme citado no início deste relato, o Sr. Euclides de
Godoy. Representando uma das famílias mais tradicionais do Embaú, Euclides era
filho de João de Godoy Fleming e Ricarda de Castro Fleming, proprietários da
Fazenda Godoy, conhecida também como “do Embaú”. Filho primogênito, nasceu no dia 15 de maio de 1890 e se casou na Igreja do Embaú em 9 de
julho de 1912 com Firmina Bastos. A consorciada, por sua vez era filha do Major
Chrispim Bastos, rival político do Major Novaes e proprietário da Fazenda Rio
Branco, e de Cândida Gomes Serapião. Euclides concluiu os estudos do antigo
Ginásio no Colégio São José em Silvestre Ferraz , Minas Gerais em 1909. No
inventário de seu
pai, em 1910
o homenageado aparece com o nome de Euclides de Godoy Fleming e herda grandes
extensões de terra no Embaú-Mirím, que depois troca com o irmão José de Godoy.
Quando do falecimento da mãe em 1956, herda entre outros bens, o imóvel que foi
sua residência, onde atualmente funciona a Associação Criança Feliz, dirigida
pela neta, a Professora Maria de Lourdes Godoy Oliveira Serapião. Do casamento
Euclides teve três filhas: Ricarda Godoy, Maria Aparecida e Cândida Godoy.
Professora de destaque no Embaú, Maria Aparecida discursou perante o então
Prefeito de Cachoeira Agostinho Ramos em 1934, quando da incorporação do Embaú
ao Município. Falecida prematuramente, Maria Aparecida deixa, ainda pequeno, o
filho Darwin Antônio, hoje eminente jornalista radicado em Mogi das Cruzes, fruto
da união com Antônio Valente. Atualmente, a principal rua do Embaú ostenta o
nome da educadora. Outra filha de Euclides que se destacou na vida política do
Embaú foi Cândida Godoy, conhecida pela alcunha de Dolinha, mãe de Maria de
Lourdes. Apesar da atividade, não se
filiou a nenhum partido político. Tio, por parte de mãe, da ex-vereadora
Adracir Fleming Bittencourt, Euclides foi, também vereador e foi amigo muito
próximo de Agostinho Ramos. Após ficar viúvo em 1967, o homenageado falece em 1972. A homenagem prestada
a memória de Euclides de Godoy, na tarde de 18 de setembro de 2009, sexta-feira,
em meio às “nuvens” de pernilongos, a qual o autor deste relato esteve
presente, soma-se às inúmeras já prestadas outros membros da distinta família. Deveria,
contudo, ser divulgado ou até explicado em salas de aula, não como apologia,
mas de cunho informativo, pois a grande e imensa maioria da população, em
qualquer lugar, desconhece a origem e o histórico de homenageados com seus
nomes a prédios públicos, logradouros, estradas e pontes. Até a próxima.
Eddy Carlos.
Dicas para
consulta.
FEDERICI, Hilton. Atas da Câmara Municipal de Cruzeiro. Vol. I – Tomo A. (Período
Imperial; 1873-1879). Da instalação do Município até a Proclamação da República.
Edição da Câmara Municipal de Cruzeiro.
Cruzeiro, 1979.
PASIN, José Luiz. Vale do Paraíba. A Estrada Real. Caminhos e Roteiros. Editora
Santuário. Aparecida, 2004.
RAMOS, Agostinho. Cachoeira Paulista. 1780-1970. 2 volumes. IHGSP. São Paulo; 1971.
SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. Uma Janela no Tempo. Os “Godoy Fleming” no Embaú.
Editora Penalux. Guaratinguetá, 2015.
E-mail: eddycarlos@ymail.com
Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br
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