segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Embaú, ex-Município.

Vista parcial do bairro do Embaú, no ano de 1976. Ao fundo, à esquerda, o telhado da antiga Câmara Municipal. Fotografia de autoria do jornalista Darwin Valente. Acervo histórico-documental do Recanto da Glória/Prof. Eddy Carlos.


                Inicialmente habitado pelos índios Puris, o Embaú se tornaria ponto de passagem obrigatório para os aventureiros e preadores de índios, que seguiam também a rota da mineração, cruzando a Serra da Mantiqueira no local chamado Garganta do Embaú para atingir a região das minas. O cruzamento entre brancos e índios que teria iniciado por volta de 1560, segundo o poeta Pedro Gussen, foi se expandindo e, em 1781, foi iniciada a construção de uma capela na área doada por João Ferreira da Encarnação. Devido a sua importância estratégica, o Embaú é mencionado por vários autores desde longa data como Capistrano de Abreu; inclusive por Antonil, referindo-se ao caminho do ouro. A capela é inaugurada em 1787 e no dia 19 de fevereiro de 1846, é elevada à Freguesia com o nome de Nossa Senhora da Conceição do Embaú, pertencendo ao Município de Lorena. Tal fato ocorreu através da Lei n° 05, sancionada pelo Presidente da Província de São Paulo, Manoel Fonseca Lima e Silva.

                Durante a fase aurífera, o Embaú tornou-se um centro escoadouro da Capitania de Minas Gerais, por onde transitavam tropas carregadas de mercadorias, ocorrendo à realização de feiras comerciais, de acordo com Joaquim de Paula Guimarães. O trajeto das mercadorias, depois de passar pelo Embaú, prossegiua por Guaratinguetá, Cunha, chegando a Paraty. Com o desenvolvimento econômico, o Embaú iria “galgar” mais um degrau na hierarquia administrativa. No dia 06 de março de 1871, com a Lei n° 08, o Governo Provincial, presidido por Antônio da Costa Pinto e Silva, é criado o Município de Nossa Senhora da Conceição do Cruzeiro, elevando o Embaú à condição de Vila, separando-o de Lorena. Após eleições realizadas em 07 de setembro de 1872, toma posse no dia 08 de janeiro de 1873, a primeira Câmara Municipal do Embaú. A posse é oficializada pelo Presidente da Câmara de Lorena, Antônio Rodrigues de Azevedo Pereira. A mudança do nome Embaú para Cruzeiro refere-se a um marco em forma de cruz colocado no alto da Serra da Mantiqueira no século XVIII para separar as capitanias de Minas e São Paulo, segundo a análise do Prof. Hilton Federici.

              Com o advento da ferrovia, no entanto, o Embaú passa por um período de estagnação econômica. As duas estradas de ferro, a “Pedro II” e a “Minas and Rio”, são instaladas longe da sede da Vila. No ponto de entroncamento, na estação inaugurada em 1884, surge um novo aglomerado urbano. Alguns autores atribuem a esse desvio ferroviário como sendo obra do Major da Guarda Nacional, Manoel de Freitas Novaes, político do Partido Conservador, vereador no Embaú, que exerceu a presidência da Câmara, além de ser o proprietário da Fazenda Boa Vista, próxima à referida estação. Há controvérsias quanto sua interferência nos planos da ferrovia. O fato, porém, é que o novo local, o “Povoado da Estação”, devido às condições econômicas proporcionadas pela ferrovia, acaba suplantando o Embaú.

                Em 1891, o Major Novaes consegue do Presidente de São Paulo, a criação da Vila Novaes, dividindo a Vila do Cruzeiro (Embaú) em dois municípios. O decreto que cria tal Vila é assinado por Américo Brasiliense que, ao ser substituído por Cerqueira César, vê seus últimos atos sendo anulados, entre os quais o da criação da Vila Novaes em 1892. A partir daí surgem rivalidades entre o Embaú e o Povoado da Estação, devido à campanha mobilizada pelos partidários do Major Novaes para a transferência da sede do Município. O Major falece em 1898 e até 1901, o Embaú foi a sede do Município de Cruzeiro, quando é transferida para o local da atual cidade de Cruzeiro. Por outro lado, o surgimento da ferrovia deslocou o fluxo econômico fora do Embaú, suplantando o antigo centro urbano, como já mencionado.                           

                Paralelamente, no ano de 1880, o antigo Porto da Cachoeira, é elevado à condição de município, com o nome de Vila de Santo Antônio da Bocaína, no dia 09 de março. No dia 02 de outubro de 1901, o Presidente do Estado de São Paulo, Francisco de Paula Rodrigues Alves, assina a Lei Estadual n° 789, transferindo a sede municipal do Embaú para o Povoado da Estação. De 1901 a 1934, o Embaú foi Distrito de Cruzeiro e, em 1932, toda a região “fervilhou” com Revolução Constitucionalista, sofrendo com bombardeios das forças legalistas de Vargas. No Embaú, a Fazenda Godoy foi ocupada por uma divisão da Força Pública, por estar localizada às margens da então Rodovia Cachoeira-Cruzeiro e, pelo fato de somente nesta propriedade possuir uma linha telefônica, ou seja, uma ocupação estrategicamente militar.

               No governo de Armando de Sales Oliveira, em 1934, o Embaú é incorporado à Cachoeira Paulista, bem como o Embauzinho e o Quilombo, sendo considerados como bairros rurais; o Embaú por sua vez após algumas tentativas emancipacionistas é elevado à condição de subprefeitura no dia 06 de março de 2008, resgatando parte de seu prestígio, depois de 74 anos. Coube à edilidade cachoeirense outorgar ao Embaú parte do que lhe foi tirado, mesmo Cachoeira não possuindo vínculos históricos e políticos no passado com a célula-máter de Cruzeiro. Foram divergências políticas na virada do século XIX para o XX que culminaram com a rejeição do Embaú por Cruzeiro, cabendo, como já mencionado, a responsabilidade à Cachoeira Paulista. Para a população mais antiga e nonagenária do Embaú é um momento de nostalgia; para a geração atual e as futuras, uma chance de valorizar o “vovô” do Vale, conforme a expressão utilizada por Humberto Turner. 

                                                                                      Eddy Carlos. 

 

Dicas para consulta.

FEDERICI, Hilton. História de Cruzeiro. (Volume I). Das origens remotas até a instalação do Município (em 1873). Publicações da Academia Campinense de Letras. Campinas,1974. 

______________. História de Cruzeiro. (Volume II). Da instalação do Município até a transferência da sua sede (1873-1901). Publicação da Academia Campinense de Letras. Campinas, 1978. 

GUIMARÃES, Joaquim de Paula. Síntese da História de Cruzeiro. Edição da Prefeitura Municipal de Cruzeiro, 1951. 

RAMOS, Agostinho. Cachoeira Paulista. 1780-1970. 2 volumes. IHGSP. São Paulo, 1971. 

SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. Embaú, contrastes entre o passado e a realidade do presente de um núcleo urbano. Trabalho de Graduação em História pela UNIVAP. São José dos Campos, 2002. Edição Mimeografada. 

_________________________. O Mandonismo Político. Atuação Política do Major Novaes (1873-1898). Trabalho de Conclusão de Curso em História do Brasil Republicano pela UNITAU. Taubaté, 2004. Edição mimeografada.

 

4 comentários:

  1. Aaah!!! Esse esqueleto de pau-a-pique é a casinha onde fui criada!
    Que saudade!!!

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  2. Aaah!!!🥰 Esse esqueleto de pau-a-piqur é a casinha onde fui criada!
    Que saudade!!!

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  3. Coloca mais fotos antigas assim do nosso bairro

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