Hepacaré.
Com o fim da França Antártica, apressada pela “quebra” da
Confederação dos Tamoios, o 3° Governador-Geral do Brasil, Mem de Sá em visita
à Capitania de São Vicente, determina que o provedor Brás Cubas e Luís Martins
organizassem uma expedição com a missão de descobrirem minas de ouro e prata.
Tal expedição, que teria sido a primeira a explorar o território valeparaibano,
seguiu o itinerário que corresponde com o da Estrada Velha Rio-São Paulo – Caminho
Velho dos Paulistas, Estrada Geral, etc. - passando por Boigy, acompanhando o
curso do Rio Paraíba até o Porto da Cachoeira, aí cruzando o referido rio,
seguindo em direção à Garganta do Embaú, atingindo então o Sertão dos
Cataguases (Minas Gerais). É ainda, nessa expedição que é atribuída a primeira
presença de colonizadores na região do Embaú, então, habitação dos índios Puris
em 1562. Apesar das divergências entre historiadores, quanto à veracidade da
viagem de Brás Cubas pelo Vale do Paraíba, outras teriam ocorrido, dando início
à fase das Entradas, seguidas pelas Bandeiras, estas de preagem, cujo resultado
catastrófico “pesou” contra os silvícolas. Em 1601, André de Leão organiza e
chefia uma grande Entrada que segue o roteiro de Brás Cubas, sendo integrada
pelo holandês Wilhelm Joos ten Glimmer, com a função de pesquisar minérios que,
eventualmente poderiam revelar a existência de metais preciosos. Glimmer, além
de pesquisar minérios, deixou um relato da viagem que fizera e, em um trecho
descreve o Rio Paraíba, citando, porém o nome usado pelos índios. Segundo o
holandês, o mencionado rio, que “corre” para o Ocidente, “depois formando um
cotovelo, se dirige em certa extensão para o norte, e finalmente, como
vulgarmente se pensa, se lança no oceano, entre o Cabo Frio e a Capitania do
Espírito Santo, abundantissímo tanto de peixes grandes, como pequenos; dão lhe
o nome de rio dos Sorobis”.
Acompanhando Entradas e Bandeiras, alguns
colonos fixam-se em determinados locais, requerem sesmarias, fundam povoados,
após despovoarem a região com a escravização e exterminio dos nativos, surgindo
as primeiras vilas valeparaibanas como Taubaté, Guaratinguetá e Jacareí. Sendo
assim, de acordo com a análise do Profº Paulo Pereira dos Reis, por volta de
1694, o bandeirante Bento Rodrigues Caldeira e familiares fixaram residência na
localidade de Hepacaré, chamada também de Guaypacaré. O local, próximo ao Rio
Paraíba pertencia à Vila de Guaratinguetá, cujos limites estendiam-se até a
fronteira do atual Estado do Rio de Janeiro. O agrupamento citado ficou
conhecido nos relatos oficiais e dos diversos bandeirantes, que seguiam rumo à
Garganta do Embaú, como as “Roças de Bento Rodrigues do Porto de Guaypacaré”;
nome também citado por Antonil em obra memorável no início do século XVIII. A
explicação dos nomes varia entre os autores; sendo a de João Mendes de Almeida
a mais plausível, e citada por Paulo Pereira dos Reis. Na opinião de Almeida, a
povoação “era antigamente conhecida pelo nome de Guaipacaré; e pelos que navegavam
o rio, era dito – o porto de Hepacaré .(...) isto significava, em linguagem
tupi, lugar das goiabeiras. Hepacaré é corrupção de I-páu – ‘qûá – ‘re’,
enseada da ilha do rio. (...) nessa região, há uma ilha, (...) de sorte que,
pelo braço do rio, à margem esquerda, quem navega tem de fazer uma grande
volta; ao passo que, pelo outro braço, à margem direita, é quase reto o
trajeto”. Outros autores mencionam o nome do Guapacaré, dentre os quais Teodoro
Sampaio e Capistrano de Abreu. A corruptela para Hepacaré foi feita pelos
habitantes e usuários de referido porto fluvial.
Entrementes, no ano de 1705, Bento
Rodrigues Caldeira, auxiliado por João de Almeida Pereira, Pedro da Costa
Colaço e Domingos Machado Jacome, erigem uma pequena capela sob a invocação de
Nossa Senhora da Piedade, doando para patrimônio a soma de duzentos mil réis. Tal
capela tornou-se à época o primeiro santuário religioso visitado por viajantes
que iam e voltavam da região das minas; suplantado depois pela capela de
Aparecida em Guaratinguetá . Em 1718, obedecendo à provisão de Dom Francisco de
São Jeronymo, bispo do Rio de Janeiro, a capela da Piedade desmembrou-se da
Igreja Matriz de Santo Antônio da Vila de Guaratinguetá, tornando-se assim
igualmente Matriz, cujo primeiro vigário foi o padre Pedro Vaz de Machado.
Dessa forma, o velho arraial de Hepacaré ou Guapacaré é elevado à condição de
freguesia, com o nome de Freguesia de Nossa Senhora da Piedade. De acordo com a
pesquisa de Antônio da Gama Rodrigues, os moradores da nova freguesia “trataram
de fazer a Igreja Nova, demolindo a pequena Capela primitiva, ficando lugar
desta, junto à Cruz que (...) está no adro da Igreja, da parte de fora da mesma
Cruz, para a parte do poente”. A partir de 1724, as autoridades da Capitania de
São Paulo passam a conceder sesmarias ao longo da Estrada Real, entre a
Freguesia da Piedade e a Garganta do Embaú, beneficiando Jerônimo Dias,
Domingos Bicudo Leme e Domingos Rodrigues Correia, este recebendo em 1736, na
região do Embaú, meia légua de frente por uma de comprido, próximo ao Rio
Passa-Vinte. Outras sesmarias foram concedidas a Manuel Fernandes Pinto, Manuel
Duarte Filgueiras e o Capitão Lázaro Fernandes, a deste no sentido das “minas
de Itagyba”. Como por esse caminho já houvesse contrabando de ouro, as
autoridades coloniais, instalam o “Registro”, ao pé da Serra da Mantiqueira;
bem mais tarde tornar-se-ia a cidade de Piquete.
Todavia, em 1725, tem início a construção do
Caminho Novo da Piedade, cuja finalidade era estabelecer a ligação da Vila de
Guaratinguetá diretamente ao Rio de Janeiro, através do chamado “Sertão Incompreensível”.
A ordem para a abertura do mencionado caminho data de 28 de fevereiro do ano
citado acima e, de acordo com a análise do Prof° Francisco Sodero Toledo, foi
iniciativa de Rodrigo César de Menezes, Capitão-General da Capitania de São
Paulo. Outro objetivo para tal caminho seria o de transportar o ouro extraído
das minas de Goiás e Mato Grosso. Para iniciar os trabalhos de abertura do
“Caminho Novo da Piedade”, foi designado o Capitão-Mor da Vila de
Guaratinguetá, Domingos Antunes Fialho, tendo como auxiliar seu irmão Manoel
Antunes Fialho. Porém, além das dificuldades naturais da época, alterações de
traçados e a supressão da Capitania de São Paulo, haviam muitas fugas de
escravos e ataques dos índios embrenhados nas matas da Serra da Bocaína. Dessa
forma, somente no ano de 1778, o caminho foi concluído sob as ordens de outro
Capitão-Mor de Guaratinguetá, Manoel da Silva Reis. De acordo com Sodero, o
Capitão-General Martim Lopes Lobo de Saldanha outorgou poderes a Manoel da
Silva Reis para doar áreas territoriais, ao longo do Caminho Novo da Piedade,
para os que o auxiliaram no empreendimento. Pelo fato de o caminho ter sido
inaugurado em 1778, a função original de ser utililizado para transportar ouro
perdeu o seu sentido, uma vez que, as minas já estavam esgotadas. Seguindo a
análise, mais uma vez, do Prof° Sodero, tal caminho serviu, entretanto, “ em
muitas oportunidades, para o transporte do gado enviado para o abastecimento do
Rio de Janeiro, e preencheu nova e importante função: a de transportar café”.
A inauguração do Caminho Novo da Piedade,
impulsionou o desenvolvimento político e econômico na Freguesia. Em 1788, ela
era considerada próspera, pois além do Caminho Novo, que a ligava à sede dos
Vice-Reis, ainda contava com a Estrada Real, ligando-a à Capitania das Minas.
Somando com a recém-criada Freguesia de Santana da Paraíba Nova (futura
Areias), a Freguesia da Piedade possuía uma população de aproximadamente 4.000
alunos. Sendo assim, no mesmo ano de 1788, os moradores da Freguesia enviam uma
petição para Bernardo José de Lorena, Capitão-General da Capitania de São
Paulo, solicitando a criação da Vila. Deferindo o pedido, o governante cria o
município em 14 de novembro de 1788, elevando a Freguesia de Nossa Senhora da
Piedade à Vila de Lorena, em homenagem ao mandatário; estavam presentes o
Desembargado Miguel Marcelino Veloso e Gama e o Escrivão da Ouvidoria Geral e
Correição, da Comarca de São Paulo, João da Costa Silva. A primeira Câmara
Municipal de Lorena, que começou a funcionar em janeiro de 1789 era composta
por Joaquim Vaz Pinto, Inocêncio da Costa Lima, João José Lopes, Alferes José
da Silva Tavares, Capitão Diogo Antônio de Figueiredo e Capitão Manuel
Domingues Salgueiro. Em 1802, a Vila de Lorena, cujos limites estendiam até o
Rio Piraí, justificando o nome de “Grande Município Lorenense”, era composta
por 25 bairros, mais a sede político-administrativa. Os bairros eram: Aterrado,
Ribeirão de Cima, Mato Dentro, Jerovaparim, Bocaina, Embaú, Rio Morto, Vila
Queimada, Queluz, Senhor Bom Jesus da Bocaína, Bananal, Santo Antônio, Rancho
Grande, Pirahy, Campo de Meira e Campinho, Registro Velho (Piquete), Embaú
Acima (Embaú Mirim), Passa Vinte, Mundéo, Itagaçava, Estiva, Varge, Santa Anna,
Areias.
A partir do século XIX, a Vila de Lorena
passa a receber diversos viajantes, principalmente europeus, que a descrevem em
seus relatos e, na maioria das vezes, publicam os seus trabalhos no Velho Mundo,
divulgando o município e a região vale paraibana. Porém, ao observar não só
Lorena, mas todo o Vale do Paraíba, com a visão eurocentrista, os visitantes
nem sempre tinham boa impressão do local, devido à rusticidade dos povoados, o
contraste entre residências opulentas urbanas e rurais versus choupanas, de
jornaleiros e agregados. Devemos frisar aqui, que a expressão “jornaleiro”,
significava aquele que vivia, ou sobrevivia, da jornada de trabalho. Sendo
assim, segundo a análise de José Geraldo Evangelista, em 1817 os naturalistas
alemães Johann Baptiste von Spix e Karl
Friedrich Phillip von Martius, em seu périplo pelo Vale do Paraíba, seguindo pelo
Caminho Novo da Piedade, passam por Lorena. No relato, os viajantes afirmam que
ao “meio dia atravessamos um caminho que segue para Minas e,por isso se chama
Mineiro, e alcançamos, finalmente, a Vila de Lorena, antes chamada Guaipacaré,
sítio pobre, sem importância.” Do mesmo período, resultou a obra Corografia
Brasílica, de autoria do padre Manuel Ayres do Casal, que ao referir-se à
Lorena, afirma que a mesma é uma “vila medíocre, e bem situada na margem
direita do Rio Paraíba, 3 léguas ao nascente de Guaratinguetá, e 2 acima das
fozes do Rio Imbauí, que vem da Mantiqueira, e da Bocaína que vem do Sul”. No
dia 22 de março de 1822, quem visita Lorena é o botânico francês Auguste
François Cesar Provençal de Saint-Hilaire. Em sua descrição, considerada a mais
ampla por José Geraldo Evangelist5a, o viajante afirma que “a Vila de Lorena
fica situada à margem do Paraíba, à extremidade da região plana e pantanosa (...).
É pouco avultada, mas tem posição risonha. As ruas que a compõe são muito menos
largas do que as das cidades e aldeias da Capitania de Minas”. Ainda em 1822,
Lorena receberia a visita do Príncipe Regente Dom Pedro, durante a jornada da Independência,
em 19 de agosto do referido ano. Segundo o Dr. Gama Rodrigues, o futuro
imperador teria pernoitado em Lorena, sendo hospedado em uma das casas do
capitalista e comerciante Joaquim José Moreira Lima – pai do futuro Conde de
Moreira Lima.
Entretanto, no ano de 1816, o território da
Vila de Lorena é “amputado” com a criação da Vila de Santa Anna das Areias. Com
o desmembramento, toda área onde surgiria Bananal e São José do Barreiro passa
a pertencer à Vila de Areias. Mas no ano de 1842, Lorena entraria para o
cenário nacional devido à Revolução Liberal. Iniciada em Sorocaba sob a
liderança de Raphael Tobias Aguiar e o Padre Diogo Antônio Feijó, além de
Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, a revolta teve seu líder em Lorena e no
Vale do Paraíba, na pessoa do Pe. Manoel Theotônio de Castro. O sacerdote
recebe auxílio logístico e financeiro do pai, o Capitão-Mor Manoel Pereira de
Castro; do cunhado, o já citado Joaquim José Moreira Lima e do sogro do irmão, Antônio
Dias Teles de Castro. A revolta, como já sabemos, foi sufocada pelo poder
central, cujo final foi o cerco, o saque e o massacre dos rebeldes na Vila de
Silveiras. Apesar da anistia, decretada pelo Imperador em 1844, foram
processados os líderes do levante, que contaram com a atuação direta de padres
como – além do de Lorena - Manoel Félix
de Oliveira, de Silveiras, Francisco Ribeiro, de Bananal; Germano Félix de
Oliveira, de Queluz; e José Alves Leite, de Areias. Foi também processado e,
anistiado o Juiz de Paz do Embaú, o irlandês João Joaquim Fleming. Os momentos
trágicos da Revolução Liberal estiveram presentes também nas relações
familiares. Seguindo a análise do Dr. Gama Rodrigues, em Lorena, “o padre
Manoel Theotônio dá ordens expressas para que lhe tragam “vivo ou morto” seu
cunhado o Comendador José Vicente de Azevedo, o único membro da família que,
como conservador, se havia colocado em campo oposto”. Porém, avisado a tempo, o
Comendador fugiu para Guaratinguetá, ficando hospedado na casa do Coronel Melo.
A
partir da segunda metade do século XIX, a Vila de Lorena conhece um período de
desenvolvimento, conforme relatou o jornalista luso-brasileiro Augusto Emílio
Zaluar, quando a visitou por volta de 1860. O viajante afirma no seu diário que
o comércio de Lorena “ é florescente e existem na cidade mais de 70 lojas
diversas, todas bem fornecidas (...). Na rua dos Ourives (...), trabalha-se com
muita arte e, finalmente, todas as obras deste metal”. Zaluar destaca em Lorena
a existência de quatro escolas, sendo duas régias de instrução primária para
cada sexo, uma de latim e francês, também régia e outra particular de ensino
primário. Mas não perdoa ao afirmar que os “professores são aqui, como em quase
toda a província, mesquinhamente recompensados”. Por outro lado, sabemos que a
riqueza da época era propiciada pelo café, cultivado no Vale do Paraíba
paulista e fluminense, tendo as maiores produções localizadas em Bananal e
Vassouras. Em Lorena, ainda seguindo o relato de Zaluar, a “produção de café é
limitada, pois não colherá talvez anualmente cem mil arrobas. Em compensação,
porém, fazem-se grandes plantações de cana”. Destaca também, o citado viajante
algumas construções que o mesmo considera elegantes, pois tal é realizado sob uma ótica eurocentrista; são
as residências de Joaquim José Moreira Lima, Antônio Bruno de Godói Bueno, a do
Padre Manuel Theotônio de Castro, João
Batista de Azevedo, entre outros. Já as residências mais simples são meramente
mencionadas, dando ênfase apenas ao alpendre, onde o caipira pendura “as
rédeas, as esporas, a garrucha e, ao lado a viola, instrumento inseparável dos
povos indolentes”. Aliás, sobre o caipira, Zaluar faz uma descrição degradante,
pois “se não anda nas suas aventurosas excursões, encontrá-lo-eis sentado à
porta do lar, fumando o seu cigarro de fumo mineiro, e olhando o seu cavalo,
que rumina, tão preguiçoso como ele, a grama da estrada”.
Contudo, Azevedo Marques afirma que em
1876, haviam aproximadamente 60 fazendas cafeeiras em Lorena, além de 10
fábricas de açúcar. A população da Vila gravitava em torno de 9.081 almas,
sendo 1.338 escravos e 22 eleitores. Algumas das principais fazendas de café de
Lorena, segundo o estudo de Tom Maia, eram: a Fazenda do Pedroso, a Fazenda do
Bonito, a Fazenda Nossa Senhora da Conceição, a Fazenda Fortaleza, e a Fazenda
Santa Elídia, estas duas últimas pertencentes à Piquete a partir de 1892. O
impulso econômico que Lorena deveria sentir foi a euforia que contagiou o Vale
do Paraíba com o advento da ferrovia. No dia 7 de julho de 1877, o primeiro
trem da Estrada de Ferro São Paulo – Rio de Janeiro chega a Lorena, ligando a
capital paulista às pontas dos trilhos da Estrada de Ferro Pedro II, que já
estavam no Porto da Cachoeira. Apesar disso, os lorenenses fizeram de tudo para
que os trilhos da “Pedro II” chegassem à Vila e não no Porto da Cachoeira,
embora estivessem em território de sua jurisdição. Segundo o Prof° José Geraldo
evangelista, toda “ a gritaria e o empenho do prestígio dos lorenenses não foi capaz
de alterar a decisão da diretoria da Estrada de Ferro de Pedro II, de parar seu
quarto trecho no porto da Cachoeira”. Ainda assim, a chegada da locomotiva na
data acima mencionada, foi comemorada em grande estilo, animada com duas bandas
de música, arco de flores e coretos embandeirados, conforme noticiou o jornal
“Hepacaré” na edição de 12 de julho de 1877 e, assim, “os lorenenses viam
passar os trens, mas os vagões não carregavam os frutos de seu solo e de seu
trabalho. Vagões vazios da decadência...” A ferrovia, no entanto, dinamizou o
escoamento da produção de outras localidades do Vale do Paraíba e, na opinião
do Dr. Gama Rodrigues, foi “um grande passo no progresso da cidade, e decisivo
no seu desenvolvimento”.
Divergências à parte, Lorena começa a vivenciar
um período de industrialização com a instalação do Engenho Central, inaugurado
em 1884, o qual contava com uma estrada de ferro particular de 12 km, a “Santa
Lucrécia”, que fazia entroncamento com a E.F. São Paulo – Rio de Janeiro. No dia
4 de novembro do mesmo ano, chegam à Lorena, viajando de trem, a Princesa
Isabel e o marido Gastão de Órleans, o Conde D’Eu. Sendo hospedados com toda a
pompa e fausto no Palacete dos Moreira Lima, onde pernoitaram. No dia seguinte,
o ilustre casal, segundo Gama Rodrigues, visita o Engenho Central, a Igreja de
São Benedito e outros locais em Lorena, antes de retornar para a Corte. Dois
anos mais tarde é a vez do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa
Cristina visitarem Lorena, também hospedando no solar dos Moreira Lima.
No entanto, com a Proclamação da
República, a elite de Lorena que apoiava o Império, praticamente afasta-se do
comando da cidade. Por outro lado, a crise do café agrava-se com a crise
bancária e, com ela a economia lorenense entra em colapso, principalmente com a
falência do Engenho Central em 1901. Ainda, na opinião de Antônio da Gama
Rodrigues, Lorena como “todas as suas irmãs do Vale do Paraíba, sofreu, decaiu,
experimentou o travo desolador dos maus dias, e quase entrou no rol das Cidades
Mortas”. De acordo com o ilustre médico e pesquisador, Lorena recuperou-se da
estagnação devido, principalmente, da instalação do Ginásio São Joaquim,
inaugurando o ensino religioso, além do
quartel do Exército ( 5° RI, atualmente 6°Bio) e a fábrica de pólvora, também
do Exército, sediada em Piquete. A instalação dessa unidade fabril militar
propicia a construção férrea do Ramal de Benfica, ligando Lorena à Piquete,
estendendo-se à Itajubá e posteriormente interligando-se com a Rede Sul Mineira de Viação. O progresso
volta à Lorena, quando vem a crise de 1929, a desvalorização do café e a
Revolução de 1930 com a ascensão de Getúlio Vargas. Em todo o país os políticos
ligados à velha ordem são alijados do poder, principalmente os do Estado de São
Paulo. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, Lorena é intensamente
bombardeada pela aviação legalista, devido a fato de a unidade militar do
Exército estar controlada pelos rebeldes que ameaçam ainda a Fábrica de Pólvora
de Piquete. Atualmente, Lorena destaca-se no ramo da indústria química ao lado
do ensino superior, oferecendo aos seus alunos ótimas oportunidades de adquirir
conhecimento e o futuro ingresso no mercado de trabalho. Mesmo em pleno século
XXI, Lorena combina – o que é difícil – modernidade e preservação do patrimônio
histórico, bem como da memória de seus antepassados. Como exemplos podemos
citar: a Igreja de São Bendito, construída em estilo gótico pelo Conde Moreira
Lima (Joaquim José Moreira Lima Júnior), a Igreja de Nossa Senhora da Piedade,
a estação ferroviária, a Igreja do Rosário, a Santa Casa de Misericórdia, o
Colégio São Joaquim, o próprio solar dos Moreira Lima, o Grupo Escolar Gabriel
Prestes, entre outras. Outro fato que merece menção em Lorena é a sede do Instituto
de Estudos Valeparaibanos (IEV), órgão que aglutina pesquisadores e professores
que se dedicam a analisar o Vale do Paraíba sob diversos aspectos do
conhecimento, principalmente o histórico. Visitar Lorena e conhecer a sua
História, Tradição e Cultura é voltar no tempo conhecendo as suas origens,
desde a remota época de Hepacaré ou Guaypacaré. Até a próxima.
Eddy Carlos
Dicas para consulta
CASAL, Manuel Aires de.
Corografia Brasílica. Tomo I. Edições Cultura. São Paulo, 1945.
EVANGELISTA, José Geraldo. Lorena no Século XIX. Coleção Paulística. Volume VII. Imprensa
Oficial. São Paulo, 1978.
REIS, Paulo Pereira dos Reis. Lorena nos Séculos XVII e XVIII. Cadernos Culturais do Vale do
Paraíba. CERED. Caçapava, 1988.
RODRIGUES, Antônio da Gama. Gens Lorenensis. Do Sertão de Guaypacaré à Formosa Cidade de Lorena. Coleção
Lorenense. Volume VI. HL 2 Gráfica e Editora. Lorena, 2002.
TOLEDO, Francisco Sodero. Estrada Real. Caminho Novo da Piedade. Alínea Editora. Campinas, 2009.
E-mail: eddycarlos@ymail.com
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