quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Hepacaré.



                                   Hepacaré.


        Com o fim da França Antártica, apressada pela “quebra” da Confederação dos Tamoios, o 3° Governador-Geral do Brasil, Mem de Sá em visita à Capitania de São Vicente, determina que o provedor Brás Cubas e Luís Martins organizassem uma expedição com a missão de descobrirem minas de ouro e prata. Tal expedição, que teria sido a primeira a explorar o território valeparaibano, seguiu o itinerário que corresponde com o da Estrada Velha Rio-São Paulo – Caminho Velho dos Paulistas, Estrada Geral, etc. - passando por Boigy, acompanhando o curso do Rio Paraíba até o Porto da Cachoeira, aí cruzando o referido rio, seguindo em direção à Garganta do Embaú, atingindo então o Sertão dos Cataguases (Minas Gerais). É ainda, nessa expedição que é atribuída a primeira presença de colonizadores na região do Embaú, então, habitação dos índios Puris em 1562. Apesar das divergências entre historiadores, quanto à veracidade da viagem de Brás Cubas pelo Vale do Paraíba, outras teriam ocorrido, dando início à fase das Entradas, seguidas pelas Bandeiras, estas de preagem, cujo resultado catastrófico “pesou” contra os silvícolas. Em 1601, André de Leão organiza e chefia uma grande Entrada que segue o roteiro de Brás Cubas, sendo integrada pelo holandês Wilhelm Joos ten Glimmer, com a função de pesquisar minérios que, eventualmente poderiam revelar a existência de metais preciosos. Glimmer, além de pesquisar minérios, deixou um relato da viagem que fizera e, em um trecho descreve o Rio Paraíba, citando, porém o nome usado pelos índios. Segundo o holandês, o mencionado rio, que “corre” para o Ocidente, “depois formando um cotovelo, se dirige em certa extensão para o norte, e finalmente, como vulgarmente se pensa, se lança no oceano, entre o Cabo Frio e a Capitania do Espírito Santo, abundantissímo tanto de peixes grandes, como pequenos; dão lhe o nome de rio dos Sorobis”.
      Acompanhando Entradas e Bandeiras, alguns colonos fixam-se em determinados locais, requerem sesmarias, fundam povoados, após despovoarem a região com a escravização e exterminio dos nativos, surgindo as primeiras vilas valeparaibanas como Taubaté, Guaratinguetá e Jacareí. Sendo assim, de acordo com a análise do Profº Paulo Pereira dos Reis, por volta de 1694, o bandeirante Bento Rodrigues Caldeira e familiares fixaram residência na localidade de Hepacaré, chamada também de Guaypacaré. O local, próximo ao Rio Paraíba pertencia à Vila de Guaratinguetá, cujos limites estendiam-se até a fronteira do atual Estado do Rio de Janeiro. O agrupamento citado ficou conhecido nos relatos oficiais e dos diversos bandeirantes, que seguiam rumo à Garganta do Embaú, como as “Roças de Bento Rodrigues do Porto de Guaypacaré”; nome também citado por Antonil em obra memorável no início do século XVIII. A explicação dos nomes varia entre os autores; sendo a de João Mendes de Almeida a mais plausível, e citada por Paulo Pereira dos Reis. Na opinião de Almeida, a povoação “era antigamente conhecida pelo nome de Guaipacaré; e pelos que navegavam o rio, era dito – o porto de Hepacaré .(...) isto significava, em linguagem tupi, lugar das goiabeiras. Hepacaré é corrupção de I-páu – ‘qûá – ‘re’, enseada da ilha do rio. (...) nessa região, há uma ilha, (...) de sorte que, pelo braço do rio, à margem esquerda, quem navega tem de fazer uma grande volta; ao passo que, pelo outro braço, à margem direita, é quase reto o trajeto”. Outros autores mencionam o nome do Guapacaré, dentre os quais Teodoro Sampaio e Capistrano de Abreu. A corruptela para Hepacaré foi feita pelos habitantes e usuários de referido porto fluvial.
       Entrementes, no ano de 1705, Bento Rodrigues Caldeira, auxiliado por João de Almeida Pereira, Pedro da Costa Colaço e Domingos Machado Jacome, erigem uma pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora da Piedade, doando para patrimônio a soma de duzentos mil réis. Tal capela tornou-se à época o primeiro santuário religioso visitado por viajantes que iam e voltavam da região das minas; suplantado depois pela capela de Aparecida em Guaratinguetá . Em 1718, obedecendo à provisão de Dom Francisco de São Jeronymo, bispo do Rio de Janeiro, a capela da Piedade desmembrou-se da Igreja Matriz de Santo Antônio da Vila de Guaratinguetá, tornando-se assim igualmente Matriz, cujo primeiro vigário foi o padre Pedro Vaz de Machado. Dessa forma, o velho arraial de Hepacaré ou Guapacaré é elevado à condição de freguesia, com o nome de Freguesia de Nossa Senhora da Piedade. De acordo com a pesquisa de Antônio da Gama Rodrigues, os moradores da nova freguesia “trataram de fazer a Igreja Nova, demolindo a pequena Capela primitiva, ficando lugar desta, junto à Cruz que (...) está no adro da Igreja, da parte de fora da mesma Cruz, para a parte do poente”. A partir de 1724, as autoridades da Capitania de São Paulo passam a conceder sesmarias ao longo da Estrada Real, entre a Freguesia da Piedade e a Garganta do Embaú, beneficiando Jerônimo Dias, Domingos Bicudo Leme e Domingos Rodrigues Correia, este recebendo em 1736, na região do Embaú, meia légua de frente por uma de comprido, próximo ao Rio Passa-Vinte. Outras sesmarias foram concedidas a Manuel Fernandes Pinto, Manuel Duarte Filgueiras e o Capitão Lázaro Fernandes, a deste no sentido das “minas de Itagyba”. Como por esse caminho já houvesse contrabando de ouro, as autoridades coloniais, instalam o “Registro”, ao pé da Serra da Mantiqueira; bem mais tarde tornar-se-ia a cidade de Piquete.
     Todavia, em 1725, tem início a construção do Caminho Novo da Piedade, cuja finalidade era estabelecer a ligação da Vila de Guaratinguetá diretamente ao Rio de Janeiro, através do chamado “Sertão Incompreensível”. A ordem para a abertura do mencionado caminho data de 28 de fevereiro do ano citado acima e, de acordo com a análise do Prof° Francisco Sodero Toledo, foi iniciativa de Rodrigo César de Menezes, Capitão-General da Capitania de São Paulo. Outro objetivo para tal caminho seria o de transportar o ouro extraído das minas de Goiás e Mato Grosso. Para iniciar os trabalhos de abertura do “Caminho Novo da Piedade”, foi designado o Capitão-Mor da Vila de Guaratinguetá, Domingos Antunes Fialho, tendo como auxiliar seu irmão Manoel Antunes Fialho. Porém, além das dificuldades naturais da época, alterações de traçados e a supressão da Capitania de São Paulo, haviam muitas fugas de escravos e ataques dos índios embrenhados nas matas da Serra da Bocaína. Dessa forma, somente no ano de 1778, o caminho foi concluído sob as ordens de outro Capitão-Mor de Guaratinguetá, Manoel da Silva Reis. De acordo com Sodero, o Capitão-General Martim Lopes Lobo de Saldanha outorgou poderes a Manoel da Silva Reis para doar áreas territoriais, ao longo do Caminho Novo da Piedade, para os que o auxiliaram no empreendimento. Pelo fato de o caminho ter sido inaugurado em 1778, a função original de ser utililizado para transportar ouro perdeu o seu sentido, uma vez que, as minas já estavam esgotadas. Seguindo a análise, mais uma vez, do Prof° Sodero, tal caminho serviu, entretanto, “ em muitas oportunidades, para o transporte do gado enviado para o abastecimento do Rio de Janeiro, e preencheu nova e importante função: a de transportar café”.
       A inauguração do Caminho Novo da Piedade, impulsionou o desenvolvimento político e econômico na Freguesia. Em 1788, ela era considerada próspera, pois além do Caminho Novo, que a ligava à sede dos Vice-Reis, ainda contava com a Estrada Real, ligando-a à Capitania das Minas. Somando com a recém-criada Freguesia de Santana da Paraíba Nova (futura Areias), a Freguesia da Piedade possuía uma população de aproximadamente 4.000 alunos. Sendo assim, no mesmo ano de 1788, os moradores da Freguesia enviam uma petição para Bernardo José de Lorena, Capitão-General da Capitania de São Paulo, solicitando a criação da Vila. Deferindo o pedido, o governante cria o município em 14 de novembro de 1788, elevando a Freguesia de Nossa Senhora da Piedade à Vila de Lorena, em homenagem ao mandatário; estavam presentes o Desembargado Miguel Marcelino Veloso e Gama e o Escrivão da Ouvidoria Geral e Correição, da Comarca de São Paulo, João da Costa Silva. A primeira Câmara Municipal de Lorena, que começou a funcionar em janeiro de 1789 era composta por Joaquim Vaz Pinto, Inocêncio da Costa Lima, João José Lopes, Alferes José da Silva Tavares, Capitão Diogo Antônio de Figueiredo e Capitão Manuel Domingues Salgueiro. Em 1802, a Vila de Lorena, cujos limites estendiam até o Rio Piraí, justificando o nome de “Grande Município Lorenense”, era composta por 25 bairros, mais a sede político-administrativa. Os bairros eram: Aterrado, Ribeirão de Cima, Mato Dentro, Jerovaparim, Bocaina, Embaú, Rio Morto, Vila Queimada, Queluz, Senhor Bom Jesus da Bocaína, Bananal, Santo Antônio, Rancho Grande, Pirahy, Campo de Meira e Campinho, Registro Velho (Piquete), Embaú Acima (Embaú Mirim), Passa Vinte, Mundéo, Itagaçava, Estiva, Varge, Santa Anna, Areias.
       A partir do século XIX, a Vila de Lorena passa a receber diversos viajantes, principalmente europeus, que a descrevem em seus relatos e, na maioria das vezes, publicam os seus trabalhos no Velho Mundo, divulgando o município e a região vale paraibana. Porém, ao observar não só Lorena, mas todo o Vale do Paraíba, com a visão eurocentrista, os visitantes nem sempre tinham boa impressão do local, devido à rusticidade dos povoados, o contraste entre residências opulentas urbanas e rurais versus choupanas, de jornaleiros e agregados. Devemos frisar aqui, que a expressão “jornaleiro”, significava aquele que vivia, ou sobrevivia, da jornada de trabalho. Sendo assim, segundo a análise de José Geraldo Evangelista, em 1817 os naturalistas alemães Johann Baptiste von Spix  e Karl Friedrich Phillip von Martius, em seu périplo pelo Vale do Paraíba, seguindo pelo Caminho Novo da Piedade, passam por Lorena. No relato, os viajantes afirmam que ao “meio dia atravessamos um caminho que segue para Minas e,por isso se chama Mineiro, e alcançamos, finalmente, a Vila de Lorena, antes chamada Guaipacaré, sítio pobre, sem importância.” Do mesmo período, resultou a obra Corografia Brasílica, de autoria do padre Manuel Ayres do Casal, que ao referir-se à Lorena, afirma que a mesma é uma “vila medíocre, e bem situada na margem direita do Rio Paraíba, 3 léguas ao nascente de Guaratinguetá, e 2 acima das fozes do Rio Imbauí, que vem da Mantiqueira, e da Bocaína que vem do Sul”. No dia 22 de março de 1822, quem visita Lorena é o botânico francês Auguste François Cesar Provençal de Saint-Hilaire. Em sua descrição, considerada a mais ampla por José Geraldo Evangelist5a, o viajante afirma que “a Vila de Lorena fica situada à margem do Paraíba, à extremidade da região plana e pantanosa (...). É pouco avultada, mas tem posição risonha. As ruas que a compõe são muito menos largas do que as das cidades e aldeias da Capitania de Minas”. Ainda em 1822, Lorena receberia a visita do Príncipe Regente Dom Pedro, durante a jornada da Independência, em 19 de agosto do referido ano. Segundo o Dr. Gama Rodrigues, o futuro imperador teria pernoitado em Lorena, sendo hospedado em uma das casas do capitalista e comerciante Joaquim José Moreira Lima – pai do futuro Conde de Moreira Lima.
       Entretanto, no ano de 1816, o território da Vila de Lorena é “amputado” com a criação da Vila de Santa Anna das Areias. Com o desmembramento, toda área onde surgiria Bananal e São José do Barreiro passa a pertencer à Vila de Areias. Mas no ano de 1842, Lorena entraria para o cenário nacional devido à Revolução Liberal. Iniciada em Sorocaba sob a liderança de Raphael Tobias Aguiar e o Padre Diogo Antônio Feijó, além de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, a revolta teve seu líder em Lorena e no Vale do Paraíba, na pessoa do Pe. Manoel Theotônio de Castro. O sacerdote recebe auxílio logístico e financeiro do pai, o Capitão-Mor Manoel Pereira de Castro; do cunhado, o já citado Joaquim José Moreira Lima e do sogro do irmão, Antônio Dias Teles de Castro. A revolta, como já sabemos, foi sufocada pelo poder central, cujo final foi o cerco, o saque e o massacre dos rebeldes na Vila de Silveiras. Apesar da anistia, decretada pelo Imperador em 1844, foram processados os líderes do levante, que contaram com a atuação direta de padres como – além do de Lorena -  Manoel Félix de Oliveira, de Silveiras, Francisco Ribeiro, de Bananal; Germano Félix de Oliveira, de Queluz; e José Alves Leite, de Areias. Foi também processado e, anistiado o Juiz de Paz do Embaú, o irlandês João Joaquim Fleming. Os momentos trágicos da Revolução Liberal estiveram presentes também nas relações familiares. Seguindo a análise do Dr. Gama Rodrigues, em Lorena, “o padre Manoel Theotônio dá ordens expressas para que lhe tragam “vivo ou morto” seu cunhado o Comendador José Vicente de Azevedo, o único membro da família que, como conservador, se havia colocado em campo oposto”. Porém, avisado a tempo, o Comendador fugiu para Guaratinguetá, ficando hospedado na casa do Coronel Melo.
       A partir da segunda metade do século XIX, a Vila de Lorena conhece um período de desenvolvimento, conforme relatou o jornalista luso-brasileiro Augusto Emílio Zaluar, quando a visitou por volta de 1860. O viajante afirma no seu diário que o comércio de Lorena “ é florescente e existem na cidade mais de 70 lojas diversas, todas bem fornecidas (...). Na rua dos Ourives (...), trabalha-se com muita arte e, finalmente, todas as obras deste metal”. Zaluar destaca em Lorena a existência de quatro escolas, sendo duas régias de instrução primária para cada sexo, uma de latim e francês, também régia e outra particular de ensino primário. Mas não perdoa ao afirmar que os “professores são aqui, como em quase toda a província, mesquinhamente recompensados”. Por outro lado, sabemos que a riqueza da época era propiciada pelo café, cultivado no Vale do Paraíba paulista e fluminense, tendo as maiores produções localizadas em Bananal e Vassouras. Em Lorena, ainda seguindo o relato de Zaluar, a “produção de café é limitada, pois não colherá talvez anualmente cem mil arrobas. Em compensação, porém, fazem-se grandes plantações de cana”. Destaca também, o citado viajante algumas construções que o mesmo considera elegantes, pois tal  é realizado sob uma ótica eurocentrista; são as residências de Joaquim José Moreira Lima, Antônio Bruno de Godói Bueno, a do Padre Manuel Theotônio  de Castro, João Batista de Azevedo, entre outros. Já as residências mais simples são meramente mencionadas, dando ênfase apenas ao alpendre, onde o caipira pendura “as rédeas, as esporas, a garrucha e, ao lado a viola, instrumento inseparável dos povos indolentes”. Aliás, sobre o caipira, Zaluar faz uma descrição degradante, pois “se não anda nas suas aventurosas excursões, encontrá-lo-eis sentado à porta do lar, fumando o seu cigarro de fumo mineiro, e olhando o seu cavalo, que rumina, tão preguiçoso como ele, a grama da estrada”.
       Contudo, Azevedo Marques afirma que em 1876, haviam aproximadamente 60 fazendas cafeeiras em Lorena, além de 10 fábricas de açúcar. A população da Vila gravitava em torno de 9.081 almas, sendo 1.338 escravos e 22 eleitores. Algumas das principais fazendas de café de Lorena, segundo o estudo de Tom Maia, eram: a Fazenda do Pedroso, a Fazenda do Bonito, a Fazenda Nossa Senhora da Conceição, a Fazenda Fortaleza, e a Fazenda Santa Elídia, estas duas últimas pertencentes à Piquete a partir de 1892. O impulso econômico que Lorena deveria sentir foi a euforia que contagiou o Vale do Paraíba com o advento da ferrovia. No dia 7 de julho de 1877, o primeiro trem da Estrada de Ferro São Paulo – Rio de Janeiro chega a Lorena, ligando a capital paulista às pontas dos trilhos da Estrada de Ferro Pedro II, que já estavam no Porto da Cachoeira. Apesar disso, os lorenenses fizeram de tudo para que os trilhos da “Pedro II” chegassem à Vila e não no Porto da Cachoeira, embora estivessem em território de sua jurisdição. Segundo o Prof° José Geraldo evangelista, toda “ a gritaria e o empenho do prestígio dos lorenenses não foi capaz de alterar a decisão da diretoria da Estrada de Ferro de Pedro II, de parar seu quarto trecho no porto da Cachoeira”. Ainda assim, a chegada da locomotiva na data acima mencionada, foi comemorada em grande estilo, animada com duas bandas de música, arco de flores e coretos embandeirados, conforme noticiou o jornal “Hepacaré” na edição de 12 de julho de 1877 e, assim, “os lorenenses viam passar os trens, mas os vagões não carregavam os frutos de seu solo e de seu trabalho. Vagões vazios da decadência...” A ferrovia, no entanto, dinamizou o escoamento da produção de outras localidades do Vale do Paraíba e, na opinião do Dr. Gama Rodrigues, foi “um grande passo no progresso da cidade, e decisivo no seu desenvolvimento”.
        Divergências à parte, Lorena começa a vivenciar um período de industrialização com a instalação do Engenho Central, inaugurado em 1884, o qual contava com uma estrada de ferro particular de 12 km, a “Santa Lucrécia”, que fazia entroncamento com a E.F. São Paulo – Rio de Janeiro. No dia 4 de novembro do mesmo ano, chegam à Lorena, viajando de trem, a Princesa Isabel e o marido Gastão de Órleans, o Conde D’Eu. Sendo hospedados com toda a pompa e fausto no Palacete dos Moreira Lima, onde pernoitaram. No dia seguinte, o ilustre casal, segundo Gama Rodrigues, visita o Engenho Central, a Igreja de São Benedito e outros locais em Lorena, antes de retornar para a Corte. Dois anos mais tarde é a vez do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina visitarem Lorena, também hospedando no solar dos Moreira Lima.
        No entanto, com a Proclamação da República, a elite de Lorena que apoiava o Império, praticamente afasta-se do comando da cidade. Por outro lado, a crise do café agrava-se com a crise bancária e, com ela a economia lorenense entra em colapso, principalmente com a falência do Engenho Central em 1901. Ainda, na opinião de Antônio da Gama Rodrigues, Lorena como “todas as suas irmãs do Vale do Paraíba, sofreu, decaiu, experimentou o travo desolador dos maus dias, e quase entrou no rol das Cidades Mortas”. De acordo com o ilustre médico e pesquisador, Lorena recuperou-se da estagnação devido, principalmente, da instalação do Ginásio São Joaquim, inaugurando o ensino religioso, além  do quartel do Exército ( 5° RI, atualmente 6°Bio) e a fábrica de pólvora, também do Exército, sediada em Piquete. A instalação dessa unidade fabril militar propicia a construção férrea do Ramal de Benfica, ligando Lorena à Piquete, estendendo-se à Itajubá e posteriormente interligando-se com  a Rede Sul Mineira de Viação. O progresso volta à Lorena, quando vem a crise de 1929, a desvalorização do café e a Revolução de 1930 com a ascensão de Getúlio Vargas. Em todo o país os políticos ligados à velha ordem são alijados do poder, principalmente os do Estado de São Paulo. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, Lorena é intensamente bombardeada pela aviação legalista, devido a fato de a unidade militar do Exército estar controlada pelos rebeldes que ameaçam ainda a Fábrica de Pólvora de Piquete. Atualmente, Lorena destaca-se no ramo da indústria química ao lado do ensino superior, oferecendo aos seus alunos ótimas oportunidades de adquirir conhecimento e o futuro ingresso no mercado de trabalho. Mesmo em pleno século XXI, Lorena combina – o que é difícil – modernidade e preservação do patrimônio histórico, bem como da memória de seus antepassados. Como exemplos podemos citar: a Igreja de São Bendito, construída em estilo gótico pelo Conde Moreira Lima (Joaquim José Moreira Lima Júnior), a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, a estação ferroviária, a Igreja do Rosário, a Santa Casa de Misericórdia, o Colégio São Joaquim, o próprio solar dos Moreira Lima, o Grupo Escolar Gabriel Prestes, entre outras. Outro fato que merece menção em Lorena é a sede do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV), órgão que aglutina pesquisadores e professores que se dedicam a analisar o Vale do Paraíba sob diversos aspectos do conhecimento, principalmente o histórico. Visitar Lorena e conhecer a sua História, Tradição e Cultura é voltar no tempo conhecendo as suas origens, desde a remota época de Hepacaré ou Guaypacaré. Até a próxima.

                                                                                                    Eddy Carlos



Dicas para consulta
CASAL, Manuel Aires de. Corografia Brasílica. Tomo I. Edições Cultura. São Paulo, 1945.

EVANGELISTA, José Geraldo. Lorena no Século XIX. Coleção Paulística. Volume VII. Imprensa Oficial. São Paulo, 1978.

REIS, Paulo Pereira dos Reis. Lorena nos Séculos XVII e XVIII. Cadernos Culturais do Vale do Paraíba. CERED. Caçapava, 1988.

RODRIGUES, Antônio da Gama. Gens Lorenensis. Do Sertão de Guaypacaré à Formosa Cidade de Lorena. Coleção Lorenense. Volume VI. HL 2 Gráfica e Editora. Lorena, 2002.



TOLEDO, Francisco Sodero. Estrada Real. Caminho Novo da Piedade. Alínea  Editora. Campinas, 2009.


E-mail: eddycarlos@ymail.com

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