quarta-feira, 28 de maio de 2014

A Confederação dos Tamoios.

Caríssimos. Inicio este blog com um texto sobre a História do Brasil e Valeparaibana pouco estudado e polêmico, devido ao papel exercido pelos "apóstolos do Brasil. Boa leitura. Atenciosamente, Eddy Carlos. Prof. e Historiador, membro vitalício da ACLA e efetivo do IEV.




             Com a conquista de Constantinopla no ano de 1453, empreendida pelos turcos de Mehmet II al Fatih, o Conquistador, o Império Otomano bloqueia o acesso dos países ocidentais às especiarias tão cobiçadas na Europa. Tais mercadorias, vindas do Extremo Oriente e das Índias, chegavam pelo Mar Mediterrâneo e pelo Estreito de Bósforo à Europa e, uma vez controlados pelos turcos, os preços atingiam cifras vertiginosas para o mercado europeu. Apenas mercadores genoveses e venezianos tinham permissão em comercializar com os otomanos e, dessa forma, atuavam como atravessadores, inflacionando ainda mais os preços das especiarias, como a noz-moscada, pimenta do reino, mostarda, etc. Para evitar o contato com os turcos, países como a Espanha e Portugal buscavam novas alternativas para atingir a região das especiarias por outro caminho. Como já é de nosso conhecimento, a Espanha optou por contornar o globo, no sentido Ocidente para chegar às Índias e, acabou por “descobrir” a América em 1492, com Cristóvão Colombo. Já Portugal preferiu contornar a África, conseguindo o seu intento com a expedição de Vasco da Gama, no ano de 1498. Porém, a chegada de Colombo ao Novo Mundo criou atrito com os lusos, pois em 1480, os países ibéricos haviam assinado o Tratado de Toledo, garantindo a Portugal a exploração em água e terras ao sul das Ilhas Canárias. Para mediar o impasse, os espanhóis recorrem ao Papa Alexandre VI que, em 1493 com a bula Inter Coetera, estabelecia a linha divisória que, passando 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde “dividiria” o mundo entre as nações ibéricas; a oeste ficaria com a Espanha, enquanto que a leste pertencia a Portugal. Coma ameaça de guerra, os lusos firmam com os castelhanos o Tratado de Tordesilhas em 1494, alterando a linha demarcatória para 370 léguas a oeste das ilhas do Cabo Verde. Uma vez que legitimada a divisão do globo, os países ibéricos, lançaram-se à colonização e exploração de suas possessões ultramarinas. Por outro lado, o Tratado de Tordesilhas provocou a ira de ingleses e franceses, os quais, lançando-se ao mar com meio século de atraso, não reconheciam a legitimidade de tal acordo, mesmo tendo sido abençoado pelo papa. Dessa forma, no inicio do século XVII, ambas as nações fundaram colônias na América do Norte, que se tornariam os atuais Canadá e Estados Unidos, em territórios presumivelmente pertencentes à Espanha. Antes, porém, a França voltou suas atenções à Pindorama, recém-dominada por Portugal.

                Logo nos primórdios do século XVI, ou seja, nos anos subsequentes à chegada de Cabral aos trópicos, os franceses exploravam o litoral brasileiro, estabelecendo contato com os indígenas, para garantir a extração do pau-brasil à custa das autoridades lusas. Mesmo com os protestos de Dom João III, de Portugal, junto ao rei francês, Francisco I, o contrabando prosseguia, embora expedições de patrulha tenham afundado alguns navios franceses. Oficialmente, o monarca da França eximia-se de qualquer responsabilidade, mas nos bastidores, não só fazia vista grossa, como também apoiava e até financiava algumas expedições, devido ao fato de não reconhecer o direito dos ibéricos no Novo Mundo, baseado no Tratado de Tordesilhas, como já afirmado anteriormente. Ao mesmo tempo, a Reforma Religiosa de Lutero incentivou o surgimento de novos credos religiosos em oposição à Igreja de Roma. Na França, as ideias reformistas foram propagadas por Calvino, e seus seguidores foram denominados de huguenotes, nos quais estavam inseridos, até mesmo, parte da nobreza francesa, inclusive a militar. Ainda assim, os ânimos se acirravam entre católicos e huguenotes, resultando em confrontos sangrentos, prevalecendo a supremacia católica. Atrelada aos interesses comerciais dos franceses no litoral brasileiro, foi concebida a ideia de se criar uma colônia, onde os huguenotes pudessem se por a salvo das guerras religiosas que grassavam pela Europa. O plano, idealizado pelo Cavaleiro de Malta, Nicolas Durand de Villegaignon, foi posto em pratica, tendo influência junto o rei Henrique II, mesmo sendo huguenote, Villegaignon conseguiu do governo dois navios, 600 homens e 10 mil francos para custear parte da aventura. A maior parte do financiamento coube, porém ao líder dos huguenotes Gaspar de Coligny, Almirante da Marinha Francesa e senhor de Chatillon. Além da amizade de Coligny e do próprio Calvino, Villegaignon conseguiu apoio também do cardeal de Lorena, a mais alta autoridade católica na França; tanto para um lado como para outro, a promessa era de liberdade religiosa total na nova colônia a ser fundada no Rio de Janeiro, a qual lançaria a base de um futuro império ultramarino francês, batizada então com o nome de França Antárctica. As previsões do Almirante Villegaignon eram otimistas, principalmente em relação aos índios Tamoios e Tupinambás, já habituados a comercializar com os franceses. Aliás, desde os contrabandos no litoral, os portugueses reprimiam os silvícolas que auxiliavam os invasores, torturando-os, enterrando alguns vivos e decapitando outros. Essa atitude dos lusos insuflou um ódio mortal nos indígenas, que passaram a estabelecer uma relação mais equilibrada com os franceses, vantagem que seria explorada amplamente pelos fundadores da França Antárctica. Sendo assim, em 12 de julho de 1555, a expedição parte do Havre, chegando à baía de Guanabara no dia 10 de novembro, onde na ilha de Serigipe é fundado o forte Coligny. Desde o início, os franceses tiveram o auxílio dos índios para a construção da colônia, bem diferentes dos portugueses que escravizavam os seus aliados indígenas. Para aprimorar ainda mais a referida colônia, Calvino enviou em 1557 um reforço para Villegaignon, composto por três navios e 290 homens, entre eles 14 pastores huguenoutes e as primeiras cinco mulheres brancas. A nova expedição fora chefiada por Bois Le Comte, sobrinho de Villegaignon e, mais uma vez financiada por Coligny. Porém, a tão prometida liberdade religiosa não se efetivou, surgindo atritos entre católicos e huguenotes, como ocorria na Europa e, até mesmo entre huguenotes e o próprio Villegaignon, devido ao seu excessivo rigor moralista, baseado em suas próprias interpretações religiosas sobre o calvinismo. No ano de 1558, deixando Bois Le Comte no comando, Villegaignon foi para a França para defender-se das acusações de que estaria levando ao fracasso a colônia da França Antárctica.

                 Entrementes, inertes e letárgicos no inicio, os portugueses resolvem se aproveitar dessas crises na colônia francesa para atacar o forte Coligny em 1560. Comandados pelo terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá, os portugueses auxiliados por índios Temiminós, inimigos naturais dos Tamoioslançam um ataque surpresa, arrasando a fortaleza calvinista. Mesmo com a destruição do Forte Coligny, os franceses se reorganizam e por sua vez, auxiliados pelos Tamoios, fundam outros dois fortes no continente, dispondo ainda de dois navios de guerra, ancorados na enseada, além de centenas de canoas armadas com índios flecheiros. Assim sendo, as posições lusitanas continuavam sendo atacadas. Por sua vez, os Tamoios analisando a sorte que os esperava com a derrota francesa, formam uma coligação com outras nações indígenas, opostas ao domínio português, incluindo Tupinambás, Goitacazes, Aimorés e, até mesmo com uma ala de inimigos tradicionais, como os Tupiniquins. A união dos silvícolas foi denominada de Confederação dos Tamoios, dominando uma extensa área litorânea, compreendida entre o Cabo Frio até Bertioga. De acordo com Ricardo Maranhão e Maria Fernanda Antunes, “pela primeira vez na História de nossos indígenas se viu uma tentativa de organização política mais ampla entre eles, superando o regime tribal. Os índios pareciam estar percebendo que diante dos brancos só teriam a perder se permanecessem desunidos”. Na realidade, os índios se conscientizaram diante da ameaça lusa, pois até mesmo os índios Puris do Vale do Paraíba teriam participado, em menor escala, da Confederação, a qual se transformou em uma força poderosa e, aliada ao elemento francês, pôs em xeque o domínio português na Capitania de São Vicente, podendo se alastrar para outras partes, caso o exemplo Tamoio fosse seguido por outras tribos. Era preciso então, “quebrar” essa união.

                  No ano de 1563, logo no início, a Confederação atacou a Vila de São Paulo que por pouco não foi destruída; apoiados pelos franceses remanescentes, a força indígena chegou a agrupar mais de cinco mil homens, além de duzentas canoas. Tal contingente poderia até expulsar os portugueses do Brasil e, por isso, os padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta foram enviados pelas autoridades lusas, para negociar a paz com os Tamoios de Iperoig (atualmente a cidade de Ubatuba). No dia 4 de maio, os loyolistas chegam a Iperoig, recebendo hospedagem na oca de Caoquira, velho cacique da aldeia. As negociações foram longas e tensas entre os padres e demais chefes como Pindobuçu e Cunhambebe. A elas se opunha tenazmente outro chefe, Aimbiré, aliado fiel dos franceses e inimigo mortal dos portugueses; sua posição, no entanto, foi voto vencido, cabendo a palavra final à Pindobuçu. Somente no dia 28 de maio os inacianos conseguiram, porém, um acordo de paz; mesmo com toda a vantagem para arrasar os lusitanos, Pindobuçu e Cunhambebe manteriam-se neutros na guerra, abandonando os seus irmãos no conflito e acreditando na paz com os portugueses. Como sinal da “paz” selada, soltaram o padre Nóbrega, mantendo Anchieta como refém até 14 de setembro de 1563. Sem terem noção do erro cometido, os dois líderes indígenas decretaram o fim de suas tribos, como veremos adiante, enquanto que Aimbiré retornava para sua gente na baía de Guanabara, mantendo ainda o apoio bélico dos franceses.

                   No entanto, mantido como “hóspede” em Iperoig, o padre Anchieta, além de escrever nas areias da praia, os famosos poemas da Virgem, tomou conhecimento das forças dos Tamoios e, também de suas fraquezas, inclusive o aparato de guerra de Aimbiré. Após a libertação, Ancheita agradeceu a hospitalidade indígena, informando o Governo-Geral, a respeito dos preparativos de guerra dos índios. Por sua vez, a Rainha D. Catarina, avó do futuro rei D. Sebastião, o Desejado, ciente da paz firmada em Iperoig, determina o envio de dois navios de guerra, comandados por Estácio de Sá, cujo objetivo era o aniquilamento total de franceses e Tamoios do Rio de Janeiro. Chegando à baía de Guanabara em fevereiro de 1564, a frota de Estácio de Sá foi rechaçada pelos Tamoios, comandados pelos caciques Aimbiré e Guaixara. Rumando para Santos para reabastecimento, a frota segue depois para o Espírito Santo, onde os lusos conseguem o apoio fundamental dos Temiminós, liderados por Araribóia. Entre os anos de 1565 e 1567, Estácio de Sá resistiu aos ataques da Confederação dos Tamoios e dos franceses, até a chegada de seu tio e governador-geral Mem de Sá, trazendo reforços que propiciaram as vitórias decisivas, Segundo, o Profº Paulo Pereira dos Reis, a primeira batalha foi “contra a aldeia fortificada do cacique Uruçu-Mirim, cujos defensores foram exterminados, (...) depois de atacarem e arrasarem com artilharia, a aldeia de Paranapucui”, a segunda maior aldeia da já fragmentada Confederação. Na realidade, a Coroa portuguesa havia decidido a empreender uma guerra de extermínio contra os Tamoios, prosseguindo nas operações de guerra ao longo de 1567 e 1568, com o intuito de limpar a baía da Guanabara de seus habitantes naturais. Por outro lado, mesmo distante, os nobres franceses enviam reforços da Europa, em um desespero para salvar a França Antárctica, ainda em 1568. De acordo com Hernâni Donato, quatro navios de guerra, vindos da França, chegaram ao local da conflagração, desembarcando tropas e atacando os lusos de surpresa. Com o contra-ataque rápido e, vendo que nada mais poderiam fazer pela França Antárctica, embarcam novamente, e partem rumo à Europa, sendo perseguidos até as proximidades de Cabo Frio.

                  Entretanto, consolidada a conquista do Rio de Janeiro, cuja cidade do mesmo nome fora fundada em 1567 por Estácio de Sá, morto por uma flecha envenenada, os portugueses rompem o acordo feito por Anchieta e atacam a aldeia de Pindobuçu, matando aproximadamente dois mil Tamoios e escravizando aproximadamente quatro mil. Ou seja, Aimbiré tinha razão em não aceitar o pacto com os portugueses, pois os padres jesuítas não “moveram” uma palha ou proferiram qualquer palavra em defesa dos infelizes Tamoios de Pindobuçu. Segundo Eduardo Bueno, tanto Nóbrega como Anchieta, os Apóstolos do Brasil, “consideravam aquela uma guerra justa e, (...) quanto mais índios hostis fossem escravizados tanto mais almas para salvar”. Tal era a posição oficial da Coroa Portuguesa, sob o beneplácito eclesiástico, na qual as nações de gentios que não se submetessem ás autoridades régia e papal, deviam ser batidas, pois eram um entrave ao projeto colonial lusitano nos trópicos; ao apoiarem os invasores franceses calvinistas, deviam expiar a sua culpa sob as espadas e canhões de Portugal. O triste destino da tribo de Pindobuçu, em Iperoig, encerrou de vez as atividades da Confederação dos Tamoios, considerado, como já afirmado, a primeira revolta nativa coletiva contra o domínio português. Outras ocorreram ao longo da História do Brasil, como por exemplo, a Confederação dos Cariris, no Nordeste açucareiro. A exemplo dos Tamoios, os Cariris coligaram-se com os Janduins, Paiacus, Caripus, Caratiús e os Icós, que também almejavam a expulsão dos colonos e portugueses do Brasil. Na repressão atuou, além das forças regulares, o “exército” de Domingos Jorge Velho, que mais tarde liquidaria o Quilombo dos Palmares. O conflito, também chamado de Guerra dos Bárbaros, durou de 1688 a 1713, com resultadoss catastróficos para os índios, exterminados em “guerra justa”.

                  Concomitantemente, o fim da Confederação dos Tamoios levou também ao fim, a França Antárctica, idealizada como uma nova pátria para os perseguidos religiosos na Europa. Os idealizadores de uma colônia francesa nos trópicos, também já haviam desaparecido; Nicolas Durand de Villegaignon morreu em 1570, enquanto que o financiador da empreitada atlântica, Gaspar de Coligny seria assassinado, ao ser defenestrado no massacre de huguenotes. O episódio conhecido como Noite de São Bartolomeu, provocou a morte de milhares de calvinistas em toda a França, ordenado pelo rei Carlos IX, seguindo orientações da mãe católica, Catarina de Médicis. Mas os franceses ainda planejavam uma colônia no Brasil e, em 1612, chegam ao Maranhão três navios e 500 homens, comandados por Daniel de La Touche e La Ravardiére sendo bem recebidos pelos Tupinambás que, como seus irmãos do Sudeste e os Tamoios, sempre se relacionavam mais amistosamente com os súditos da França. Essa expedição que trazia os capuchinhos Yves d’ Evreux e Claude d’Abeville, funda o forte de São Luís (futura capital do Maranhão), dando inicio à colônia da França Equinocial, de duração efêmera, sendo aniquilada pelos lusitanos em 1615.

               Entrementes, após a morte de Mem de Sá, a Coroa divide o Brasil em duas partes: o Governo do Norte, com a capital em Salvador, sob a administração de Luís de Brito e o Governador do Sul, com a capital no Rio de Janeiro, com Antônio Salema. Esse último, ainda motivado pelo ódio contra os indígenas resolve guerrear os Tamoios e Tupinambás remanescentes da antiga Confederação, que haviam se estabelecido próximos a Cabo Frio, continuando ainda a traficar o pau-brasil com navios franceses, que aportavam na região a cada ano, mesmo após o fim da França Antárctica. Segundo o Profº Paulo Pereira dos Reis, Antônio Salema reuniu uma força composta de 400 portugueses e 700 índios “aliados” para o assalto ao último baluarte dos Tamoios; compunha também a tropa, o “exército” de Jerônimo Leitão, integrada por brancos, mamelucos e índios “cristãos” (leia-se reduzidos). De acordo com o autor citado, com esse contingente, partiu Antônio Salema, no dia 27 de agosto de 1575, para o Cabo Frio, “levando consigo Cristóvão de Barros, que se havia destacado na expulsão dos Tupinambás do Rio de Janeiro. Encontraram a principal aldeia dos Tamoios protegida por ‘triple fosso, e de trincheiras feitas com tal arte que pareciam inexpugnáveis...’, obras de defesa que haviam sido dirigidas por dois franceses e um inglês que se encontravam entre os primitivos donos do território”.

              Todavia, não querendo arriscar um ataque frontal e perder os seus combatentes, Salema decide montar cerco e tentar a rendição pela fome e sede. Não obtendo resultado, o governador usa de um ardil: envia o padre (novamente os padres) Baltazar Álvares para “convidar” o cacique Japuguaçu, para parlamentar com Salema. Inocentemente, o cacique, mesmo com as vantagens de sua fortaleza, oferece a vassalagem fiel ao Rei de Portugal, pedindo permissão para habitar suas terras. Por sua vez, Antônio Salema, fingindo concordar com o chefe Tamoio, exigiu a entrega dos europeus, que foram sumariamente enforcados, dos 500 besteiros – os melhores atiradores índios – para servirem como escravos e a demolição do principal acesso à fortaleza. Japuguaçu atendeu prontamente às exigências de Salema que, logo em seguida ordenou o ataque sangrento ao coração da aldeia, com a determinação de não fazer prisioneiros. Mais uma vez, os indígenas pagaram um preço altíssimo por acreditarem nas palavras dos portugueses. As cifras variam, mas se levarmos em conta o relato de Robert Southey, fundamentado em Gabriel Soares de Sousa, o massacre perpetrado por Salema resultou entre oito mil e dez mil índios mortos, entre guerreiros, mulheres, velhos e crianças. Uns poucos que se salvaram da carnificina, dividiram-se em dois grupos; um seguindo a rota dos fugitivos de Iperoig adentrou o Vale do Paraíba, estabelecendo-se nas proximidades da confluência dos Rios Jaguary e do Peixe (atualmente parte do município de São José dos Campos). Em 1597, a expedição de João de Sousa, que ainda caçava os Tamoios, topou com os índios, sendo massacrados, como por vingança, ou por somente serem portugueses, poupando o inglês Anthony Knivet (ex-integrante do grupo de Thomas Cavendish, que havia atacado a Vila de Santos, preso pelos portugueses), que se fazia passar por francês. Os Tamoios do Vale, auxiliados por Knivet vingaram-se dos Temiminós e dos Tupiniquins, sendo conduzido, mais tarde, para o litoral, próximo à Cananéia. O outro grupo que escapara à matança de Salema abrigou-se nas matas das Serras de Macaé, sendo localizados e submetidos à escravidão em 1599 por Gonçalo Correia de Sá em sua campanha contra os Goitacazes. Antes senhores do litoral, de Cabo Frio a São Sebastião, os Tamoios, em número aproximado de 70 mil, estavam praticamente extintos nos primórdios do século XVII. Foram dizimados pelo motivo de não aceitarem a imposição do domínio português e de estreitarem colaboração com os franceses. Para os portugueses, a quebra da Confederação dos Tamoios foi fundamental para a vitória, pois é dividindo os inimigos é que se obtém a supremacia e a submissão dos mesmos. Nisso os padres da Companhia de Jesus exerceram um relevante papel para a cooptação e colaboração de diversas nações indígenas do Brasil. Como em agradecimento pelos serviços prestados, a Coroa portuguesa decreta a expulsão e o confisco dos bens dos jesuítas do Brasil, sob o reinado de D. José I, em 1759, arquitetado por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Portugal não precisava mais deles. Até a próxima.

                                                                                       Eddy Carlos.




Dicas para consulta

BUENO, Eduardo (Org). História do Brasil. Publifolha. São Paulo, 1997.

DONATO, Hernâni. Dicionário das Batalhas Brasileiras. Biblioteca do Exército Editora. Rio de

Janeiro, 2001.

MARANHÂO e ANTUNES, Ricardo e Maria Fernanda. Trabalho e Civilização. Volume 3. As

origens da modernidade. (Do século XVI ao XIX). Ensino Fundamental. Editora Moderna. São

Paulo, 1999.

PINHEIRO, Cônego Fernandes. Estudos Históricos. Editora Cátedra. Rio de janeiro, 1980.

REIS, Paulo Pereira dos. O Indígena do Vale do Paraíba. Coleção Paulística. Volume XVI.

Governo do Estado de São Paulo. Imprensa Oficial. São Paulo, 1979.

THEVET, André. As Singularidades da França Antártica. Coleção Reconquista do Brasil.

Volume 45. Livraria Itatiaia. Belo Horizonte, 1978.


E-mail: eddycarlos@ymail.com

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Espetacular as matérias meu amigo e Professor Eddy Carlos e parabéns pela iniciativa de nos brindar com seus artigos. Estarei degustando aos poucos.
    Forte abraço

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  3. Parabéns, que Deus continue te abençoando sempre.

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