domingo, 21 de julho de 2019

A Fazenda Boa Vista (Solar dos Novaes).

               Sede da Fazenda Boa Vista e Museu Major Novaes antes da restauração.
                                                  FONTE: www.meon.com.br

    Há algum tempo um jornal de grande circulação no Vale do Paraíba, veiculou uma reportagem referente ao Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes, de Cruzeiro. A matéria trazia a informação de que a Prefeitura Municipal iria interditar o prédio devido às péssimas condições em que o mesmo se encontrava. As autoridades municipais pleiteavam verbas, estadual e federal, para iniciar o processo de restauro a fim de salvar um patrimônio histórico da cidade que preserva a memória de Manoel de Freitas Novaes, figura de destaque na vida política de Cruzeiro no passado. Aliás, desde o ano de 1985, a cidade aguardava recursos para tal recuperação, sendo que uma parte do frontispício já ruíra, impedindo o acesso a uma ala superior do imóvel que é imenso. Ainda de acordo com o artigo, a Secretaria Municipal de Cultura já havia cancelado por tempo indeterminado as visitas ao Museu, impendido também, dessa forma pesquisas acadêmicas ou simplesmente para adquirir conhecimento. Ao longo desses anos, sucedendo as diversas administrações, o restauro do Museu foi deixado de lado e, ameaçava ruir, devido ao descaso dos órgãos competentes, até que foi restaurado. Mas, vamos analisar um pouco o histórico do solar de Novaes, desde os seus primórdios.
            Além de Cruzeiro, quatro localidades possuem fazendas com o nome de “Boa Vista”: Bananal a qual foi propriedade de Luciano José de Almeida, São Luiz do Paraitinga, Redenção da Serra e a de Roseira Velha que pertenceu ao saudoso mestre José Luiz Pasin, que por sua vez herdara do avô materno; atualmente sede do FARO (Faculdade de Roseira). A Fazenda Boa Vista de Cruzeiro foi construída por volta de 1841 por Antônio Dias Telles de Castro, segundo marido de Fortunata Joaquina do Nascimento, por sua vez viúva de Joaquim Ferreira da Silva. Fortunata nasceu no Embaú aos 11 de maio de 1800 e casa-se pela primeira vez em 1815, fica viúva em 1837 e contrai o segundo matrimônio em 1840. Em 1846, ano da criação da Freguesia do Embaú, o Capitão Antônio Dias Telles de Castro adquire terras no local conhecido como Córrego da Onça e em 1850 no Passa Vinte. Essas aquisições aumentaram o patrimônio da Fazenda Boa Vista, além de seu prestígio, pois a área em que se localizava pertencia à Vila de Lorena, igualando-se, dessa forma, à outras construções dignas de ostentação econômica. Em Lorena Antônio Dias Telles de Castro, tinha uma filha, Ana Antônia de Castro, casada com Joaquim Honorato, irmão do Padre Manoel Theotônio de Castro. Ana era filha do Capitão com a primeira esposa, Maria Inocência de Castilho.
            Todavia, no ano de 1853, Fortunata fica viúva pela segunda vez e, em 1865 casa-se novamente, dessa vez com Manoel de Freitas Novaes, original de Queluz e viúvo de Eusébia Maria Couto de Magalhães. Em 1868, o terceiro marido de Fortunata recebe a patente de Major da Guarda Nacional, comandando o 5º. Esquadrão de Cavalaria, através de nomeação direta do Imperador D. Pedro II. Em 1874 é Fortunata quem falece e o Major Novaes torna-se o proprietário absoluto da Fazenda Boa Vista, quando a mesma está no auge com a plantação e o cultivo do Café “Coroa”. O referido Major contrai também um terceiro matrimônio, com Eva Maria Ferraz, resultando em três filhos: João Batista Novaes, Francisco de Paulo Novaes e Rosalina de Freitas Novaes. No ano de 1877, o Major Novaes elege-se vereador no Embaú, então sede do Município de Cruzeiro, e estreita laços com a Família Imperial. Em 1882, quando da inspeção das obras do túnel da Mantiqueira, o Monarca convida o Major para acompanhá-lo, fato que ficou registrado em uma foto preservada no referido museu. Beneficiando-se, inicialmente com a instalações da ferrovia em suas terras, o Major Novaes, logo em seguida entra em atrito com os dirigentes da “Minas and Rio Railway” e em 1890, o Governo Republicano de São Paulo desapropria parte da Fazenda, onde atualmente localiza-se a cidade de Cruzeiro. Em 1892, devido a atritos políticos com Manoel de Freitas Novaes, o Presidente de São Paulo, Cerqueira César, ordena a ocupação da Fazenda Boa Vista pela Força Pública (a Polícia Militar da época) e no ano de 1898 o referido Major falece, sendo sepultado nos terrenos própria fazenda.
            Segundo a análise de Joaquim de Paula Guimarães, a área ocupada pela Fazenda Boa Vista, estendia desde o Rio Paraíba até a Serra da Mantiqueira. Afirma também Guimarães, que a sede era um centro de atividade política e econômica, onde realizavam-se diversas festas organizadas pelo Major Novaes. Antes de falecer, Celestina Novaes Antunes, conhecida como Dona Tita, neta do Major Novaes, doou ao Estado todo o acervo da família, incluindo a sede da fazenda e no ano de 1969, o Governador de São Paulo Abreu Sodré decretou o tombamento da mesma, criando o Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes. Nos anos da década de 1990 o Museu foi municipalizado, mas o descaso, como já mencionado, continuou. A preservação do Museu de Cruzeiro é importantíssima, pois possui um riquíssimo acervo documental composto de inventários, processos criminais, Atas da Câmara, acórdãos judiciais de cidades como Silveiras, Áreas, Bananal, Queluz, Cachoeira Paulista, Embaú (quando era sede municipal), etc. O período compreende os anos finais do século 18 até a década de 1960 aproximadamente. O prédio em questão contém também móveis, utensílios e documentos pessoais do Major Novaes como panfletos políticos, recibos de compra e venda de escravos, etc. 
            A partir do ano de 2010 o Museu foi fechado para as obras de restauro, que ora prosseguiam em ritmo lento, ora eram interrompidas. Todo o mobiliário da Família Novaes, além do riquíssimo acervo histórico-documental foi "acomodado", em outro prédio histórico de Cruzeiro, o Solar dos Rossetti. Infelizmente vários ítens do referido acervo simplesmente desapareceram. Até mesmo duas monografias sobre a História de Cruzeiro, por nós ofertadas ao Museu em 2002 e 2004, respectivamente, "misteriosamente" foram parar em Cachoeira Paulista, no Museu Costa Jr. Atualmente integram o acervo da ACLA (Academia cruzeirense de Letras e Artes), fundada em 2016 por Eduardo César Werneck, ilustre incentivador da Cultura em Cruzeiro. Finalmente, entre 2015 e 2016, o Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes foi reinaugurado. São realizadas atividades culturais como peças teatrais, saraus, e feiras literárias. Mas, lamentavelmente o acervo documental, além da mobília da Fazenda Boa Vista continuam no local onde foram alojados. Vamos aguardar seu retorno...; quem sabe um dia qualquer. Um grande abraço e até breve.                      
                                                              Eddy Carlos.


Dicas para consulta.
ANDRADE, Carlos Borromeu de. Os Pioneiros da História de Cruzeiro. Cadernos Culturais do Vale do Paraíba. Fundação Nacional do Tropeirismo. CERED. São José dos Campos, 1994.
GUIMARÃES, Joaquim de Paula. Síntese da História de Cruzeiro. Edição da Prefeitura Municipal de Cruzeiro, 1951.
GUSSEN, Pedro. História de Cruzeiro. Adenda II. Cruzeiro, 2000.
SILVA, João Ramos da. Cruzeiro, Binômio: Educação e Indústria. Oficina Gráfica “Prof. João Silveira”. Cruzeiro, 1970.
SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. O Mandonismo Político em Cruzeiro. Atuação Política Major Novaes (1873-1898). Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação; Especialização em História do Brasil Republicano pela UNITAU. Edição mimeografada. Taubaté, 2004.   


E-mail:eddycarlos6@gmail.com

Blog: redescobrindoovale.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Olá. Estou fazendo o meu TCC sobre o museu. pode me ajudar com algumas informações?

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