tag:blogger.com,1999:blog-21491547194349025712024-03-28T20:28:47.684-07:00Redescobrindo o Vale.Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.comBlogger95125tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-54116539493801714382023-11-05T05:58:00.018-08:002023-11-05T06:13:37.131-08:00A Querela da Água.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTVFALvsnz0MVgc-5YeHnq93zj5jRwOJLqK3x_UYeqZTP-v7sJCBULAS_0YARkGWYWbtHB_7OnoYAAlpi_6-EbTC4u38uaOpMxEKN5Nm9YCJrGLYh6BGZKRuw2CAsnDdd5uTB87Kfb6DKk4rOH0jqcrkKWpRdueZnXYl4xvknmML9SkoX32UOE9ySHID_D/s3860/Chic%C3%A3o%201..jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2574" data-original-width="3860" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTVFALvsnz0MVgc-5YeHnq93zj5jRwOJLqK3x_UYeqZTP-v7sJCBULAS_0YARkGWYWbtHB_7OnoYAAlpi_6-EbTC4u38uaOpMxEKN5Nm9YCJrGLYh6BGZKRuw2CAsnDdd5uTB87Kfb6DKk4rOH0jqcrkKWpRdueZnXYl4xvknmML9SkoX32UOE9ySHID_D/w640-h426/Chic%C3%A3o%201..jpg" width="640" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"> O solar de Francisco de Godoy Fleming em 2002; fotografia de autoria de Eddy Carlos.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;"><br /></span></div><p></p><p></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Temos visto e acompanhado pelos
meios de comunicação a falta de água histórica, que se abateu na região do
Amazonas, com o Rio Negro, por exemplo, tendo abaixado seu nível em 13 metros.
O cenário tende a se tornar igual ao do Nordeste, no chamado “polígono das
secas”, em claro processo de desertificação, ambos causados pela ação
antrópica. Entre 2014 e 2015 foi a região Sudeste que havia passado pela
chamada crise hídrica. Devido a diversos fatores como desperdícios, alta no
consumo e às chuvas escassas daquela época, os níveis dos reservatórios foram
baixando cada vez mais, o que aumentou a possibilidade de um racionamento de
água ocorrer, principalmente na cidade de São Paulo. Tal não ocorreu, mas os
órgãos “competentes” chegaram a lançar mão de recursos como a utilização do
“volume morto” de um grande reservatório. Houve ainda a intenção de
transposição das águas do Rio Paraíba do Sul, para atender a imensa metrópole,
ideia rechaçada de imediato pelos governos do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.
A partir de 2016, no entanto, com novas e fortes chuvas, a situação no Sudeste
teve uma melhora significativa. Mas o caso do Amazonas, citado no início do
presente artigo é ainda mais preocupante, pois trata-se de um rio que é um dos
principais afluentes do Rio Amazonas, e não de um mero reservatório. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A questão é delicada, pois
sabemos que a água é a maior riqueza de que dispõe a humanidade. Apesar de o
planeta Terra ser composto de ¾ de água, a imensa parcela desse total é de água
salgada. E é justamente a ínfima parcela de água doce e potável que está se
escasseando. a pequena oferta ou a falta de água, acaba sendo motivo de
disputas políticas que, não raro, chega a causar conflitos armados. Na África,
na região do Saara, a água possui mais valor do que ouro e pedras preciosas.
Caravanas de beduínos, camelos e dromedários, percorrem om imenso deserto,
desde o oeste do Egito até o Marrocos, tendo o cuidado de não desperdiçar o
precioso líquido. Outras regiões desérticas, desprovidas de água, são os desertos,
do Arizona nos EUA, de Góbi, na China, além dos da Austrália e do Oriente
Médio. E, justamente, nessa região, em 1952, o governo de Israel decidiu
utilizar as águas do Rio Jordão, seviando seu curso, para a irrigação de suas
lavouras, provocando atritos com os árabes, aumentando a tensão existente<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>desde 1948. Com a vitória na Guerra dos Seis
Dias, Israel ocupa as colinas de Golán, território sírio. Nestas, se destaca o
Monte Hermon, onde está localizada a nascente do mesmo Jordão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Apesar de termos citado o
Brasil, no início deste relato, situado em uma região tropical, sempre houve
abundância de água no território. Além do Amazonas, rios bastante volumosos,
como o São Francisco, Tocantins, Araguaia, Madeira, Paraná, Guaíba e o próprio
Paraíba do Sul, garantiram a sobrevivência e o sustento de inúmeras comunidades
e, também, para as rotas comerciais. Por isso, desconhecemos, pelo menos até
então, conflitos armados envolvendo posse e controle de rios e lagos. Isso não
quer dizer que não tenha havido atritos; pequenas disputas entre particulares
são comuns e, em alguns casos, quando são solucionados pacificamente, a “lei do
mais forte” prevalece, ou são resolvidos na esfera jurídica. Há quase vinte
anos, por volta de 2004, quando o autor destas linhas realizava pesquisas para
um determinado estudo, tivemos acesso a um livreto, publicado em 1922,
referente<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a uma disputa judicial pelo
uso das águas de um córrego no Embaú, então Distrito do Município de Cruzeiro
(SP). O referido processo leva o nome de “Acção Negatória (Servidão de tomada
d’água)” e tramitou na Comarca de Cachoeira (hoje Cachoeira Paulista), visto
que, juridicamente, Cruzeiro estava subordinado à mesma. O cenário da “briga”
estava composto do citado córrego, denominado ”Rio Branco”, e as terras que
outrora faziam parte da Fazenda Rio Branco, então propriedade do Major Chrispim
Bastos. Os autores do mencionado processo foram Francisco de Godoy Fleming e
sua esposa, Minervina de Castro Fleming. Os réus foram José Lombardi e sua
esposa, cujo nome não é citado. Mas antes de prosseguirmos, analisemos
detalhadamente o ambiente dessa disputa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A região do Embaú é servida, de
dois córregos, pequenos fluxos e vertentes de água, além do próprio Rio Embaú,
que desde 1934 divide os municípios de Cruzeiro e Cachoeira Paulista.
Erroneamente chamado de “Rio Piquete”, o mencionado rio se forma, na verdade,
na junção dos ribeirões Piquete e Jaracatiá. Com o nome de Rio Embaú se junta
ao Rio Passa-Vinte, no ponto em que é “barrado”, seguindo seu curso daí em
diante até a foz no Rio Paraíba. Os dois principais córregos do Embaú são o já
citado, Rio Branco e o Juqueta. Este possui um curso pequeno, tendo sua
nascente no morro do mesmo nome, onde atualmente está instalada uma subestação
das Furnas, atravessando os antigos terrenos da Fazenda Godoy, e fazendo a sua
junção com o primeiro nas dependências do Recanto da Glória, de propriedade dos
familiares do autor deste relato. O Rio Branco, por sua vez, é bem mais
extenso, tendo sua nascente no Município de Lorena. Atravessando áreas de
várzeas entre esta cidade e Cachoeira Paulista, o Rio Branco “passa” próximo
antiga sede da fazenda do mesmo nome (hoje demolida) e da antiga casa-sede de
Francisco de Godoy Fleming (esta reformada). Em seguida, acompanha o espaço
urbano do Embaú para entrar novamente em zona de várzea e, após se unir ao
“Juqueta”, desemboca no Rio Embaú, cerca de um quilômetro adiante. A despeito
da presença de uma estação de tratamento de esgotos no bairro, as águas do Rio
Branco estão poluídas, lamentavelmente. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A sede da Fazenda Rio Branco
estava situada a, aproximadamente, seis quilômetros do centro do Embaú (antigo
Largo). Desconhecemos o ano de sua construção, mas sabemos que datava do século
XIX, no período em que o Embaú era sede de município. Seu primeiro
proprietário, como já mencionado, foi o Major Chrispim Bastos, líder político
local e um dos primeiros dirigentes do atual Município de Cruzeiro. O solar de
Francisco de Godoy Fleming também características do século XIX e pode ser
observada a partir da Rodovia Christiano Alves da Rosa, que liga Cachoeira a
Piquete. Assim como o cunhado Chrispim, Francisco também teve atuação política
no Embaú, nos tempos da monarquia e nos primórdios da fase republicana. No
início da década de 1920, Francisco ainda tinha influência no então Distrito do
Embaú e foi nesse período que se envolveu na disputa judicial, cujo desfecho
“arranhou” seu prestígio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por volta de 1893, Jordão Pinto
de Castilho vendeu a Francisco José Gomes Serapião, conhecido pela alcunha de
“Velho Crispim”, uma área rural, denominada de “Chácara do Embahú”. Logo em
seguida, o novo proprietário instalou uma bomba hidráulica, conhecida como
“carneiro”, em um tanque construído para captar água, provavelmente, de uma
mina. Essa instalação foi necessária para bombear água para a casa em questão,
utilizando-se ainda um sistema de encanamento para o fluxo. De acordo com o
advogado dos réus, Dr. Manoel Ferraz de Camargo Júnior, ao instalar o sistema
hidráulico, Francisco Serapíão (Velho Crispim) estabeleceu a serventia, que não
mais se extinguiria, uma vez que a bomba funcionou plenamente durante todo o
tempo de vida do proprietário. Havia ainda um engenho com construções rústicas,
próximo da bomba, para uso da família de Francisco Serapião, que falece no dia
22 de setembro de 1915. Com a morte do proprietário a Chácara do Embahu foi
dividida, cabendo à viúva, Firmina Rosa Serapião, o terreno que continha a
casa-sede, que passa a ter a companhia do filho, Joaquim Serapião. Já a parte
que continha o engenho coube á herdeira Cândida Bastos, conhecida no Embaú como
“Candola” (ou “Nhá Candola”), casada, por sua vez, com o Major Chrispim Bastos.
Como já eram proprietários da Fazenda Rio Branco, o Chrispim e Candola vendem,
em meados de 1917, o terreno do engenho para Francisco de Godoy Fleming e a
esposa Minervina de Castro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No dia 03 de maio de 1919,
Firmina Rosa Serapíão vende o terreno da Chácara do Embahú, contendo a antiga
casa-sede e todas as benfeitorias, incluindo a velha bomba hidráulica, para o
Corintho Chrispim de Souza. Este permanece por pouco tempo como proprietário da
referida chácara e faz uma permuta, entregando o imóvel como recebera, com o
Capitão Avelino Bastos. Em tese, a antiga propriedade do Velho Serapião, ainda
que dividida, ficaria por breve tempo em mãos de uma mesma família, pois
Chrispim Bastos e Avelino Bastos eram irmãos de Minervina de Castro Fleming.
Avelino residia na parte urbana do Embaú e tinha consciência da antiga
servidão. Conforme o Dr. Camargo, ele “não mexeu na installação e encanamentos
que levavam água a essa propriedade; no entretanto, como precisasse d’água em
sua casa da Villa do Embahú, assentou uma outra bomba próximo do local da
antiga e collocou outro encanamento para conduzir agua á sua residência da
Villa”. As novas instalações foram provisórias e não sofreram oposição de
ninguém; não interferindo nas antigas que haviam estabelecido a serventia. mais
tarde, segundo os autos do processo, a nova bomba foi removida por Manoel
bastos, filho de Avelino, que seguiu determinação do pai; mantendo intactas as
antigas instalações. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em 19 de março de 1921, Avelino
Bastos vende a Chácara, com todas as benfeitorias, para José Lombardi. Este
deixou um filho residindo no local e reinstalou a bomba para impulsionar água.
As únicas alterações realizadas foram a substituição de um cano enferrujado e
uma estrutura de alvenaria, de pequeno porte, no exato local do antigo tanque,
construído pelo Velho Serapião, quase trinta anos antes. Após um mês de
funcionamento, segundo os autos do processo, Francisco de Godoy e Minervina
tentam impedir José Lombardi de usufruir da serventia. Inicialmente, Francisco
de Godoy envia ao vizinho “a absurda e deshumana proposta, (...), em a qual
queria que Lombardi só tivesse agua em horas em que elle Autor entendesse, ou
então ficasse Lombardi obrigado a usar agua polluida do córrego denominado Rio
Branco, cujas aguas recebem os exgottos da fazenda, que lhe fica à montante,
inclusive o despejo do watter closet dessa mesma fazenda”. Diante da recusa de
tal proposta, Francisco de Godoy entra com o processo da Acção Negatória contra
a família de José Lombardi.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entretanto, logo no início do
processo, os autores começam a se complicar por falta de provas, depoimentos
controversos e pela perícia realizada no local. Conforme a descrição do
advogado de defesa, Francisco e Minervina, acusam José Lombardi de ter
arrancado a bomba, antes de ter comprado a propriedade, reinstalando-a depois.
Outro fato que foi destacado é que, na época do Velho Serapião, o terreno da
Chácara era dividido pela antiga estrada que ligava o Embaú a Lorena (antigo
caminho do Rio Branco). Diante disso, Francisco de Godoy alega que a captação
de água feita por Lombardi era ilegal e que o mesmo estaria violando o seu
domínio. Como no período a propriedade havia sido partilhada, os autores
alegavam também, que não haviam dois prédios, como argumentara a defesa.
Deixemos que o próprio Dr. Camargo afirme na sua tese o que estava ocorrendo.
Para ele, com “a sua conhecida habilidade, diz o advogado dos autores, e com
teimosia: ‘que ao tempo do Velho Serapião não existiam dois predios; e sim um
único’ (...) affirmamos a existencia de dois predios porque entendemos que
predio se chama ao sólo, terreno ou herdade; ora o terreno onde está o engenho
de canna pertence hoje aos Autores, e que fica abaixo da Estrada, que do Embahú
vae á Lorena; (...) o da Chacara, que fica situado, do lado de cima da estrada,
(...) era (...) inteiramente separado, do de baixo”. Além do mais, mesmo
estando registrado em uma só escritura, os terrenos eram, ambos, cercados com
arame farpado na época do Velho Serapião. Por isso, segundo a defesa
constituíam “dois prédios”. A defesa vai além, ao afirmar que, quer “fôsse um
predio, quer fossem dois, a servidão se constitue da mesma maneira; e si o ex
adverso insiste em sustentar o contrario, é porque lhe convem confundir
serventia com servidão”. No decorrer do processo, conforme a tese da defesa,
tanto Francisco de Godoy como seu advogado, se atrapalham diante de testemunhas
e laudos de perícia. Diante do juiz, o acusador acaba admitindo que teria se
confundido quanto a José Lombardi. Francisco de Godoy reconhece que a bomba
havia, de fato, sido instalada por Francisco José Gomes Serapião, e que a mesma
funcionou levando água para a Chácara, durante e após o período de vida do
antigo dono.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sendo assim, diante de tal
confissão, a defesa, representada pelo Dr. Camargo, que já havia afirmado que
os autores do processo procederam de tal forma “por maldade ou por inveja se
lembraram de lhe negar direito a agua”, não necessita de mais provas. Mesmo que
se tratasse de pouca reserva hídrica, os acusadores ainda que explicassem não
poderiam negar a servidão. Uma das conclusões periciais afirma que “a agua que
corre pelo rêgo mestre não é muito abundante, sendo sufficiente para os gastos
do engenho dos Autores porque o bicame, que é muito antigo fica completamente
cheio”. Essa pouca abundância ocorria no período de estiagem e já era
suficiente, sendo de grandes proporções nas cheias. Dessa forma, a defesa
encerra a sua tese reafirmando a inocência de José Lombardi e sua esposa, os
quais foram vítimas de “um capricho e da raiva incontida dos Autores contra o
Réu”. O Dr. Camargo afirma ainda que o advogado dos acusadores, ao iniciar o
processo, “errou na diagnose, a acção dever-se-ia denominar ‘vingatoria’ e não
negatoria”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Enfim, transcorrido o prazo
legal, o Juiz de Direito emite a sentença favorável aos réus. Vale a pena citar
um trecho da mesma, redigida por João Vieira de Barros Júnior, escrivão do 1º
Ofício da Comarca de Cachoeira. “Finalmente os Réos provaram perfeitamente a
sua defeza, provaram evidentemente a sua servidão. Os Autores não provaram o
seu pedido, não provaram a sua intenção. Pelo exposto e pelo mais que destes
autos consta. Julgo improcedente a presente acção e comdemno os autores a respeitarem
a servidão referida de tomada d’agua, do predio dos réos sobre o predio dos
mesmos autores, a indemnizarem os réos a não mais perturbarem os réos, no
exercício da servidão, e apagarem as custas. (...). Cachoeira, 15 de Maio de
1922”. O episódio que acabamos de narrar deveria servir de exemplo àqueles que
não respeitam o Direito alheio. Mas, há alguns que esquecem as lições da
História. Quase 80 anos depois, descendentes distantes de Francisco de Godoy
Fleming, por parte de um irmão deste, também moveram um processo judicial
contra seus vizinhos. Os motivos eram outros, mas o desfecho foi o mesmo que
foi impingido aos autores da Acção Negatória. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 14pt; line-height: 150%;">Referências.<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif"">COMARCA de
Cachoeira. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Acção Negatoria (Servidão de
tomada d’agua).</b> Cachoeira Paulista, 1922.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif"">RAMOS,
Agostinho. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cachoeira Paulista. 1780-1970.</b>
2 volumes. IHGSP. São Paulo, 1971.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif"">RODRIGUES,
Antônio da Gama. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Gens Lorenesis.</b> In:
Revista Genealógica Brasileira. s/d.</span> </p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif"">SOUZA
VICENTE, Eddy Carlos. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Uma Janela no
Tempo. Os Godoy Fleming no Embaú.</b> Editora Penalux. Guaratinguetá, 2015.</span> </p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif"">TOTA e
BASTOS, Antônio Pedro e Pedro Ivo de Assis. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">História Geral.</b> Nova Cultural. São Paulo, 1994. <o:p></o:p></span></p>
<span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="break-before: page; mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""><o:p> </o:p></span></p><br /><p></p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-90619680849073055652023-08-01T17:43:00.055-07:002023-08-01T18:01:04.277-07:00O Preço da Liberdade.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYnJ5oapcXB58hHsy8-Kj-jACyYwRI_2q3tZddN1RxJYbxOJGE30Q98nvJJBVbvaE3yyzHt_BeFkr11vMdiQKmB27eSOprzwmKcfQ8m52CIDxLdwf6b4yM5DOjjIDTsy_dEf1IwfXNhbnqvlgOEWLBUC8LK47kVRJEeSPBH0iUH36NOlGRIfF7eMyXvywj/s1280/escravo-brasil-rio-de-janeiro-Jean-Baptiste-Debret.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="926" data-original-width="1280" height="463" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYnJ5oapcXB58hHsy8-Kj-jACyYwRI_2q3tZddN1RxJYbxOJGE30Q98nvJJBVbvaE3yyzHt_BeFkr11vMdiQKmB27eSOprzwmKcfQ8m52CIDxLdwf6b4yM5DOjjIDTsy_dEf1IwfXNhbnqvlgOEWLBUC8LK47kVRJEeSPBH0iUH36NOlGRIfF7eMyXvywj/w640-h463/escravo-brasil-rio-de-janeiro-Jean-Baptiste-Debret.jpg" width="640" /></a></div><br /> Feitor açoitando cativo em alguma fazenda, em tela de Jean-Baptiste Debret.<p></p><p> FONTE: www.aventurasnahistoria.com</p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bem sabemos que durante mais de três
séculos, o Brasil, desde o domínio português, dependeu economicamente da
mão-de-obra escrava de origem africana. Após a independência em <st1:metricconverter productid="1822, a" w:st="on">1822, a</st1:metricconverter> estrutura
escravista foi mantida com todos os seus abusos e contradições por parte dos
senhores e autoridades imperiais. O escravizado era nada mais que um capital
investido que deveria render para seu senhor lucros cada vez mais altos e que a
única diferença com os animais é que “conseguia falar”. Assim sendo, o direito
do proprietário era inquestionável, estando o cativo a mercê de seu “dono” que o
explorava e o castigava quando bem julgasse. Há inclusive relatos de inúmeras torturas
e mutilações sofridas pelos cativos que para se livrarem de tais tormentos
haviam duas alternativas: a fuga ou o suicídio. Quando optava pela primeira e
era recapturado, na maioria das vezes após o castigo no tronco, era marcado a
ferro com letra “F”, de “Fujão”, ou lhe aplicavam a gargalheira e demais
artefatos que facilitasse a recaptura. Quando, no entanto, tentava por fim à
vida e era mal sucedido corria o risco de ser processado pelo Estado, pois
estaria atentando contra a propriedade de seu amo. Com a Lei Eusébio de Queirós
de 1850, que proibiu o tráfico negreiro sob a imposição da Inglaterra, a
situação só piorou para os cativos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span face=""Arial","sans-serif""><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Todavia, quando o Senhor estava <span style="color: black;">à beira da
morte e temendo que sua alma fosse para o inferno, concedia-se a liberdade para
alguns (ou às vezes todos) de seus escravos, através da carta de Alforria. Ocorria
também, o fato de o escravo obter a alforria por lealdade e bons serviço (quando
escravo doméstico, dentro da casa-grande) ou, muito raramente, através da
bondade do proprietário. Entretanto, o Império, através da Lei nº. 2040 de 20
de setembro de 1870 instituiu outra forma para o escravizado alcançar sua
liberdade, além da alforria. Tratando em assegurar os direitos dos escravistas,
o Governo Imperial criou a indenização arbitrada no valor 600$000 (seiscentos
mil réis) que o escravizado deveria amealhar para comprar a própria liberdade.
Constituía-se assim um pecúlio que o cativo, através de doações, ganhos extras
com trabalho nos poucos momentos de folga e, até mesmo da prostituição no caso
das mulheres, utilizava para livrar-se do cativeiro. Só não era permitido,
quando oriundo de furto ou roubo. Apesar do valor altíssimo para o escravizado,
o governo dava as garantias, mas mesmo assim, por diversos motivos, alguns
senhores recusavam-se a conceder a liberdade para aqueles que conseguissem
completar a soma exigida. Temos um exemplo de tal procedimento, ocorrido em
1873, no então recém-criado Município de Cruzeiro, ou seja, no Embaú. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A Fazenda Boa Vista, integrava
a referida Vila, quando esta se emancipou de Lorena; seu primeiro dono foi Antônio
Dias Telles de Castro, casado com Fortunata Joaquina do Nascimento que, após
enviuvar contrai novo matrimônio com Manoel de Freitas Novaes. Uma das escravas
da Fazenda Boa Vista, de nome Rita teve um filho liberto cujo nome era Elizeo
Telles de Castro, que, considerando a condição do jovem liberto, seria filho de
Antônio Dias Telles de Castro com a referida escravizada. Como Fortunata, como
já dissemos, contraiu núpcias com Manoel de Freitas Novaes, ambos passaram a
ser proprietários da cativa, após a morte de Antônio. Mas em 1873, Elizeo, com
o valor exigido pela lei de indenização, apresenta-se ao já nomeado Major Novaes
e pede a liberdade de sua mãe, então com 40 anos de idade. Com a negativa de
Major, Elizeo doa à mãe o valor necessário para ela mesma comprar sua
liberdade, sem sucesso. Alegando possuir direitos intocáveis, além de não só
cumprir o que a lei determinava, o referido Major Novaes passa a manter a cativa
Rita acorrentada e sem alimentação, segundo a análise de Carlos Borromeu de
Andrade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Consequentemente,
Elizeo Telles de Castro, devido a intransigência do Major Novaes, e auxiliado
pelo advogado Manoel Thomaz Pinto Pacca, dá entrada na Ação de Liberdade no dia
02 de agosto de 1873, no cartório de João de Oliveira Évora, em Lorena. Ainda
assim, o proprietário da Fazenda Boa Vista não cede e de acordo com o processo
judicial, além de recusar qualquer tipo de acordo, passa a armar capangas para
se “defender”. Porém, o referido processo é rápido e após alguns protestos e
alegação da parte do réu, além da ameaça de invasão e ocupação da fazenda pela
Milícia Provincial, para resgatar Rita, o Major Novaes somente recua por dois motivos. Logo após receber a patente de Major da Guarda Nacional, Manoel
de Freitas Novaes, além de concorrer ao cargo de vereador para a Câmara Municipal da Vila de Nossa Senhora da Conceição do Cruzeiro, almejava também o titulo de Barão. Embora aconselhado por amigos e
correligionários, demorou em perceber que sua imagem fora seriamente abalada
pelo episódio, o que pode ter prejudicado a candidatura, pois não foi eleito. Coincidência ou não, o Império não lhe concedeu o titulo apesar
da devoção do Major para com a monarquia. Entretanto, depois de nomeado como
depositário da escrava Rita, o Sr. Joaquim Pinto Roza em 11 de agosto de 1873,
o processo chega ao fim com sentença favorável para a cativa e seu filho Elizeo,
no dia 27 de agosto de 1873. Analisemos na íntegra a referida da sentença: “julgo
por sentença livre a liberdade da preta Rita, e mando incontinente se lhe passe
a respectiva carta de Alforria, de conformidade com o disposto no parágrafo 2º.
etc, etc., Ressalvo ao seu Senhor o direito de requerer em juízo competente o
levantamento da quantia, porque foi a mesma depositada na collectoria de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>rendas desta cidade de Lorena”. Infelizmente,
não foi possível identificar o nome do Juiz que proferiu tal sentença, mas
podemos notar que o mesmo garante, apesar de tudo, os direitos indenizatórios
ao Major Novaes. A libertação total dos escravizados viria, afinal, em 1888 com
a Lei Áurea.</span><span face="Arial, "sans-serif"" style="text-align: center;"> </span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Eddy Carlos.</span><span face="Arial, "sans-serif"" style="text-align: justify;"> </span><span face="Arial, "sans-serif"" style="text-align: justify;"> </span><span face="Arial, "sans-serif"" style="text-align: justify;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">Dicas para consulta</span></b><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">ANDRADE, Carlos Barromeu de.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Os Pioneiros da História de Cruzeiro.</b>
Cadernos Culturais do Vale do Paraíba. CERED, São José dos Campos, 1994.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">CARDOSO, Fernando
Henrique. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Capitalismo e Escravidão do
Brasil Meridional.</b> DIFEL. São Paulo, 1962.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">COMARCA de Lorena. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ação de Liberdade da Escrava Rita.</b>
Lorena, 1873. Acervo do Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes. Cruzeiro-SP.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">GORENDER, Jacob. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Escravismo Colonial.</b> Coleção Ensaios.
Ática. São Paulo, 1992.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">MATTOSO, Kátia de Queirós.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ser Escravo no Brasil.</b> Editora Brasiliense.
São Paulo, 1982.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="color: black;">SOUZA VICENTE, Eddy Carlos.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Mandonismo Político em Cruzeiro.
Atuação Política do Major Novaes (1873-1898).</b> Trabalho de Conclusão de Curso
de Pós-Graduação Lato Sensu em História do Brasil Republicano pela UNITAU.
Taubaté, 2004.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-64677491056082987222023-07-13T15:54:00.001-07:002023-07-13T15:54:17.710-07:00O Registo de Itagyba.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4y7KlC5tDq-vLzVHIcaPS1IBeo_6n1EEDJQcUejIxht76eJNqPKK5R867maDvbkULfGPvbAEZrCFF62vVQot63nghED7Gnqsa239NQTAkSDtqTCoiQzhKAIffdQyT7sXndSBkC4elQRt3aZAEai7fqEVMREKkFc58bnKjJ_ZUBpg1IXSC5H6gAzXeENhr/s1181/Piquete.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="1181" height="406" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4y7KlC5tDq-vLzVHIcaPS1IBeo_6n1EEDJQcUejIxht76eJNqPKK5R867maDvbkULfGPvbAEZrCFF62vVQot63nghED7Gnqsa239NQTAkSDtqTCoiQzhKAIffdQyT7sXndSBkC4elQRt3aZAEai7fqEVMREKkFc58bnKjJ_ZUBpg1IXSC5H6gAzXeENhr/w640-h406/Piquete.jpg" width="640" /></a></div><br /> Vista panorâmica de Piquete no ano de 1906.<p></p><p> FONTE: Prefeitura Municipal de Piquete e Fundação Christiano Rosa. </p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desde a segunda
metade do século XVI, a Coroa portuguesa passa a enviar expedições oficiais com
a função de reconhecer o território e explorar possíveis riquezas, como ouro e
prata. Essas expedições ficaram conhecidas como Entradas e não podiam
ultrapassar a Linha de Tordesilhas. Paralelamente, expedições não oficiais,
conhecidas como Bandeiras, partiam da Vila de São Paulo, para capturar e
escravizar indígenas, não se preocupando com a citada Linha de Tordesilhas.
Assim, bandeirantes e demais aventureiros, no encalço dos silvícolas, seguiam o
curso do Rio Paraíba pela margem direita até o chamado Porto da Cachoeira.
Cruzando o rio continuavam em direção à Garganta do Embaú, de onde atingiam o Sertão
dos Cataguases e a região das minas. Com a exploração aurífera, todo o tráfego
de mercadorias e carregamentos do valioso metal, passou a se efetuar pela
Estrada Real, onde seguiam o mesmo caminho, passando pelo povoado do Embaú até
Guaratinguetá; daí seguindo por Cunha (antiga Facão) até Paraty. Ora, a
atividade econômica impulsionada pelo ouro atiçava a cobiça de bandoleiros e
garimpeiros que tentavam manter consigo o metal extraído sem pagar o imposto
que a Coroa cobrava. Intensificando o contrabando, as autoridades portuguesas
instalavam postos de fiscalização e cobrança ao longo de diversos caminhos. Na
Estrada Real, o posto principal era o Registro da Mantiqueira, em território
mineiro, onde atualmente é a cidade de Passa Quatro e ainda em atividade em
1822, conforme o viajante francês Saint-Hilaire.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entretanto, o quinto cobrado pelas
autoridades coloniais, além de outros tributos exorbitantes, somente incentivava
ao mencionado contrabando, o que fazia com que os fraudadores do erário
procurassem outras rotas de fuga da fiscalização lusitana. Ao mesmo tempo,
aumentava a concessão de sesmarias em terras valeparaibanas, então pertencentes
à Vila de Guaratinguetá. Em 18 de novembro de 1733, a Coroa portuguesa concedeu
uma sesmaria a Miguel Rodrigues de Morais no local denominado “Campinho”,
havendo notícia, no entanto, de outros que foram beneficiados antes como Manuel
Duarte Filgueiras, Manuel Fernandes Pinto e José Rodrigues Neves. Tais
concessões foram em terras da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade e, no ano
de 1741 o Capitão Lázaro Fernandes abriu um estreito caminho, ligando dessa
forma a referida freguesia às minas de Itagyba, atual cidade mineira
de Itajubá. Como essa senda tornou-se uma alternativa irresistível para os
contrabandistas de ouro e mercadorias, pois podiam fugir do controle do Registro
da Mantiqueira, o governo luso determinou a instalação permanente de um piquete
de milicianos e a formação de um novo posto de fiscalização. Embora instalado
no lado paulista da Mantiqueira, bem ao pé da serra, em território da Vila de
Guaratinguetá, esse posto ficou conhecido como o Registro de Itagyba, mais
tarde apenas como “Registro”. Após a emancipação política da Freguesia de Nossa
Senhora da Piedade, o Registro passou a pertencer à Vila de Lorena em 1788.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <span style="mso-spacerun: yes;">
</span> Conforme ocorrido com outras localidades, nas imediações do
Registro, desenvolveu-se um novo núcleo habitacional configurando
então, um novo bairro, agora parte integrante da Vila de Lorena. Com a
decadência das minas, o local passa a ser denominado por Registro Velho.
Segundo o Prof. José Geraldo Evangelista, a Vila de Lorena dividia-se em oito
companhias e, em 1801 o Registro Velho integrava a 7ª Companhia, juntamente com
o Porto do Meira, o Campinho, o Embaú, o Passa Vinte e o Embaú Acima
(Quilombo). Porém, o Registro iria exercer novamente a sua função militar durante
a Revolução Liberal de 1842, quando o governo imperial deslocou um segundo
piquete de cavalaria para impedir a união dos rebeldes paulistas com os rebeldes
mineiros. Diante desse episódio formou-se o conceito equivocado de que o
surgimento do povoado data de 1842. Prosseguindo então, com o crescimento do
Registro, os moradores do local solicitam permissão para erigirem uma capela em
22 de fevereiro de 1865, sendo batizada com o nome de São Miguel. No dia 22 de
março de 1875, através da Lei Provincial nº 10, o Registro Velho é elevado à
condição de freguesia com o nome de São Miguel de Piquete, sob a esfera
político-administrativa da Vila de Lorena. A capela solicitada, contudo, foi
construída em terras de Custódio Vieira da Silva.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <span style="mso-spacerun: yes;">
</span>O crescimento, ou melhor, o desenvolvimento da Freguesia do Piquete é
constatado, através do conteúdo da Ata da Câmara de Lorena, de 01 de dezembro
de 1885, citada pelo Prof. José Geraldo Evangelista. Na referida ata, o
Presidente da Câmara, Major Joaquim Vieira Teixeira Pinto, solicita material
escolar para os alunos das escolas da Freguesia do Piquete, sendo que desde
1878 já havia uma escola feminina. Em outro momento, o Barão da Bocaína,
Francisco de Paula Vicente de Azevedo, pretendeu instalar uma linha de bonde e
telégrafo de Lorena aos Campos do Buriqui, além da sugestão da mesma Câmara
para a construção de um ramal ferroviário até o antigo Registro, o que indica que
o local não estava ignorado. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No entanto,
nem a linha de bondes e nem o ramal saíram do papel. Dessa forma, foi com
surpresa que a Câmara Municipal de Lorena recebeu o comunicado do Governo
Provisório Republicano de São Paulo, no qual sancionava o Decreto nº 166, de <st1:date day="17" ls="trans" month="5" w:st="on" year="18">17 de maio de 18</st1:date>91.
No referido decreto, a freguesia, agora distrito era elevado a Município com o
nome de Vila Vieira do Piquete sendo criado também o Conselho de Intendência, o
que revoltou a edilidade lorenense. Apresentando argumentos contra a criação da
nova Vila, a Câmara de Lorena foi derrotada com a rejeição, pelo Senado
Estadual, do Projeto nº 39 que anulava o Decreto nº166. Consumada a
emancipação, assume como primeiro Prefeito de Piquete o Major Carlos Augusto
Alvim Taques Bittencourt , avô paterno da ex-vereadora de Cachoeira Paulista
Adracir Fleming Bittencourt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Entrementes, na primeira década do século XX, Piquete vivenciou uma
fase de desenvolvimento e euforia devido à construção do tão sonhado
ramal ferroviário e da instalação da indústria de material bélico do Exército. Tal
ramal ligava Lorena a Fábrica de Pólvora Presidente Vargas, atualmente uma das
unidades da Imbel, administrada pelo Exército Brasileiro. Aliás, a referida
fábrica completou 114 anos de existência em 15 de março último, ao passo que o
ramal de Benfica foi desativado em 1977. Durante a Revolução Constitucionalista
de 1932, os rebeldes paulistas reforçaram o controle da região, instalando um
posto de comando e, apoderando-se da citada fábrica de pólvora, vital para o
esforço de guerra. Mais uma vez, o antigo Registro cumpre uma função militar,
embora dessa vez em lado oposto, ou seja, de rebeldes contra o governo central.
Em 11 de setembro de 1932, as forças legalistas de Vargas assumem o controle
total da Mantiqueira, incluindo Piquete.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Contudo, atualmente Piquete ainda vive em função da indústria bélica,
mas busca no turismo, principalmente o ecológico, novas fontes de renda. O
antigo Registro de Itagyba, hoje é conhecido como cidade-paisagem, devido à sua
localização ao sopé da Serra da Mantiqueira. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">
<br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dicas para consulta.</span></b><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">DONATO, Hernani. <b>A Revolução de 32.</b> Círculo do Livro.
São Paulo, 1982.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">EVANGELISTA, José Geraldo. <b>Lorena no século XIX</b>. Coleção
Paulística. Volume VII. Imprensa Oficial. São Paulo, 1978.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">GABRIEL, Sônia. <b>Mistérios do Vale</b>. JAC Editora. São José dos
Campos, 2006.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">MÜLLER, Nice Lecocq. <b>O Fato Urbano na Bacia do Rio Paraíba</b>.
IBGE. Rio de Janeiro, 1969.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">REIS, Paulo Pereira dos. <b>Lorena nos Séculos XVII e XVIII.</b> Fundação
Nacional do Tropeirismo. Centro Educacional Objetivo. CERED. Caçapava,
1988.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. <b>Uma<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>Janela no Tempo: Os Godoy Fleming no Embaú</b>. Editora Penalux.
Guaratinguetá, 2015.<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-22440441952877056562023-07-09T17:33:00.014-07:002023-07-13T14:47:14.349-07:00Bracuhy.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipz8UG_CQFv3BOlVavuGGWnA2CPNe5RsJFwo1NWkLvTq61LPdmd5kTT55XW_FfL_ek80sDGMLDCQfkiNhVanWabzaM300rd79DWgN7zJJJwQAbhgoru72PKJlQAAA_SBdcJ0w-LtnVP2vdhLqH5H3feWie_nn4I_u8qDcw7r6nuBoaaMnUG-0_RPU69G3j/s3423/Navio_negreiro_-_Rugendas_1830.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2052" data-original-width="3423" height="384" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipz8UG_CQFv3BOlVavuGGWnA2CPNe5RsJFwo1NWkLvTq61LPdmd5kTT55XW_FfL_ek80sDGMLDCQfkiNhVanWabzaM300rd79DWgN7zJJJwQAbhgoru72PKJlQAAA_SBdcJ0w-LtnVP2vdhLqH5H3feWie_nn4I_u8qDcw7r6nuBoaaMnUG-0_RPU69G3j/w640-h384/Navio_negreiro_-_Rugendas_1830.jpg" width="640" /></a></div><br /> Navio Negreiro. Tela de Rugendas, de 1830. Fonte: www.aventurasnahistoria.com.br<p></p><p><br /></p><div style="line-height: 150%; margin-left: 25.5pt; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif""> A partir de 1530,
Portugal inicia a colonização do Brasil, explorando a região para garantir
lucros e riquezas para a Coroa e a nobreza lusitana. Durante quase 300 anos a
Metrópole iria expropriar as riquezas naturais da colônia e as produzidas pelos
habitantes. A exploração se daria de diversas formas desde a cobrança de
impostos exorbitantes como o monopólio de algumas fontes de lucros como a
mineração e o tráfico de escravos. Inicialmente tanto colonos como autoridades
viram no indígena a mão-de-obra necessária para o sucesso da monocultura
açucareira no Nordeste e para a agricultura de subsistência nas regiões que
compunham as capitanias de Santo Amaro e São Vicente. Como a escravização dos
índios era contra os princípios da Igreja que planejava catequizá-los e as
constantes mortes dos mesmos nas plantações paulistas, a Coroa decide
“protegê-los” proibindo o seu cativeiro. Na realidade, porém, Portugal defendia
o seu monopólio no fornecimento de mão-de-obra que tinha sua fonte no
território africano. Portanto, permitir que se escravizasse o índio, iria
prejudicar o comércio de escravos vindos da África que custavam mais. E é assim
que com a expansão da atividade da cana-de-açúcar que começa a vir para o
Brasil levas e levas de milhares de cativos para o árduo trabalho nos canaviais
do Nordeste, algodão, extração de ouro e diamantes <st1:personname productid="em Minas Gerais" w:st="on">em Minas Gerais</st1:personname> e os
cafezais do Vale do Paraíba fluminense e paulista, além das charqueadas
gaúchas. Estima-se que aproximadamente 3.600.000 negros tenham vindo como
escravos para o Brasil durante 300 anos e que nesse mesmo período tenham
morrido 900.000 durante a longa viagem pelo Atlântico. O tráfico negreiro era
um negócio altamente lucrativo para os traficantes, pois em uma única viagem,
após pagar os direitos da Coroa portuguesa relativo ao monopólio, taxas da
alfândega no Rio de Janeiro e Salvador e o dízimo da Igreja por cada “peça”, o
lucro variava de 1.000 até 4.000%. Mesmo com os riscos de tempestades em
alto-mar, ataque de piratas, etc, era uma atividade tentadora.<br /></span><span face=""Arial","sans-serif""> Todavia, com a Revolução
Industrial e o advento da economia de mercado, a Inglaterra, que muito se
beneficiara com a escravidão, decide extingui-la no dia 7 de julho de 1708.
Alegando razões humanitárias e morais, os ingleses com sua Marinha decidem
acabar com a escravidão em outras partes do mundo, o que na realidade era
defender a garantia de venda de seus produtos industrializados, incompatíveis
com o sistema escravista. Em 1808, após auxiliar Dom João VI a fugir de
Napoleão e vir para o Brasil, a Inglaterra o pressiona a assinar vários
tratados (nunca cumpridos) no sentido de reprimir o tráfico. Para o
reconhecimento da Independência, os ingleses cobraram de Dom Pedro I a mesma
atitude, que resultou no tratado de 1826 e mais tarde em 1830. É dessa época
que vem a expressão “lei para inglês ver”, pois se assinava um acordo que nunca
se cumpria. Também durante a Regência foram elaborados diversos tratados, até
que a “paciência” inglesa acabou. Em 1845, o Parlamento inglês aprovou o “Bill
Aberdeen”, um ato unilateral que autorizava a Marinha de guerra britânica a
aprisionar qualquer navio negreiro, chamados de tumbeiros, em qualquer parte,
inclusive em águas estrangeiras. A escravidão foi considerada pirataria e os
traficantes estariam sujeitos aos tribunais ingleses, onde a pena para tal
delito era a forca. Ainda assim, o Brasil ignorava as pressões e prosseguia com
o tráfico. Porém após a captura de alguns tumbeiros no porto do Rio de Janeiro
e a ameaça de guerra contra o Brasil, a Assembléia Geral do Império
(equivalente ao Congresso Nacional) aprovou a Lei Eusébio de Queirós, no dia 4
de setembro de 1850. Essa lei, aprovada sob a mira dos canhões ingleses, enfim
foi cumprida e o tráfico tornou-se ilegal, mas alguns ainda se arriscavam,
pondo em risco em risco até seu prestígio, devido a alta margem de lucro. É o
caso de alguns cafeicultores que se envolveram no episódio dos “africanos de
Bracuhy”. Até aqui nos prolongamos no conceito do escravismo e do tráfico para
que o leitor possa ter uma ampla noção do tema.<br /></span><span face=""Arial","sans-serif""> O nome
“Bracuhy” está relacionado a uma espécie de árvore nativa, muito comum na
época, em que a Mata Atlântica devia ser bem mais densa do que atualmente. Diz
respeito também a um porto do mesmo nome existente em Angra dos Reis. Com o fim
do tráfico, restava aos proprietários escravistas, adquirir “peças” em outras
regiões, onde a monocultura estava decaindo como o Nordeste, reproduzir o seu
plantel de escravos de forma natural ou arriscar-se ao contrabando, correndo o
risco de ser capturado pelas belonaves inglesas ou pela fiscalização das
autoridades brasileiras, complicando a sua reputação. No ano de 1853, um navio
negreiro conseguiu fugir das canhoneiras britânicas, atracando no já mencionado
porto do Bracuhy em Angra, descarregando a sua “carga”, eliminando assim a
prova do ato ilícito. Diante dos protestos ingleses, as autoridades imperiais
iniciam uma fiscalização nas imensas propriedades rurais ao longo do Vale do
Paraíba. Mesmo sendo coniventes com os cafeicultores, as autoridades não
queriam novo confronto com a Inglaterra e, encontram negros africanos recém-chegados
nos cafezais de Manoel de Aguiar Vallim, Luciano José de Almeida e Joaquim José
de Souza Breves, altos dignatários do Império, membros da Guarda Nacional e da
política do Segundo Reinado e ilustres cidadãos. Com o escândalo, o governo
imperial não tem outra alternativa,e abre um processo contra os três
mencionados, incluindo mais tarde Pedro Ramos Nogueira, genro de Luciano José
de Almeida. Os acusados diretamente como chefes do tráfico ilegal foram Vallim
e Breves e a acusação para Luciano e Pedro Ramos recaiu apenas por terem
comprado os africanos oriundos do contrabando. Levados a júri, foram, no
entanto absolvidos, como já era de se esperar.<br /></span><span face=""Arial","sans-serif""> Entretanto, se não foram condenados, o
pronunciamento por via judicial de titulares das maiores fortunas não só de
Bananal, mas de todo o Império, pode indicar uma tentativa do governo de
aplicar um castigo exemplar e moral, além de dar satisfações à Grã-Bretanha,
que não tolerava infrações quanto à sua política humanitária”. Dom Pedro II
queria pôr um freio forte que eliminasse de vez o contrabando, para não ter
“dores de cabeça” com os ingleses. Mas apesar de saírem ilesos, o episódio
abalou a imagem, sobretudo de Manoel de Aguiar Vallim. Joaquim José de Sousa
Breves, já possuía títulos de nobreza do Império, Luciano José de Almeida
ostentava o título de Comendador e faleceria em 1854 na Fazenda Boa Vista. O
proprietário da Fazenda Resgate, porém almejava ostentar algum título
nobiliárquico e apesar do caso em que se envolvera, não desistiu de seu
intento, mas a pressa o prejudicou. Em 1859, Manoel de Aguiar Vallim propôs um
donativo de 15:000$000 (quinze contos de réis) ao Hospício D. Pedro II, para
obter o título de Barão do Bananal. A proposta enviada ao Marquês de Abrantes
teve a seguinte resposta: “Não posso encarregar-me da pretensão da pessoa de que trata o memorial junto. À vista dos papéis
existentes na Secretaria, relativos à questão Negreira do Bracuhy, e examinados
por ocasião da pretensão idêntica d’ outra pessoa, foi-me insinuado que não
propusesse indivíduo algum que tinha sido pronunciado naquela questão, embora
despronunciado ou absolvido depois. Rio, 6 de março de 1859.”<br /></span><span face=""Arial","sans-serif""> A
citação acima, extraída de uma obra sobre a Fazenda Resgate, mostra bem a
posição do governo imperial sobre o caso e o Marquês de Abrantes é claro que
apesar de inocentado Vallim não era digno de merecer o título a que aspirava.
Ele, porém, se precipitou, pois em 1859, o escândalo do Bracuhy, ainda estava
“fresco” na opinião pública, poderia aguardar um pouco mais como fez Pedro
Ramos Nogueira. Em 1877, Pedro Ramos solicitou e obteve o título de Barão da
Joatinga, 24 anos após ter sido indiciado no caso do Bracuhy. Quanto a Manoel
de Aguiar Vallim, o Império iria lhe conferir o título de Comendador após sua
morte, ocorrida em 1878 na Fazenda Resgate. <br /></span><span face=""Arial","sans-serif""> <br /></span><span face=""Arial","sans-serif""> </span><span face="Arial, "sans-serif""> </span><span face="Arial, "sans-serif"">Eddy Carlos.</span><span face="Arial, "sans-serif""> <br /></span><b><span face=""Arial","sans-serif""> <br /></span></b><b><span face=""Arial","sans-serif""> <br /></span></b><b><span face=""Arial","sans-serif"">Dicas
para consulta.</span></b></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 25.5pt; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"">CASTRO E SCHNOOR, Hebe
Maria Mattos de e Eduardo. <b>Resgate. Uma Janela
para o Oitocentos.</b> Topbooks. Rio de
Janeiro, 1995.</span><span face="Arial, "sans-serif"" style="text-indent: -72pt;"> </span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 25.5pt; text-align: justify;"><span face="Arial, "sans-serif"" style="text-indent: -72pt;"><br /></span><span face=""Arial","sans-serif"">LANNA, Ana Lúcia Duarte. <b>Revoltos da Senzala</b>. Ática. São Paulo,
1997.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 25.5pt; text-align: justify;"><span face="Arial, "sans-serif""><br /></span><span face=""Arial","sans-serif"">NABUCO, Joaquim. <b>O Abolicionismo</b>. Publifolha. São Paulo,
1999.</span><span face="Arial, "sans-serif""> </span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 25.5pt; text-align: justify;"><span face="Arial, "sans-serif""><br /></span><span face=""Arial","sans-serif"">PEREGALLI, Enrique. <b>Escravidão no Brasil</b>. Global Editora.
São Paulo, 1988.</span></div><p>
</p><p><br /></p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-21543756283846710932023-02-22T14:09:00.049-08:002023-02-22T15:33:51.181-08:00Uma Janela no Tempo. Os Godoy Fleming no Embaú.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb8N7Izzf1udC3awYM0C37M6ZGpZQdXBox1ffU4Nq8ObAhfD7zcSIJJD8XYLcRkGilNfFP57iq2lmuKolVDpRfnRpB0VSXFVx7RyKtXM1AKln0Z34Ptl1ASN_puRWdwVy967qeVNPTECTTQ7B0z8K1mH-KzQdeTeA1bdUtP3yl2O5TMXxRQTP6wFykRw/s688/Fazenda%20Godoy%201915..jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="496" data-original-width="688" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb8N7Izzf1udC3awYM0C37M6ZGpZQdXBox1ffU4Nq8ObAhfD7zcSIJJD8XYLcRkGilNfFP57iq2lmuKolVDpRfnRpB0VSXFVx7RyKtXM1AKln0Z34Ptl1ASN_puRWdwVy967qeVNPTECTTQ7B0z8K1mH-KzQdeTeA1bdUtP3yl2O5TMXxRQTP6wFykRw/s16000/Fazenda%20Godoy%201915..jpg" /></a></div><br /> <b> O solar dos Godoy por volta de 1915. </b><p></p><p><b> Acervo histórico-documental do Recanto da Glória/Prof. Eddy Carlos.</b></p><p><b><br /></b></p><p><a href="https://drive.google.com/file/d/14Pdj1-QWbWEewBJgJt7hznL0aEFa3Noh/view?usp=share_link" rel="nofollow" target="_blank">https://drive.google.com/file/d/14Pdj1-QWbWEewBJgJt7hznL0aEFa3Noh/view?usp=share_link</a><br /></p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-372852347294156142022-09-18T17:37:00.005-07:002022-10-12T05:23:05.510-07:00Às Margens do Ipiranga; há 200 anos.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRBf2il16zwG7hsZMplzoDA7vtLJ9HDNkheVCod7qJJpKCnH8Zy5-WpVzACViiI8c9StccaXdZoIkLKPr8OGquYd9DNGj8hJINTYl2P16oHwLEERx5RPW6Y-FQhfUVl2lMS3gRw3cWIHLWtpXaavVqzKO3pIMzMIIT3KiDFwq-HD2BrCGrlj2JpvYV8w/s800/Pedro%20Am%C3%A9rico..jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="800" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRBf2il16zwG7hsZMplzoDA7vtLJ9HDNkheVCod7qJJpKCnH8Zy5-WpVzACViiI8c9StccaXdZoIkLKPr8OGquYd9DNGj8hJINTYl2P16oHwLEERx5RPW6Y-FQhfUVl2lMS3gRw3cWIHLWtpXaavVqzKO3pIMzMIIT3KiDFwq-HD2BrCGrlj2JpvYV8w/w640-h360/Pedro%20Am%C3%A9rico..jpg" width="640" /></a></div><br /> <b>Independência ou Morte, de Pedro Américo, 1888. Fonte: www.aventurasnahistoria.com</b><p></p><p><br /></p><h3 style="text-align: left;"><span face=""Arial","sans-serif""> <span style="font-weight: normal;">Aprendemos
nos bancos escolares que o Brasil se tornou independente no dia 07 de setembro
de 1822, quando Dom Pedro I decide romper com Portugal. Chegava ao fim três
séculos de dominação colonial praticada por um país europeu. Mas em que
circunstâncias isso ocorreu? Quais as razões que levaram o príncipe a libertar
o Brasil do jugo colonial, embora isso representasse uma afronta ao próprio
pai, o Rei Dom João VI? Retrocedemos no tempo.<br /></span></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> No contexto das guerras
napoleônicas, o imperador dos franceses praticamente “varreu” a Europa,
invadindo reinos e impérios rivais, destronando reis e colocando no lugar
destes, membros de sua família. Como não conseguiu dominar a Inglaterra,
Napoleão decreta em 1806 o Bloqueio Continental, o qual proibia qualquer país
de comercializar com os ingleses, sob ameaça de invasão, em caso de
desobediência. O objetivo era enfraquecer a economia britânica. E justamente
quem dependia diretamente da Inglaterra era o Reino de Portugal, “amarrado”
desde 1703 pelo Tratado de Methuen. Governava o reino lusitano desde 1799, o
Príncipe Regente Dom João, no lugar de sua mãe, a Rainha Dona Maria I,
conhecida como “a Louca”.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Quando o Bloqueio Continental é
decretado, Portugal se vê “entre a cruz e a espada”. Dom João sabia que se
recusasse a acatar a ordem de Napoleão, o reino seria invadido pelas tropas
francesas. E se obedecesse já tinha sido avisado de que a invasão seria pela
Inglaterra. A solução “brilhante” foi a fuga da Família Real para o Brasil,
então uma mera colônia portuguesa que começa a ser preparada. O monarca ainda tentou
“ganhar tempo”, mas Napoleão percebendo certa manobra ordena que o General
Andoche Junot, já estacionado em território espanhol, iniciasse a invasão de
Portugal no início de novembro de 1807. Abandonando seu próprio povo, Dom João
e toda a Corte embarcam no dia 27 de novembro de 1807, mas só podem zarpar no
dia 29, devido ao mau tempo. Partem escoltados pela Armada Real Britânica,
enquanto que no mesmo instante, as forças de Junot ocupavam Lisboa e a Torre de
Belém. No dia 22 de janeiro de 1808, a comitiva lusitana chega a Salvador,
permanecendo alguns dias; depois o destino seria o Rio de Janeiro, onde
desembarca no dia 08 de março. Logo em seguida assina decretos que iriam
beneficiar a Inglaterra, como a Abertura dos Portos às Nações Amigas (1808) e o
Tratado de Comércio e Navegação (1810).<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Com a derrota de Bonaparte em
1815 na Europa, acontece o Congresso de Viena na Europa, que buscava
restabelecer o Antigo Regime, preconizando que os reis depostos na era
napoleônica voltassem a seus respectivos tronos, em seus respectivos reinos.
Laurentino Gomes afirma que Dom João não pretendia voltar à Europa e no mesmo
ano eleva o Brasil à condição de reino, criando o Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves. Assim, a capital passa a ser o Rio de Janeiro e não mais
Lisboa. No ano seguinte, com a morte da Rainha Dona Maria I, sua mãe, ele é
coroado rei do referido Reino Unido.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Entretanto, depois de
permanecer por 13 anos no Brasil, Dom João se vê obrigado a retornar ao Velho
Mundo. Em 1820 ocorre a Revolução do Porto, de caráter liberal, na qual se
instala um governo controlado pelas chamadas Cortes de Lisboa. Tal governo
exige a volta do monarca, que teria que jurar uma Constituição, e a recondução
do Brasil à mera condição de colônia. Embora relutasse, o rei decide partir, o
que acontece no dia 25 de abril de 1821, deixando no Rio de Janeiro o filho
Pedro como Príncipe Regente. Na ocasião teria dito a Pedro que se “o Brasil se
separar, antes que seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum
desses aventureiros”. O rei parecia estar prevendo o que viria em breve. Desde
sua chegada aos trópicos em 1808, além do fim do Pacto Colonial, o Brasil
passou por transformações, sendo que as elites aqui constituídas se
beneficiaram, e muito, com a presença da Família Real na antiga colônia. A
partida do monarca para Portugal, como as Cortes exigiram, significava que o retrocesso
seria inevitável. Porém, com a permanência do jovem príncipe, havia a
possibilidade de as elites, agrárias e escravocratas, manterem seus
privilégios; mesmo que fosse preciso uma ruptura com a antiga Metrópole. Vale
lembrar que, nesse meio tempo o Brasil já não era mais colônia. Para alguns pesquisadores
o ano de 1815 seria de fato a independência, enquanto que o “grito“ do Ipiranga
apenas oficializou uma ruptura com Portugal.
<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Pois bem, uma vez de volta a Lisboa, o rei
não consegue evitar as medidas das Cortes. Conforme registra Eduardo Bueno,
pelas “novas regras do jogo, o Brasil (...) perdia seus privilégios e teria que
voltar a se submeter inteiramente ao governo da metrópole”, o que ia contra os
interesses das elites dos trópicos. Por sua vez, o Príncipe Regente é
pressionado a também voltar para Portugal, ao mesmo tempo em que é instado
pelas elites locais a permanecer no Brasil. Em 09 de janeiro de 1822, ele
resolve ficar, atendendo aos “apelos” do povo, no que ficou conhecido como o Dia
do Fico. Com isso, a independência de fato era uma questão de tempo, pois as
Cortes decidem “apertar” o laço. Em seguida, Dom Pedro organiza um ministério,
que é liderado por José Bonifácio de Andrada e Silva, que ficou conhecido como
o Patriarca da Independência. No dia 01 de agosto de 1822, o príncipe declara
que soldados enviados por Portugal sem o seu consentimento, seriam tratados
como inimigos no Brasil, em uma clara demonstração de força e autoridade.<br /></span><span face="Arial, sans-serif"><span style="font-weight: normal;"> Todavia, nem todas as regiões do
Brasil concordavam com o príncipe. Uma delas era a Província de São Paulo, onde
as autoridades locais, </span><span style="font-weight: 400;">inicialmente</span><span style="font-weight: normal;"> leais a Dom Pedro, aos poucos decidem se
sujeitar às Cortes de Lisboa. Governava a Província o General João Carlos Augusto
de Oyenhausen, que começa a contestar a influência de José Bonifácio junto a
Dom Pedro. O irmão de Bonifácio, Martim Francisco de Andrada ocupava o cargo de
Secretário do Interior e da Fazenda desde 21 de junho de 1821 e tanto
Oyenhausen como o Coronel Francisco Ignácio de Souza Queiroz e o Ouvidor José
da Costa Carvalho, tramavam sua deposição. Este recorre ao irmão e José
Bonifácio envia um ofício para Oyenhausen, no dia 21 de maio de 1822, ordenando
que entregasse o cargo para Martim e seguisse imediatamente para o Rio de Janeiro.
Dois dias depois, desobedecendo ao ofício o General Oyenhausen se posiciona
contra Dom Pedro, depondo do cargo Martim Francisco e convocando a tropa, em
uma clara demonstração de rebeldia e insubordinação. </span></span><br /><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Entrementes, para contornar a
crise, Dom Pedro decide viajar até a Vila de São Paulo, partindo do Rio de
Janeiro no dia 14 de agosto de 1822, nomeando sua esposa, a Princesa Leopoldina
de Habsburgo, como regente em seu lugar. O saudoso historiador José Luiz Pasin
define a viagem como a Jornada da Independência, a qual é feita pela Estrada
Geral (atual Estrada Velha Rio-São Paulo), ao longo do Vale do Paraíba. Nas
vilas por onde passa alguns apoiadores (membros das elites) o acompanham até
São Paulo e iria mais tarde constituir a sua Guarda de Honra. Ao partir da
Corte o príncipe está acompanhado de Eleutério Velho Bezerra e Antônio Luiz da
Cunha. Na Vila de São João Marcos a comitiva é incorporada por Cassiano Gomes
Nogueira, Floriano de Sá Rios e Joaquim José de Souza Breves. Em Resende entram
no grupo Antônio Pereira leite, o Sargento-Mor Antônio Ramos Cordeiro, José da
Rocha Corrêa e David Gomes Jardim. Adentrando o vale paulista, a comitiva real
recebe a inclusão do Sargento-Mor João Ferreira de Souza, na Vila de Areias. Na
Vila de Guaratinguetá decide acompanhá-lo João Monteiro dos Santos e Custódio
Lemes Barbosa. A Vila de Pindamonhangaba “forneceu” o maior número de
acompanhantes de Dom Pedro. Foram integrados o Capitão-Mor Manoel Marcondes de
Oliveira Mello, o Sargento-Mor Domingos Marcondes de Andrade, o Tenente
Francisco Bueno Garcia Leme, Miguel de Godoy Moreira e Costa, Manoel de Godoy
Moreira, Manoel Ribeiro do Amaral, Antônio Marcondes Homem de Mello e Benedito
Corrêa Salgado. Na Vila de Taubaté foi a vez de se juntar ao grupo Francisco
Xavier de Almeida, Vicente da Costa Braga, Fernando Gomes Nogueira, João José
Lopes, Rodrigo Gomes Vieira e Bento Vieira de Moura. Apesar de não ter passado
pela Vila de Paraibuna, um morador do referido município se junta à comitiva,
Flávio Antônio de Mello, que provavelmente estava no itinerário do príncipe. E
em Mogi das Cruzes se junta ao grupo Salvador Leite Ferraz. <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> No dia 25 de agosto Dom Pedro chega
a São Paulo, sendo recebido com júbilo. Restabelecendo sua autoridade os implicados
na sedição são presos e remetidos para o Rio de Janeiro, além de reorganizar o
governo e a administração na sede da província. E é em São Paulo que o príncipe
conhece Domitila de Castro Canto Melo (futura Marquesa de Santos) e logo a seguir
ambos iniciam o famoso caso extraconjugal. Paralelamente, no Rio de Janeiro, a
Princesa Leopoldina recebe, no dia 02 de setembro, correspondências oficiais de
Lisboa; em uma delas constava a ordem de prisão de Dom Pedro e seu retorno
coercitivo a Portugal. Ao lê-las ela decide reunir o Conselho de Estado (o
ministério) e enviar mensageiros no encalço de Pedro. Entre 05 e 06 de
setembro, o príncipe estava na cidade Santos tratando de outros assuntos e
retorna a São Paulo, chegando no dia 07, encontrando os emissários de
Leopoldina próximos ao Riacho do Ipiranga. Além da mensagem da esposa, chega
também uma carta de José Bonifácio, alertando-o de que nada mais de positivo
poderia esperar de Portugal. O episódio a seguir já é conhecido. Ao tomar
conhecimento das ordens das Cortes, saca da espada e dá o famoso grito,
declarando a independência; momento eternizado por Pedro Américo no famoso
quadro “Independência ou Morte”, de 1888. A obra, que ilustra inúmeros livros
didáticos, é uma criação do artista, mas que foi incorporada pela
historiografia oficial. A historiografia crítica descreve o cenário bem
diferente do que foi retratado pelo pintor. Por exemplo, a Guarda de Honra com
seus uniformes exuberantes, só seria criada oficialmente em outubro de 1822.
Outro detalhe, o príncipe não montava um cavalo branco e sim uma mula baia. Em
outro aspecto, conforme a narrativa de Eduardo Bueno, após consumir algo que
não lhe caiu bem, em Santos, o Príncipe Regente estava “à beira do córrego, ‘quebrando
o corpo’ ---agachado para ‘responder a mais um chamado da natureza’”. Ou seja,
Dom Pedro estava com uma diarreia daquelas, o que talvez contribuísse para o
péssimo humor e a ira ao ler as cartas recebidas. Obviamente nenhum livro
didático de História menciona tal cenário, que não “combina” com a imagem de
Sua Alteza Real. Retornando à Corte a missão é se preparar para organizar o
país, agora livre, para enfrentar a reação de Portugal. Mas, já no início as
contradições afloram; a principal delas talvez seja a manutenção da escravidão
como sistema econômico, que só se encerraria em 1888, cujos efeitos vivenciamos
até os dias atuais.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Contudo, apesar de
independente, o novo Estado continuava a ser governado por um Bragança, sendo
que Dom Pedro continuava como herdeiro do trono português. Mais tarde, esse
fato iria lhe causar problemas por aqui, principalmente após a morte de Dom
João VI em 1826. No dia 01 de dezembro de 1822, o libertador da pátria é
coroado como Imperador do Brasil, com o nome de Dom Pedro I; cena que foi
reproduzida por Jean-Baptiste Debret. Mas, o que a historiografia oficial omite
é que a decisão pela independência do Brasil, há 200 anos, partiu de uma
mulher, a Princesa Leopoldina. Após a coroação o próximo passo era elaborar uma
Constituição para a jovem nação; mas isso é outra história.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">
Prof. Eddy
Carlos.</span></h3><h3 style="text-align: left;"><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"><br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"">Referências.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">BUENO,
Eduardo (Org.). </span><span face="Arial, "sans-serif"">História do Brasil. Os 500 anos do país em uma obra completa,
ilustrada e atualizada. </span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">PubliFolha. São Paulo, 1997.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">GOMES,
Laurentino. </span><span face="Arial, "sans-serif"">1808. Como uma rainha louca,
um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a
História de Portugal e do Brasil.</span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Editora Planeta. São Paulo, 2007.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">_________________. </span><span face="Arial, "sans-serif"">1822. Como um homem sábio, uma princesa
triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país
que tinha tudo para dar errado. </span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro,
2014.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">MACAULAY,
Neill. </span><span face="Arial, "sans-serif"">Dom Pedro I. A Luta pela Liberdade no Brasil e em Portugal;
1798-1834.</span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> Editora Record. Rio de Janeiro, 1986.<br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;"> <br /></span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">PASIN, José
Luiz. </span><span face="Arial, "sans-serif"">A Jornada da Independência. </span><span face="Arial, "sans-serif"" style="font-weight: normal;">Editora
Vale Livros. Aparecida, 2004.</span></h3><p style="text-align: left;">
</p><p style="text-align: left;"><br /></p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-31143924189196544082021-12-12T08:52:00.175-08:002021-12-12T09:58:17.507-08:00Onde o Saber está em Profusão; há 50 anos.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgKcd0IMQ_8zLyKuYf4FdvEQuV5ev1xO6OjUukVgICSFTOzlJ9xALGkYgjb3aKYqt0BUWSFbj7VFe1_TAj2ch_Iky-6rgoCuuPTtMv8PjegZtqysgSe5IG8pXVqGAwTSG6Q3gx9vy5uAPwpMzfmRCaI2L5UfnsgGScEviOu_raHFXbDJPx-0huj8LB9fg=s511" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="288" data-original-width="511" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgKcd0IMQ_8zLyKuYf4FdvEQuV5ev1xO6OjUukVgICSFTOzlJ9xALGkYgjb3aKYqt0BUWSFbj7VFe1_TAj2ch_Iky-6rgoCuuPTtMv8PjegZtqysgSe5IG8pXVqGAwTSG6Q3gx9vy5uAPwpMzfmRCaI2L5UfnsgGScEviOu_raHFXbDJPx-0huj8LB9fg=w640-h360" width="640" /></a></div><br /> <span face="Arial, "sans-serif""> <span style="font-family: arial;"> </span></span><b><span style="font-family: arial;">Fachada
da E.M.E.F. Profa. Ana Berling Macedo, por volta de 2015.</span></b><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""><span style="font-family: arial;"> FONTE: Facebook/Escola Ana
Berling Macedo.</span><o:p></o:p></span></b></p><div><p class="MsoNormal"><span face="Arial, sans-serif"> </span><span style="font-family: arial;">De todos os
seres viventes na Terra, o homem é, conforme inúmeros cientistas, como Charles Darwin
em particular, a única espécie que possui o dom da razão, tendo plena
consciência de sua existência. Ao longo de milhares de anos, a humanidade
passou por várias etapas do processo de evolução até chegar ao Homo sapiens
sapiens. Mas é, somente com o surgimento das primeiras aldeias e cidades, já
com um mínimo de organização político-administrativa, que aparecem os primeiros
estabelecimentos de aprendizagem, os quais denominamos de escolas. O exemplo
mais clássico é, sem dúvida, o da Grécia Antiga, que passando por várias
adaptações, ou transformações, ao longo dos séculos, chegou até nós. Já
predominante entre as elites, o modelo de escola veio para o Brasil trazido
pelos conquistadores lusitanos. Mas, estando sob a responsabilidade dos padres
da Companhia de Jesus, foi ministrado às crianças indígenas, compulsoriamente,
nas missões coloniais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> Porém, com a expulsão dos
inacianos em 1759, pelo Marquês de Pombal, o estado português assume a
responsabilidade do ensino no Reino e nas colônias do Ultramar, incluindo o
Brasil. Com a criação das Escolas Régias, o ensino passa a ser aplicado quase
que exclusivamente aos filhos das elites. A situação não se altera com a
independência, permanecendo assim ao longo do período imperial. Com o advento
da República, houve expectativa de mudanças, o que ocorreu somente com a
supressão do ensino religioso, após a separação entre Igreja e Estado,
sacramentada com a Constituição de 1891. No entanto, após a chegada de Getúlio
Vargas ao poder, pelas armas tenentistas da Revolução de 1930, algumas
transformações ocorrem, ainda que tímidas inicialmente. Com o Estado Novo, a
partir de 1937, há uma abertura mais ampla, onde preconizava-se o valor da
Educação para a “grandeza” da Pátria. Não é para todos obviamente, mas um leque
de oportunidades se abre, priorizando o ensino profissionalizante, refletido na
criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1942. A
intenção era capacitar profissionalmente operários para as indústrias no
Brasil, então necessitadas de profissionais qualificados. No Estado de São
Paulo, o mais industrializado e desenvolvido economicamente, a implantação do
SENAI atendeu aos objetivos almejados. Paralelamente, o sistema educacional
público passou por várias reformas, através de Leis de Diretrizes e Bases
(LDBs), que conseguiram avançar de forma significativa, a qualidade da
Educação, entre 1960 e 1964, quando o Presidente João Goulart é deposto,
através de um golpe cívico-militar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> Com os militares no poder
ocorrem retrocessos na Educação, apesar da criação da LDB de 1971, que delegou
aos municípios, que dispusessem de recursos próprios, a prerrogativa de assumirem
parte da Educação básica. A mencionada LDB reestruturou a Educação no Brasil,
dividindo-a em graus. O Primeiro Grau ficou composto de oito séries (1ª a 8ª);
o Segundo Grau de três (1ª a 3ª); e o Terceiro Grau contemplava as faculdades e
universidades. Nos casos das cidades sem condições fiscais necessárias, o
ensino continuava a ser responsabilidade dos governos estaduais. Em São José
dos Campos, o então Prefeito Sérgio Sobral de Oliveira, determinou a criação de
escolas municipais, no início da década de 1970. Uma delas foi a Escola
Municipal do Alto da Ponte, bairro da zona Norte que já contava com uma escola
estadual (atual E. E. Francisco João Leme). Uma área, próxima à confluência dos
rios Buquira e Paraíba, onde havia sido desativado um matadouro, foi a escolhida
pela prefeitura para a construção da nova unidade escolar no bairro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> Até meados da década de 1980, o
Alto da Ponte, junto com Santana e outros bairros, eram considerados como uma
“extensão” do território mineiro, devido á forte influência de pessoas oriundas
do Estado vizinho. A existência de duas escolas no local não alteraria muito as
características bucólicas, mas significava uma oportunidade de estudos para as
crianças, inclusive da zona rural. Antes, contando somente com a escola
estadual, que não comportava um determinado número de alunos, a opção eram as
escolas de Santana ou da região central, o que não era garantia de vagas. Havia
ainda a precariedade do transporte público, que nem sempre atendia a área
rural. Assim, através do Decreto nº 1.368/71, de 07 de janeiro de 1971,
assinado pelo Prefeito Sobral, é criada a Escola Municipal do Alto da Ponte. No
mesmo decreto consta a criação de outras escolas municipais da zona Norte; nos
bairros do Buquirinha e do Jaguary. Devemos, contudo, frisar que na época,
apesar do “direito á Educação”, esta era relativa, pois não era para todos,
pois era necessária a comprovação de “extrema” necessidade para conseguir uma
matrícula, o que fazia com que muitos não usufruíam de algo que sempre deveria
ser um Direito. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> Quatro anos mais tarde, o
Executivo municipal emite outro decreto, alterando o nome da escola. Com tal
decreto, de número 1.890/75, assinado pelo Prefeito Ednardo José de Paula
Santos, em 21 de outubro de 1975, a Escola Municipal do Alto da Ponte passa a
ser denominada de “Escola Municipal de 1º grau do Alto da Ponte”. A alteração
foi publicada no Boletim do Município, nº 160, do dia 30 de outubro de 1975. Na
íntegra deste segundo decreto não consta os nomes das escolas do Jaguary e do
Buquirinha, o que nos leva a supor que ambas tenham sido desativadas.
Concomitantemente, podemos observar que o município, agora em plena fase de
expansão industrial, começa a ampliar sua atuação na Educação, a despeito das
duas escolas mencionadas. Enquanto que outras cidades valeparaibanas ainda
dependiam do Governo do Estado, São José dos Campos já representava um
diferencial, ficando atrás somente de Taubaté, então a Capital do Vale. </span><span style="font-family: arial;">Na
administração seguinte, de Joaquim Bevilacqua, a escola é “rebatizada”
novamente, agora homenageando uma ilustre professora. Com o Decreto nº
2.840/79, de 21 de fevereiro de 1979, a E.M.P.G. do Alto da Ponte passa a ser
denominada de “Escola Municipal de 1º grau Profª Ana Berling Macedo”. O decreto
em questão foi publicado na edição de nº 217, do Boletim do Município, do dia
27 de março de 1979. Na íntegra do documento oficial, o chefe do Executivo </span><span style="font-family: arial;">destaca que a alteração tinha como objetivo</span></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjwtIKeKCj_neoyVJ7hHZei8vo0waX8C5oVy1qukx9zdYgXtTvnUz-A8SfKg4myQUWX5uuL60aBr9gocJQh6yALVG9y6OLKXaPsVKrJwVxnyhVQj9wu9pgyMWHJFxSY5x9VefM_tE56EfifoYwdkDE940twBFNPjfzQN5T-X0uArz-YYrLsbj9kHhFiZg=s985" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="985" data-original-width="662" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjwtIKeKCj_neoyVJ7hHZei8vo0waX8C5oVy1qukx9zdYgXtTvnUz-A8SfKg4myQUWX5uuL60aBr9gocJQh6yALVG9y6OLKXaPsVKrJwVxnyhVQj9wu9pgyMWHJFxSY5x9VefM_tE56EfifoYwdkDE940twBFNPjfzQN5T-X0uArz-YYrLsbj9kHhFiZg=w430-h640" width="430" /></a></div><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <span style="font-family: arial;"> Decreto nº 1.368/71. FONTE: Acervo Central.
SEC/PMSJC. </span></span></b></p><p class="MsoNormal"><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh2U3_ftZjXQ_vxiSi8TleIKa7637X-dVnUPQx2mjESB9uoyhISKnt_3CNxKZ1UEvD-c7B7HzczLbf-XYTP8Lkl7NtNj-VZPI_ePeX2O07rk1gB4MXSCdgCvUJUCs_0BZh4-t9JKk7SO6ZjEYEfg2PEzwomgeITVb9sz9J8NyYH_mez9B7aufmFFQ7yTQ=s986" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="986" data-original-width="631" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh2U3_ftZjXQ_vxiSi8TleIKa7637X-dVnUPQx2mjESB9uoyhISKnt_3CNxKZ1UEvD-c7B7HzczLbf-XYTP8Lkl7NtNj-VZPI_ePeX2O07rk1gB4MXSCdgCvUJUCs_0BZh4-t9JKk7SO6ZjEYEfg2PEzwomgeITVb9sz9J8NyYH_mez9B7aufmFFQ7yTQ=w410-h640" width="410" /></a></b></div><span style="font-family: arial;"><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""> Decreto nº 1.890/75. FONTE: Arquivo
Central. SEC/PMSJC.<o:p></o:p></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; font-weight: bold; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj15ShC8mkfX48SF1S_W8Eu45qT6qiJ-D6Kb5Ib-M0VsulodOtItpoj9NagEi-6RPc5ajnvia7ZCmG3MNW5LTWNZ9wuTWMyUh58DN5DYQ0-kuwEA5w0ZIWf4GgicnXJn_0GRoG2EA2Rv2PHtwFRTcOU1f6ILhqPXHzT1f7S_KCFk6nhExlaihq-vgEqdw=s1049" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1049" data-original-width="647" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj15ShC8mkfX48SF1S_W8Eu45qT6qiJ-D6Kb5Ib-M0VsulodOtItpoj9NagEi-6RPc5ajnvia7ZCmG3MNW5LTWNZ9wuTWMyUh58DN5DYQ0-kuwEA5w0ZIWf4GgicnXJn_0GRoG2EA2Rv2PHtwFRTcOU1f6ILhqPXHzT1f7S_KCFk6nhExlaihq-vgEqdw=w395-h640" width="395" /></a></div><p class="MsoNormal" style="font-weight: bold;"><b><span face=""Arial","sans-serif""> Decreto nº 2.840/79. FONTE: Arquivo
Central. SEC/PMSJC.</span></b></p><p class="MsoNormal">“perpetuar, de maneira indelével, o
nome de ilustres mestres, reconhecendo-se desta forma o amor e dedicação com
que se empenharam em tal mister”. (Decreto nº 2.810/79). A professora Ana
Berling Macedo nasceu em São José dos Campos no dia 01 de junho de 1886; filha
de Bárbara Berling e Francisco Berling. Completou sua formação e especialização
no Curso Normal da Escola Caetano de Campos, em São Paulo, no dia 28 de
novembro de 1904. Entre os anos de 1905 e 1910, lecionou no então Grupo Escolar
Olímpio Catão. Faleceu em São José dos Campos, no dia 28 de novembro de 1964.</p><p></p></span><p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> Entrementes, nas décadas de 1970 e 1980,
uma prática comum que havia nas escolas, incluindo na “Ana Berling”, era o
incentivo aos alunos, dos cuidados com a horta, que integrava parte da merenda
escolar; algo que não se observa mais. Ainda durante a gestão Bevilacqua,
atendendo a uma determinação do Conselho Estadual de Educação, a Prefeitura
Municipal cria (ou recria) as Escolas Municipais, para que as mesmas fossem “reconhecidas”
pelo Governo do Estado de São Paulo. Com isso, através do Decreto nº 3.344/80,
de 18 de junho de 1980, as dez escolas existentes na época são “oficializadas”,
ou regularizadas; entre elas a Escola Municipal de Primeiro Grau “Profª Ana
Berling Macedo”. Pouco mais de um mês, no dia 27 de julho de 1980 (aniversário
da cidade), em solenidade oficial na escola, o Prefeito Bevilacqua
inaugura a “Oficina de Artes Industriais
da E.M.P.G. Profª Ana Berling Macedo”. O empreendimento representava um
alinhamento entre o ensino público e o profissionalizante. Na placa fixada no
prédio da referida oficina, atualmente desativada, consta o nome do Prof. Nereu
da Silva Rocha, como padrinho da obra; era também o Diretor da escola Senai
Santos Dumont, de Santana naquela época.
Outro nome de destaque é o de Gargione Baptista Filho, então Diretor do
Departamento de Educação do município, que mais tarde seria o reitor da
FVE/UNIVAP. Outrossim, também na década de 1980, foi implantado na escola Ana
Berling, o Ensino Supletivo Noturno, configurando como uma oportunidade para as
pessoas adultas que, por um motivo ou outro, não puderam concluir os estudos
durante a fase regular. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> No âmbito nacional, a década de
1980 no Brasil representou um período conturbado, representado principalmente
pela campanha das “Diretas Já” e a
derrocada do Governo Militar </span></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg7cRoNsQiFCUVOvkJNQc081C6S1mDgkA31Z68vrviISZezre9kujsoCYT0lyQ6esaGA_7NdnNCKMxeF9ao0g8WeztYzxP7pD08_Q3CQmmBniB-FkV-79qPIOuE2MFvQkNKpbB8mx5RIjQ9OdKNf6LIIvmNcDmPEuqFTDUiGarEujBtCg6rLZ27K9UciQ=s652" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="505" data-original-width="652" height="310" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg7cRoNsQiFCUVOvkJNQc081C6S1mDgkA31Z68vrviISZezre9kujsoCYT0lyQ6esaGA_7NdnNCKMxeF9ao0g8WeztYzxP7pD08_Q3CQmmBniB-FkV-79qPIOuE2MFvQkNKpbB8mx5RIjQ9OdKNf6LIIvmNcDmPEuqFTDUiGarEujBtCg6rLZ27K9UciQ=w400-h310" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg2KobMNXqWX-DlIePJ5b7zEx_dVL5zZxxxvhA4Hzi93JlV9cH-yI66A1ytYfnLWAWyKYxH_b2jnE5cG3AO4gkCZ3esa7CGkhOFbrOB81lKSGyBHoTDmaIRnsetZyR_6RrluwcBeLKwtovbDn3NCxYNQERWbM-OdvFafO5sKtetPgGC_x1EcZVUdF4sIw=s659" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="635" data-original-width="659" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg2KobMNXqWX-DlIePJ5b7zEx_dVL5zZxxxvhA4Hzi93JlV9cH-yI66A1ytYfnLWAWyKYxH_b2jnE5cG3AO4gkCZ3esa7CGkhOFbrOB81lKSGyBHoTDmaIRnsetZyR_6RrluwcBeLKwtovbDn3NCxYNQERWbM-OdvFafO5sKtetPgGC_x1EcZVUdF4sIw=w400-h386" width="400" /></a></div><br /><span style="font-family: arial;"></span><p></p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""> <span style="font-family: arial;"> <o:p></o:p></span></span></b><b><span style="font-family: arial;">Decreto nº 3.344/80. FONTE: Arquivo
Central. SEC/PMSJC.</span></b></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: arial;"><br /></span></b></p><p class="MsoNormal"><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhKTUreAcyAle7HzMAUGF6xQeCt67vuPUI1_CIWg1tiu3ZedFsdjp7Pm_E_P8yRSVwFnPQXu4cRf4P-ScCL5xCIvf-fIpwwEXGrI8b6hdA7_Rae104_JsAA3pV5uXKty5s1ueaB_p_vO03RzVAsQ_l--3lcEpMLlPOLM5BN74d7drm8XNfDqKKs9d0CeQ=s1716" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1716" data-original-width="1299" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhKTUreAcyAle7HzMAUGF6xQeCt67vuPUI1_CIWg1tiu3ZedFsdjp7Pm_E_P8yRSVwFnPQXu4cRf4P-ScCL5xCIvf-fIpwwEXGrI8b6hdA7_Rae104_JsAA3pV5uXKty5s1ueaB_p_vO03RzVAsQ_l--3lcEpMLlPOLM5BN74d7drm8XNfDqKKs9d0CeQ=w485-h640" width="485" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""> <span style="font-family: arial;">A professora Ana Berling Macedo,
patronese da escola que leva seu nome. </span></span></b></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: arial;"> FONTE: Acervo Patrimonial da EMEF Profa.
Ana Berling Macedo. <o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""><br /></span></b></p><p class="MsoNormal"><b></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiOi1Aw8NbgZGoZNLLXe3aOrTKvtk4wEY4flBT4UD_ptttH9t5m-8SCwJFMC52P0UaDh2IoGLRMveJe-9A7I4aRExKof_LYRWLcEuf7exU6MMiXnuT5er-lHWLYM8Ngra7jDLCHArvxu4NYTIsmhkRTGHrbkXS6EftNlroO8AHA3dWbzhqBO91fSUU7eQ=s1732" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1732" data-original-width="1299" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiOi1Aw8NbgZGoZNLLXe3aOrTKvtk4wEY4flBT4UD_ptttH9t5m-8SCwJFMC52P0UaDh2IoGLRMveJe-9A7I4aRExKof_LYRWLcEuf7exU6MMiXnuT5er-lHWLYM8Ngra7jDLCHArvxu4NYTIsmhkRTGHrbkXS6EftNlroO8AHA3dWbzhqBO91fSUU7eQ=w480-h640" width="480" /></a></b></div><p></p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""> <span style="font-family: arial;">Placa de inauguração da oficina de
Artes Industriais.<o:p></o:p></span></span></b></p><p class="MsoNormal">
</p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""><span style="font-family: arial;"> Fotografia de Eddy
Carlos Souza Vicente (2021).</span><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial","sans-serif""><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">que chega ao fim em 1985, com a posse de José
Sarney como presidente da República, no lugar de Tancredo Neves, que apesar de
eleito, adoeceu, falecendo em abril do mesmo ano. Um dos maiores compromissos
da classe política foi o de redigir uma nova Constituição para o Brasil. Em
1988, o Congresso Nacional promulga a “Constitução Cidadã”, que entre vários
atributos, dá à Educação um destaque nunca antes ocorrido. Segundo o Prof. Luiz
Araújo, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (Unb), na Carta
Magna, o capítulo “da Educação tem como principal conceito o de que era dever
do Estado oferecer o direito à Educação.
A lógica da Constituinte era a seguinte: mesmo que seja permitido que se
tenha uma escola privada, todos têm direito a uma escola pública. A
Constituição também modificou e reestruturou as três etapas do Ensino,
incluindo o Infantil e o Médio.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> Contudo, foi somente com a Lei de
Diretrizes e Bases de 1996, é que as três passaram a compor o que conhecemos
como Educação Básica, que incluiu um ano a mais no Ensino Fundamental, este
composto por dois ciclos. A LDB de 1996 delegou em definitivo a
responsabilidade da aplicação do Ensino Infantil e do Ensino Fundamental
(Ciclos I e II), aos municípios; e do Ensino Médio aos governos estaduais. Mas,
da mesma forma que a LDB de 1971 deixou a possibilidade de estes mesmos
governos assumirem as duas fases iniciais da Educação, dependendo da situação
orçamentária de determinados municípios,
o que não era o caso de São José dos Campos. Dessa forma, no ano de 1998, já
contando com 24 escolas sob sua responsabilidade, a prefeitura altera a
denominação das mesmas mais uma vez. Através do Decreto nº 9.401/98, de 16 de
janeiro de 1998, assinado pelo Prefeito Emanuel Fernandes, a E.M.P.G. Profª Ana
Berling Macedo passa a se chamar oficialmente Escola Municipal de Ensino
Fundamental “Profª Ana Berling Macedo. Seguindo as orientações contidas na
LDB/96, ainda que não sejam em todas as unidades escolares, a E.M.E.F. Ana
Berling prosseguiu ( e continua) com as alulas noturnas, agora denominadas de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), garantindo a oportunidade a muitos que
almejam a construção do Conhecimento. Ao longo de seus 50 anos a escola Ana
Berling passou por algumas reformas que pouco alteraram sua configuração
original. Há uns quinze anos teve </span><span style="font-family: arial;">seu espaço operacional ampliado com a construção de novas salas de aula. Atualmente passa por uma ampla e complexa reforma.</span></p><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiAbh7hzEMl78nyWePUz8psGFcHaL1yEjYg8vTLGNzsKdNb6xLpPxEbmshtguvyT0JL0lm_XiWblyBLLARmSkJyYRESO4C7_EKfkQvST7jnMklxIDa7-gl30S3B_qiqs2S5MwM9QR0qiil7zFDXzHPp8pDCl9eONgBLE31Bnh-OUg_TepviqV1hEtVj7g=s961" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="961" data-original-width="647" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiAbh7hzEMl78nyWePUz8psGFcHaL1yEjYg8vTLGNzsKdNb6xLpPxEbmshtguvyT0JL0lm_XiWblyBLLARmSkJyYRESO4C7_EKfkQvST7jnMklxIDa7-gl30S3B_qiqs2S5MwM9QR0qiil7zFDXzHPp8pDCl9eONgBLE31Bnh-OUg_TepviqV1hEtVj7g=w431-h640" width="431" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial","sans-serif""> <span style="font-family: arial;"> <b>Detalhe
do Decreto nº 9.401/98. FONTE: Acervo Central. SEC/PMSJ.</b></span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> Paralelamente, durante meio
século de existência, formando diversos alunos e alunas, seja para o mercado de
trabalho ou para atingir a cidadania plena, em meio a vários e exímios
docentes, a escola foi administrada por vários profissionais da Educação.
Exerceram a Direção da Unidade Escolar cinquentenária os seguintes mestres:
Gicélia Santos Prianti (1970 a 1975); Maria América de Almeida Teixeira (1976 a
1988); Vitória Luíza Floriano Lima (1989); Neusa Maria de Miranda (1990 a
1995); Márcia Cristina Fernandes L. Veneziane (1996); João Elias Lajes França
(1997); Celso Vanzela (1998 a 1999); Janine Dutra Velério (2000); Terezinha de
Jesus Melo Neves (2001 a 2005); Maria de Fátima Duarte Rodrigues (2005 a 2013);
João José Soares Filho (2013 a 2014); Priscila (fev. 2015 a ago. 2015); Daniele
Maria G. e Guimarães Leite (ago. 2015 a jul. 2017); Ana Maria Machado Martins (jul.
2017 a jul. 2020). Atualmente a Direção da Unidade Escolar é exercida pela Profª
Adalgisa Saltosque dos Santos, que assumiu a gestão no dia 03 de agosto de
2020. O autor destas singelas linhas conhecia a E.M.E.F. Profª Ana berling
Macedo parcialmente desde a década de 1980. Entretanto, foi somente no ano de
2018, durante a gestão da Profª Ana Maria, que tivemos a honra de iniciar a
docência na referida escola. É uma imensa satisfação trabalhar ao lado de
exímios docentes, dentre os quais, alguns lecionam há quase 20 anos somente lá.
Ou também atuar com professores que foram alunos no passado. Com um excelente
corpo docente só temos a ganhar em sabedoria; e os alunos, junto com a
comunidade mais ainda. Encerramos o presente artigo, parabenizando a E.M.E.F.
Profª Ana Berling Macedo pelo seu cinquentenário, estendendo as sinceras
congratulações a todos os profissionais que nela atuam e que atuaram. Quem
ganha o presente somos nós, professores, demais funcionários, alunos e alunas,
além da comunidade do Bairro do Alto da Ponte. Que venham outros 50 anos; e
muito mais. Atenciosamente,</span><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">
Prof. Eddy Carlos.</span><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: arial;">Referências.<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">ARANHA, Maria
Lúcia de Arruda. <b>História da Educação e
da Pedagogia.</b> Geral e do Brasil. Ed. Moderna. São Paulo, 2011.</span><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">BLOG: <a href="http://ana-berling-macedo.blogspot.com/2008/08/ana-berling-macedo.html">http://ana-berling-macedo.blogspot.com/2008/08/ana-berling-macedo.html</a> ; criado pela Profª Lúcia Helena
(Artes), 2008.</span><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">JÚNIOR, Agê. <b>São José dos Campos de 1900 a 1980.</b> Ed.
Santuário. Aparecida, 1981.</span><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">PAULA e
ROQUE, Maria Tereza Dejuste de e Zuleika Stefânia Sabino. (Org.). <b>Escola e Educação em São José dos Campos:
espaço e cultura escolar.</b> Coleção São José dos Campos. História e Cidade.
Vol. VI. UNIVAP/Pró-Memória. São José dos Campos, 2012.</span><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">SIQUEIRA,
Jairo César de. <b>Nossa Cidade de São José
dos Campos.</b> Fundação Cultural Cassiano Ricardo. São José dos Campos, 1991.</span><span style="font-family: arial;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;">SITE: <a href="http://www.novaescola.org.br/">www.novaescola.org.br</a></span></p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: arial;">O autor: Eddy Sarlos Souza Vicente.<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Bacharel
e Licenciado em <b>História</b> pela Universidade do Vale do Paraíba-UNIVAP (2002);<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span><!--[endif]-->Pós-Graduado
Lato-Sensu em <b>História do Brasil Republicano</b> pela Universidade de Taubaté-UNITAU
(2004);<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span><!--[endif]-->Concluiu
a Segunda Licenciatura em <b>Pedagogia</b> pelo Centro Educacional do Vale do
Paraíba-CEVAP (2020); <o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Concluiu
a Segunda Licenciatura em <b>Geografia </b>pela Unicesumar (2021);<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Membro
efetivo do <b>Instituto de Estudos Valeparaíbanos (IEV)</b>, sediado em Lorena-SP, desde 2008;<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Membro
vitalício da<b> Academia Cachoeirense de Letras e artes (ACLA)</b>, sediada em
Cachoeira Paulista-SP, desde 2013; <o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span><!--[endif]-->Acadêmico
Honorário da <b>Academia de Letras e Artes de Cruzeiro (ALAC)</b>, sediada em Cruzeiro-SP,
desde 2021;<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Criador
dos blogs: <a href="http://redescobrindoovale.blogspot.com.br/">http://redescobrindoovale.blogspot.com.br</a> (2014) e <a href="http://conhecendoahistoriaprofeddy.blogspot.com.br/">http://conhecendoahistoriaprofeddy.blogspot.com.br</a> (2018);<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal">
</p><p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: arial;">·<span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Professor
de História efetivo da Rede Municipal de Ensino da Prefeitura de São José dos
Campos-SP, desde 2016.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: arial;">Agradecimentos.<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: arial;"><!--[if !supportLists]--><span>·<span style="font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Josiane
e Amarildo. Secretaria da E.M.E.F. Profª Ana Berling Macedo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: arial;"><!--[if !supportLists]--><span>·<span style="font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> *</span>Priscila
Novaes Nogueira. Secretaria de Apoio Jurídico. Prefeitura Municipal de São José </span><span style="text-indent: -18pt;"> dos Campos.</span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: arial;"><span style="text-indent: -18pt;">*Gabriel
Henrique de Assis. Arquivo Público Municipal. FCCR.</span> <o:p></o:p></span></p><p></p><p><span face="Arial, "sans-serif""><br /></span></p><p><span face="Arial, "sans-serif""><br /></span></p><p class="MsoNormal"><br /></p></div>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-87435050603305957092021-09-22T19:06:00.001-07:002021-09-22T19:06:23.501-07:00O Agonizante Paraíba.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxUaZq7kfNFTn8qVcJzhr8Iv-32TpimpLCD5BR3sFBSFlqKvbwzURnntPKr-jCbWZlcsCe7QeckIeL9awmMCBxkbQlqg9yZx58OUEY2737Fy9pdKlEdOcpTttaV4QGoEhjhhM8zOTx6fhV/s1440/Paraiba+Eddy..jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1440" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxUaZq7kfNFTn8qVcJzhr8Iv-32TpimpLCD5BR3sFBSFlqKvbwzURnntPKr-jCbWZlcsCe7QeckIeL9awmMCBxkbQlqg9yZx58OUEY2737Fy9pdKlEdOcpTttaV4QGoEhjhhM8zOTx6fhV/w640-h480/Paraiba+Eddy..jpg" width="640" /></a></div><br /> Trecho do Rio Paraíba em São José dos Campos. Fotografia de Eddy Carlos; 2019.<p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Atualmente ao trafegarmos pelas modernas estradas
de rodagem, observamos que quando próxima de um rio ou quaisquer córregos é
dificílimo encontrar um que esteja limpo. Dentro da grande metrópole que é a
cidade de São Paulo, nos deparamos com os dois principais rios, o Tietê e os
Pinheiros completamente poluídos e sem vida. Chamados pelos índios,
respectivamente de Anhembi e Jeribatiba, tais rios, além de fornecerem água e abundância
de pesca para os nativos e os colonizadores, serviram como rota da penetração lusitana
nos séculos XVI, XVII e XVIII, neste último com as Monções. Ainda, em fins do
século XVI, os exploradores lançam-se para uma nova rota de aventura, através
do Rio Paraíba do Sul, este denominado anteriormente de Rio dos Sorobis, devido
à multiplicidade de peixes surubins. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> O rio em questão é formado pela
junção de outros dois rios: o Paraitinga e o Paraibuna. Ambos têm suas
nascentes na Serra da Bocaína, em lugares distintos. O primeiro, cujo nome
significa “águas claras”, nasce em Areias; e o segundo, significando “águas
escuras”, nasce em Cunha. Próximo ao Município de Paraibuna, os dois rios se unem
e, seguindo sentido sul-sudoeste, chega a Guararema, onde faz uma curva, “rumando”
em sentido oposto, até chegar ao Município de São João da Barra-RJ, onde
deságua no Oceano Atlântico. Conforme a análise de Roberto Gomes de Avellar, o
Rio Paraíba possui uma extensão de 1.150 Km, recebendo ao longo de seu curso,
águas de vários rios menores e demais córregos, podendo ser “dividido”, de acordo
com determinados critérios. Assim, o autor mencionado faz a seguinte classificação,
conforme os cursos do mesmo: <i>“</i></span><i><span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Curso
Superior: da nascente em Areias (SP) à Cidade de Guararema (SP), com 317 km de
extensão. Fortes declives e chuvas torrenciais. Primeiros reservatórios de
cabeceira, que aliados ao reservatório do Funil (RJ) proporcionam controle
razoavelmente satisfatório sobre as enchentes nas áreas que correspondem aos
dois terços superiores do rio. (...). Curso Médio Superior: trecho entre
Guararema (SP), a 570 metros do nível do mar, e Cachoeira Paulista (SP) a 515
metros de altitude, com 208 km de extensão. Terreno menos acidentado formado
por grandes várzeas. (...). Curso Médio Inferior: de Cachoeira Paulista (SP) a
São Fidélis (RJ) com 480 km de extensão. Possui trechos encachoeirados a áreas
de várzea. (...).Curso Inferior: de São Fidélis (RJ) a foz em São João da
Barra, com 95 km de extensão, passando por Campos dos Goytacazes, que devido ao
monocultivo da cana de açúcar, necessita de grandes volumes d’água captados
para irrigação.” </span></i><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> O Rio Paraíba “testemunhou” o
processo de colonização lusitana no Vale, com o surgimento das primeiras vilas
que dariam origem às atuais cidades. Ao mesmo tempo, diversos viajantes,
aventureiros, exploradores, em geral deixaram registrado em suas obras como era
o referido rio nas suas origens, até sofrer com a ação antrópica. Além das
Entradas e Bandeiras, um dos relatos mais antigos sobre o Rio Paraíba é o de
Anthony Knivet em 1596, corsário inglês da tripulação de Thomas Cavendish, que
saqueou as vilas de Santos e de São Vicente. Preso no Rio de Janeiro, Cavendish
parte, a serviço dos portugueses, para uma expedição punitiva contra os últimos
grupos de índios Tamoios, remanescentes da antiga Confederação, apoiada pelos franceses.
No seu diário, citado por José Luiz Pasin, Knivet afirma que o seu grupo estava
exausto e faminto, quando chega ao local que hoje é a cidade de São José dos
Campos. Após quatro dias de marcha “alcançamos o rio Paraíba, onde tivemos
peixe em abundância, e foi esta a nossa única comida’”. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Quando da fase do bandeirismo de preagem, os bandeirantes,
partindo tanto de São Paulo, Mogi das Cruzes ou de Taubaté, acompanhavam o
curso do Rio Paraíba até o Porto da Cachoeira, daí cruzando o mesmo seguia rumo
à Garganta do Embaú na Serra da Mantiqueira, cujo objetivo era o Sertão dos
Cataguases. Com a descoberta do ouro, essa região passou a ser denominada de região
das minas ou Minas Gerais. Outro fato marcante na história valeparaibana
envolvendo o Rio Paraíba é o encontro da Santa Aparecida em suas águas no Porto
Itaguaçú em 1717. Nesse ano o Conde de Assumar, Dom Pedro Miguel de Almeida
Portugal e Vasconcellos, em viagem às Minas, pernoita na Vila Guaratinguetá e
exige grande provisão de peixes para a viagem, ameaçando os pescadores caso não
cumprissem a ordem. Após o encontro da Santa, a pesca teria sido farta.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> O Rio Paraíba consta também das anotações feitas por Johann
Bastist von Spix e Karl Friedrich Phillip von Martius e das telas do pintor
Thomas Ender. O viajante francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire
relatou em 1822, que o Rio Paraíba, na região do Porto da Cachoeira, “poderá
aqui ter a mesma largura que o Loiret diante de Plissay. Corre com lentidão e
majestade. A esquerda da colina onde fica situada a cidade existe outra,
coberta ainda de mata virgem, e acima dela à beira do mesmo rio, algumas
cabanas esparsas, entremeados de cerrados grupos de bananeiras e laranjeiras”.
Em 1860, ao passar pela Vila de Queluz, o jornalista luso-brasileiro, Augusto
Emílio Zaluar, afirmou que no “fundo de um vale delicioso desdobra-se a toalha
límpida e clara de águas do Paraíba, que de uma a outra margem beijam
preguiçosas as casinhas pitorescas da povoação, em numero de noventa e cinco”.
Depois de mais de 150 anos, esse trecho de Paraíba é um dos mais poluídos,
segundo a análise de João Teodoro e Luciana Almeida Braga. Mas não é só o
trecho de Queluz; em regiões, onde a atividade industrial é hegemônica, a
poluição é total, como entre Jacareí, São José dos Campos, Caçapava, Taubaté,
Pindamonhangaba e mais além, Resende entre outras. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Para termos uma noção do desastre analisemos a descrição
de Manuel Eufrásio de Azevedo Marques sobre o Rio Paraíba em 1876. O autor
citado afirma que o Rio Paraíba é “extremamente piscoso, de maneira que abastecem
as povoações de suas margens de ótimos variados peixes, como são: Piabanha,
Tiapara, Tiapara arrepiada, Traíra, Corimbatá, Timboré, Surubi, Bagre amarela,
Bagre preta, Piabonu, Pirapitanga, Peixe espada, Uacará, Uacaru, Saiguiru,
Alambari (lambarí), Mandi, Tambiú, etc, etc.” Segundo João Teodoro e Luciana
Braga, no ano de <st1:metricconverter productid="1950, a" w:st="on">1950, a</st1:metricconverter>
“produção do pescado de água doce das cidades do Vale do Paraíba (...) foi de
400.895 quilos de 26 espécies diferentes”. Em 1995, os piraquaras que tentam
sobreviver da pesca, não encontram nem 10 espécies diferentes, conseguindo com
muito trabalho e cansaço pescar lambarís, traíras, tilápias, bagres, pacus,
etc. Para os autores, o piraquara pescador vê reduzir sua “principal fonte de
renda econômica. A média de pesca diária, segundo os dados fornecidos pelos
pecadores, sofrem um redução de cerca de 75% quando comparada ao volume registrado
nos anos <st1:metricconverter productid="50”" w:st="on">50”</st1:metricconverter>.
Isso em 1995, pois de lá para cá, a situação deve ter piorado devido ao aumento
e expansão da atividade industrial e a agressão ao meio ambiente, em particular
ao Rio Paraíba. Apesar de tudo, órgãos de proteção e revitalização do rio
movimentam-se, junto com a sociedade civil esclarecida. Atualmente, o Rio
Paraíba, entre Paraibuna, Santa Branca e Guararema, encontra-se praticamente
despoluído, com uma considerável quantidade de peixes. Oxalá que o mesmo se
estenda em todo o trecho até São João da Barra, na foz no Oceano Atlântico, bem
como dos demais rios, ribeirões e córregos. O caso do Rio Tâmisa deveria servir
de exemplo. Até a próxima.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">
Eddy Carlos.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Dicas para consulta.<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">AVELLAR, Roberto Gomes de.
</span><b><span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Rio
Paraíba do Sul. Sua Importância como Recurso Hídrico e os Impactos de sua
Exploração em Relação aos Usos Múltiplos.</span></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"> Trabalho de Conclusão de Curso. CENTRO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA-CEFET/RJ. Rio de Janeiro, 2015.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">MARQUES, Manuel Eufrásio
de Azevedo. <b>Apontamentos</b> <b>Históricos e Geográficos da Província de
São Paulo.</b> Biblioteca Histórica Paulista. Volume I. Martins Editora. São
Paulo, 1976.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">PASIN, José Luiz. <b>Vale do Paraíba. A Estrada Real</b>.
Editora Santuário. Aparecida, 2004.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">SAINT-HILAIRE, Auguste de.
<b>Segunda Viagem a São</b> <b>Paulo</b>. Biblioteca Histórica Paulista.
Volume VI. Martins Editora. São Paulo, 1976.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">TEODORO E BRAGA, João e
Luciana Almeida. <b>Paraíba do</b> <b>Sul. Rio Sagrado</b>. Fundação Cultural
Cassiano Ricardo / Gráfica Melhoramentos. São José dos Campos, 1997.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">ZALUAR, Augusto Emilio. <b>Peregrinação pela Província de</b> <b>São Paulo (1860-1861)</b>. Biblioteca Histórica
Paulista. Volume II. Martins Editora. São Paulo, 1976.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Arial, sans-serif;">E-mail:</span></b><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> eddycarlos6@gmail.com<o:p></o:p></span></p><p> </p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-19612623833505882932020-11-23T12:37:00.009-08:002020-11-23T12:39:12.492-08:00O Ramal de Benfica.<p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivMa8Y7r2Q8VIOa2vxAJjZfhBYnu8LzqDQTAOLw-DSvCi8CqZzIsk8yKlaL80Vb0dyoOfc42y2RIzCa38A9a-0inPD3XbzIbHgiZRnAWtpc1a51xPSCYtSfbAZipe4FwYsxPy9SX6r8x1C/s960/Ramal+de+Benfica..jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="615" data-original-width="960" height="410" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivMa8Y7r2Q8VIOa2vxAJjZfhBYnu8LzqDQTAOLw-DSvCi8CqZzIsk8yKlaL80Vb0dyoOfc42y2RIzCa38A9a-0inPD3XbzIbHgiZRnAWtpc1a51xPSCYtSfbAZipe4FwYsxPy9SX6r8x1C/w640-h410/Ramal+de+Benfica..jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr></tbody></table>Cartão-postal, baseado em fotografia de Ércio Mollinari, do trem que fazia a ligação de Lorena a Piquete. FONTE: Facebook/Lorena em Fotos Antigas (Oficial).<p></p><p><br /></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif"> <span style="font-size: large;">A construção das principais
ferrovias, na segunda metade do século XIX, entre as cidades do Rio de Janeiro
e São Paulo e, em terras valeparaibanas, incentivou o surgimento de outras,
como a Estrada de Ferro Minas and Rio Railway, que fazia a ligação de Cruzeiro
(SP) com Três Corações (MG) e a Estrada de Ferro Bananalense, ligando Bananal
com a Estrada de Ferro Dom Pedro II, na Estação da Saudade. Outras também
surgiriam, como E.F. da Bocaína, de São José do Barreiro, também com a “Pedro II”,
e a E.F. Campos do Jordão, esta, porém, concebida para transportar tuberculosos
para tratamento de saúde, na atual “Suíça brasileira”. Houve também projetos de
ferrovias que não “vingaram”, como uma que faria a ligação de São Sebastião (no
litoral) a São Bento do Sapucaí, passando por Paraibuna e São José dos Campos;
e ainda a que ligaria Ubatuba a Taubaté, passando por São Luís do Paraitinga.
Mas, uma em particular, fora idealizada, projetada e construída para fins
militares. Conhecida, também como o Ramal de Benfica, esta ferrovia foi
construída entre 1902 e 1907, para atender </span></span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: large;">às necessidades
da Fábrica de Pólvora de Piquete, que também estava em construção. Tal fábrica
teve suas origens em terras da Fazenda da Estrela e representava os anseios do
Ministério da Guerra em desenvolver uma indústria bélica nacional, uma vez que
os equipamentos do Exército e da Marinha (ainda não havia a Aeronáutica),
vinham do exterior e sempre com restrições tecnológicas.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Segundo a análise de Antônio
Carlos Monteiro Chaves, com a construção da Estrada de Ferro Minas and Rio
Railway, e o surgimento da atual cidade de Cruzeiro, “a população
valeparaibana, bem como a do sul de Minas regozijaram-se com o esperado surto
de progresso e crescimento que o novo meio traria às regiões. Minas se antecipa
a 10-10-1871, através da lei nº 1827, que determinava ligar Itajubá à ferrovia
D. Pedro II, em construção, passando pelo bairro do Piquete. Ainda em 1871, aos
14-02, o Decreto (MG) nº 4693 autoriza a construção de uma estrada de ferro
para ligar Itajubá à Estrada de Ferro D. Pedro II, na parte compreendida entre
as estações de Cachoeira e Lorena”. Ao mesmo tempo em que a “Pedro II” estava
sendo construída e os anseios dos cidadãos do sul de Minas eram evidentes, uma
nova ferrovia estava sendo projetada. No ano seguinte, partiam da estação do Brás,
na capital paulista, os trilhos da Estrada de Ferro São Paulo-Rio de Janeiro,
com destino à margem direita do Rio Paraíba, no Porto da Cachoeira. A “Pedro
II” chega na margem oposta em 1875, enquanto que a outra, também conhecida como
Ferrovia do Norte, chegaria em 1877. Quando a estação de Lorena foi inaugurada
em 1877, a referida população mineira, junto com a Freguesia do Piquete,
passaram a crer que uma linha férrea seria uma realidade. A expectativa
aumentou quando uma companhia inglesa iniciou a construção da ”Minas and
Rio-Railway”, nas terras da Fazenda Boa Vista, do Major Novaes, que foi inaugurada
em 1884. Antônio Carlos Monteiro Chaves afirma que essa “companhia inglesa
intentou um ramal férreo entre sua sede, na fazenda Bela Vista (sic.), e a
Freguesia do Piquete. Todavia, tal projeto não vingou, por estranho que pareça,
por falta de cooperação dos cidadãos piquetenses. Outra tentativa ocorreu
quando foram oferecidos incentivos ao Engenho Central, que tinha uma ferrovia
própria, a E.F. Santa Lucrécia, interligada com a estação de Lorena, para
construir a tão sonhada estrada. A diretoria do Engenho Central, no entanto,
não demonstrou interesse, voltando tudo à estaca zero.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Mesmo diante de várias
frustrações, uma luz surgiu no fim do túnel, no início do século XX, já no
governo republicano. E foi justamente
devido aos planos da Fábrica de Pólvora, que citamos acima, que a ferrovia
almejada começou a se tornar realidade. Conforme a análise de José Palmyro
Masiero, tão logo foram definidos os locais para a edificação da referida
fábrica e, de um sanatório militar, a medida seguinte e imediata, estava
relacionada ao transporte dos materiais para as obras. Assinala Masiero que foi
decidido “pelo início imediato do ramal férreo, que partindo da E.F.C.B., em
Lorena, atingisse o Benfica. A maior parte dos estudos para essa obra, já havia
sido levantada no séc. XIX, pela comissão chefiada pelo engenheiro Dr. Desiré
Pujol, que pretendia construí-la até as divisas com Minas Gerais, e cujos
projetos foram adquiridos pelo Exército”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Diante disso, surge a “Comissão
de Construção do Ramal Férreo Lorena-Bemfica”, que teve como diretor inicial, o
Coronel Belarmino de Mendonça, substituído pouco tempo depois pelo
Tenente-Coronel Ignácio de Alencastro Guimarães. No dia 03 de fevereiro de
1902, o então 12º Batalhão de Infantaria chega à Lorena e parte para a Fazenda
Amarela, de propriedade de Angelina Moreira de Azevedo, mãe de <span style="background: white;">Francisco de Paula
Vicente de Azevedo, o</span> Barão da Bocaína, onde se instalou. Palmyro
Masiero afirma que esse “batalhão militar veio construir o Ramal Férreo com um
efetivo de 450 homens sob o comando do cel. Francisco Agostinho de Melo
Menezes”. Com as obras em ritmo acelerado, já em novembro de 1902, é inaugurado
um trecho da estrada pelo Ministro da Guerra, Marechal Mallet. Este é
substituído na pasta pelo Marechal Francisco de Paula Argolo, o qual determinou
que o ritmo acelerado das obras prosseguisse, em direção a Piquete. Em 26 de
março de 1904, o séquito dos ministros, da Guerra e da Viação, chega na estação
da E.F.C.B. de Lorena. Segundo Palmyro Masiero, à chegada “foi executado o Hino
Nacional Brasileiro pelas bandas do 12º Batalhão, do Colégio São Joaquim e
‘Mamede de Campos’ (...). Após as cerimônias de recepção, a comitiva dirigiu-se
aos escritórios da Comissão Construtora do Ramal Férreo”. Em seguida, parte o
trem da estação de Lorena, com a comitiva em torno de trezentas pessoas, para a
vistoria das obras, sendo recepcionada na Fazenda São Francisco, do Barão da
Bocaína. No dia seguinte, tomaram rumo da Fazenda da Estrela do Norte, sendo
recebidos por Custódio Vieira da Silva. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Entrementes, ao mesmo tempo que
os trilhos avançavam ao seu destino, em Piquete estava sendo construída a
estação deste ramal. Apesar da euforia, nem tudo eram “flores” no referido
empreendimento. A construção enfrentou vários problemas, como falta de verbas
no orçamento federal, carência de operários em número suficiente, apesar do
contingente militar enviado, e irregularidades de ordem geográfica e
impropriedade do terreno escolhido. Uma das primeiras dificuldades que a
comissão enfrentou foi ter que realizar o desvio do curso do Rio Ronco, sendo
necessário a construção de vários declives e grandes patamares. Outras
dificuldades são relatadas por José Palmyro Masiero, como obras de segurança e
conservação, onde “a comissão construtora teve que fazer drenagem de diversas
áreas do solo, abrir valetas para escoamento das águas pluviais do leito da
estrada, construir pontilhões e boeiros em grande número”. Por outro lado,
paralelamente à linha férrea foi implantada uma linha telegráfica, necessária à
própria comissão como também da Fábrica de Pólvora, também em obras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif"> Após diversos problemas
enfrentados e superados, finalmente no dia 15 de setembro de 1906, foi
inaugurado o “Ramal Férreo Lorena-Bemfica”, e também da Estação Rodrigues
Alves, em Piquete. Com o encerramento das obras, foram liberados ao tráfego
19,670 km de ferrovia, sendo que de Lorena até Piquete totalizavam 17,200 km e
até Limeira, atualmente “General </span><span face="Arial, sans-serif">Mendes de
Moraes”, os restantes 2,470 km. A viagem inaugural, em trem “especial”, teve a
presença do Ministro da Guerra, Marechal Francisco de Paula Argolo, do
Secretário de Justiça do Estado de São Paulo, Washington Luiz, representando o
Presidente de São Paulo, Jorge Tibiriçá, além de diversos deputados e oficiais
militares. Em 1909 é inaugurada a “Fábrica de Pólvora sem Fumaça”; da Estação
Rodrigues Alves os trilhos prosseguiam, adentrando área militar. Assim, outras
estações foram construídas, como a Wenceslau Brás (que na década de 1940 teve o
nome alterado para Estrela do Norte), General Mendes de Moraes, bem na entrada
da fábrica, e outra no interior dela. Entre as estações de Lorena e a Rodrigues
Alves, em Piquete, haviam pequenas estações ou pontos de abastecimentos, entre
as duas principais. Eram cinco: a da Ponte Paraíba, Angelina, Coronel
Barreiros, Francisco Ramos e Bela Vista. No entanto, apesar da padronização da
bitola da Estrada de Ferro Central do Brasil, para 1,60m, o Ramal de Benfica
foi construído com bitola de 1,00m, obrigando a troca de composição, na estação
de Lorena. Somente na década de 1940, é que a nova ferrovia foi padronizada em
1,60m. Apesar de sua finalidade original, ou seja, de atender a Fábrica de
Pólvora, o Ramal de Benfica operou também com transporte regular de
passageiros. Ao longo do século XX, os trens que trafegavam entre Lorena e
Piquete ficaram conhecidos como “Trens Piqueteiros”, confundindo-se com a
própria “identidade” do Município de Piquete.</span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif"> Todavia, com o sucesso da nova
estrada de ferro, e para atender à demanda sempre constante, o governo
autoriza, através do Decreto </span><span face="Arial, sans-serif">Legislativo nº
3.928, de 11 de julho de 1917, a construção de outra linha dando sequência ao
trecho Lorena-Piquete, com sentido ao Estado de Minas Gerais, passando pela
cidade de Itajubá e Pedra Branca. Posteriormente, foi decidido em 26 de junho
de 1918, com o Decreto nº. 9.638, que fosse construído o trecho de Piquete a
Itajubá. De acordo com os historiadores Levy Tenório e Acrilson de Carvalho,
foram realizados estudos técnicos referentes ao trecho citado, que “davam a
extensão de 64,360 km, dos quais 13,500 km em cremalheira, para vencer a
diferença de nível de 800 metros na Serra da Mantiqueira”. As obras foram iniciadas
no dia 01 de outubro de 1918 e foram interrompidas em 31 de agosto de 1921,
sendo concluído apenas o trecho entre Itajubá e Soledade.</span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Finalmente, em 30 de dezembro
de 1921 é entregue ao tráfego, a referida ferrovia e a administração dividida
da seguinte forma. De Lorena até Piquete, sob a responsabilidade da Central do Brasil;
de Piquete até a Fábrica de Pólvora, sob a responsabilidade do Ministério da
Guerra. Lamentavelmente, assim como em outras localidades, o transporte ferroviário
de passageiros deixou de existir e, com a extinção do Ramal de Benfica, em
1977, não é possível sequer imaginar a implantação de um trem turístico, como o
que há em São Lourenço, Mariana, estes no Estado de Minas Gerais; Guararema e o
que havia em Cruzeiro, em terras paulistas, pois até mesmo trilhos e dormentes
foram retirados do leito. Recentemente a Estação Rodrigues Alves foi restaurada
transformando-se em Centro Cultural, bem como a Estação Estrela do Norte, da Fábrica
de Pólvora. Esta mais tarde passou a denominar-se Fábrica Presidente Vargas e,
atualmente, compõe uma das unidades da Imbel, administrada pelo Exército
Brasileiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">
Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">Indicações para consulta.<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">CARVALHO e
COSTA, Acrilson de e Levy Tenório da. <b>A
Ferrovia no Vale do </b></span><b><span face=""Arial",sans-serif">Paraíba: Opulência e Decadência. </span></b><span face="Arial, sans-serif">Trabalho de Graduação em História pela
UNIVAP. São José dos Campos, 1996. Edição mimeografada.</span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">CÉSAR,
Faustino. <b>Resenha Histórica de Lorena.</b>
Coleção Lorenense. Volume II, 2º edição. Lorena, 2000.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">EVANGELISTA,
José Geraldo. <b>Lorena no Século XIX.</b>
Coleção Paulística. Volume VII. Imprensa Oficial. São Paulo, 1978. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">GOUVÊA, CHAVES,
ROSA e MASIERO. Ana Maria, Antônio Carlos Monteiro, Célia Aparecida da e José
Palmyro. <b>Estação Rodrigues Alves: 90
Anos (1906-1996).</b> Grupo Medral. Rio de Janeiro, 1996.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">MEMÓRIAS DE
LORENA. <b>Fotos e Palavras.</b> Tomo 2.
Coleção Lorenense. </span><span face="Arial, sans-serif">Volume 4.
Sociedade dos Amigos da Cultura de Lorena, 1999.</span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">REVISTA A
CIDADE. <b>Piquete. Cidade Paisagem.</b>
Informe Publicitário da </span><span face="Arial, sans-serif">Prefeitura
Municipal de Piquete. Circuito Mantiqueira. Piquete, 2008.</span> </span></p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-51149005367206753502020-10-26T16:52:00.014-07:002020-10-26T16:57:06.022-07:00Embaú, ex-Município.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwECb8cSQx6AA2rbv6nfAxCJcVQXY_fOKROI8hbAiHZHO8pgLS7_yvqu0P-qmbuVWBOExsWvuBJZQ0WU9AYDW2F18v08VZkEBsHmY4hBx0tE0Gj_5h8Pt5Bo9IhzWPyHmO658Sad-CpsGF/s958/Igreja+Embau+10..jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="684" data-original-width="958" height="458" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwECb8cSQx6AA2rbv6nfAxCJcVQXY_fOKROI8hbAiHZHO8pgLS7_yvqu0P-qmbuVWBOExsWvuBJZQ0WU9AYDW2F18v08VZkEBsHmY4hBx0tE0Gj_5h8Pt5Bo9IhzWPyHmO658Sad-CpsGF/w640-h458/Igreja+Embau+10..jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: left;">Vista parcial do bairro do Embaú, no ano de 1976. Ao fundo, à esquerda, o telhado da antiga Câmara Municipal. Fotografia de autoria do jornalista Darwin Valente. Acervo histórico-documental do Recanto da Glória/Prof. Eddy Carlos.</span></div><p></p><p><br /></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif"> <span style="font-size: large;"> Inicialmente habitado pelos
índios Puris, o Embaú se tornaria ponto de passagem obrigatório para os
aventureiros e preadores de índios, que seguiam também a rota da mineração, cruzando
a Serra da Mantiqueira no local chamado Garganta do Embaú para atingir a região
das minas. O cruzamento entre brancos e índios que teria iniciado por volta de
1560, segundo o poeta Pedro Gussen, foi se expandindo e, em 1781, foi iniciada
a construção de uma capela na área doada por João Ferreira da Encarnação.
Devido a sua importância estratégica, o Embaú é mencionado por vários autores
desde longa data como Capistrano de Abreu; inclusive por Antonil, referindo-se
ao caminho do ouro. A capela é inaugurada em 1787 e no dia 19 de fevereiro de
1846, é elevada à Freguesia com o nome de Nossa Senhora da Conceição do Embaú,
pertencendo ao Município de Lorena. Tal fato ocorreu através da Lei n° 05,
sancionada pelo Presidente da Província de São Paulo, Manoel Fonseca Lima e
Silva.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif"> Durante a fase aurífera, o
Embaú tornou-se um centro escoadouro da Capitania de Minas Gerais, por onde
transitavam tropas carregadas de mercadorias, ocorrendo à realização de feiras
comerciais, de acordo com Joaquim de Paula Guimarães. O trajeto das
mercadorias, depois de passar pelo Embaú, prossegiua por Guaratinguetá, Cunha,
chegando a Paraty. Com o desenvolvimento econômico, o Embaú iria “galgar” mais
um degrau na hierarquia administrativa. No dia 06 de março de 1871, com a Lei
n° 08, o Governo Provincial, presidido por Antônio da Costa Pinto e Silva, é
criado o Município de Nossa Senhora da Conceição do Cruzeiro, elevando o Embaú
à condição de Vila, separando-o de Lorena. Após eleições realizadas em 07 de </span>setembro de
1872, toma posse no dia 08 de janeiro de 1873, a primeira Câmara Municipal do
Embaú. A posse é oficializada pelo Presidente da Câmara de Lorena, Antônio
Rodrigues de Azevedo Pereira. A mudança do nome Embaú para Cruzeiro refere-se a
um marco em forma de cruz colocado no alto da Serra da Mantiqueira no século
XVIII para separar as capitanias de Minas e São Paulo, segundo a análise do Prof.
Hilton Federici.</span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Com o advento da ferrovia, no
entanto, o Embaú passa por um período de estagnação econômica. As duas estradas
de ferro, a “Pedro II” e a “Minas and Rio”, são instaladas longe da sede da
Vila. No ponto de entroncamento, na estação inaugurada em 1884, surge um novo
aglomerado urbano. Alguns autores atribuem a esse desvio ferroviário como sendo
obra do Major da Guarda Nacional, Manoel de Freitas Novaes, político do Partido
Conservador, vereador no Embaú, que exerceu a presidência da Câmara, além de
ser o proprietário da Fazenda Boa Vista, próxima à referida estação. Há
controvérsias quanto sua interferência nos planos da ferrovia. O fato, porém, é
que o novo local, o “Povoado da Estação”, devido às condições econômicas
proporcionadas pela ferrovia, acaba suplantando o Embaú.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Em 1891, o Major Novaes
consegue do Presidente de São Paulo, a criação da Vila Novaes, dividindo a Vila
do Cruzeiro (Embaú) em dois municípios. O decreto que cria tal Vila é assinado
por Américo Brasiliense que, ao ser substituído por Cerqueira César, vê seus
últimos atos sendo anulados, entre os quais o da criação da Vila Novaes em
1892. A partir daí surgem rivalidades entre o Embaú e o Povoado da Estação,
devido à campanha mobilizada pelos partidários do Major Novaes para a transferência
da sede do Município. O Major falece em 1898 e até 1901, o Embaú foi a sede do
Município de Cruzeiro, quando é transferida para o local da atual cidade de Cruzeiro.
Por outro lado, o surgimento da ferrovia deslocou o fluxo econômico fora do Embaú,
suplantando o antigo centro urbano, como já mencionado. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Paralelamente, no ano de 1880,
o antigo Porto da Cachoeira, é elevado à condição de município, com o nome de
Vila de Santo Antônio da Bocaína, no dia 09 de março. No dia 02 de outubro de
1901, o Presidente do Estado de São Paulo, Francisco de Paula Rodrigues Alves,
assina a Lei Estadual n° 789, transferindo a sede municipal do Embaú para o
Povoado da Estação. De 1901 a 1934, o Embaú foi Distrito de Cruzeiro e, em 1932,
toda a região “fervilhou” com Revolução Constitucionalista, sofrendo com
bombardeios das forças legalistas de Vargas. No Embaú, a Fazenda Godoy foi
ocupada por uma divisão da Força Pública, por estar localizada às margens da
então Rodovia Cachoeira-Cruzeiro e, pelo fato de somente nesta propriedade
possuir uma linha telefônica, ou seja, uma ocupação estrategicamente militar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif"> No governo de Armando de Sales
Oliveira, em 1934, o Embaú é incorporado à Cachoeira Paulista, bem como o
Embauzinho e o Quilombo, sendo considerados como bairros rurais; o Embaú por
sua vez após algumas tentativas emancipacionistas é elevado à condição de subprefeitura
no dia 06 de março de 2008, resgatando parte de seu prestígio, depois de 74
anos. Coube à edilidade cachoeirense outorgar ao Embaú parte do que lhe foi
tirado, mesmo Cachoeira não possuindo vínculos históricos e políticos no
passado com a célula-máter de Cruzeiro. Foram divergências políticas na virada
do século XIX para o XX que culminaram com a rejeição do Embaú por Cruzeiro,
cabendo, como já mencionado, a responsabilidade à Cachoeira Paulista. Para a
população mais antiga e nonagenária do Embaú é um momento de nostalgia; para a
geração atual e as futuras, uma chance de valorizar o “vovô” do Vale, conforme
a expressão utilizada por Humberto Turner.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">
Eddy Carlos.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">Dicas para consulta.<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">FEDERICI,
Hilton. <b>História de Cruzeiro. (Volume I).
Das origens remotas até a instalação do Município (em 1873).</b> Publicações da
Academia </span><span face="Arial, sans-serif">Campinense de
Letras. Campinas,1974.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">______________.
<b>História de Cruzeiro. (Volume II).</b> <b>Da instalação do Município até a transferência
da sua sede (1873-1901).</b> Publicação da Academia Campinense de Letras.
Campinas, 1978.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">GUIMARÃES, <b>Joaquim de Paula. Síntese da História de
Cruzeiro.</b> Edição da </span><span face="Arial, sans-serif">Prefeitura
Municipal de Cruzeiro, 1951.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">RAMOS,
Agostinho. <b>Cachoeira Paulista.
1780-1970.</b> 2 volumes. IHGSP. São Paulo, 1971.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">SOUZA VICENTE,
Eddy Carlos. <b>Embaú, contrastes entre o
passado e a realidade do presente de um núcleo urbano. </b>Trabalho de
Graduação em História pela UNIVAP. São José dos Campos, 2002. Edição
Mimeografada.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif"><span style="font-size: large;">_________________________.
<b>O Mandonismo Político. Atuação Política
do Major Novaes (1873-1898).</b> Trabalho de Conclusão de Curso em História do
Brasil Republicano pela UNITAU. Taubaté, 2004. Edição mimeografada.</span><o:p></o:p></span></p><p>
</p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-27179648982939586842020-10-25T17:35:00.023-07:002020-10-25T17:48:00.574-07:00Memória Ferroviária.<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdQZn18pxzRR6xY264BwuWiRS0gllf9rA2TqFtbHpq9l1MrpP6eAVTq5FQhyeQH2Us0psxJzAHiILA2k28kK9xi7GTu6UT2rVnCFclmk3-sKqf8YE2F42olSQcMJajrdKpmsiwBRQ3UBLd/s660/tremdasaguas2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="330" data-original-width="660" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdQZn18pxzRR6xY264BwuWiRS0gllf9rA2TqFtbHpq9l1MrpP6eAVTq5FQhyeQH2Us0psxJzAHiILA2k28kK9xi7GTu6UT2rVnCFclmk3-sKqf8YE2F42olSQcMJajrdKpmsiwBRQ3UBLd/s16000/tremdasaguas2.jpg" /></a></div><p><span style="font-size: medium;">Trem turístico, operado pela ABPF, entre São Lourenço e Soledade, Estado de Minas Gerais. FONTE: http://www.araucariaecoturismo.com.br/trem-das-aguas-sao-lourenco/</span></p><p><br /></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif"> <span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: large;"><span> </span><span>O surgimento da
ferrovia no Brasil, em particular no Vale do Paraíba, foi uma resposta às
necessidades econômicas dos grandes produtores de café na região, para que seus
produtos escoassem de forma mais rápida para os portos de embarque aos mercados
consumidores, principalmente o internacional. Com uma demanda maior, as antigas
tropas de burros e mulas não conseguiam escoar a tempo uma enorme produção,
encarecendo dessa forma ainda mais o preço da saca de café. Isso acarretava aos
fazendeiros do Vale, principalmente, gastos muito onerosos para a manutenção de
tropas e os responsáveis pelo transporte como arrieiros, peões, carreiros, etc.
A aristocracia rural ficava inconformada diante deste “peso” para vender a
produção e adquirir artigos de consumo. Neste contexto, coube ao antigo Arraial
do Porto da Cachoeira a incumbência de se tornar o ponto de encontro de duas
principais ferrovias da época: a Estrada de Ferro Dom Pedro II e a Estrada de
Ferro São Paulo-Rio de Janeiro, também conhecida como “do Norte”. A primeira,
partindo da capital do Império chega à Freguesia de Santo Antônio da Cachoeira
no dia 20 de julho de 1875, detendo-se na margem esquerda do Rio Paraíba. Devido
à ausência de uma ponte que ainda seria construída, os passageiros tinham de
fazer a travessia do rio em balsas. A segunda ferrovia, partindo da capital da
Província de São Paulo, só vai chegar a Cachoeira dois anos mais tarde, no dia 08
de julho de 1877, na margem direita do Paraíba, concluindo assim a ligação
entre o Rio de Janeiro e São Paulo.</span></span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"> Porém, um fato que torna-se
destaque e transforma Cachoeira em um diferencial é a diferença de bitola
(largura entre os trilhos) de uma ferrovia para outra. A E. F. Pedro II fora construída
com bitola de 1,60 m e a E. F. São Paulo-Rio com bitola de 1,00m. Tal fato impossibilitava
realizar uma viagem direta em uma única composição do Rio a São Paulo e vice-versa.
Na viagem inaugural, por exemplo, a Princesa Isabel e seu esposo, Gastão de Orleans,
o Conde D’Eu, no mesmo dia 08 de julho de 1877, fizeram baldeação em Cachoeira,
para trocar de composição. Isso justifica as enormes dimensões da estação de
Cachoeira, porque além dos passageiros, inúmeras mercadorias, até mesmo gado bovino,
eram ali baldeadas. O referido prédio, construído em 1876 pelo engenheiro
inglês Newton Bennaton, possui três torreões que serviam de dormitórios para
passageiros e funcionários em serviço. Continha, também duas imensas
plataformas dos dois lados, para embarque e desembarque de cargas e passageiros,
além de grandes galpões para armazenagem de café e, ainda, pátio com quiosques
e a caixa d’água para abastecimento das locomotivas a vapor. Mais tarde, no dia
30 de agosto de 1890, o Governo Republicano com o Decreto nº 701, encampa a
E.F. São-Rio, para alterar sua bitola e incorporá-la à E.F. Pedro II, formando,
então, a Estrada de Ferro Central do Brasil, proporcionando a partir de 1908,
viagens diretas entre as duas cidades.</span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Paralelamente, uma terceira
ferrovia surgiria em terras valeparaibanas, a que fazia a ligação da cidade de
Cruzeiro com o sul do Estado de Minas Gerais. Para atender as necessidades de
produtores rurais mineiros, o Governo Provincial de Minas Gerais e o Governo
Imperial autorizam a construção de uma ferrovia que deveria fazer a ligação com
a E.F. Pedro II. O projeto inicial previa que tal ferrovia partiria da
Província do Rio de Janeiro; em 12 de setembro de 1877, conforme o Decreto nº 6.593,
o traçado é modificado, devendo partir próximo da atual cidade de Lavrinhas,
com o objetivo de se chegar ao Vale do Rio Passa-Vinte. De acordo com o Prof. Hílton
Federici, devido ao projeto inicial a companhia foi batizada com o nome de
“Minas and Rio Railway”, sendo esta organizada em Londres no dia 24 de abril de
1880.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Conduzida por engenheiros
ingleses, as obras tiveram início no dia 18 de abril de 1881. No entanto, uma
nova modificação. Através do Decreto nº 8.068, de 03 de maio de 1881, o ponto
inicial deveria partir do Km. 252 da E.F. Pedro II, onde já havia uma pequena
estação próxima da Fazenda Boa Vista de propriedade do Major da Guarda
Nacional, Manoel de Freitas Novaes. A referida obra tinha como meta a cidade
mineira de Três Corações, à 170 quilômetros do entroncamento, que era o ponto de
partida. Comandada pelo engenheiro inglês, Herbert Hunt, mais tarde, o primeiro
Diretor da ferrovia, as obras são finalizadas no dia 14 de junho de 1884.
Acompanhado de sua comitiva, o imperador visita a estrada de ferro pela
primeira vez em junho de 1882, quando era escavado o túnel na Serra da
Mantiqueira, abaixo da Garganta do Embaú. Entre os dias 22 e 23 de junho de
1884, ocorre a segunda visita, quando o monarca e membros da Corte percorrem a
estrada recém-aberta, pernoitando em Três Corações. No dia 27 de setembro de
1884 é inaugurada a atual estação ferroviária de Cruzeiro, fazendo escoar toda
a produção sul-mineira, inclusive gado bovino, além de passageiros com destino
ao Rio de Janeiro ou a São Paulo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Entretanto, situada em terras
da Vila do Cruzeiro (Embaú), a ferrovia acabou impulsionando um desenvolvimento
econômico significativo e, após o surgimento do Povoado da Estação do Cruzeiro
(atual cidade de Cruzeiro), o Embaú como sede do município entra em processo de
decadência. Surge então a conhecida rivalidade entre os dois “Cruzeiros”,
insuflada por partidários do Major Novaes, culminando na transferência da sede
municipal em 1901. Assim como muitas fazendas do período, a Fazenda Boa Vista,
do referido major, possuía um ramal direto, que a ligava à estação, para o embarque
das sacas do café “Coroa”, desativado atualmente, bem como a própria ferrovia.
A mencionada estrada de ferro, assim como aconteceu com Cachoeira, confunde-se
com a história da cidade. Logo após a eclosão da Revolução de 1932, os
paulistas utilizam uma locomotiva na entrada do túnel, bloqueando-o para
impedir o avanço das forças mineiras e federais, ocasionando os combates e
bombardeios na Serra da Mantiqueira. Durante o conflito, era da estação de
Cachoeira que partia o Trem Blindado que fustigava as forças legalistas de
Getúlio Vargas na zona de Queluz. Outro marco importante de Cruzeiro é a Rotunda,
onde se realizavam obras de manutenção nas locomotivas, além do Morro dos Ingleses,
onde os engenheiros residiam. O “boom” econômico, enfim, ocorreria na década de
1930, com a criação da Rede Sul Mineira de Viação, agrupando a referida
ferrovia com outras do território mineiro, além da implantação da Fábrica
Nacional de Vagões em Cruzeiro, em meados da década de 1940, além dos armazéns
gerais para estoque de café, estes atualmente abandonados.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Porém, comparada com a estação
de Cachoeira, a de Cruzeiro está “menos” pior, e a população local espera o
retorno do trem turístico dos domingos e feriados, que era operado e mantido pela
A.B.P.F. (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), e que deixou a
cidade em meados de 2001, devido a divergências com as autoridades municipais. Ainda
assim, ambos os municípios deveriam seguir o exemplo de Guaratinguetá, que teve
concluída a reforma total de sua magnífica estação ferroviária, cujo descaso no
passado era denunciado por ilustres personalidades da região, entre elas o saudoso
Prof. José Luiz Pasin, falecido em janeiro de 2008.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> Contudo, independente de uma
está “melhor” que a outra, as duas magníficas estações, de Cachoeira e de
Cruzeiro, encontram-se abandonadas e em estado lamentável; caindo aos pedaços
algo que já foi o principal orgulho de ambas cidades. O autor destas linhas se
recorda das histórias que os avós, maternos e paternos, contavam sobre as
viagens que faziam pelos trens da Central e hoje vislumbra essa decadência
total, não só da estação de Cachoeira, mas de todo o Vale do Paraíba. Resta
somente a lembrança, também, dos relatos do saudoso avô paterno, Sr. José
Vicente de Matos, falecido em maio de 2007, referente às viagens a passeios que
o mesmo realizava para a cidade mineira de Aiuruoca, ou a trabalho
transportando gado pela citada Rede Sul Mineira de Viação, proporcionando a
este que escreve uma maravilhosa viagem no tempo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">
Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;"> </span></p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">Dicas para consulta.<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">CARVALHO e COSTA,
Acrílson de e Levy Tenório da. <b>A Ferrovia
no Vale do Paraíba: Opulência e Decadência.</b> Trabalho de Graduação em
História pela UNIVAP. São José dos Campos, 1996. Edição mimeografada.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">FEDERICI,
Hilton. <b>História de Cruzeiro (Volume
II). Da instalação do Município até a transferência da sua sede (1873-1901). </b>Campinas:
Publicação da Academia Campinense de Letras, 1978.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">GUIMARÃES,
Joaquim de Paula. <b>Síntese da História de
Cruzeiro.</b> Edição da Prefeitura Municipal de Cruzeiro, 1951.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">SILVA, João
Ramos da. <b>Cruzeiro: Binômio: Educação e
Indústria.</b> Oficina Gráfica Prof. João Silveira. Cruzeiro, 1970.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><span face=""Arial",sans-serif">RAMOS, <b>Agostinho. Recordações de 32 em Cachoeira.</b>
Empreza Graphica da Revista dos Tribunaes. São Paulo, 1937.</span><span face="Arial, sans-serif"> </span></span></p><p>
</p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: large;">SOBRINHO, Alves
Motta. <b>A Civilização do Café.</b>
Editora Brasiliense. São Paulo, 1978.<o:p></o:p></span></p><p><br /> </p>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-41221027790053726432020-10-21T18:05:00.032-07:002020-10-29T06:53:31.074-07:00O Trem de Ferro. Sinônimo de Desenvolvimento.<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGjB4dHAOpz8QYJn29C1DXi5mn1jpGKZEY3COCaYCXXiwjuX0djQ0iBOhuznhOyy4rHIOD6EANe1Lpb0E0YiLconNbobH6hNZMIngXZdiRgpN-lhAVukaHdvzykmqiweR30wBw9WQoStmI/s1000/Locomotiva.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1000" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGjB4dHAOpz8QYJn29C1DXi5mn1jpGKZEY3COCaYCXXiwjuX0djQ0iBOhuznhOyy4rHIOD6EANe1Lpb0E0YiLconNbobH6hNZMIngXZdiRgpN-lhAVukaHdvzykmqiweR30wBw9WQoStmI/w640-h426/Locomotiva.jpg" width="640" /></a></div><div><br /></div> Trem turístico, operado pela ABPF, no sul de Minas Gerais. FONTE: guiaviajarmelhor.com.br<div><br /></div><div>Obs.: artigo publicado em 2013, na I Antologia da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), Cachoeira Paulista-SP.</div><div> <span style="font-size: 12pt;"> </span></div><div><p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">A invenção ou descoberta da roda, proporcionou mais agilidade nos
transportes terrestres, com a construção de veículos adaptados à tração animal
como carros, carroções, carruagens, etc. Até meados do século XVIII, tanto em
áreas rurais ou urbanas, na Europa, Ásia, Norte da África, os habitantes
utilizaram-se de tais veículos, atrelados à bois, jumentos, cavalos e escravos,
para o transporte de passageiros e mercadorias. A partir de 1760, a Inglaterra,
que acumulara imensa fortuna com o Mercantilismo, tráfico de escravos e o ouro
advindo das colônias ibéricas da América em troca de produtos manufaturados,
aplica o capital excedente em desenvolvimento de novas técnicas de produção. O
resultado foi a invenção da máquina à vapor que, ao substituir a energia
humana, ficou conhecida como Revolução Industrial. Segundo a análise de
Acrilson de Carvalho e Levy Tenório da Costa, o “aspecto mais importante da
Revolução Industrial foi a radical transformação no caráter do trabalho, o que
gerou intenso desenvolvimento dos centros urbanos”. A referida máquina à vapor,
desenvolvida por James Watt, em 1770, influenciou diversas tentativas de
construção “de um veículo que se locomovesse em uma estrada sendo movimentado a
vapor d’água”, conforme o estudo dos autores, acima citados. Mais tarde, o
inventor inglês George Stephenson, desenvolve outra máquina à vapor,
conseguindo puxar vagões de 30 toneladas, a uma velocidade de 4 milhas por
hora. O invento batizado de “Locomotion” (locomotiva), foi aperfeiçoado entre 1815
e 1816 por Stephenson, a ponto de no dia 27 de setembro de 1825, entrar em
operação em caráter inaugural, realizando uma viagem entre as cidades de
Stockton e Darlington, a uma velocidade de 25 quilômetros por hora. Os trilhos
foram assentados em 1824 e, mesmo após o surgimento da máquina “The Rocket”,
construída pelo filho de George, Robert Stephenson em 1829, a viagem inaugural
é considerada o marco inicial das estradas de ferro, propagando-se rapidamente
pelo mundo.Todavia, a consolidação do sistema ferroviário no mundo deve ser
compreendida no contexto da afirmação do capitalismo, no século XIX. Segundo a
análise das professoras Vera Vilhena de Toledo, Maria Odette Brancatelli e
Helena Lopes, a ferrovia configurou-se em um investimento altamente rentável,
pois além de permitir maior precisão nos horários e, encurtando as distâncias,
barateou os custos dos transportes, “interligou diferentes mercados,
transportando grandes quantidades de carga; gerou empregos e a formação de uma
nova mão de obra especializada”. Nesse inédito cenário mundial, era nítida a
divisão dos países em dois blocos: os industrializados, que detinham o capital
e a tecnologia e os isentos, tanto de um como de outro atributo, sendo, então,
dependentes. Os primeiros forneciam produtos manufaturados, inclusive trens,
importando dos segundos, café, algodão, borracha, minérios, etc. Obviamente que
o saldo da balança comercial, pesava sempre de forma positiva para os
primeiros, em detrimento dos segundos, nos quais estava inserido o Brasil,
recém-emancipado do jugo do Império Ultramarino Português, e que almeja
“entrar” na era do revolucionário meio de transporte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>No alvorecer da dominação portuguesa, os colonos encontraram no índio o
meio eficaz de transporte de mercadorias, principalmente no sudeste do Brasil
com a prática do bandeirismo de preagem; eram utilizados tanto como bestas de
carga, como para a lavoura, apesar das constantes proibições régias e breves
papais. Na região açucareira do Nordeste, com a dizimação rápida dos
autóctones, o meio de transporte foi o escravo africano, sendo “auxiliado” pelo
carro de boi, o que não ocorria com os silvícolas. Como os índios foram
considerados “inaptos” para o trabalho, houve a “padronização” e, nos dois
séculos iniciais da fase colonial, “o único meio de transporte existente na
região sul do Brasil era o que se efetuava no dorso do escravo”, de acordo com
Acrilson de Carvalho e Levy Tenório da Costa. Outro meio de transporte que se
destacou foi o fluvial, com as monções que, partindo de São Paulo, seguindo
pelos rios Tietê, Paraná, Cuiabá e outros, atingiam regiões do atual Estado do
Mato Grosso, além de Goiás. Por outro lado, o muar foi amplamente utilizado a
partir da fase da extração aurífera nas Gerais, onde os escravos, então, eram
destinados somente à mineração, sob severa vigilância por parte da Coroa.
Partindo de Vila Rica e Diamantina, ouro e diamantes eram transportados em
lombo de burros, fortemente escoltados, em viagem pela Estrada Real, cruzando a
Serra da Mantiqueira na Garganta do Embaú, percorrendo o Vale do Paraíba, até Guaratinguetá;
daí até o povoado do Facão, onde seguia para Paraty, seguindo, por sua vez,
para o Rio de Janeiro. Mesmo com a abertura do Caminho Novo, de Garcia
Rodrigues Pais, ligando as Minas diretamente com o Rio de Janeiro, o trajeto
continuava penoso e cansativo. Recorrendo mais uma vez aos autores citados
anteriormente, os mesmos afirmam que o Caminho Novo, devido à “contingencias
políticas e interesses fiscais, foi o de maior importância, (...), onde a
topografia e a menor distância indicavam uma saída natural da capitania”. Sendo
assim, o Rio de Janeiro transformou-se na única porta de entrada e de saída da
região das minas, uma vez que, o Caminho da Bahia, ao norte, estava bloqueado
pela Coroa, que só permitia a entrada de bovinos para o abastecimento das
Gerais. Por outro lado, a conclusão do Caminho Novo da Piedade, propiciou a
circulação de nova atividade econômica, a do café, que iria encontrar nos
muares o meio excelente para o transporte da rubiácea, conduzido agora pelo
tropeiro. Transportando o café das fazendas para a Corte, onde eram embarcadas
para a Europa e, em menor escala, para o porto de Santos, o tropeiro trazia de
volta outros produtos, importados, para as fazendas e vilas, na viagem de
retorno. Os burros eram empregados, também para viagens comuns ou cientificas,
como as de Spix e Martius, Ender, Saint-Hilaire, Zaluar e outros. Mesmo a um
custo elevado, o transporte em lombo de burro foi o preferido, por não haver
alternativa, desde as décadas iniciais do século XVIII, até aproximadamente
1875, quando deixa de ser hegemônico, em decorrência do advento da ferrovia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Contrabandeado da Guiana Francesa para o Brasil em 1727 por Francisco de
Melo Palheta, o café foi cultivado de forma tímida, atendendo primordialmente
para o consumo interno, sendo plantado inicialmente em Belém do Pará. Em 1774,
João Gualberto Castelo Branco, foi transferido de Belém para o Rio de Janeiro
para assumir o posto de Desembargador, e trouxe consigo duas mudas de café. O
primeiro cafezal foi formado pelo holandês Van Mooke, na periferia da Corte, de
acordo com a análise do historiador Alves Motta Sobrinho. O gesto foi imitado
por diversos fazendeiros e com o incentivo de Dom João VI em 1817, “as
experiências já aprovadas foram-se repetindo, das chácaras da Tijuca e
Corcovado, no Rio, aos sítios da Baixada Fluminense, de onde os cafeeiros
marcharam sobre o Vale do Paraíba”. Expandindo-se, a partir da cidade de
Vassouras, no Vale Fluminense, o café logo atinge o Vale Paulista,
proporcionando o surgimento de imensas fazendas e Vilas ao longo do Caminho
Novo da Piedade, que em Lorena, ao “juntar-se” com o Caminho Velho dos
Paulistas, formaria a Estrada Geral, mencionada por Zaluar. No Vale Paulista, o
café teria a sua “capital”, na Vila do Bananal, a qual, devido à proximidade da
Corte, passou a exercer influência sobre as demais, como Areias, São José do
Barreiro, Silveiras, Lorena, etc. Baseado na grande propriedade, na monocultura
e no trabalho escravo, o café criou fortunas imensas, formou uma elite política
e econômica, a qual auxiliou o Império na Guerra do Paraguai, além de novos
estilos arquitetônicos, representados pelos soberbos solares rurais e urbanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Entretanto, o custo do transporte das sacas era muito elevado. Segundo
José Roberto do Amaral Lapa, conduzidas pelos tropeiros, as “tropas que
transportavam café, em São Paulo, chegavam a ter de 200 a 300 mulas cada”. O
autor destaca, no entanto, que as tropas de muares atuavam em distâncias
inferiores a 150 quilômetros dos portos, considerando antieconômico a
ultrapassagem de tal limite. Com o surgimento da ferrovia, o destino do café
ficaria totalmente relacionado a esse meio de transporte, o que não fez, porém,
que a atividade do tropeiro desaparecesse. Somente com o advento e consolidação
das rodovias, tal atividade entra em declínio. Os primeiros passos para
concretizar tal intento, ocorreram durante a Regência, quando o Regente, Padre
Diogo Antônio Feijó em 1835, sanciona a resolução da Assembleia Legislativa
Geral, a qual concedia o direito de privilégio exclusivo para, de acordo com
Hilton Federici, a “construção de uma estrada que, partindo da Capital do
Império, fosse ter às províncias de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia”.
Ninguém se interessou pelas garantias do governo e, somente em 1854, com a
iniciativa de Irineu Evangelista de Sousa, é que seria inaugurada a primeira
ferrovia no Brasil. Ainda, segundo Federici, a estrada ligava “o fundo da baía
da Guanabara (hoje Porto Mauá) até alcançar o começo da serra da Estrela, em
demanda da cidade de Petrópolis. (...) O objetivo máximo e primeiro era
alcançar a cidade serrana, o que só muito mais tarde foi conseguido”. A
empreitada do Barão, depois, Visconde de Mauá, foi o “pontapé” inicial para a
construção de novas ferrovias no Brasil, sobretudo no eixo Rio de Janeiro-São
Paulo, apesar da morosidade dos trabalhos. Em 09 de maio de 1855, através do
Decreto nº 1599, o Governo Imperial aprova e torna efetivos os Estatutos da
Companhia Estrada de Ferro Dom Pedro II, tendo os trabalhos iniciados em 11 de
junho do mesmo ano, conduzidas por uma empresa inglesa. Também, da mesma data
do Decreto 1599, outro determinava, segundo Hilton Federici, que a ferrovia,
partindo do Rio de Janeiro, “transpusesse a Serra do Mar e depois se dividisse
em dois ramais: um para a cidade de Cachoeira Paulista, enquanto o outro
deveria alcançar Porto Novo do Cunha, na fronteira mineiro – fluminense”. A
escolha do então, Porto da Cachoeira, pertencente à Vila de Lorena, para ponto
final dos trilhos, deveu-se ao fato de que nessa localidade, terminava a
navegabilidade do Rio Paraíba, a qual ia até a Vila de Jacareí; em sentido
oposto, o referido rio continha corredeiras até Queluz o que impedia qualquer
propósito de navegação fluvial. No dia 07 de agosto de 1864, os trilhos
alcançam Barra do Piraí, onde bifurcam-se nos sentidos previstos, ocorrendo
porém, a dissolução da companhia concessionária, devido a dificuldades
financeiras, sendo encampada pelo Governo Imperial que assumiu a ultima ação da
obra. Mas, somente em 20 de julho de 1875, a primeira locomotiva chega ao Porto
da Cachoeira, detendo-se na margem esquerda do Rio Paraíba, devido à falta de
uma ponte que ainda seria construída para interligar com a margem direita a
qual esperava os trilhos de outra estrada férrea. Analisando projeto, desde
1862, o Governo da Província de São Paulo, objetivava uma ferrovia que, com
inicio próximo da capital paulista, “cortasse” todo o Vale, em sua área plana,
com destino final, o Porto da Cachoeira, ponto previsto (e executado) para
término da Estrada de Ferro Pedro II. No entanto, somente em 1871, através da
Lei Provincial n° 28, de 24 de março, que o projeto “vingou”, surgindo a
Companhia São Paulo e Rio de Janeiro, assinando contrato com o Governo
Provincial no dia 02 de março de 1872. As obras dessa estrada, tornaram-se mais
agilizadas, na opinião de Federici, “por causa da rapidez com que os grandes
proprietários de café, enriquecidos por essa lavoura, haviam subscrito as ações
de constituição da empresa”. Partindo da Estação do Brás, na capital paulista,
a referida ferrovia tem seus trabalhos concluídos em 08 de julho de 1877, com a
chegada dos trilhos ao Porto da Cachoeira, detendo-se, na margem direita do
Paraíba.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Entrementes, a escolha do Porto da Cachoeira como ponto de junção das
duas ferrovias mexeu com os “nervos” da Câmara Municipal da Vila de Lorena, que
apesar de os trilhos chegarem em área de sua administração, os lorenenses
perceberam as vantagens econômicas que teriam. Segundo José Geraldo
Evangelista, os vereadores de Lorena não concordavam com o fato de Cachoeira
ser o ponto final da Estrada de Ferro Dom Pedro II, pois não passava de um
simples bairro do município; o ponto terminal devia ser o centro de Lorena,
“para onde convergiriam vários caminhos, ativando o seu comercio e fazendo
verdadeira captura econômica de todos os produtos que, do Sul de Minas e do
próprio Vale do Paraíba, buscavam os portos de São Sebastião, Ubatuba, Paraty e
Mambucaba”. Os edis de Lorena não aceitavam a ideia de que a ferrovia
preferisse um simples arraial à uma vila em processo de desenvolvimento. Porém,
como afirma ainda, o Prof. Evangelista, os engenheiros que construíam a E. F.
Pedro II estavam plenamente corretos em escolher Cachoeira, “porque a partir
daí seria possível a navegação fluvial no Paraíba, até além de São José dos
Campos e de Jacareí, terminando na Freguesia de Nossa Senhora da Escada, já
próxima a Mogi das Cruzes”. Sendo assim, como ponto de encontro de duas
estradas férreas, de bitolas diferentes – a “Pedro II” e a de 1,60 m e a “São
Paulo-Rio”, de 1,00 – tornava-se necessário a baldeação, em balsas pelo Rio
Paraíba, de cargas e passageiros, para atravessar de uma margem à outra. Isso
foi determinante para justificar as enormes dimensões da estação de Cachoeira. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A belíssima estação foi construída com três
torreões, servindo de dormitório para passageiros e funcionários em serviço. Dois
imensos galpões para receber café e cargas em geral, e enormes plataformas de
ambos os lados por embarque e desembarque de passageiros e a caixa d’água
completavam a gigantesca obra. No entanto, faltava a ponte sobre o Rio Paraíba,
o que, como já afirmamos, obrigava a baldeação. Na viagem inaugural, Cachoeira
recebera a chegada de duas composições: uma vinda do Rio de Janeiro, trazendo a
Princesa Isabel e seu esposo, Gastão de Órleans, o Conde D’ Eu; a outra vinha
de São Paulo e levaria o casal imperial até a capital paulista, após a penosa
travessia na balsa do Paraíba. No ano seguinte,1878, foi a vez do próprio
imperador atravessar o Paraíba na balsa, durante viagem realizada entre a Corte
e a capital bandeirante. A solução veio com a República, quando o governo encampa
a ferrovia paulista em 1890 e unifica a bitola para 1,60, equiparando-a com a
“Pedro II”, de cuja união resultaria na Estrada de Ferro Central do Brasil. Em
1893, é inaugurada a ponte férrea sobre o Rio Paraíba, resolvendo de vez a
questão da travessia nas balsas. Em que pese este incômodo para passageiros,
funcionários e comerciantes, o fato é que o antigo arraial vivenciou um surto
econômico e financeiro, o que era almejado pelos vereadores de Lorena, como já
citado. Isso influenciou a evolução política e, através da Lei Provincial n° 05,
de 09 de março de 1880, a Freguesia de Santo Antônio da Cachoeira é elevada à
vila, desmembrada da de Lorena, com o nome de Santo Antônio da Bocaína. No dia 08
de janeiro de 1883, utilizando um dos torreões da estação ferroviária como
sede, é instalada a primeira Câmara Municipal da Vila da Bocaína, tomando posse
os vereadores: Tenente Domiciano Rodrigues Pinto, Manoel Saturnino de Seixas,
Joaquim dos Santos Pinto Júnior, Tenente Joaquim José Rodrigues da Mota,
Joaquim Cândido Pinto, Joaquim Luiz de Freitas e Joaquim Pedro Barbosa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Consequentemente, após a inauguração da ponte férrea e a unificação das
bitolas, a direção da “Central do Brasil” instalou em Cachoeira, em 1895, a IL-8
(Oitava Inspetoria de Locomoção), com o objetivo de criar uma oficina de
reparos de locomotivas e vagões. O resultado foi a instalação de uma estrutura
organizada, composta por almoxarifado, escritórios e oficina adaptada com
aparelhos eletromecânicos, supervisionados por um engenheiro chefe, o qual
passou a residir na cidade. Mas não foi só Cachoeira a se beneficiar com a
chegada da ferrovia; por onde seu traçado “passasse”; era certo de que o
progresso viria, como veio para as cidades valeparaibanas. Para os autores,
Acrilson de Carvalho e Levy Tenório da Costa, a questão do traçado era de vital
importância para a sobrevivência das cidades, para o seu desenvolvimento ou
estagnação. O historiador Alves Motta Sobrinho também é enfático quanto à
questão, afirmando que “Ai daquelas vilas e cidades que lhe ficassem à
distância ou segregados. Foi o que aconteceu com Bananal, São José do barreio,
Areias, Silveiras, que não conseguiram inclusão na rota do trem, a despeito de
intenso trabalho naquele sentido, e depois tiveram que socorrer a ramais, para
não estiolarem de uma vez”. Bananal, por iniciativa dos Barões do Café, em
especial da família Vallim, conseguiu manter-se, construindo a sua própria
ferrovia, a qual entroncava-se com a E. F. Pedro II na Estação da Saudade, em
Barra Mansa. Quanto às demais, entraram para o rol das “Cidades Mortas”, como
Silveiras, que quase foi extinta como município. Tal ocorreu com o Jatahy,
tendo a maior parcela de seu antigo território, incorporado à Cachoeira
Paulista em 1934. Mesmo representando um fator de desenvolvimento econômico,
social e político, no último quartel do século XIX, a ferrovia chegou tarde ao
Brasil, em particular no Vale do Paraíba. Quando da viagem inaugural de Mauá,
do Rio de Janeiro às proximidades de Petrópolis, países como Argentina, Peru,
Chile, Cuba é México, já estavam construindo ferrovias, ao passo que os Estados
Unidos já contavam com mais de 14 mil quilômetros de caminhos de ferro. Apesar
de garantir o escoamento rápido das sacas de café, destinados à exportação,
racionalizando e reduzindo custos dos transportes, com o barateamento do frete,
o cultivo da rubiácea já estava entrando em declínio. Ainda assim, a estrada de
ferro deixaria o tropeiro de lado, ficando sua atividade restrita ao comércio
entre vilas e fazendas desprovidas da locomotiva. Como, no entanto, o Vale do
Paraíba iniciava a atividade pecuária leiteira, a estrada de ferro foi, novamente,
um fator positivo para o transporte das cooperativas que surgiam, bem como do
transporte de gado, comercializado entre fazendeiros da região. Outra novidade
foi o estímulo ao transporte de passageiros, sendo os quais divididos em
classes. Segundo Vera Vilhena de Toledo, Maria Odette Brancatelli e Helena
Lopes, nos vagões de primeira classe “as poltronas eram de dois lugares, com
encosto móvel, recobertas de couro ou palhinha, enquanto que nos de segunda
classe eram de madeira. Como que prevendo os futuros transportes coletivos
atuais, já em 1888, os diretores das companhias ferroviárias, retiram os bancos
dos vagões de terceira classe, para que os passageiros viajassem de pé, a fim
de ‘encherem’ os referidos vagões”. Dessa forma, proporcionado pela ferrovia,
Cachoeira mantém o status privilegiado, a ponto de, em 1928, o então Presidente
da República, Washington Luís, inaugurar a Rodovia Rio-São Paulo, em Cachoeira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Contudo, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, Cachoeira foi
bombardeada pelas forças legalistas de Getúlio Vargas. Os alvos eram as
instalações militares na cidade, incluindo a estação ferroviária, de onde saía
o trem blindado, que fustigava as linhas federais em Queluz. Apesar do intenso
bombardeio, a estação sofreu poucas avarias e, mais uma vez a História de
Cachoeira, relacionava-se à da ferrovia, ainda que em momentos turbulentos.
Porém, com a instalação da indústria automobilística “nacional” no governo de
Juscelino Kubistschek, o sistema ferroviário cede espaço ao rodoviário,
principalmente após a inauguração da Rodovia Presidente Dutra. Como sinônimo de
modernidade, os automóveis e os ônibus transformaram-se nos meios de
transportes preferidos para viagens a passeio ou trabalho, enquanto que o
caminhão teve o mesmo efeito para o transporte de cargas. Aos poucos, a demanda
por passageiros vai sendo reduzida, cujos efeitos são, redução das linhas
regulares, desativação de postos de abastecimento, estações, até das próprias
ferrovias. A Estação Ferroviária de Cachoeira Paulista foi desativada em 1974 e
o último trem de passageiros a circular pelo Vale do Paraíba, passando em
Cachoeira Paulista, foi o trem de prata, desativado com a linha em fins de
outubro de 1998. Atualmente, ainda circulam trens em Cachoeira, transportando
minérios ou quaisquer tipos de cargas. As raras paradas na cidade são próximas
à oficina de reparos, reativado recentemente. Quanto à estação, a mesma foi
tombada pelo Patrimônio Histórico em 18 de abril de 1982 e, desde então sofre
com o completo abandono. Também, recentemente foi aprovado projeto de restauro
da mesma, bem como da possibilidade de se implantar uma linha de trens
turísticos de ida e volta até a cidade de Aparecida. A efetivação de tais
projetos propiciaria à Cachoeira Paulista resgatar a maior parte de seu passado
histórico e de sua identidade, quando um dia uniu duas importantes ferrovias do
Império do Brasil e fez transportar o “rei-café”.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eddy
Carlos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">Referências
bibliográficas.<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">CARVALHO e COSTA, Acrilson de e Levy Tenório da. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Ferrovia no Vale do Paraíba. Opulência e
Decadência. </b>Trabalho de Graduação em História pela UNIVAP. São José dos Campos,
1996. Edição mimeografada.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">EVANGELISTA, José Geraldo. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Lorena no Século XIX</b>. Coleção Paulística. Volume VII. Governo do Estado
de São Paulo. São Paulo, 1978.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">FEDERICI. Hilton. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">História de Cruzeiro. Volume II. (Da Instalação do Município-1873 – até
a Transferência da Sede – 1901). </b>Publicações da Academia Campinense de
Letras. Campinas, 1978.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">FÉLIX, Sandra Regina (Org.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cachoeira Paulista. Fé, História e Tradição</b>. Editora Noovha
América. São Paulo, 2005.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">LAPA, José Roberto do Amaral. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Economia Cafeeira</b>. Coleção Tudo é História n° 72. Editora
Brasiliense. 5° edição. São Paulo, 1993.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">RAMOS, Agostinho<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">.
Cachoeira Paulista. 1780-1970</b>. 2 volumes. IHGSP. São Paulo, 1971.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">SOBRINHO, Alves Motta. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Civilização do Café</b>. Editora Brasiliense. 3° edição. São Paulo,
1978.</span><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-left: 2.85pt; mso-outline-level: 1;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;">TOLEDO, BRANCATELLI e LOPES, Vera Vilhena de, Maria
Odette e Helena<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">. A Riqueza nos Trilhos.</b>
História das Ferrovias no Brasil. Coleção Desafios. Editora Moderna. São Paulo,
1998.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></p></div>Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-42638221952879658662020-07-02T07:14:00.002-07:002020-07-02T07:14:49.421-07:00Onde se Fazem Anzóis.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirpcSZlIqzPjxvZvpednIYxiQgLcRZ5_5LmnoE8edL8bxQ30SRnLjYG9MPBwVSyEiKLcakyzX5piEuN8VAxDhRyGCDoR2yAnqUSaCX59_-Q5WWXi7tkDcZN5DfT6ckK6Lt5HKkNs6EZ2Wx/s1600/Pinda..jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="564" data-original-width="638" height="564" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirpcSZlIqzPjxvZvpednIYxiQgLcRZ5_5LmnoE8edL8bxQ30SRnLjYG9MPBwVSyEiKLcakyzX5piEuN8VAxDhRyGCDoR2yAnqUSaCX59_-Q5WWXi7tkDcZN5DfT6ckK6Lt5HKkNs6EZ2Wx/s640/Pinda..jpg" width="640" /></a></div>
A Vila de Pindamonhangaba em 1827.<br />
FONTE: tela de Jean-Baptiste Debret. Viagem Pitoresca ao Brasil.<br />
<br />
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> Em artigos anteriores, mencionamos que a política de expansão colonial lusitana nos trópicos causou a escravidão e o consequente extermínio de diversas nações indígenas, as quais opunham feroz resistência contra os invasores europeus. A determinação em livrar Pindorama dos portugueses proporcionou até mesmo a aliança de alguns autóctones com os franceses que não reconheciam o direito garantido à Portugal e Espanha de dividir o “novo mundo” pelo Tratado de Tordesilhas. Tal aliança se materializou durante a Confederação dos Tamoios que por pouco não causou a expulsão dos lusos. Outra forma de domínio foi a catequização dos silvícolas nas reduções jesuíticas, tornando-os presas fáceis para o bandeirismo de preagem. Seguindo o curso dos rios, os habitantes do planalto de Piratininga realizavam incursões pela selva no encalço dos indígenas causando morte, destruição e fazendo inúmeros cativos para as plantações da nascente colônia do Ultramar. Também citamos em diversas ocasiões que os bandeirantes, ao seguir o curso do Rio Paraíba do Sul, guerreavam, aprisionavam e matavam os índios Puris, empurrando-os para as encostas da Serra da Mantiqueira para “limpar” o terreno e estabelecer diversas povoações ao longo do referido rio. Dessa forma surgem povoados que se tornariam as atuais cidades de Taubaté (1645), Guaratinguetá (1651), Jacareí (1653), entre outras. Após a elevação de Guaratinguetá à condição de Vila, estabelece-se entre esta e a Vila de Taubaté um arraial, cujas origens são ainda, até hoje, debatidas no meio acadêmico. Para os autores Enio Squeff e Helder Perri Ferreira, tal povoado, que mais tarde daria origem à atual cidade de Pindamonhangaba surgiu em 1643, em torno de uma capela construída pelo padre João de Faria Fialho sob a invocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso, e em terras do norte de Taubaté. Uma segunda capela teria sido construída em outro local com o nome de São José de Pindamonhangaba. As informações, porém, causam dúvidas, pois Taubaté só seria elevada à Vila em 1645, conforme já citamos anteriormente. Já Nice Lecocq Müller ao analisar a Comissão Central de Estatística, cita como marco inicial de Pindamonhangaba o ano de 1690, também defendido por Eugênio Egas, não descartando, no entanto, a hipótese da existência de um pequeno arraial entre 1640 e 1665. O que é aceito como a data oficial é a própria capela de São José, iniciada no dia 12 de agosto de 1672 em terras que Antônio Bicudo Leme e Braz Esteves Leme adquiriram da Condessa de Vimieiro. Ainda, segundo a explicação oficial, defendida por Squeff e Ferreira, no local abundava um tipo de palmeira, cujo espinho era utilizado para fabricar pindás, o que na língua tupi significa anzol. Daí a junção de pindá (anzol) com monhang (fazer) e aba (lugar), formando o topônimo “pindá monhangaba”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> Entretanto, o Prof. Waldomiro Benedito de Abreu contesta a versão oficial, pois “não se sabe quando se deu a construção da capela ou igreja, nem quando ocorreu o desmembramento, se posterior; tampouco se conhece o nome de seu autor ou autores, não podendo atribuir-se a Antônio Bicudo Leme, sem prova documental”. O ilustre professor considera como a primeira capela de Pindamonhangaba a que foi construída pelo Capitão Manoel da Costa Cabral, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição por volta de 1654. Porém, a provisão passada para legitimar tal capela só viria em 1663, concedida ao filho homônimo de Manoel Cabral, que havia falecido em 1659. Apesar de tudo, Waldomiro de Abreu levanta a hipótese de que, a sesmaria doada a João do Prado Martins, em 22 de julho de 1643 é a que configura com a fundação do povoado nas paragens de “pinda monhangaba”, antes da emancipação de Taubaté, conforme já citado. Recorrendo a outras fontes encontramos a afirmação de Azevedo Marques de que Pindamonhangaba foi fundada pelo Padre João de Faria Filho em fins do século XVII, além de citar também como co-fundadores Braz Esteves Leme, Antônio Bicudo Leme, Manuel da Costa Leme e outros, o que corrobora a análise de Enio Squeff e Helder Ferreira. Independentemente de quem foi o fundador e o ano exato, pois os documentos são escassos, o povoado torna-se bairro da Vila de Taubaté e a sua obscura origem é aceita pela maioria dos pesquisadores como Patrimônio Religioso no crepúsculo do século XVII. Como bairro taubateano, o povoado ostentava o nome de Nossa Senhora do Bom Sucesso, apesar de, segundo Waldomiro de Abreu, não ter sido encontrado nenhum documento oficial que tivesse criado no local a freguesia. Ainda assim em inventários e testamentos, o local era denominado como Freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso até 1705. </span><br />
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> Nos primórdios do século XVIII, os habitantes do povoado iniciam uma campanha para a elevação à Vila, recebendo forte oposição da Câmara de Taubaté. Entre a Vila-mãe (Taubaté) e o bairro teria havido desníveis psicológicos, de acordo com Abreu, oriundos da lendária disputa entre os clãs paulistas dos Pires e Camargos, cujos descendentes habitavam Pindamonhangaba e Taubaté respectivamente. A disputa pela emancipação teria levado ao confronto armado por volta de 1703. Encontramos eco na análise de Azevedo Marques, quando o mesmo afirma que o povoado foi elevado “ à vila ilegalmente pelo desembargador José Saraiva de Carvalho, mas confirmada dois ou três anos depois (sic.) por provisão de 10 de julho de 1705. Isso quer dizer que os habitantes de Pindamonhangaba elevaram o povoado a condição de Vila à revelia do poder público, o que configurava crime de lesa-majestade. Seus líderes poderiam ser reprimidos pelas autoridades do Reino e o povoado continuar sob o jugo da Vila de Taubaté. Consequentemente, a Coroa Portuguesa resolve anistiar os rebelados e manter o povoado na condição de vila, contrariando os camaristas taubateanos. Como já citado e referenciado em Azevedo Marques, através da Carta Régia de 10 de julho de 1705 é confirmada a criação da Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Pindamonhangaba.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> A base econômica não só de Pindamonhangaba, mas de todo o território valeparaibano era a agricultura de subsistência (milho, feijão, fumo, cana, etc.) e a criação de porcos; quando havia excedentes, esses eram comercializados, como o caso da aguardente e fumo, além de toucinho. Mesmo com a quase despovoação do território decorrente da atividade aurífera, os habitantes restantes tiravam a sua renda da terra, graças ao trabalho escravo. Recorrendo novamente a Nice Lecocq Müller, verificamos que durante o século XVIII, especificamente no período 1767-1774, constante nos Mapas de População, a maioria dos declarantes identifica-se como lavradores, sendo 62% em Pindamonhangaba. Ainda não era chegada a fase de esplendor que o café propiciaria no Vale do Paraíba a partir de Bananal. Como não poderia ser diferente, Pindamonhangaba também foi visitada pelo botânico francês Saint-Hilaire. No seu diário, o viajante narra que no dia 25 de março de 1822, seguindo rumo a Taubaté, detém se por alguns instantes em Pindamonhangaba. Considerando-a pouco importante por ter apenas uma rua, o francês afirma que as “casas são baixas, muito pequenas, mas cobertas de telhas, bastante limpas e geralmente bem conservadas. Existem em Pindamonhangaba três igrejas muito pequenas. Entrei na principal e achei-a escura e bastante feia”. Passa também por Pindamonhangaba, quase quarenta anos mais tarde, Augusto Emilio Zaluar, dando destaque ao grande número de morféticos existentes na vila, “que em chusmas invadem a cidade aos domingos a solicitar a caridade pública, e dando o doloroso espetáculo da mais horrível miséria.” </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">Por outro lado, os lucros auferidos pelo cultivo da rubiácea sob o látego do feitor nas costas dos escravos proporcionou o surgimento de uma nobreza “cafeeira” com seus imponentes casarões nos centros urbanos e nas propriedades rurais.</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> Na Vila de Pindamonhangaba existiram diversas fazendas do período do café, destacando-se: a Mombaça e Trabiju, do Barão de Pindamonhangaba; Ribeirão Grande, da Viscondessa de Paraibuna; Teteqüera, do Barão de Itapeva; Piracuama, de Francisco Inácio de Moura Marcondes; Coruputuba, de José Moreira César; Bonfim, do Barão de Taubaté; Saca Trapo, de Manoel Bicudo de Siqueira Salgado; Vaticano, de Francisco Santos, entre outras. Não podemos, porém, deixar de mencionar a Fazenda das Palmeiras, situada próxima ao Ribeirão do Pouso Frio e o Córrego da Prata, adquirida por Antônio Salgado da Silva em 1853 (Visconde da Palmeira em 1868), além do palacete do mesmo proprietário localizado no centro da cidade. </span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> No ano de 1876, Pindamonhangaba possuía 14.636 habitantes, sendo 3.718 escravos e 36 eleitores de contar quatro cadeiras de instrução pública primária para meninos e meninas. Para o ano fiscal de 1869-1870, segundo Azevedo Marques, as rendas públicas foram da seguinte ordem: Municipal, 8:022$420; Provincial (equivalente a Estadual), 4:171$325, Geral (equivalente a Federal) 17:765$905. A novidade é o funcionamento da “casa de Misericórdia e um pequeno hospital para morféticos”. Nessa época era grande a expectativa em Pindamonhangaba pela chegada da ferrovia que viria dinamizar o meio de transporte de carga e de passageiros. Para a produção cafeeira, embora já decadente devido ao desgaste do solo, significou um escoamento rápido das sacas para os portos de embarque para os mercados consumidores, europeu e norte-americano. Os trilhos da Estrada de Ferro São Paulo-Rio de Janeiro chegam a Pindamonhangaba no dia 18 de janeiro de 1877, quando é inaugurada a estação ferroviária (atualmente desativada). Em 1898 é inaugurada a estação de Moreira César no local onde outrora em 1880 funcionava o posto telegráfico Barranco Alto. O nome da estação foi uma homenagem ao Coronel do Exército, Antônio Moreira César, nascido em Pindamonhangaba, famoso pela crueldade na repressão aos rebeldes durante a Revolução Federalista de 1893 no Rio Grande do Sul, quando mandava aplicar a “gravata” vermelha nos prisioneiros. Devido à façanha ganhou a alcunha de “Corta-Cabeças”; foi morto por jagunços de Antônio Conselheiro no dia 3 de março de 1897, quando chefiava a 3ª Campanha da Guerra de Canudos. Uma outra estação é inaugurada em</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">1937 nos limites de Pindamonhangaba, a de Coruputuba.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> Contudo a cidade de Pindamonhangaba possui algumas particularidades que chamam a atenção e merecem ser relatadas. Recebendo algumas denominações adicionais como Imperial e Princesa do Vale, a referida cidade sempre atuou no ramo da música, ficando famosa pela Corporação Euterpe, fundada a 25 de agosto de 1825, em atividade até pelo menos o final da década de 1980, sendo então considerada a mais antiga banda de São Paulo, com destaque para o Maestro João Gomes de Araújo (1846-1943). A mencionada banda foi prestigiada por D.Pedro II e Carlos Gomes em apresentação na Corte. Também tem destaque em Pindamonhangaba, a imprensa com o jornal Tribuna do Norte, fundado em 1822 por João Romeiro, ainda em circulação, também em fins da década de 1980. Atualmente, Pindamonhangaba está inserida no eixo industrial Rio-São Paulo, ocupando espaço no desenvolvimento local, regional e nacional, buscando equiparar-se a cidades de grande porte no Vale do Paraíba como São José dos Campos e Taubaté, bem diferente daquela pequena e perdida paragem, próxima à trilha dos bandeirantes, onde se faziam anzóis. Até a próxima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<b><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">Dicas para consulta.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">ABREU, Waldomiro Benedito de. <b>Pindamonhangaba. Tempo e Face</b>. Editora Santuário. Aparecida, 1977.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">SQUEFF e FERREIRA, Enio e Helder Perri. <b>A Origem dos Nomes dos Municípios Paulistas</b>. Imprensa Oficial. São Paulo, 2003.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">MARQUES, Manuel Eufrásio de Azevedo. <b>Apontamentos Históricos e Geográficos da Província de São Paulo</b>. Biblioteca Histórica Paulista. Volume I. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">MÜLLER, Nice Lecocq. <b>O Fato Urbano na Bacia do Rio Paraíba. São Paulo</b>. IBGE. Rio de Janeiro, 1969.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">SAINT-HILAIRE, Auguste de. <b>Segunda Viagem a São Paulo</b>. Biblioteca Histórica Paulista. Volume VI. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">ZALUAR, Augusto Emílio. <b>Peregrinação Pela Província de São Paulo (1860-1861</b>). Biblioteca Histórica Paulista. Volume II. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<b><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">E-mail:</span></b><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> <a href="mailto:eddycarlos@ymail.com">eddycarlos6@gmail.com</a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<b><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;">Blog:</span></b><span style="font-size: 12pt; line-height: 24px;"> redescobrindoovale.blogspot.com.br<o:p></o:p></span></div>
<br />Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-69081908494942356862020-06-26T05:38:00.000-07:002020-06-26T06:05:17.226-07:00A Era do Divino.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge8Co4VIZjTU70IcXPkkcNwl4K-xKrBZKPhFSofgtyMAUQyFt0Fy7aHoMcTiBtzRbQ1cP73x5GMS_AGLl5oKYekrFD3akqsKrO0IDf_d5FfmQm8xJ9rQoZA07hALrFEPvshbM6_1eqbaHB/s1600/Toninho+Alves.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="539" data-original-width="960" height="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge8Co4VIZjTU70IcXPkkcNwl4K-xKrBZKPhFSofgtyMAUQyFt0Fy7aHoMcTiBtzRbQ1cP73x5GMS_AGLl5oKYekrFD3akqsKrO0IDf_d5FfmQm8xJ9rQoZA07hALrFEPvshbM6_1eqbaHB/s640/Toninho+Alves.JPG" width="640" /></a></div>
Eddy Carlos com o Mestre Toninho Alves em Cunha, 09 de julho de 2014.<br />
Fotografia do Prof. Luís Henrique Guimarães.<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Conforme está descrito nos Evangelhos, após o batismo de Jesus, pelo essênio João Batista, nas águas do Rio Jordão, o Espírito Santo apareceu em forma de pomba, afirmando a divindade do Messias. Em outro episódio, após a Ascensão de Cristo, os Apóstolos reunidos no Cenáculo em Jerusalém, recebem o Espírito Santo, também no formato de uma pomba, a qual “solta” sobre cada um deles, uma língua de fogo. Chamada de Pentecostes, essa manifestação do Divino Espírito Santo, segundo a Igreja inicia a evangelização e conversão dos povos pagãos. Na liturgia católica, um dos dogmas é a Santíssima Trindade; três pessoas distintas em uma só: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Com a expansão do cristianismo, sobretudo na Europa, e a consolidação da Igreja Católica após a queda de Roma, os povos convertidos passam a ser influenciados pela religião. Por volta do século XIV em Portugal, a Rainha D. Isabel (1271-1336), esposa do Rei D. Diniz (1261-1325), teve a iniciativa de comemorar com festas e folias o Divino Espírito Santo. Em meio aos festejos havia já o costume de distribuir alimentos aos pobres, além da solicitação de esmolas para o Divino. A iniciativa da monarca lusitana era em prol da construção da Igreja do Divino Espírito Santo de Alenquer. Segundo a análise do Prof. Henrique Alckmin Prudente, a rainha “procedia à distribuição de alimentos a enfermos e pobres em conjunto com os foliões do Espírito Santo, com o que seria, em verdade, na Folia do Divino Espírito Santo”. A distribuição gratuita de alimentos aos mais necessitados teria surgido entre os gregos, costume assimilado pelos romanos, que a chamavam de “panis gradilis”. Com a conquista da Ibéria chegou à Hispânia e à Lusitânia durante a dinastia dos Antoninos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os festejos em hora ao Divino iniciados pela rainha portuguesa se destacaram no calendário religioso, sendo realizados cinqüenta dias após a Páscoa. De acordo com a historiadora Martha Abreu, as celebrações de Pentecostes, nas quais se homenageava a terceira pessoa da Santíssima Trindade, “eram as únicas no século XIV, em que as Ordenações do Reino permitiam a tradicional distribuição de comidas aos pobres, “os vodos”. Desde os primeiros tempos, no domingo de manhã, um sacerdote comandava a solenidade de coração do imperador simbólico e dos dois reis que o assistiam; a rainha Isabel convocava a nobreza a participar”. No início do século XVI, com a colonização nos trópicos, Portugal trouxe para o Brasil, além de sistemas políticos e econômicos, os costumes e a religião católica, e os festejos em homenagem ao Divino. Segundo Martha Abreu, vindas do Reino, as festas do Divino “continuaram se realizando com muita pompa em várias cidades, sendo que o viajante norte-americano Thomas Ewbank, em 1846, chegou a considerá-las como as mais populares do país”. No caso do Rio de Janeiro, as festividades devem ter se tornado mais evidentes após a chegada da família real em 1808. Apesar de impressionar os estrangeiros como afirmado por Martha Abreu, as autoridades ao longo do século XIX tentaram controlar as cerimônias. As alegações variavam desde a preocupação com o ajuntamento de escravos e negros libertos até a prática de jogos de azar. Foram várias publicações de leis e códigos de postura variando desde a proibição direta à tolerância, tentando regulamentar e isolar as cerimônias realizadas. Diversos pedidos de licença foram sumariamente negados e, quando concedidos, exercia-se uma rigorosa fiscalização. Por outro lado, a Igreja não via com bons olhos a livre manifestação popular. Com a ocorrência de divertimentos profanos, paralelo ao religioso, o clero alegava que os fiéis cairiam no pecado ao invés de reverenciar o Divino. Na realidade, ocorria também um sincretismo religioso, devido à grande participação de negros e mulatos, escravos ou libertos. Assim, conjuntamente com a administração colonial, temia-se a desordem e a possibilidade de revoltas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na década de 1830, o controle foi mais severo, principalmente após a Revolta dos Malês em 1835, ocorrida na Bahia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Segundo Henrique Alckmin Prudente, a simbologia dos festejos em honra do Divino está centrada “na figura representada pela pomba branca junto de um resplendor, pela bandeira do próprio Divino, utilizada durante as folias, pelo cetro e pela coroa, objetos pertencentes ao Imperador, podendo este ser uma criança ou um adulto”. Martha Abreu afirma que no início do século XIX, antes das fiscalizações, a festa por ser importante e por ter “um imperador”, teria levado José Bonifácio a optar pelo título político idêntico a Dom Pedro, devido ao fato de a massa não estar habituada com o de “rei”. A afirmação da autora é baseada em tese de Câmara Cascudo e, verídico ou não, na realidade, a liderança política pós-independência trabalhava com o fato das dimensões territoriais do Brasil, atrelado ao antigo projeto lusitano de criar um império nos trópicos. Retornando à festa do Divino, Laílson Santos e Robson Regato descrevem a simbologia e as cores dos dons espirituais. Segundo os autores, a bandeira vermelha é o símbolo sagrado<span style="color: red;"> </span>do Divino; a pomba branca, manifestação de Deus; as fitas coloridas os dons, sendo que a cada graça alcançada um nó é feito em cada uma delas; a coroa, o símbolo do Império, instituída pela rainha Isabel. Por sua vez, as cores dos dons do Divino são: azul, significa sabedoria; prata, o entendimento; verde, conselho; vermelho, fortaleza; amarelo, ciência; azul escuro, piedade; roxo, temor a Deus.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Além do Rio de Janeiro, o Divino era eloquentemente festejado em Salvador, Recife, Diamantina, Montes Claros, Perinópolis, Olímpia, Paraty, Ubatuba, Mogi das Cruzes, etc. Nesta última, que ainda comemora o evento há pelo menos 300 anos, ainda utiliza-se o carro de boi nos cortejos. De acordo com o ilustre jornalista Darwin Antônio de Godoy Valente, o “som agudo das violas caipiras e das vozes de seus tocadores rasga o silêncio do final de madrugada, no centro urbano de Mogi das Cruzes. O dia ainda não amanheceu quando, em meio à neblina que tinge as ruas de cinza, começam a surgir, às centenas, velhos, moços e até crianças, vindos dos mais distantes pontos da cidade. Os devotos do Divino Espírito Santo vencem o frio e caminham em direção à luz forte e avermelhada que emana de um altar. Ali reina, soberana, uma pomba branca rodeada de bandeiras encarnadas. É no Império, símbolo da morada do Espírito Santo, que começa a Alvorada, uma das mais fortes demonstrações populares de religiosidade de uma festa onde a fé no Divino é o caminho mais curto para<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>aproximar o profano e o sagrado, o folclórico e o religioso, numa simbiose muito próximo da perfeição”. Em sua análise Darwin destaca algumas das principais rezadeiras de Mogi das Cruzes, como Dona Rita Ana Nascimento Eugênio, “Nhá Zefa Onça”, entre outras.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Todavia, Alckmin Prudente ao analisar a obra de Percival Tirapeli, assinala que o primeiro registro da manifestação da festa do Divino, foi realizado em 1761 na Vila de Guaratinguetá. Assim como ocorrera em outras cidades conforme já mencionamos, no Vale do Paraíba, os festejos propagaram-se espalhando por locais, como Aparecida, Lagoinha, Santo Antônio do Pinhal, São Luiz do Paraitinga, São José dos Campos e, principalmente em Cunha. Porém devido ao antagonismo latente entre o catolicismo oficial e o popular, de acordo com o Prof. Henrique, os “dois aspectos supracitados não se intercalaram de forma harmônica, mas apresentaram significativos descompassos culminando com a própria extinção da festa” em Guaratinguetá. De acordo com Tirapeli, a Festa do Divino em Guaratinguetá seguiria o entusiasmo marcante durante mais de dois séculos e meio, “para terminar na década de 1920, com sua proibição não somente pelo Vigário da Paróquia, mas, igualmente, pelo Delegado de Policia, em vista do acontecimento da morte de um homem pisoteado pelo povo na distribuição da carne na porta do mercado municipal”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Como afirmado, a Igreja temia que os festejos saíssem de sua esfera de controle e apesar da proibição total como fez o Vigário de Guaratinguetá, a manifestação da cultura popular resistiria. Conseguindo o controle, porém, as autoridades eclesiásticas, cooptando lideres ou tolerando tacitamente, acaba assumindo o encargo da organização dos festejos. Passa a serem proibidas algumas diversões e manifestações profanas, mantendo o caráter puramente religioso. Para Jaqueline Baumgratz, em São Luiz do Paraitinga, a Festa do Divino possui uma grande importância devido à tradição com que é realizada. Na década de 1960, o Município de Lagoinha também possuía como forte tradição “esta festa que, geralmente, tomava uma dimensão ainda maior que as atuais, devido ao forte apoio da igreja e dos governantes municipais.” Notamos aqui a intervenção do poder público na organização da festa. Anteriormente o mesmo procurava coibir os festejos, como vimos na análise de Martha Abreu. Porém, até que ponto tal intervenção pode estimular os festejos?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao longo do século XX, com o avanço da industrialização que “modernizou” o Vale do Paraíba, muitas festas, além da do Divino, foram perdendo importância, como a de São Benedito, Folia de Reis, Congada, Moçambique, Jongo, etc. Isso deve-ser ao fato de que a industrialização somada à urbanização descontrolada, “tirou” o homem do campo, desestruturando antigos laços de convivência solidária, outrora existente no mundo rural. Por outro lado, os antigos mestres organizadores da cultura popular vão também desaparecendo sem ninguém para substituí-los. Os jovens são iludidos sobre as “facilidades” da vida nos grandes centros urbanos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Dessa forma, em algumas localidades, a intervenção do poder público, através das Secretarias de Cultura, acaba fomentando e proporcionando a continuação dessas práticas culturais. É o que ocorre em Cunha, sendo a data da Festa do Divino Espírito Santo fixada no mês de julho de cada ano, através da Lei Municipal nº. 798, de 5 de maio de 1998. De acordo com Alckmin Prudente, a referida lei “no caput do artigo 2º. também qualifica a Festa do Divino Espírito Santo de Cunha como patrimônio cultural municipal: ‘A festa do Divino Espírito Santo é Patrimônio Cultural do Município de Cunha, devendo ser incentivada e comemorada no terceiro Domingo do mês de Julho e semana antecedente’”. Em São Luiz do Paraitinga, uma casa é destinada, durante as comemorações, a se tornar a Casa da Festa e, junto dela ou em outra cedida, se estabelece o Império do Divino. Jaqueline Baumgratz afirma que é no “Império” que ficam alojadas os ornamentos e fitas, sendo a ampla sala ornamentada com as mesmas fitas coloridas para serem beijadas pelos fiéis. “É na sala do Império que se concentram as bandeiras trazidas pelas diversas folias do Divino” no decorrer da festa. Na referida cidade destaca-se entre outras pessoas, Dona Benedita Antunes, mais conhecida como Didi dos Anjos, responsável há mais de 60 anos, pela decoração das salas dos Impérios do Divino. Ainda de acordo com Jaqueline, durante as comemorações em São Luiz é comum os cortejos a cavalo, as cavalhadas e a exibição dos bonecões João Paulino e Maria Angú, “não podendo faltar o levantamento do Mastro e claro, a fartura dos tradicionais pratos”, principalmente o “afogado”, típico da região. No século XIX, a festa era muito popular também em São José dos Campos, segundo Agê Júnior. Os preparativos se iniciavam uma quinzena antes com o levantamento do mastro. O local era o Largo da Matriz, para onde era levado o mastro por condutores mascarados, em procissão com partes dos fiéis vestidos de anjos e virgens, em meio aos espetáculos pirotécnicos. Assim, de acordo com Agê, estava “iniciada a Festa do Divino, com as rezas, leilões e prendas, onde destacavam-se as saborosas leitoas de couro bem pururuca, gordas perdizes e perús assados”. O autor destaca ainda os folguedos populares, a parte profana, com “samba e batuque, que só terminavam ao clarear da manhã seguinte”. Era o mesmo cenário descrito por Martha Abreu no Rio de Janeiro. No dia da festa propriamente dita, o Imperador, citado por Agê Júnior como festeiro, oferecia um grande jantar para a multidão, que consumia quantos bois, galinhas e porcos fossem precisos. Após o jantar, servido às 15 horas, realizava-se a procissão de encerramento da cerimônia religiosa. Mas a festa prosseguia. Durante a noite, “baile para a sociedade e fandango para o povo, encerram mais uma tradicional festa do Divino Espírito Santo”. Percebemos na citação de Agê Júnior, uma segregação entre os fiéis do Divino, quando é oferecido dois tipos de divertimentos, de acordo com a classe social. O fato é que, atualmente a Festa do Divino em São José dos Campos ficou restrita a alguns bairros, como o Distrito de Eugênio de Melo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Entretanto, apesar de mantida por algumas cidades como afirmado, a Festa do Divino mais famosa e em evidência continua sendo a de Cunha. O Prof. João José de Oliveira Veloso afirma que a mesma foi muito bem organizada desde os tempos coloniais pela Irmandade do Santíssimo Sacramento fundada em 1754. Em 1878, segundo o autor citado, a festa em honra do Divino, destacou-se por ter sido uma das maiores celebrações de Cunha, em que se mesclaram o profano e o religioso. Naquela época, a comemoração era realizada entre setembro e outubro, envolvendo “a classe latifundiária, camponeses e a própria igreja, que por sua vez, organizava programas especiais, trazendo (...) oradores famosos, proferindo os mais lindos sermões já ouvidos”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Prof. Veloso afirma ainda que a festa de 1878, cujo festeiro foi o Sr. Pedro Izaltino de Gouveia Veiga (tabelião do Cartório) agradou tanto, tendo inclusive a presença do Bispo de São Paulo, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho. O povo “vangloriava-se por sua presença e a igreja rejubilava-se pela visita do pastor a seu humilde rebanho”. Na realidade, o poder clerical havia assumido o controle das manifestações religiosas, pois em plena época de campanha abolicionista era preciso manter “rédea” firme, sem radicalizar nas proibições como faria o Vigário de Guaratinguetá 42 anos depois.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mesmo tendo o apoio da Prefeitura e da Igreja, que controlam com muitas exigências e proibições parciais, a Festa do Divino prossegue. Apesar do apoio logístico que o poder público garante como a utilização de caminhões, uma das reivindicações dos organizadores não é atendida. Analisando os festejos de 2008 e 2009, Henrique Alckmin Prudente afirma que o Vigário da cidade aponta a necessidade da remoção dos shows musicais da páteo lateral e adjacências da Igreja Matriz. O evento “moderno” com som eletrônico, somado com algazarra e sujeira acaba ofuscando o principal espetáculo. Segundo Henrique, “ao se fundir o lado religioso da Festa do Divino com atratividade turística em prol da identidade cultural, a incompatibilidade entre o palco e sua utilização desarticulada com a Igreja acaba gerando situações conflituosas”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Apesar disso a situação prossegue; antes reprimida pelas autoridades, a “diversão” profana e incômoda é tolerada. Na festa deste ano de 2014, os eventos musicais para turistas ocorreram “normalmente” atrapalhando as comemorações do Divino.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Na mesma semana em que ocorreu a Festa do Divino em Cunha, o Instituto de Estudos Valeparaibanos (I.E.V.) realizou o XXVIII Simpósio de História na cidade. Com o tema “Vale do Paraíba, História e Música”, o evento cultural foi presidido pelo Prof. Luis Henrique Guimarães e a Profa. Gabriela Veloso. Dentro dos diversos trabalhos e palestras, além de grupos folclóricos apresentados, destacamos a apresentação do Sr. Toninho Alves. Um dos últimos mestres violeiros de Cunha, Toninho Alves comanda a Folia do Divino e a Folia de Reis. Na tarde do dia 09 de julho de 2014, durante o evento do IEV no antigo cinema de Cunha, o Mestre Toninho Alves nos brindou uma verdadeira e excelente aula de cultura popular, baseada no seu conhecimento de vida ao longo de seus 70 anos. O autor do presente relato estava presente à palestra de Toninho Alves e recorda de suas sábias palavras, acompanhado de sua simplicidade na Festa do Divino. Encerramos enviando um forte abraço aos professores, Luis Henrique Guimarães, João José de Oliveira Veloso, Víctor Amato dos Santos, à Profa. Gabriela Veloso e, em especial, ao Mestre Toninho Alves. Até a próxima.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 247.8pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eddy Carlos</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Dicas para consulta.</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
ABREU, Martha. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Império do Divino.</b> Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 1999.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
BAUMGRATZ, Jacqueline. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cultura Popular do Vale do Paraíba.</b> Mogiana Gráfica e Editora. São José dos Campos, 2011.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
JÚNIOR, Agê. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">São José dos Campos e sua História.</b> Offset. São Paulo, 1978.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
PRUDENTE, Henrique Alckmin. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Bandeiras, Comidas e Folias.</b> Casa Cultura. Taubaté, 2011.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><br />
<span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
SANTOS e REGATO, Laílson e Robson. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Fé. Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes.</b> Edição dos autores. São Paulo, 2010.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
VELOSO, João José de Oliveira. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A História de Cunha. 1600-2010.</b> JAC Editora. São José dos Campos, 2010.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">E-mail:</b> eddycarlos@ymail.com<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Blog:</b> redescobrindoovale.blogspot.com</div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-46580422854720584082020-06-23T17:27:00.003-07:002020-07-28T05:53:26.287-07:00A Estrada Geral.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWLR4STZTX6JOYnUlb4S1x-GhtiHwXHtFV1n-QXzNxh9bxcPuplpVQt5UjhyphenhyphenlUnqTnfJKwGWaNoZe0R8I0miZxGUZZNgsAnh5j2Sm8VAhD5jh8UTBWUBXcl9wqp8lHBETod-a97E_UTZTW/s1600/78885076_2592794924145647_3305651695677079552_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="787" data-original-width="1181" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWLR4STZTX6JOYnUlb4S1x-GhtiHwXHtFV1n-QXzNxh9bxcPuplpVQt5UjhyphenhyphenlUnqTnfJKwGWaNoZe0R8I0miZxGUZZNgsAnh5j2Sm8VAhD5jh8UTBWUBXcl9wqp8lHBETod-a97E_UTZTW/s640/78885076_2592794924145647_3305651695677079552_o.jpg" width="640" /></a></div>
Veículo na Rodovia Washington Luiz em Cachoeira Paulista, 1947.<br />
FONTE: Facebook/Cachoeira Paulista em Fotos Antigas.<br />
<span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: -1cm;"> </span><br />
<div class="MsoNoSpacing" style="margin-left: -7.1pt; text-indent: -1cm;">
<ul><span style="text-align: justify; text-indent: -1cm;">
<li><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: inherit;">A intensificação do processo colonial português nos trópicos proporcionou a implantação de uma estrutura político-administrativa semelhante à do Reino, na Península Ibérica. Seguindo essa orientação surgem as primeiras vilas, na então colônia lusa do Ultramar, como Salvador, São Vicente, Santo André e São Paulo. Com o fracasso do sistema das Capitanias Hereditárias, Portugal instala o Governo-Geral, com a capital em Salvador e Tomé de Souza como primeiro mandatário, tendo chegado à Baía de Todos os Santos em 1549. Como já afirmamos em artigo anterior, Portugal e Espanha “dividiram” o mundo entre si pelo Tratado de Tordesilhas, sob os auspícios da Igreja, fato que posteriormente irritaria outras potências europeias, que não reconheciam a validade de tal tratado. Sendo assim, os franceses tomam a dianteira e, em 1555 uma esquadra, sob o comando de Nicolas Durand de Villegaignon, desembarca na ilha de Serigipe, na baía de Guanabara, com aproximadamente 1.000 colonos huguenotes. No local fundam o forte Coligny, em homenagem ao líder protestante Gaspar de Coligny. Com a ocupação, o objetivo de Villegaignon é garantir uma posição francesa nos trópicos, iniciando-se assim a França Antártica, de duração efêmera, tendo seu epílogo em 1567. Para conseguir neutralizar a ameaça francesa e dos aliados destes, os Tamoios, Estácio de Sá, sobrinho do Governador-Geral Mem de Sá, funda a Vila de São Sebastião do Rio de Janeiro em 1565, futura metrópole colonial e imperial; capital do país até a metade do século XX.<br /> Todavia, para manter a comunicação entre tais vilas e povoados, durante o período colonial, era com dificuldade extrema com que era realizado. Não havia estradas, mas somente trilhas e picadas mata adentro, abertas e utilizadas pelos indígenas. Além disso, a população colonial mantinha-se tímida e inerte quanto a avançar pelos “sertões inóspitos”, habitados por feras e índios “selvagens”, o que causava grande temor. As autoridades receavam, mesmo quando organizavam as “entradas” e expedições punitivas contra os silvícolas, em violar o Tratado de Tordesilhas. Porém foi com a fase das bandeiras, principalmente a de preagem aos indígenas, que iniciou-se a expansão colonial, com a fundação de novos povoados e vilas, bem como da comunicação com as já existentes, em território da Capitania de São Paulo,principalmente. Até então, os únicos caminhos terrestres eram os utilizados pelos índios, como já citado, sendo os mais importantes, a trilha dos tupiniquins, que transpondo a Serra de Cubatão atingia o litoral, por isso denominada “Caminho do Mar” ou “Caminho do Padre José”; a outra era a trilha dos tamoios, que do litoral atingia o Planalto de Piratininga e o Vale do Paraíba (atualmente essa trilha é a da Rodovia dos Tamoios). Aos poucos as referidas trilhas e picadas diversas transformaram-se em caminhos e vias oficiais, como o Caminho da Bahia, que ligava o Distrito Diamantino ao Nordeste, através do qual as manadas bovinas do Rio São Francisco adentravam o território aurífero, para garantir o abastecimento de carne para mineiros e escravos; foi também utilizada por Manuel Nunes Viana durante a Guerra dos Emboabas, quando autoproclamou-se “Governador das Minas”. Outra via oficial e, de grande importância durante a fase aurífera foi a Estrada Real, que ligava a região das minas à cidade de Paraty, passando pelo território valeparaibano. Esse trecho, designado como “Caminho Velho”, cruzava a Garganta do Embaú, na Serra da Mantiqueira e passava pelas regiões do Passa-Vinte e Várzea Alegre em Cruzeiro, Embaú, Cachoeira Paulista, Canas, Lorena, Guaratinguetá, Cunha e Paraty, daí por mar até o Rio de Janeiro. Entre os anos de 1698 e 1709, foi aberto o chamado “Caminho Novo”, por Garcia Rodrigues Paes, filho de Fernão Dias Paes Leme, o legendário caçador de esmeraldas. De acordo com a análise do Professor Francisco Sodero Toledo, esse caminho “foi a primeira via construída oficialmente pela Coroa Portuguesa”, cujo objetivo era “povoar os sertões e assegurar que o ouro procedido dos quintos não corresse o risco de passar por mar e ser tomado de assalto por piratas, além de permitir receber socorro, caso a sede da colônia viesse a ser invadida por estrangeiros”, como foi o caso o caso da tomada do Rio de Janeiro durante o ataque de Jean François Duclerc em 1710.<br /> Entretanto, antes da existência da Estrada Real, composta pelos dois caminhos citados acima, já havia o então denominado “Caminho Velho dos Paulistas”, a rota original das primeiras bandeiras e expedições, que partindo da Vila de São Paulo, passando por Boigy (Mogi das Cruzes), atingia o Vale do Paraíba, passando por Jacareí, Taubaté e, ao chegar a Guaratinguetá “unia-se” ao Caminho Velho da Estrada Real até o Porto da Cachoeira (atualmente a cidade de Cachoeira Paulista). Foi por esse roteiro que os paulistas enviaram reforços durante a Guerra dos Emboabas, também já citada, para vingar os mortos do Capão da Traição, às margens do Rio das Mortes, na zona conflagrada do território mineiro. Como sabemos, o conflito dos emboabas, garantiu em tese a soberania nas minas, com a criação pela Coroa da Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro em 1710. Mas em 1720 é criada a Capitania das Minas, separada da de São Paulo, perdendo por sua vez, os paulistas o controle da região aurífera. Como primeiro Capitão-General da nova Capitania assume Rodrigo César de Menezes, tomando posse no dia 5 de setembro de 1721. Durante esse governo, foi determinada em 1725 a construção de um novo caminho terrestre que, partindo de um ponto avançado nos limites da Vila de Guaratinguetá atingisse a Capitania do Rio de Janeiro. O projeto a ser executado deveria ter início na Freguesia de Nossa Senhora da Piedade e alcançar a Fazenda Santa Cruz, então propriedade dos padres da Companhia de Jesus. O objetivo, ao construir novo caminho, foi o de transportar em segurança o ouro oriundo das minas de Goiás e Mato Grosso, então conhecidas como “Minas do Cuiabá”, as quais estavam sob o controle da Capitania de São Paulo. Batizado com o nome de “Caminho Novo da Piedade”, tal via teve as obras dependendo da iniciativa dos capitães-mores ao longo do que seria a futura estrada e, das precárias condições de abertura da mesma. No dia 23 de abril de 1725, o Governador da Capitania comunica, por carta, o Rei Dom João V, a abertura do referido caminho, assegurando o transporte dos quintos reais ao Rio de Janeiro. Em 1742, a Câmara Municipal de Guaratinguetá escreve ao rei, solicitando medidas de segurança para poder continuar a abertura do almejado caminho. Entre os anos de 1748 e 1765, as obras praticamente paralisam, pois é o período em que é extinta a Capitania de São Paulo, sendo esta incorporada a do Rio de Janeiro. A partir do governo de Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, quando é restaurada a Capitania de São Paulo em 1765, as obras do Caminho Novo da Piedade tomam novo impulso, diante da ameaça castelhana no sul da colônia. Segundo o Prof. Sodero, o Morgado de Mateus, para dar continuidade às obras, fez “levantar povoação, concedeu privilégios aos seus moradores e inaugurou o serviço de correio, via terrestre, entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro”. Quando o governo da Capitania passa para Martim Lopes Lobo de Saldanha em 1775, o trajeto do Caminho Novo da Piedade é alterado. O projeto de 50 anos antes previa que o traçado percorresse áreas de várzea do Rio Paraíba, próximo ao atual município de Resende. Em vez disso, e como à época a região pertencesse a Capitania de São Paulo, o Capitão-General determina a mudança do traçado pelo Morro do Frade, transpondo a Serra do Mar e, chegando a Fazenda Santa Cruz, agora propriedade real, após a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal em 1759. Finalmente, em março de 1778, Martins Lopes Lobo de Saldanha inaugura com grande júbilo, o novo caminho que iria garantir o transporte dos quintos reais da Coroa portuguesa. Curiosamente, mesmo durando mais de meio século a construção do mencionado caminho, o início e a conclusão estiveram sob a responsabilidade de dois capitães-mores da Vila de Guaratinguetá. Em 1725, coube a incumbência da abertura das primeiras oito léguas o Capitão-Mor Domingos Antunes Fialho. No ano de 1776, coube a responsabilidade ao também Capitão-Mor Manoel da Silva Reis, que conduziu a empreitada até o fim.<br /> Porém, ainda de acordo com a análise do Prof. Sodero, o objetivo inicial da abertura do Caminho Novo da Piedade perdeu o sentido, uma vez que, concluído em 1778, quando a produção aurífera já estava decadente, o mesmo serviu, “entretanto, em muitas oportunidades, para o transporte do gado enviado para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro, e preencheu a importante função: a de transportar café”. Uma nova preocupação surgia, então; a de conservar e manter transitável o novo caminho. Para isso, as autoridades determinaram ao Capitão-mor Manoel da Silva Reis que obrigasse a cada morador ao longo de tal caminho que mantivesse limpo o trecho de sua propriedade. Como citado, o Caminho Novo da Piedade ao ser inaugurado, serviu mais para o transporte de mercadorias, devido à decadência do ouro; também o gado, com destino ao Rio de Janeiro, passou a ser conduzido por essa via, abandonando-se uma trilha usada até então pelas matas da Serra da Bocaína. Com o fluxo comercial surgem os primeiros pousos, vendas e capelas ao longo do trajeto da referida estrada. Ao concluir a tão aguardada obra, o já mencionado Capitão-Mor de Guaratinguetá, Manoel da Silva Reis recebe das autoridades lusas a atribuição de conceder sesmarias aos seus colaboradores, além de receber a própria à sua escolha. Muitas das distribuídas formaram a cidade de Bananal e a que ele escolheu para si, ficou durante muito tempo pertencendo a essa cidade, com o nome de “bairro do Capitão-Mor”. Posteriormente o lugar passou a denominar-se Alambari e, por fim Arapeí, hoje emancipada de Bananal. Dos diversos ranchos de pousada para os tropeiros, surgidos ao longo do caminho, os viajantes Spix, Martius e Saint-Hilaire registraram os existentes entre a Vila de Lorena e a Fazenda Santa Cruz, entre 1817 e 1822. Como exemplo citamos o rancho do Hilário, Rancho Grande, do Matias Ramos, do Pisca, dos Negros, do Piratininga, do Pedro Louco, do Ramos, do Itagaçaba, da Estiva, dos Silveiras, do Sapé, da Cachoeira, da Canoa e dos Mineiros. Destes destacamos o rancho dos Silveiras, embrião da atual cidade de Silveiras e imortalizado nas aquarelas do pintor austríaco Thomas Ender em 1817. Junto com os ranchos surgiram algumas vendas sendo as principais a do Campinho, a do Padeiro e o Empório do Santíssimo, todas próximas já do Rio de Janeiro. Novamente recorrendo ao Prof. Sodero, o mesmo afirma que a maioria das vendas “estava preparada para oferecer refeição ao viajante e milho para os animais. Suas instalações também eram precárias, construídas de pau a pique, esburacadas, oferecendo mercadorias variadas, mantendo aspecto sujo e confuso”. Finalmente, temos as capelas que, além de representarem o fervor religioso dos primeiros colonos, sob a invocação deste ou daquele padroeiro, simbolizavam a manifestação da capacidade de criação. Ao receberem as sesmarias, geralmente o beneficiado doava em vida ou em testamento, uma área para a construção de determinada capela e de seu patrimônio. Em torno do templo iniciava-se um aglomerado de casas que contribuíam para o surgimento da Freguesia e em seguida do Município. Seguindo esse ritmo, no Caminho Novo da Piedade, em território paulista, surgiriam as cidades de Silveiras, já citada, Bananal, São José do Barreiro e Areias, esta emancipada em 1816, da Vila de Lorena.<br /> Consequentemente, a abertura da estrada além de dinamizar o comércio dos tropeiros; cujo principal produto já no alvorecer do século XIX era o café, intensificou ainda mais o conflito entre sesmeiros e os povos primitivos do “sertão incompreensível”. Dentre esses silvícolas, os principais eram os Puris, já dizimados desde o início da colonização pelos bandeirantes. Ainda utilizados como escravos, apesar das proibições oficiais, os indígenas passaram a se concentrar na margem esquerda do Rio Paraíba, tentando encontrar refúgio na Serra da Mantiqueira. Os últimos Puris seriam concentrados à força em uma sesmaria que daria origem à cidade de Queluz. Conforme citamos anteriormente, o novo caminho serviu também para o trânsito de viajantes de diversas especificidades; alguns demoram 16 dias para completar o trajeto entre o Rio de Janeiro e São Paulo, com Spix e Martius. O francês Saint-Hilaire gastou 17 dias, enquanto que quem fez em menor tempo foi o Príncipe Dom Pedro, utilizando apenas 5 dias durante o périplo que culminaria com a independência do Brasil. O príncipe, porém não levava bagagens e a viagem tinha cunho político, devendo apressar-se a chegar a São Paulo para garantir apoio da Província. Outro viajante que transitou pelo caminho e, nos seus relatos mencionava-o como “estrada geral” foi o jornalista luso-brasileiro Augusto Emílio Zaluar, entre 1860 e 1861. Ao visitar a então Vila de Queluz afirma que a mesma se acha “fora da estrada geral de S.Paulo”. Em outra passagem menciona que Silveiras está “edificada em uma e outra margem da estrada geral”. Num outro trecho dos relatos, diz que Pindamonhangaba está localizada a “sessenta léguas pouco mais ou menos do Rio de Janeiro, seguindo a estrada geral de S.Paulo”. Ao referir-se à Vila de São José do Paraíba, afirma que fica além da “vila de Caçapava, seguindo sempre a estrada geral de S. Paulo, em direção à capital”. Mesmo com a denominação documentada por Zaluar, ainda não encontramos dados oficiais para confirmar se, na realidade, o caminho já ostentava o nome de “Estrada Geral”. Como o viajante, além de jornalista, era credenciado pela Corte e possuía contato com o próprio imperador D.Pedro II, supomos que o nome de tal caminho fosse o descrito em seus relatos. O que veio a ser a Estrada Geral, no entanto, não foi somente o Caminho Novo da Piedade e sim uma junção deste com outros. Para uma melhor compreensão, lembremos que foi mencionado no início do presente artigo que o “caminho velho dos paulistas”, tinha início em São Paulo “indo” até o Porto da Cachoeira, então pertencente à Vila de Guaratinguetá, “confundindo-se” entre o referido porto (atual Cachoeira Paulista) e a sede da mesma vila com um trecho do “Caminho Velho” da Estrada Real. Ora, o Caminho Novo da Piedade, teve início na Freguesia do mesmo nome, Piedade (atual Lorena) com destino ao Rio de Janeiro. Após a inauguração e a intensificação do trânsito de tropeiros e viajantes, além de expedições militares (lembremos que foi através dessa via que as forças legalistas chegaram a Silveiras durante a Revolução Liberal de 1842, vindas da Corte), os dois caminhos uniram-se e, baseando-se na narrativa de Zaluar, formaram a Estrada Geral de São Paulo.<br /> Contudo, com o advento da ferrovia no último quartel do século XIX, a Estrada Geral perde um pouco de sua importância, para recuperá-la na década de 1920. Duas importantes estradas de ferro modificam radicalmente os meios de transporte no Vale do Paraíba. Em 1877 entram em atividade a Estrada de Ferro São Paulo- Rio de Janeiro, ligando a cidade de São Paulo a Bocaina (Cachoeira Paulista), e a Estrada de Ferro Dom Pedro II, ligando Cachoeira ao Rio de Janeiro. No início do século XX, as duas ferrovias formariam a Central do Brasil. No ano de 1884, uma terceira ferrovia começa a operar, a Estrada de Ferro Minas and Rio Railway, partindo de um entroncamento da E.F. Pedro II, em Cruzeiro, com destino ao Sul da Província de Minas Gerais, na cidade de Três Corações. O novo sistema dinamizou o transporte de cargas e passageiros, estabelecendo a ligação direta do Sul mineiro com São Paulo e o Rio de Janeiro. Como afirmado anteriormente, a Estrada Geral volta ao cenário político e econômico na década de 1920, durante o governo do Presidente Washington Luiz (1926-1930), que com o lema “governar é abrir estradas” alavancou o sistema de rodovias no Brasil. No dia 5 de maio de 1928, em solenidade pública, na cidade de Cachoeira Paulista, é inaugurada a Rodovia Rio de Janeiro-São Paulo, considerada a primeira estrada de longo traçado a ser “construída” no país. Na inauguração estiveram presentes os Presidentes da República Washington Luís, o vice-presidente Melo Viana; Vitor Konder, Ministro da Viação; Júlio Prestes, Presidente do Estado de São Paulo; Manuel Duarte, Presidente do Estado do Rio de Janeiro e o Prefeito de Cachoeira, Agostinho Ramos. A primeira rodovia federal que, passou a chamar-se Rodovia Washington Luís (não confundir com a atual “Washington Luiz”, que faz a ligação da Rodovia Anhangüera com São José do Rio Preto), não era, porém, asfaltada, mas apenas “transitável”, tendo os viajantes, agora com automóveis, suportar pó e lama, de acordo com o tempo. As autoridades aproveitaram a maior parte, ou quase a totalidade da Estrada Geral, para construir a rodovia, fazendo com que a mesma passasse dentro de cada cidade; no território paulista, desde Bananal até São Paulo. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, a “Washington Luís” facilitou o deslocamento de tropas, tanto legalistas como rebeldes no decurso do conflito, favorecendo, porém as primeiras no seu avanço fulminante no Vale do Paraíba. A inauguração da Rodovia Presidente Dutra em janeiro de 1951 e a sua duplicação em 1968, selou de vez o destino da Rodovia Washington Luís, a partir de então, conhecida como Estrada Velha Rio-São Paulo. O que ocorreu com as vilas imperiais, onde o traçado ferroviário não passou, ocorreu também, com a inauguração da Via Dutra. Durante longo tempo, o chamado Vale Histórico permaneceu no ostracismo, reerguendo-se somente em fins da década de 1980. A partir da inauguração da Via Dutra, a Estrada Velha deixou de ser federal, passando para os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo a administração e responsabilidade em seus respectivos trechos. Dessa forma surge a SP-66, no trecho de São Paulo Bananal, mais tarde restringido ao de Cachoeira Paulista a mesma Bananal com a criação da Rodovia dos Tropeiros em 1983 (atualmente rebatizada como Estrada dos Tropeiros). Mas a estrada sofre com a falta de cuidados e reparos e, em algumas cidades como São José dos Campos, o trecho que corta a cidade foi municipalizado, transformando-se em avenidas. Em outras, mesmo estando ainda sob a administração estadual, recebeu outras denominações como em Caçapava, Taubaté, Aparecida, Lorena, etc.<br /> Enfim, ainda é possível percorrer o citado trecho Cachoeira-Bananal, avistando os campos e os contrafortes da Serra da Bocaína, mesmo de automóvel, como se ainda estivéssemos na Estrada Geral. Até a próxima.<br /> <br /> Eddy Carlos. <br /> <br /> <br /><br /><br /><b>Dicas para consulta. </b><br /><br />RAMOS, Agostinho. <b>Cachoeira Paulista. 1780-1970.</b> 2 volumes. IHGSP. São Paulo, 1971. <br />SANTOS, Márcio. <b>Estradas Reais. Introdução ao estudo dos caminhos do ouro e do diamante no Brasil. </b>Editora Estrada Real. Belo Horizonte, 2001. <br />TOLEDO, Francisco Sodero. <b>Estrada Real. Caminho Novo da Piedade.</b> Alínea. Campinas, 2009. <br />ZALUAR, Augusto Emílio. <b>Peregrinação pela Província de São Paulo (1860-1861). </b>Biblioteca Histórica Paulista. Volume I. Livraria Martins Editora. São Paulo, 1976. <br /><br /><br /><b>E-mail:</b> eddycarlos@ymail.com <br /><br /><b>Blog: </b>redescobrindoovale.blogspot.com.br</span></li>
</span></ul>
<span style="text-align: justify; text-indent: -1cm;">
</span></div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-55782635849780415102019-09-05T18:10:00.000-07:002020-07-28T06:57:51.338-07:00Nobiliarquia Valeparaibana.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgXY6Rmr2Pni0XtbtJVAx1pdtFqF6zfy71KqezjivGhI7_QIlfx7BcQQpL7kk4lHgqRLwNjV_s_5o9m4SwuyM8sbhkJ89X6qm7bKmeuoLXDKQWJjt2z1XKyMEYG64gQvdsqLAVyg2KyZMm/s1600/69826647_707275256367163_1667767738413613056_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1072" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgXY6Rmr2Pni0XtbtJVAx1pdtFqF6zfy71KqezjivGhI7_QIlfx7BcQQpL7kk4lHgqRLwNjV_s_5o9m4SwuyM8sbhkJ89X6qm7bKmeuoLXDKQWJjt2z1XKyMEYG64gQvdsqLAVyg2KyZMm/s640/69826647_707275256367163_1667767738413613056_o.jpg" width="476" /></a></div>
O casal Pedro Ramos Nogueira e Placídia Maria de Almeida (Barão e Baronesa da Joatinga), proprietários da Fazenda Loanda, em Bananal. Quadro à óleo localizado na referida fazenda.<br />
FONTE: fotografia do autor.<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> A colonização ibérica no território
sul-americano recriou, praticamente, a estrutura de poder vigente na Europa,
com todos os seus segmentos político-administrativos. Oriunda desde os tempos
medievais, Portugal e Espanha transportaram para os trópicos, a especificidade
de conceder títulos de nobreza a indivíduos que apoiassem ou prestassem
“relevantes serviços” à realeza, apesar de no Velho Mundo, exigir-se a pureza
do sangue como condição primária para tal. Após fugir de Portugal, diante do
avanço das forças de Napoleão e, escoltado pela Armada Britânica, D.João VI
estabelece no Brasil as bases do novo Império Português e, com a criação da
Corporação de Armas em 8 de maio de 1810, estabelece os critérios para a
concessão dos títulos de nobreza. De <st1:metricconverter productid="1808 a" w:st="on">1808 a</st1:metricconverter> 1820 (ano do retorno a Portugal, após a
Revolução do Porto) Dom João nomeou 254 titulares, sendo 11 duques, 38
marqueses, 64 condes, 91 viscondes e 31 barões, garantindo, ainda os títulos
aos que já possuíam em Portugal, antes da invasão francesa. Com a
independência, Dom Pedro I prossegue o rito nobiliárquico e até 1830 criaria
119 nobres, sendo 2 duques, 27 marqueses, 8 condes, 38 viscondes com grandeza e
4 sem grandeza, 20 barões, aproximadamente. Durante o Segundo Reinado, Dom Pedro
II concederia 1.439 títulos de nobreza, introduzindo porém, um critério baseado
no mérito e não apenas no nascimento, comum nas cortes europeias. Isso
proporcionava que um só indivíduo pudesse obter mais de um título. Dessa forma,
se em diversas ocasiões especiais aproveitava-se para a concessão dos referidos
títulos, em vários casos era o desempenho do homenageado que era levado em
consideração, principalmente durante e após a Guerra do Paraguai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> No panteão da nobreza imperial brasileira
vingavam outras hierarquias. Apesar de serem nobres, poucos ostentavam o título
de “grandes do império”. Apenas honorífico, esse privilégio, embora inerente
aos condes, marqueses e duques, era reconhecido somente aos barões e viscondes
“com grandeza”. Outra forma de agraciamento imperial era a concessão da comenda
das Ordens de Cristo e a do Cruzeiro do Sul. O beneficiado passava a ser
reconhecido como Comendador, ou seja, aquele que possui a comenda. Como
exemplo, podemos citar os dois Comendadores de Bananal que, contudo não
conseguiram o baronato que tanto almejavam, Luciano José de Almeida, proprietário
da Fazenda Boa Vista e seu genro, Manoel
de Aguiar Vallim, da Fazenda Resgate.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Entretanto, antes de prosseguirmos em
nossa análise, torna-se imperativo compreender o significado dos títulos
nobiliárquicos em questão e, assim entender o seu significado no contexto
histórico. Começamos pelo “duque”, do latim “dux”, “aquele que conduz as tropas”,
o título de maior importância conferido pelo monarca. O “marquês” provém do
alemão “mark”, significando marca ou sinal e representava aquele que governava
a fronteira, sendo por isso denominado, junto com seus funcionários, de
marqueses. Da palavra latina “comes” que significava “companheiro” ou “assessor
do soberano”, derivou “conde”, título vinculado à posse de terra, o condado;
“visconde”, do latim medieval “vicecomes”, os quais os condes designavam para
substituição na esfera governamental. Por fim, o “barão”, também do latim,
“baro”, relacionado a varão e “homem valente junto ao rei nos combates”.
Todavia, o sentido imediato dos títulos foi diluindo-se, pois ao longo dos
anos, os mesmos passaram a representar apenas um meio de disputar as benesses imperiais
da corte. Além do título, os homenageados eram autorizados a ostentar uma coroa
simbólica, juntamente com o brasão de armas, cuja elaboração obedecia critérios
rigorosos de heráldica de cada titular e frases <st1:personname productid="em latim. Podemos" w:st="on">em latim. Podemos</st1:personname>
citar como exemplo o brasão de Irineu Evangelista de Sousa que, embora
significasse projeto de modernidade industrial para o império, deixou-se
encantar com o lado da nobreza, sendo nomeado Barão de Mauá. A historiadora Lília
Moritz Schwarcz afirma que no brasão de Mauá “figuram uma locomotiva a vapor
negra e trilhos, um navio a vapor e quatro lampiões de gás, símbolos pouco
usuais na heráldica brasileira mas
reveladores do papel do<b> </b>empresário.”
Geralmente predominavam nos brasões figuravam ramos de café, além de animais,
como bezerro, pavões, lobos, leões, carneiros, etc. Outro elemento de destaque
nos brasões relacionava-se ao “saber”, como livros, penas, globos e compassos,
etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> No
entanto, apesar de “concedidos”, os agraciados tinham que pagar as “cartas<b> </b>de mercês” que conferia os títulos,
além de taxas, selos e demais impostos ao cartório da nobreza, denominado de
“Nobre Corporação dos Reis de Nobres Armas”, instalado em 1810 no Rio de
Janeiro. No ano de 1879, tais “cartas de mercês” eram avaliadas em pequenas fortunas.
A de duque custava no ano mencionado a soma de 2:450$000 (dois contos e
quatrocentos e cinquenta mil réis); de marquês, 2:020$000; conde, visconde e
barão com grandeza, 1:575$000; visconde, 1: 020 $000; barão 750$000. Os gastos
adicionais burocráticos para a legalização do título podiam ultrapassar
366$000. A titulação poderia também ser progressiva, como é o caso de Luís
Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, único duque do império, tendo sido
antes Barão de Caxias em 1841, Conde de Caxias em 1845 e Marquês de Caxias em
1852. Foi nomeado duque em 1869 durante a Guerra do Paraguai. Foram agraciadas
como duquesas as filhas de D.Pedro I com Domitila de Castro Canto e Melo, Marquesa
de Santos: a primeira, Maria Isabel de Alcântara Brasileira, Duquesa de Goiás
com 2 anos de idade e outra, a Duquesa do Ceará, falecida com apenas 1 ano de
vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Os titulares agraciadas, como já
afirmamos, pertenciam à vários segmentos da sociedade imperial como bacharéis,
militares, políticos e fazendeiros proprietários de vastas extensões de terras
e escravos. E foram estes últimos, principalmente do Vale do Paraíba que
sustentaram a sangrenta campanha da Guerra do Paraguai, contra as forças (e o
povo) de Solano López. Do Vale partiram também “voluntários” e negros
alforriados pelos senhores cafeicultores para lutar pelo império que os
oprimia. Empréstimos externos feitos pelo governo imperial para a continuidade
da luta, forma avalizados por proprietários rurais, principalmente de Bananal e
Lorena. Em troca dos “relevantes serviços” prestados à pátria, o Império
dignificou vários potentados valeparaibanos. Até 1889, no crepúsculo da
monarquia, o imperador criou 37 nobres, sendo que somente cinco foram
anteriores ao conflito paraguaio. Para conhecermos melhor, vamos citar todos os
titulares, iniciando com a capital econômica do Império, Bananal. Em 1860 ao
passar pelo local, o viajante português Augusto Emílio Zaluar foi recebido por
José de Aguiar Vallim, Barão da Bela Vista. Em 1877, seria agraciado com o
título de Visconde de Aguiar Toledo.
Manoel de Aguiar Vallim (filho) tornou-se em 1884, Barão de Aguiar
Vallim. No ano de 1869, Luiz da Rocha Miranda Sobrinho, tornou-se Barão de
Bananal. Também no ano de 1877, Pedro Ramos de Nogueira foi homenageado como
Barão de Joatinga. Em 1884, também alcançou a nobreza Laurindo José de Almeida
com o título de Visconde de São Laurindo. E em 1885 foi a vez de Cândido
Ribeiro Barbosa alçar ao baronato como Barão de Ribeiro Barbosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Na
Vila de Pindamonhangaba, o imperador fez ao todo nove nobres. O primeiro a se
tornar titular foi Manoel Marcondes de Oliveira e Melo, agraciado com o título
de Barão de Pindamonhangaba em 1846. Em 1850 foi elevado ao baronato o cidadão
Custódio Gomes Varela Lessa como Barão de Paraibuna. No ano de 1877 foram três
os homenageados: Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo, Barão Homem de<b> </b>Melo; Manoel Inácio Marcondes Romeiro,
Barão de Romeiro e Francisco Homem de Melo, Visconde de Pindamonhangaba. Em
1879, Inácio Bicudo de Siqueira Salgado tornou-se Barão de Itapeba. E no ano de
1887, o Império concedeu o título de Baronesa de<b> </b>Paraibuna a Benedita Bicudo Salgado Lessa e o de Visconde da
Palmeira a Antônio Salgado Silva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Em Taubaté os titulares do Império foram: José
Francisco Monteiro (avô materno do escritor Monteiro Lobato), Barão de Tremembé
em 1868 e, em 1887 Visconde de Tremembé; José Félix Monteiro, irmão do
precedente, Barão de Mossoró em 1877 e Visconde de Mossoró em 1888; Coronel
Jordão Pereira de Barros, Barão Pereira de Barros em 20 de agosto de 1889,
quando a monarquia exalava os últimos suspiros. Foram agraciados, ainda,
Mariano José de Oliveira Costa como Barão de<b> </b>Pouso Frio, também em 20 de agosto de 1889; Antônio Vieira de
Oliveira Neves, Barão de Taubaté em 1877; Manoel Gomes Vieira, Barão da Pedra
Negra, no mesmo dia que os de “Pouso Frio” e “Pereira de Barros”, quando é
nomeado ainda o Comendador David Lopes de Souza Ramos, como Barão de Jambeiro.
Ou seja, em apenas um dia, Taubaté ganhou quatro novos titulares quando o
Império agonizava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> A Vila de Lorena teve cincos titulares
imperiais, sendo a primeira agraciada, a viúva do capitalista Joaquim José
Moreira Lima, Carlota Leopoldina Moreira de Castro Lima, com o título de
Viscondessa de Castro Lima no ano de 1879. Em 1884, o filho de Carlota, Antônio
Moreira de Castro Lima, recebe o título de Barão de Castro Lima. Três anos
depois, é a vez de Francisco de Paula Vicente de Azevedo receber a honraria,
tornando-se Barão da Bocaina e, em 1888 Antônio Rodrigues de Azevedo Ferreira é
intitulado Barão de Santa Eulália. Porém, o nobre considerado como de maior
importância em Lorena é Joaquim José Moreira Lima Júnior. Sua memória é
cultuada até os dias atuais, devido às obras de caridade e de empreendedorismo
industrial realizadas em Lorena, como a Igreja de São Benedito em estilo
gótico, entregue a Ordem dos Salesianos e o Engenho Central, além do Colégio
São Joaquim e a Santa Casa de Misericórdia, entre outras. Oitavo filho do velho
Moreira Lima e de Carlota Leopoldina, Moreira Lima Júnior é agraciado por Dom Pedro
II, em março de 1884 com o título de Barão de Moreira Lima; em outubro do mesmo
ano recebe o título de Visconde Moreira Lima com grandeza e, finalmente em 7 de
maio de 1887 torna-se Conde de<b> </b>Moreira
Lima, como ficaria conhecido até sua
morte, ocorrida em 1926.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> As Vilas de Cunha, Guaratinguetá e São
Luiz do Paraitinga tiveram somente um titular, cada uma. Em 1849, em Cunha,
Antônio Manoel de Freitas é nomeado Barão de<b> </b>Rio Claro. No ano de 1871, em Guaratinguetá, Francisco de Assis e
Oliveira Borges foi homenageado, sendo elevado a Visconde de Guaratinguetá. E
em 1872, <st1:personname productid="em S ̄o Lu■s" w:st="on">em São Luís</st1:personname>
do<b> </b>Paraitinga, Manoel Jacinto
Domingues de Castro tornou-se Barão de Paraitinga. Em Jacareí houve quatro
titulares beneficiados, sendo o primeiro a receber a honra Bento Lúcio Machado
em 1849 como Barão de Jacareí. Em 1854 Francisco Lopes Chaves foi nomeado Barão
de Santa Branca e, em 1887 um indivíduo homônimo, talvez filho, tornou-se o 2º
Barão de Santa Branca. No ano de 1889, Licínio Lopes Chaves torna-se o 2º Barão
de Jacareí.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Apesar
de aspirarem e, claro, pagarem o valor mencionado anteriormente para a obtenção
do título, ocorria, embora raramente, a recusa da benesse, ainda que o pretenso
nobre desembolsasse quantias consideradas. É o caso do proprietário da Fazenda Resgate
de Bananal, Manoel de Aguiar Vallim. Envolvido no episódio do Bracuhy e
processado, embora absolvido, Vallim não conseguiu o título de barão em 1859,
mesmo ofertando 15:000$000 (quinze contosde réis) para a construção de um
hospício. Mesmo assim, manteve-se fiel à monarquia até a morte em 1878. Aos
mais abastados e respeitadíssimos, a família imperial correspondia, também com
visitas em que homenageavam seus titulares ao se hospedarem nas suas magníficas
residências. Em 1878, Dom Pedro II e comitiva foram recepcionados em Pindamonhangaba
pelo então Barão da Palmeira e, em <st1:metricconverter productid="1884, a" w:st="on">1884, a</st1:metricconverter> princesa Isabel e o esposo Gastão de
Órleans, o Conde D’ Eu, foram recebidos solenemente em Lorena no palacete dos
Moreira Lima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Entrementes, no último quartel do século XIX,
a sociedade escravocrata começa a sentir os efeitos da crise cafeeira, bancária
e os ventos abolicionistas, que culminariam na
Lei Áurea e na Proclamação da República. Diversos fazendeiros vão
perdendo suas propriedades para banqueiros e agiotas, diante da insolvência financeira,
oriunda de dívidas acumuladas. Já em 1864, o filho do Visconde de
Guaratinguetá, José Martiniano de Oliveira Borges, possuía uma dívida de
100:000$000 (cem contos de réis) com o capitalista Moreira Lima, de Lorena e só
não perdera a Fazenda Três Barras, localizada em Guaratinguetá, devido à mera
consideração pessoal por parte do credor. Outros, porém não tiveram tal
consideração e após perderem seus bens adquiridos com o braço cativo, morreram
pobres, como é o caso, por exemplo, do Visconde de Aguiar Toledo e do Visconde
de São Laurindo que, após vender duas enormes fazendas, conseguiu manter a
duras penas a Fazenda São Geraldo em Bananal até a morte em 1917.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Atualmente, além de documentos preservados em
arquivos públicos, os imensos casarões que ainda estão conservados no Vale do
Paraíba guardam a memória e história de uma nobreza que sustentou o Império,
foi por ele igualmente sustentada até a República, construiu enormes riquezas,
graças ao látego do feitor nas costas dos escravos e, devido a diversos fatores,
sejam econômicos, sociais ou políticos, a maioria acabou na miséria. Triste
destino para a nobiliarquia valeparaibana, decaída junto com o Segundo Império.
Até a próxima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">
Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">Dicas para consulta.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">CASTRO
e SCHNOOR, Hebe Maria Mattos de e Eduardo (Orgs.). <b>Resgate. Uma Janela para o Oitocentos. </b>Topbooks. Editora Rio de
janeiro, 1995.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">MOURA,
Carlos Eugênio Marcondes de. <b>O Visconde
de Guaratinguetá. Um titular do café no Vale do Paraíba.</b> Secretaria da
Cultura, Ciência e Tecnologia. São Paulo, 1976.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">RODRIGUES,
Antonio da Gama. <b>O Conde de Moreira Lima</b>.
Coleção Lorenense. Volume IX. Editora Santuário. Aparecida, 2006.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">SCHWARCZ,
Lilia Moritz. <b>As Barbas do Imperador. Dom
Pedro II, um monarca nos <o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> trópicos. </span></b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">Companhia das Letras. São Paulo, 1999.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">SOBRINHO,
Alves Motta. <b>A Civilização do Café
(1820-1920).</b> Editora Brasiliense. São Paulo,1978.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">SOUZA
VICENTE, Eddy Carlos. <b>Uma Janela no
Tempo: Os Godoy Fleming no <o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">Embaú. </span></b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">Editora Penalux. Guaratinguetá, 2015.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">E-mail: </span></b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">eddycarlos6@gmail.com <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";">Blog:</span></b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> redescobrindoovale.blogspot.com.br
<b><o:p></o:p></b></span></div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-22023601630391400742019-08-25T10:03:00.002-07:002021-11-14T04:36:14.272-08:00O Senhor das Içás.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwHt83h3-XFSJJSXtizMhXU23fIdCrbDVhiiTvJjsOqcGdA0a3mjrlj0EwmZjT3yHCz3AstS3xDpbJKyBlcpr1XWQ-wfv3fh6UJpzmZKkwliOWlYR3dOqe03-NmO_RSQsL5esd0La8j17T/s1600/Oc%25C3%25ADlio..jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwHt83h3-XFSJJSXtizMhXU23fIdCrbDVhiiTvJjsOqcGdA0a3mjrlj0EwmZjT3yHCz3AstS3xDpbJKyBlcpr1XWQ-wfv3fh6UJpzmZKkwliOWlYR3dOqe03-NmO_RSQsL5esd0La8j17T/s640/Oc%25C3%25ADlio..jpg" width="640" /></a></div>
Ocílio Ferraz em seu restaurante em Silveiras-SP; data ignorada.<br />
FONTE: Fotografia de Alberto Goro Yamamoto.<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> A culinária brasileira deve muito aos costumes indígenas e africanos. Muitas iguarias ou tipos de alimentação, básica do nosso dia a dia, tem suas origens nos hábitos alimentares dos nossos antepassados. Mesmo com o elemento europeu, no caso o português, foi o dos grupos subjugados, cujas práticas atravessaram o tempo e chegaram até nós. Como exemplo, podemos citar, como a mandioca e o milho, mas também o trato com os peixes e alguns invertebrados, como as formigas aladas, as içás (<a href="https://www.blogger.com/null" name="_GoBack"><i>Atta sexdens</i></a>). O consumo das içás como alimento vem de longa data, e no Vale do Paraíba, o registro mais antigo de que se tem notícia é de 1717. Naquele ano, viajando pelo Vale, rumo à Vila Rica, onde estabeleceria sua sede de governo, o Conde de Assumar, Dom Pedro de Almeida e Portugal e Vasconcelos, teve a içá em seu cardápio. O fidalgo português teria se encantado com a novidade, comparando a içá à “manteiga de Flandres”, segundo Thereza Regina de Camargo Maia. Citando o historiador Sérgio Buarque de Holanda, Thereza Maia afirma também que a “içá torrada venceu todas as resistências, urbanizando-se mesmo, quase tão completamente como a mandioca, o feijão, o milho e a pimenta da terra”. Concomitantemente, o escritor Monteiro Lobato considerava a içá como o “caviar da gente de Taubaté”. Chamada também de tanajura, a içá é na realidade a fêmea e a rainha das formigas saúvas. Durante as primeiras chuvas de setembro e outubro, iniciam o período de reprodução, sobrevoando em grande número, as regiões planas e também montanhosas no Vale do Paraíba. Obviamente, é na área rural que encontram o espaço para pôr seus ovos, após descerem ao chão. Com isso perdem as asas e buscam logo formas de penetrar na terra para a desova. Acompanhando a revoada, vêm também os machos, chamados de “bitú” ou “içábitú”, bem menores. É justamente, quando “aterrissam”, que se tornam vulneráveis, sendo facilmente capturadas em grande quantidade pela população ávida em degustá-las. O consumo é feito de várias formas: cru, torrada, com farofa ou paçoca. Devido à enorme quantidade à “disposição”, há os que congelam as içás, consumindo-as ao longo do ano, servindo também de tira-gosto com cachaça, como ocorre nos engenhos de Guaratinguetá. Outros foram mais além e sabendo explorar uma atividade econômica gastronômica atrelada ao turismo, tornaram-se célebres e respeitadas no setor, como Ocílio Ferraz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> Filho, neto e bisneto de tropeiros, Ocílio José Azevedo Ferraz nasceu em Silveiras, no dia 22 de maio de 1938. Os primeiros anos escolares foram em Cachoeira Paulista; em seguida em Lorena. Em 1977 chegou à cidade de São Paulo, onde se estabeleceu. Sociólogo de formação, professor, administrador, etc; Ocílio estudou e trabalhou no mercado de capitais. Casou-se e adquiriu uma propriedade rural em Caçapava, já ensaiando um retorno ao Vale do Paraíba. Segundo o site silveirasemfoto.com</span><span face="" style="font-size: 12pt;">, na Fazenda Gramado em Caçapava, Ocílio implantou um “pioneiro núcleo de educação ambiental cultural, rural e gastronômico, com resultados multiplicadores, pela ousadia na percepção de talentos, nos mais singelos ambientes rurais e urbanos daquele município”. Mas foi para a terra natal, Silveiras, que Ocílio dedicou a maior parte de sua vida, nos últimos quarenta anos. O Município de Silveiras quase desapareceu, devido à decadência da atividade rural e início do surto industrial. A cidade ainda é marcada pelos traumas, decorrente de dois conflitos políticos, em menos de um século. Em 1842, foi bombardeada e saqueada pelas forças legalistas durante a Revolução Liberal. Ao menos 52 pessoas foram assassinadas pelas tropas do então Barão de Caxias. Em 1932, foi novamente bombardeada; dessa vez pelas forças leais a Getúlio Vargas, na Revolução Constitucionalista. E é a um ambiente decadente que Ocílio retorna, conforme seu próprio relato, após “anos de efetiva ausência (mais de 20), vi-me ao final de 1978 seguindo por estrada de péssima conservação, em direção à Silveiras (...). No período compreendido entre 1945 e 1956 foi pequeno o convívio com Silveiras, por razões escolares ou mesmo econômicas (...). Revi lugares comuns e a tristeza do lugar. Chocou-me a musicalidade ausente, as ruas desertas, raras crianças, nenhum jovem, as portas fechadas”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> Ocílio afirma que retornava à Silveiras para administrar uma propriedade rural, a fazenda que fora de seus antepassados, mais tarde batizada como Fazenda do Tropeiro. Diante do cenário desolador, é iniciada uma campanha com o objetivo de “ressuscitar” Silveiras, tirando-a do limbo e do esquecimento. Para o sociólogo, o processo de decadência econômica da cidade “iniciado ao final do ciclo do café na região foi constante. A distância da sede do município com relação à Estrada de Ferro Central do Brasil colaborou, e a inauguração da rodovia Presidente Dutra na década de 50 foi outro duro golpe”. Além do mais, a única ligação de Silveiras, com a referida rodovia e, assim com São Paulo e Rio de Janeiro, estava praticamente abandonada pelas autoridades. Inaugurada como Rodovia Presidente Washington Luís em 1927, a Estrada Velha Rio-São Paulo, não atendia às necessidades de Silveiras e das demais cidades do Vale Histórico. Outro silveirense aborda a decadência da cidade. O Prof. Francisco Sodéro afirma que “a Estrada de Ferro, acabou isolando Silveiras, da região do progresso e modernização das outras cidades. Por outro lado, continua o Prof. Sodéro, o desenvolvimento da pecuária, no “início do século XX, não conseguiu manter o ritmo de crescimento do setor rural, verificado nas décadas anteriores. Teve início o êxodo rural. A cidade, despreparada, não conseguiu reter a população que se encaminhou para outras regiões”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> Consequentemente, tendo o apoio de familiares, amigos, entidades culturais e filantrópicas e autoridades políticas, Ocílio prosseguiu em sua campanha para o resgate de Silveiras. Tudo o que se referia à cidade foi enaltecido, como os acontecimentos de 1842, as residências históricas, e populares que permaneceram na cidade, como o tropeiro Josias Mendes, grande amigo de Ocílio. Pela imprensa, passam a ser divulgados os méritos culturais, despertando, além de Silveiras, a atenção de todo o Vale do Paraíba. À esse tempo, Ocílio se desdobrava entre Silveiras e Caçapava, numa constante batalha cheia de dificuldades, Os resultados logo surgem; em fevereiro de 1981 é criada a Silveirarte e, contando com apoio dos amigos Tom Maia e Thereza Maia, é definida como a imagem do silveirense, o tropeiro, que passa a simbolizar o homem valeparaibano. É instituído o Dia do Tropeiro, 30 de agosto de 1981, que coincide com a I Festa do Tropeiro, que logo se alastra pelo Vale, chegando a São José dos Campos. Também em 1981, inserido no contexto do tropeirismo, o Caeser Park Hotel de São Paulo lança o Festival Gastronômico Cultural, tendo como foco a cidade de Silveiras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> O trabalho de Ocílio Ferraz é reconhecido pelo Congresso Nacional que, com a Lei n°2.437/83, institui o Dia Nacional do Tropeiro. Em poucos anos, com o avanço dos projetos culturais e apoio de instituições, surge a Fundação Nacional de Tropeirismo, em 1988, cuja sede é estabelecida em Caçapava, na Fazenda Gramado. E nesse ano também, Ocílio Ferraz se estabelece definitivamente em Silveiras, na Fazenda do Tropeiro, onde estrutura o Restaurante do Ocílio, inicialmente em um casarão histórico no centro da cidade. E foi com as içás que Ocílio conquistou, merecidamente, a fama e o sucesso. Além, da farofa e paçoca de içás, Ocílio desenvolveu diversas receitas com a formiga, além da tradicional comida caipira, feita no fogão à lenha. Membro honorário da Academia Brasileira de Gastronomia, Ocílio ganhou o mundo; viajou várias vezes à Europa, divulgando seu trabalho. Por outro lado, os europeus se dirigiam a Silveiras para apreciar as içás do Ocílio. Por duas vezes se apresentou em um conhecido programa de televisão de uma grande emissora. Ao mesmo tempo, como sociólogo e escritor, prosseguia em suas pesquisas e defesa do patrimônio histórico e cultural do Vale do Paraíba. Atuou também em alguns órgãos governamentais. Recorrendo mais uma vez ao site silveirasemfoto.com, constatamos que já no início da década de 1980, Ocílio fez parte do Conselho Estadual do Meio Ambiente, durante o Governo de Franco Montoro. Com Mário Covas foi membro do Conselho Estadual de Turismo. No governo Alckmin, integrou o Conselho Estadual de Cultura, onde destacou “a importância dos povos indígenas na formação da alma do paulista”. Em 2006 foi Secretário de Cultura do Município de Canas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> Como pesquisador, historiador e escritor, Ocílio Ferraz publicou vários livros e artigos em jornais e revistas. Além das receitas gastronômicas, cujo foco era em geral, a içá, publicou , entre outros títulos, “Viajantes e Tropeiros” e, a obra principal, “Voltando às Origens”, quando de seu retorno à Silveiras. Auxiliou ainda na publicação de uma série de livros, ligados à Fundação Nacional do Tropeirismo, os “Cadernos Culturais do Vale do Paraíba”. Esse projeto teve também a colaboração das Prefeituras de Aparecida, Lorena, São José dos Campos, Taubaté; de algumas entidades ligadas à indústria, e da Universidade de Taubaté, UNITAU. Fez parte, também do IEV, Instituto de Estudos Valeparaibanos, contando sempre com o apoio de Tom e Thereza Maia, José Luiz Pasin, Ruth Guimarães, Nélson Pesciotta, Paulo Pereira dos Reis, Aziz Nacib Ab’Saber, Jairo Ramos, e muitos outros. A atuação de Ocílio Ferraz, foi reconhecida como já mencionada, tornando-se objeto de estudos em cursos técnicos e superior, na região. E foi através do interesse pela História Regional, que tivemos contato com a obra de Ocílio Ferraz, ao adquirir em um sebo de São José dos Campos, o livro “Voltando às Origens” A partir desse livro, fomos nos aprofundando no estudo dos costumes de nossos antepassados valeparaibanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> O autor deste relato conheceu Ocílio Ferraz pessoalmente no início de 2013. Ocílio fazia seu ingresso na Academia Cachoeirense de Letras e Artes, a ACLA, de Cachoeira Paulista. A posse como Membro Vitalício ocorreu em fins do mesmo ano, e o Mestre passou a ocupar a cadeira de número 39. Em todas as reuniões e eventos da ACLA, Ocilio nos ensinava como resgatar e valorizar nossas origens. Cordialmente cedeu espaço para reuniões da ACLA, na Fazenda do Tropeiro, em meados de 2013, onde em uma delas, acompanhado de um excelente café colonial, nos brindou com uma brilhante apresentação histórica de Silveiras, do Vale, e dos tropeiros. Em 2014, participou como co-autor da II Antologia da ACLA, estando presente ao lançamento em Cachoeira Paulista, assim como foi no ano anterior (lançamento da I Antologia). Em janeiro de 2015, esteve presente à cerimônia de nossa posse como presidente da referida academia. Devido à agenda lotada de seu estabelecimento em Silveiras, Ocílio não pode comparecer ao lançamento de nosso primeiro livro, “Uma Janela no Tempo. Os Godoy Fleming no Embaú”, ocorrido em março de 2015, em Cachoeira Paulista. Fez questão, no entanto, de solicitar um exemplar, o que nos deixou, deveras lisonjeado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> Mestre Ocílio trabalhou incansavelmente; entre o final de 2015 e início de 2016, contudo, começamos a notar sua ausência, inicialmente nas reuniões da ACLA. Soubemos através de um amigo acadêmico, que estava em tratamento de saúde e, por isso decidira se manter recluso em Silveiras. Através das redes sociais percebemos o quão era grave sua enfermidade. Em setembro de 2016, o autor destas linhas, juntamente com dois acadêmicos Roberto Godoy e Jurandir Rodrigues (este acompanhado da esposa), esteve em Silveiras. Muito abatido, Ocilio nos recebeu em seu restaurante e, na ocasião fizemos a oferta de um exemplar do nosso segundo livro, “Sítio Santa Helena. Uma Perspectiva Histórica”. O livro foi lançado em julho de 2016, em São José dos Campos, no qual Ocílio também não pode comparecer. Durante nosso encontro, em nenhum momento demonstrou tristeza ou desânimo. Na despedida, antes de retornar a Cachoeira Paulista, o último abraço fraterno. A ACLA soube reconhecer em vida o valor de Ocílio Ferraz. Através de nossa iniciativa e do acadêmico Roberto Godoy, nossa academia aprovou e encomendou uma placa em homenagem ao Mestre. Em novembro, uma comissão da ACLA, integrada pelos acadêmicos, Prof. José Maurício, Roberto Mendes e Izabel Fortes, se dirigiu à Silveiras para a entrega da honraria a Ocílio Ferraz. O autor do presente artigo não pode, dessa vez, comparecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> Contudo, quis o destino que iríamos encontrar Ocílio mais uma vez e de forma dolorosa. Na noite de 18 de dezembro de 2016, após uma cirurgia, os olhos de Mestre Ocílio se fecham para sempre. Ainda como Presidente da ACLA e, representando também o IEV, comparecemos ao velório e sepultamento em Caçapava, embora seu desejo fosse em Silveiras; algo que não iremos entrar em detalhes. Assim o Vale do Paraíba perde mais um de seus ícones culturais, como ocorrera com Paulo Pereira dos Reis, José Geraldo Evangelista, Agostinho Ramos, José Luiz Pasin, Ruth Guimarães, etc. Na cerimônia de posse da nova Diretoria da ACLA, tanto este que escreve este relato, como o novo Presidente, o acadêmico Osvaldo Luiz, citamos a importância ao trabalho cultural, além, obviamente do legado deixado pelo Senhor das Içás. Ocílio deixou a esposa Helenita, os filhos Fábio e Paula Ferraz, e quatro netos. Mas todos ficamos órfãos com a irreparável perda e, cabe a todos nós, amigos, discípulos, confrades e familiares, perpetuarem a memória de Ocílio Ferraz. Até a próxima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;"> Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<b><span face="" style="font-size: 12pt;">Dicas para consulta.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;">GUIMARÃES, Ruth. <b>Crônicas Valeparaibanas</b>. Centro Educacional Objetivo/CERED. Caçapava, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;">FERRAZ, Ocílio José Azevedo. </span><b style="font-family: arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Voltando às Origens</b><span face="" style="font-size: 12pt;">. CESP. São Paulo, 1984.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;">MAIA, Thereza Regina de Camargo. </span><b style="font-family: arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Guaratinguetá Ontem e Hoje</b><span face="" style="font-size: 12pt;">. Noovha América. São Paulo, 2010.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<span face="" style="font-size: 12pt;">TOLEDO, Francisco Sodéro. </span><b style="font-family: arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Em Busca das Raízes</b><span face="" style="font-size: 12pt;">. Editora Santuário. Aparecida, 1988.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<b><span face="" style="font-size: 12pt;">Site:</span></b><a href="http://www.silveirasemfoto.com.br/"><span face="" style="font-size: 12pt;">www.silveirasemfoto.com.br</span></a><span face="" style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<b><span face="" style="font-size: 12pt;">E-mail</span></b><span face="" style="font-size: 12pt;">: </span><a href="mailto:eddycarlos@ymail.com"><span face="" style="font-size: 12pt;">eddycarlos6@gmail.com</span></a><span face="" style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 24px;">
<b><span face="" style="font-size: 12pt;">Blog</span></b><span face="" style="font-size: 12pt;">: redescobrindoovale.blogspot.com.br<o:p></o:p></span><br />
<div>
<span face="" style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
</div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-65828836872978998552019-08-25T09:07:00.000-07:002019-08-25T09:09:45.702-07:00O Mestre do Calango.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2b4ZxtJc0S3Hd9EBecQ46yLEz_wxdZgD-9KLoqg4jF7-puZQ1P88ZgK0yAD23Dy4fQYhg-yi4wssKW4I2zSu20Kx6TfqipINDN0YfzZgGT865LebQeZyGMG8CkB6W4Wh3u7vub7nsySJH/s1600/ernesto-villela.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="626" data-original-width="940" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2b4ZxtJc0S3Hd9EBecQ46yLEz_wxdZgD-9KLoqg4jF7-puZQ1P88ZgK0yAD23Dy4fQYhg-yi4wssKW4I2zSu20Kx6TfqipINDN0YfzZgGT865LebQeZyGMG8CkB6W4Wh3u7vub7nsySJH/s640/ernesto-villela.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fotografia sem data de Ernesto Villela.<br />
FONTE: www.sjc.sp.gov.br. Acervo FCCR.<br />
<br />
Desde os primeiros momentos em que os seres humanos passaram a desenvolver a voz para comunicar-se uns com os outros, diferenciaram-se dos demais seres vivos que emitiam sons ou grunhidos. A partir da vida em comunidade, entre outras coisas, surgiu a necessidade do lazer, diversão, além da manifestação da crença em uma determinada religião. Os registros são escassos, mas na Suméria e no Egito já se usavam instrumentos primitivos para produzir uma melodia, sacra ou profana. Em festas comemorativas, entre os povos bíblicos, o instrumento mais utilizado era a harpa monopolizada pelas elites e nobreza em beneficio próprio. Entre outras nações, africanas ou americanas, por exemplo, era o tambor que produzia sons rítmicos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ao longo da “evolução” humana a música considerada clássica ou erudita era atributo das classes mais abastadas. Temos exemplos de músicos famosos como Mozart, Chopin, Strauss, etc. Os marginalizados da sociedade não tinham acesso a tais composições e suas canções simples que retratavam sua história e cultura eram ridicularizadas e desprezadas. A colonização ibérica na América trouxe esse conceito para o Novo Mundo e, além de desprezar passou a <span style="color: black;">perseguir t</span>ais manifestações culturais. Com a introdução da mão-de-obra cativa, os africanos trouxeram também seus costumes religiosos e profanos, com suas danças e músicas, sendo igualmente reprimidos pelo poder colonial e pela Igreja. Esta via nas danças e músicas, tanto indígena como africana, uma manifestação do demônio, devendo então ser banidas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim, no Brasil, o conceito de cultura, principalmente a música, foi definido em duas categorias, cultural erudita e cultural popular. Ainda mais durante o Império e início da República, o que era valorizado era a “boa” música, vinda da Europa “culta” e “civilizada”. As cantigas populares praticadas por escravos, mulatos livres e brancos pobres, além de proibidas eram taxadas de barbárie, selvageria, libertinagem, devassidão, etc. Nas fazendas escravistas, os senhores até permitiam a prática, como concessão aos cativos, para poderem extravasar um pouco os sofrimentos das senzalas. Ainda que vigiados pelos feitores, os escravos divertiam-se com danças como o batuque e o lundu, além das umbigadas. Ao analisar o período das Bandeiras no século XVII, Belmonte destaca o “amor do paulista pela música”, mesmo sendo rude e áspero. Em sua opinião, os paulistas cantam “seus avós bronzeados, <span style="color: black;">ao s</span>om de inúbias e maracás, e cantam seus avós brancos, tangendo guitarras”. Belmonte afirma também que na Vila (hoje a grande metrópole paulistana), os índios podiam se divertir “com seus instrumentos bárbaros, tangendo a guarapeva chocalhando maracás, rufando uais, assoprando torés. (...). Podem tocar. (...). Mas não podem dançar; desconjuntando-se em batucadas desrespeitadoras. Quando o fazem, lá se ergue um oficial da Câmara para fulminar a heresia, com palavras ásperas e penalidades irrecorríveis”. Nesse período os instrumentos mais utilizados eram a viola, confundida por alguns, em inventários antigos como cítara, e o pandeiro. Para os mais aquinhoados a melhor opção era a harpa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Durante os períodos colonial e imperial, a viola sempre foi execrada na sociedade elitista e escravista, relacionada à preguiça, ao ócio e à vagabundagem. Em 1860 ao passar pelo Vale do Paraíba, Augusto Emílio Zaluar retratou de forma irônica e preconceituosa o caipira de nossa região. Para o viajante, no sentido Rio-São Paulo, de Silveiras em diante proliferava “esta população quase nômade, e se encontram de espaço a espaço os seus toscos e mesquinhos albergues”. Nessas casas, segundo Zaluar, “vêem-se dependurados o lombilho e as rédeas, as esporas, a garrucha, e ao lado a viola, instrumento inseparável dos povos indolentes<span style="color: black;">”. Pois</span> é justamente no seio dessa população observada sob a ótica eurocentrista de Zaluar e de outros viajantes, que surgiu uma riqueza cultural, que resiste até os dias atuais. E é também da viola, de dez ou doze cordas, que sai as mais belas cantigas culturais, como as antigas músicas caipiras (as de raiz mesmo que retrata o ambiente rural de nossos antepassados). Outros instrumentos acabam sendo aceitos nas produções culturais como a sanfona (introduzida no Brasil com a Guerra do Paraguai), o violão, o pandeiro e os instrumentos da cultura africana, como os tambores. Seguem também o triângulo, o cavaquinho, caixa, chocalho, etc.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> Em </span>todas as etapas da História do Brasil, o mundo rural, agrário e escravocrata, produziu, através da população simples, escravos ou pobres livres, uma gama de atividades culturais, como danças, procissões religiosas, ou manifestações profanas. Às vezes perseguidas pelas elites coloniais e eclesiásticas como perturbação da ordem e heresia, muitas dessas danças atravessaram os séculos e, entre percalços chegaram à atualidade, com algumas modificações. No Vale do Paraíba, outrora o “nervo” financeiro do Império, muitas danças ainda sobrevivem. Junto com a Festa do Divino, Folia de Reis, Festa de São Benedito, as danças populares ainda sobrevivem<span style="color: black;">. De acordo</span> com a análise de Jacqueline Baumgratz, além da tradicional quadrilha junina, as danças mais famosas eram a de São Gonçalo do Amarante, o Moçambique, a Congada, o Jongo ou Caxambú, o Batuque ou Tambú, a Catira, a Cana-Verde de origem portuguesa, a Umbigada, o Caiapó, o Boizinho e o Calango, entre outras.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Atualmente, uma das mais famosas no Vale do Paraíba em meio aos festejos religiosos, o Calango é definido pela jornalista Lídia Bernardes como “canto e baile realizados isolados ou coletivo, popular de certas cidades de Minas Gerais. (...). O rítmo da dança é quartenário (dois por quatro) e os pares dançam coreografias simples. (...) A música se repete num refrão típico. O solista é sempre improvisador. O instrumento comum é a sanfona antiga de oito baixos (pé-de-bode)”. Para o sociólogo Alcemir Palma, a manifestação do Calango no Vale do Paraíba, corroborando a tese de Lídia Bernardes, é originária de Minas Gerais com ramificações no Rio de Janeiro e São Paulo. O nome representa um estilo de música de dança folclórica. Antes de analisar a parte folclórica, Alcemir Palma descreve o Calango, seguindo a análise de Téo Azevedo. O calango “è um réptil todo esverdeado, maior que a lagartixa e menor do que o tiú ou lagarto. (...). É exatamente veloz e agitado quando se sente ameaçado”. A comparação <span style="color: black;">do </span>réptil com o estilo musical é devido à forma com que a mesma é praticada. O cantor ou cantores são ligeiros no improviso das letras das canções, tanto em solo ou em dupla, esta geralmente configurando um desafio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Para o sociólogo citado, a transmissão do Calango não depende de instituição formal, pois ele “é uma expressão do homem e suas raízes. A difusão do calango é oral e se realiza nas festas populares”. O Calango também contém em valor simbólico dentro de um determinado agrupamento social. Segundo Alcemir Palma, outra característica do calango é a função social, a qual é “elemento essencial para que não tenha alienação do homem com relação ao produto, abolindo desta maneira as divisões do sistema de produção”. No Vale do Paraíba, o calango vindo das regiões sul-mineiras, proliferou no início do século XX. Dentre os que praticavam o calango, colocando em prática a função de divertir e unir as pessoas no meio rural destacaram-se Zé Mira e Ernesto Villela, ambos atuantes e parceiros durante a década de 1990 em São José dos Campos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ao contrário de Zé Mira que nasceu em Cristina, Minas Gerais, Ernesto Villela nasceu em São José dos Campos, em 24 de agosto de 1916, no local chamado “mangueirão do Chico Pereira”, conforme afirmação de Alcemir Palma. O local é onde atualmente estão as <span style="color: black;">instalações</span> da antiga Tecelagem Paraíba. O pai, natural de Guaratinguetá era Antenor Sales Villela e a mãe chamava-se Maria José da Costa Villela. O pai de Ernesto chegou a estudar em um colégio salesiano, encaminhado pelos progenitores Major de Sales Villela e Maria Januária dos Reis Villela. Alcemir Palma não menciona, mas deduzimos que o pai de Ernesto deve ter estudado no Colégio São Joaquim de Lorena. Vindo residir em São José dos Campos, Antenor Villela foi cuidar da fazenda em que nasceria mais tarde Ernesto Villela e mais sete irmãos. Com a crise do café, assim como para muitos no Vale do Paraíba, a opção foi o gado leiteiro. O futuro calangueiro já atuava como tropeiro e além das atividades costumeiras, as tropas exerciam a função de mensageiros. Como a situação financeira piorava o pai de Ernesto vende a fazenda em 1940 para pagar dívidas. Ainda consegue adquirir uma chácara no Bairro de Santana.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A partir de então, Ernesto Villela passa a administrar outras fazendas em São José dos Campos, mas já havia desenvolvido o lado de cantor influenciado por Ana Rosa Alves Viana, avó materna, conhecida como Vó Sinhana. Conforme Alcemir, Ernesto Villela afirmava que “a grande herança deixada pela avó foi a facilidade com que fazia <span style="color: black;">versos de</span><span style="color: red;"> </span><span style="color: black;">improviso e cantava cana-verde, </span>música dançante, em que os participantes ficam em roda e os cantores se desafiam por meio dos versos”. Em 1938, Ernesto contrai núpcias com Maria Luiza, resultando deste consórcio treze filhos. Não sabemos os nomes completos, mas segundo Alcemir todos tem o nome “Aparecido”, devido a uma promessa feita a Nossa Senhora Aparecida. A partir de 1949 conhece Terezinha Pereira de Oliveira, que à época já estava separada de Antônio Albano Pereira, com quem teve os filhos Maria Aparecida e Benedito José, Dez anos mais tarde, Ernesto deixa Maria Luiza e vai formar família com Dona Tereza, com quem teve os seguintes filhos: Alzira, Isabel, José Antenor, Maria José, Carlos Roberto, Jorge, Ofélia, Lucélia e Mário. Mesmo influenciado pela avó na cana-verde, Ernesto teve contato com o calango já em meados de 1940, desenvolvendo seus dons e iniciando sua própria carreira. Ao longo dos anos devido à habilidade, rara inteligência ao compor rimas e desafios, mereceu ser denominado Mestre Calangueiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em toda sua vida Ernesto ficou conhecido também pelos causos que contava como a de Zé Colete, o do juiz e o caboclo, a comparação entre República e Monarquia, etc. Na década de 1956 chegou a atuar em dois filmes: “Cara de fogo” e “ Paixão de Gaúcho”. Porém foi como Mestre do Calango, que o nome de Ernesto Villela se afirmou no Vale do Paraíba, rompendo fronteiras indo além, em outras cidades. Além do Vale paulista, Ernesto se apresentou em festas populares no Vale fluminense, como em Vassouras. Outras cidades conheceram o calango de Ernesto como Igaratá, Joanópolis, Barretos, Santa Rita de Extrema, etc. A fama se espalhou e instituições culturais e entidades educacionais passaram a solicitar a presença do Mestre do Calango, como a Câmara Municipal de São José dos Campos, a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, o SESC, SESI, CTA (atualmente DCTA) e a UNIVAP. De acordo com Alcemir Palma, essas apresentações “solidificaram a presença de Ernesto enquanto artista popular sendo reconhecido e respeitado pelos seus admiradores. Já em 1976 os dons artísticos e culturais de Ernesto Villela chamou a atenção de Francisco Pereira da Silva, o Chico Triste, exímio pesquisador do folclore valeparaibano. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Apesar de se conhecerem de vista mas um sabendo das qualidades do outro, Ernesto Villela estreitou laços de amizade com outro tropeiro e também calangueiro, Zé Mira. Lídia Bernardes anotou em sua obra, o testemunho do Ernesto sobre o amigo: “Eu conhecia seo Zé de vista, mais com intimidade de conversa foi em Cachoeira Paulista, em 1993. Ele tava lá na barraca dele e eu fui comê um bolinho. E já batemo papo e cantemo um poco. O povo reuniu em vorta e já ficamo amigo dêisdi essa vêiz”. Ocorre que Ernesto havia perdido o parceiro Jarbas e com a amizade com Zé Mira nasceu a dupla de calangueiros. Uma das apresentações da dupla aconteceu em uma famosa casa noturna de São José dos Campos. Realizado no dia 08 de setembro de 1999, o evento batizado de “Noite do Calango”, foi coroada de sucesso, tendo inclusive a presença de um famoso apresentador de televisão que pretendia divulgar o trabalho de Ernesto e Zé Mira. Segundo reportagem de um jornal local, o proprietário da casa Edílson Veneziani afirmou que a intenção “de realizar o evento é a de popularizar a cultura caipira”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entretanto, nem tudo foi “maravilhas” na vida do Mestre do Calango. Se no meio artístico e cultural seu trabalho foi valorizado, o mesmo não ocorreu no meio rural, na lida do dia a dia. Após o pai vender a fazenda, Ernesto arrendou uma no local chamado Sertãozinho, zona norte de São José dos Campos. Devido às dificuldade financeiras, entregou a propriedade e foi administrar a Fazenda Santo Agostinho, de Getúlio Veneziani, em 1961. Nessa fazenda os filhos de Ernesto e Terezinha passaram a infância. A propriedade de 161 alqueires foi organizada para a atividade pecuária, que chegava a produzir em média 500 litros de leite por dia, segundo o próprio Ernesto. A esposa cuidava das galinhas que eram muitas, que resultavam “num lucrinho pra comprá uma roupa melhor, por que ele (o patrão) num dava memo, num dava uma butina, a menina com 6 anos, 7 anos e o otro menino descarço no pasto tocando vaca, com chuva, tremendo de frio me cortava o coração”. Em 1971, devido à uma doença no pé direito, Getúlio Veneziani aposentou Ernesto Villela por invalidez, mas continuou<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>usufruindo da mão de obra do calangueiro. Em 1973, com a aquisição da Fazenda Rancho Alegre na região dos Freitas em São José dos Campos, Getúlio transfere Ernesto e toda a família para o novo local. Após diversas melhorias realizadas, na fazenda, como plantação de 220 mil pés de eucalipto, além de um loteamento, Getúlio demite Ernesto e toda a família, com a justificativa de que a fazenda estava vendida. Além de não reconhecer os esforços do empregado e antigo administrador, Getúlio Veneziani se recusa a pagar os direitos trabalhistas. Após um processo judicial, em que o irmão de Getúlio, Luiz Carlos Veneziani e o novo dono da fazenda Sr. Percy acabaram pagando Ernesto, através de acordo, o Mestre do Calango deixa a região dos Freitas, indo residir no Bairro do Galo Branco, zona leste de São José dos Campos. Esse episódio deixou muitas mágoas em Ernesto Villela e na sua família. Infelizmente esse é o retrato da maioria das relações entre patrões e empregados, tanto no meio rural, como no industrial. No caso de trabalhadores rurais é mais doloroso, porque há uma proximidade maior e o que se espera é no mínimo reconhecimento pelos esforços e dedicação.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Todavia, se Ernesto Villela não teve o valor merecido pelo patrão, teve pela sociedade joseense e valeparaibana. Em 1993, exatamente no dia 15 de junho, a Câmara Municipal, através de Decreto Legislativo de autoria do então Vereador Luiz Paulo Costa, concede a Ernesto Villela, o Mestre do Calango, a medalha Cassiano Ricardo. Para Alcemir Palma, a data ficou “marcada para sempre em Ernesto que guardava com carinho tanto a medalha quanto o diploma recebido e dizia estar orgulhoso de ser reconhecido pelo seu trabalho”. No plano familiar, Ernesto casou-se na Igreja com Dona Tereza em junho de 1992 após o falecimento do primeiro marido desta e de Maria Luiza. Em uma conversa agradável, a filha de Ernesto Villela, Isabel Cristina, afirmou ao autor do presente texto, que o pai apesar da situação em que vivia era um católico fervoroso. No dia 12 de outubro de 1999 fez sua última viagem à Aparecida e voltou “de alma limpa”. Segundo Isabel, o pai afirmara que tinha se livrado das mágoas do passado, em especial a que tinha com o antigo patrão. Alguns dias antes de se apresentar no programa “Viola minha viola”, da TV Cultura, os olhos e, principalmente a voz do Mestre do Calango se encerram no dia 11 de novembro de 1999. No velório de Ernesto Villela, conforme a descrição de Isabel Cristina compareceu aproximadamente duas mil pessoas, entre parentes, amigos, músicos, fãs, entre outros. Em 2000, no lançamento do livro do sociólogo Alcemir Palma, o amigo e companheiro Zé Mira, afirmara que Ernesto Villela quando conversava, “arrematava. O homem era fora de série. Porque ele se foi, mas a história dele, com esse trabalho de voceis, vai continuá remando junto com a gente”. Falecido há pouco tempo, Zé Mira estava certo. Em 2008, a Vereadora Dulce Rita apresenta um projeto de lei na Câmara Municipal. Aprovado e sancionado pelo Executivo, a Lei nº. 7.655 de 03 de outubro de 2008 denomina a Casa de Cultura do Distrito de Eugênio de Melo, de Casa de Cultura Rancho do Tropeiro Ernesto Villela. No dia 23 de agosto de 2014, houve uma grande comemoração em homenagem ao Mestre do Calango no local, sendo divulgado nas redes sociais. Encerramos o presente relato com uma frase de Ernesto Villela. “O calango é meu colega escuta o que eu vô falá quando eu vim da minha terra, trouxe o calango pra cá o calango é meu remédio qui eu bebo pra miorá”, Até a próxima.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 247.8pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Eddy Carlos</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Dicas para consulta.</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
BAUMGRATZ, Jacqueline. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cultura Popular do Vale do Paraíba.</b> Mogiana Editora. São José dos Campos, 2010.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
BELMONTE. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">No tempo dos Bandeirantes.</b> Editora Melhoramentos. São Paulo, 1998.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
BERNARDES, Lídia. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Nas Trilhas de Zé Mira.</b> <b>Um Caipira Mira o Vale do Paraíba.</b> Editora Escrituras. São Paulo, 1999.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
PALMA, Alcemir. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Mestre Calangueiro. Ernesto Villela.</b> 2ª edição. Mogiana Editora. São José dos Campos, 2011.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
ZALUAR, Augusto Emílio. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Peregrinação pela Província de São Paulo (1860-1861).</b> Martins Editora. São Paulo, 1976.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">E-mail:</b> <a href="mailto:eddycarlos@ymail.com">eddycarlos6@gmail.com</a><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><br />
<span style="mso-tab-count: 1;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: auto; text-align: justify; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 1; word-spacing: 0px;">
<div style="margin: 0px;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Blog:</b> redescobrindoovale.blogspot.com.br</div>
</div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-682134444597304752019-07-28T07:45:00.000-07:002019-07-28T07:51:53.729-07:00O General de Pindamonhangaba.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdAk-4E0kYswjunxblsYXKvlAaGPSEd6cOAIMHkNnF2-SVWWgLs8H-nTrNZTjP29PRNTF0lHU7ssheqAMO9RxTqgvWQSetLQwMZBuWNcLhyejs4PdQawD18STKTt35MRYfywPoBenGlMlw/s1600/marcondes+salgado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="343" data-original-width="655" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdAk-4E0kYswjunxblsYXKvlAaGPSEd6cOAIMHkNnF2-SVWWgLs8H-nTrNZTjP29PRNTF0lHU7ssheqAMO9RxTqgvWQSetLQwMZBuWNcLhyejs4PdQawD18STKTt35MRYfywPoBenGlMlw/s1600/marcondes+salgado.jpg" /></a></div>
Fotografia sem data de Júlio Marcondes Salgado.<br />
FONTE: policimamilitardesaopaulo.blogspot.com.br<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;">Antes mesmo</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"> </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;">de o homem passar a conviver com seu
semelhante em comunidades, quando deixa de ser apenas caçador e coletor, a
violência esteve presente. Seja por disputas por mulheres (entre os mais
primitivos), por cursos d’água, área de pastagens para os animais domesticados,
as lutas entre os seres humanos parece estar inerente à própria essência.
Quando se organizam em sociedades, que chamamos de “Estado”, por mais rudimentar
que fosse, tais “brigas” ou lutas armadas tinham como objetivo de se defender
uma determinada aldeia ou tribo contra outra, invasora. Ou também, quando
grupos dirigentes de um determinado povo parte para a conquista de outrém,
submetendo ao seu domínio e escravizando seus semelhantes, cujo objetivo único
era o de enriquecer tais líderes “poderosos”. É a origem das guerras, as quais
surgem em tempos remotos e imemoriais. Dessas guerras, antes primitivas,
travadas com clavas, passam a utilizar armas mais desenvolvidas, durante a fase
das cidades-estados da Mesopotâmia (atualmente o Iraque). Uma cidade-estado ao
dominar outra e mais outra, amplia seu poder, passando a dominar muitas,
fazendo surgir reinos e impérios, como o de Sargon I, que funda o Império Acadiano
em 2334 a. C..</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"> </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;">Outros povos o sucedem;
ora são dominadores, ora são dominados, como assírios, caldeus, persas, etc. Os
relatos bíblicos do Antigo Testamento descrevem também como os povos subjugados
eram reduzidos à escravidão, como é o caso dos hebreus pelos egípcios e pelos
filisteus, até os próprios israelitas se organizarem em reino, mantendo sua
independência até certo período, quando são sucessivamente dominados por
assírios, caldeus, persas, macedônios e romanos.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Em todas as nações
conhecidas pelo seu aspecto conquistador e dominador, as forças armadas se
compunham basicamente do que veio a ser chamado de “Exército”, auxiliado por
uma frota marítima, a qual estava a serviço dessa mesma força. Assim, de todas
as organizações militares que conhecemos atualmente, o Exército é a mais antiga
e a mais tradicional. Para comandá-lo cada povo utilizava uma denominação
própria. Citemos o caso do Império Romano, por ter sido na Antiguidade o mais
bem organizado e mais poderoso até a
invasão dos bárbaros. Não havia a denominação de “general” como conhecemos
atualmente. Os comandantes das legiões eram denominados de “cônsul” ou “pretor”;
o termo “general só começou a </span><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">surgir nos exércitos da</span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-theme-font: major-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Europa, </span></span><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">no</span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-theme-font: major-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> </span></span><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">século
XVII, a partir da antiga patente de</span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-theme-font: major-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> </span><span style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif;">capitão-general.</span></span><span style="background: white; font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: #222222;"> Tal denominação, significava o capitão
"geral", ou seja, o capitão de todo o exército. A denominação
"capitão-general" foi contraída, na maioria dos exércitos, para,
simplesmente, "general".</span></span><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Independente
das denominações dos líderes militares, as guerras, obviamente, causavam e
causam mortes e destruições para os mais devastados, em prol de um vencedor, ou
vencedores, que se glorificam com os despojos dos derrotados e aniquilados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Porém, os efeitos se tornam mais
traumáticos quando conflitos bélicos são travados entre “irmãos”, ou seja, em
uma guerra interna, dentro de uma mesma nação, o que é denominado de “guerra
civil”. Muitas ocorreram, inclusive em Roma durante a crise da República, entre
Otavius e Marcus Antonius; e também durante o Império, entre Massencius e
Constantinus (Constantino, o imperador “cristão). Outros exemplos, que podem
ser mencionados são a Guerra das Duas Rosas (Inglaterra, 1455-1485), e também a
Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861-1865). E o Brasil não fugiu à
“regra”. Foi durante o Império, logo no inicio do governo de Dom Pedro I, que
duas revoltas internas desafiaram o poder central. A primeira, a Confederação
do Equador (1824), iniciada em Pernambuco, se alastrando por outras províncias,
a qual foi duramente reprimida pelo imperador. A segunda, a Guerra da
Cisplatina, na realidade um desdobramento da guerra contra a Argentina
(1825-1828), na qual após a intervenção diplomática britânica, o Brasil perde
sua província meridional, surgindo o atual Uruguai. Entre 1831 e 1845, várias
revoltas sacudiram o país, que quase leva ao esfacelamento do território, tais
como a Balaiada (Maranhão), a Cabanagem (Pará), a Sabinada e a dos Malês
(Bahia), a Farroupilha (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), além da Revolução
Liberal de 1842 (Minas Gerais e São Paulo), esta encerrada violentamente no
Vale do Paraíba, Estado de São Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Com o advento da República,
no crepúsculo do século XIX, novas revoltas, como a as duas da Armada (Rio de
Janeiro, 1891 e 1892-1894), a Revolução Federalista (Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, 1893-1895) e Guerra de Canudos (Bahia, 1893-1897); todas reprimidas
brutalmente. Em 1922 tem início o Tenentismo com a tomada do Forte de
Copacabana, reprimida pelo Presidente Epitácio Pessoa. Dois anos mais tarde, os
Tenentes atacam a cidade de São Paulo (Revolta Tenentista de 1924), que é
ocupada pelos rebeldes. Sem se importar com a população, o Presidente Arthur
Bernardes ordena o bombardeio incessante da capital, obrigando os revoltosos a
romperem o cerco legalista, unindo-se a outro grupo rebelde, liderado pelo
Capitão Luís Carlos Prestes, vindo dos pampas, surgindo a Coluna Prestes. Os
Tenentes se aliam à Getúlio Vargas, que em outra revolta, a Revolução de 1930,
depõe o Presidente Washington Luiz, impede a posse do presidente eleito, Júlio
Prestes, e toma o poder em outubro do mesmo ano. Tem início a Era Vargas, com o
chamado Governo Provisório (1930-1934) extinguindo a Constituição Federal de
1891, depondo os presidentes dos Estados e nomeando interventores federais.
Somente permanece Antônio Carlos de Andrada, Presidente de Minas Gerais, que
apoiara o movimento que depôs Washington Luiz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> No Estado de São Paulo, um
grupo dissidente do Partido Republicano Paulista (P.R.P.), agrupado no Partido
Democrático (P.D.), fundado em 1926, também havia apoiado e seu líder,
Francisco Morato, aguardava o momento de ser nomeado por Getúlio, o interventor
paulista. Mas, instigado pelos Tenentes, Vargas nomeia para o cargo um militar
e paraibano, o Coronel João Alberto de Lins e Barros; e para comandar a Força
Pública, Miguel Costa, um dos líderes do Tenentismo, que apesar de integrar tal
corporação, é nomeado general do Exército, para ser também general da Força
Pública. Estas atitudes de Vargas acabaram dando início ao antagonismo com a
elite paulista. Outros interventores sucedem João Alberto, mas a crise política
prossegue; no início de 1932, o P.D. e o P.R.P. deixam as divergências de lado
e fundam a Frente Única Paulista (F.U.P.), que passa a exigir a
reconstitucionalização do país. Mesmo com a nomeação do ex-Embaixador Pedro de
Toledo, civil e paulista, para a interventoria, os ânimos se exaltam, atingindo
o ápice, após a visita de Oswaldo Aranha, enviado por Getúlio para tentar um
acordo. O emissário de Vargas chega a São Paulo no dia 22 de maio de 1932,
recebido com vaias e xingamentos, o que o faz retornar para o Rio de Janeiro
sem nada conseguir. No dia seguinte as manifestações prosseguem com atos de
vandalismo pelas ruas da capital, até que a sede da Legião Revolucionária,
fundada por Miguel Costa, é cercada. Sendo um braço paramilitar, que apoiava o
Governo Vargas, os sitiados abrem fogo contra a multidão, resultando na morte
de quatro estudantes, Mário Martins, Euclydes Miragaia, Dráusio de Souza e
Antônio de Camargo. As iniciais de seus nomes formam a sigla M.M.D.C., que
auxilia a deflagração da denominada Revolução Constitucionalista, iniciada no
dia 09 de julho de 1932.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Comandada pelo General
Isidoro Dias Lopes (o mesmo da revolta de 1924, mas agora do lado oposto) e
pelo General Bertholdo Klinger, a revolta contra Vargas, já estava fadada ao
fracaso desde o seu péssimo planejamento. No Vale do Paraíba, foi comandada
pelo Coronel Euclydes Figueiredo, que estabelece em Cachoeira Paulista, a 2ª
D.I.O. (Divisão de Infantaria em Operações). Do
lado governista, Getúlio encarrega o General Pedro Aurélio de Góes
Monteiro da missão de esmagar o levante paulista, o que se concretiza após três
meses de uma luta desigual. A Guerra Paulista termina em 02 de outubro com a
rendição dos rebeldes na cidade de Cruzeiro. Ao longo de noventa dias ela
produziu destruição, prejuízos materiais, feridos, mutilados, mortos, viúvas e
órfãos, principalmente do lado paulista. Mas também criou mitos, mártires e
heróis, reais ou fictícios. Um caso inconteste foi o do lavrador Paulo Virgínio
do Município de Cunha, barbaramente torturado e morto por soldados getulistas.
Outro que ficou eternizado na luta contra a assim chamada “Ditadura de Vargas”,
foi o Capitão Manoel de Freitas Novaes Neto (Capitão Néco), de Cruzeiro,
surpreendido em uma emboscada na região de Vila Queimada, próxima de Queluz.
Ferido mortalmente, faleceu na Santa Casa de Cruzeiro. Porém, menos de um mês
após o início do conflito iria surgir a primeira vítima fatal, de de alta
patente e do lado paulista, obviamente, embora não tenha sido em combate.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Conforme a análise de Francisco
Piorino Filho, Júlio Marcondes Salgado nasceu no dia 01 de setembro de 1890 em
Pindamonhangaba, no Bairro do Mato Dentro. Filho do Capitão Victuriano
Clementino Salgado e de Anna Eufrasina Marcondes do Amaral. No ano de 1907
alista-se na Força Pública de São Paulo, ingressando no 1º Esquadrão do 1º
Regimento de Cavalaria. Em 1911 é promovido a 2º Sargento, e no ano seguinte
contraí núpcias com Ofélia Acritelli, natural de Santa Branca. De acordo com
Piorino Filho, Júlio Marcondes já em 1920, é 1º Tenente e Instrutor de Tiro,
chegando ao posto de Capitão em 1924. No mesmo ano ocorre o ataque tenentista a
São Paulo, já mencionado, e o então Capitão Salgado toma parte “no assalto à
Estação do Norte e à Usina da Light, em poder dos insurretos. Em 1925, na
perseguição à Coluna Miguel Costa (mais popularmente conhecida como Coluna
Prestes), comandando uma Coluna do 3º B.I., vence o combate de Iacanga, capturando
quase todos os inimigos, recebendo pelo feito a Medalha da Legalidade”. No ano
de 1927 é promovido a Tenente-Coronel, do Regimento de Cavalaria, no qual
ingressara, demonstrando ainda competência hípica, destacando-se no Concurso
Hípico Brasileiro do Rio de Janeiro em 1929.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Entretanto, como afirmado
anteriormente, a partir de outubro de 1930, Miguel Costa assume o Comando Geral
da Força Pública, nomeado por Getúlio Vargas, a quem o Capitão Salgado ficava a
partir de então subordinado. Novamente citando a análise de Francisco Piorino
Filho, no dia 23 de maio de 1932, o mesmo dia da morte dos estudantes citados,
o interventor Pedro de Toledo exonera Miguel Costa do importante cargo e o referido
Capitão Salgado é nomeado comandante interino. Dois dias depois é “promovido a
Coronel e mantido no Comando Geral, atingindo, assim, aos 41 anos de idade o
posto máximo da luminosa carreira”. Como mencionado, logo “estoura” o levante
paulista e com isso o agora Coronel Júlio Marcondes Salgado torna-se um dos
líderes do movimento, representando a Força Pública. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Lamentavelmanete, apesar do
entusiasmo, tanto os líderes militares como civís, tinham plena consciência da
deficiência bélica dos paulistas, o que não era revelado aos combatentes,
principalmente os voluntários. Por isso, a adaptação das indústrias para o
esforço de guerra e o desenvolvimento e novas e “modernas” armas. O historiador
Hélio Silva afirma, que devido à tais deficiências, o Major José Marcelino da Fonseca, da Força
Pública, e o engenheiro Jorge de Resende, desenvolveram uma arma nova,
semelhante a um morteiro ou bombarda. Após os testes iniciais, escolheram o dia
23 de julho de 1932 para a apresentação para o Alto Comando Constitucionalista,
em Indianópolis. Dentre os presentes graduados estavam o Coronel Júlio
Marcondes Salgado e o General Bertholdo Klinger, além do médico Vlademir Piza e
demais auxiliares. Mas algo “saiu” errado. Vamos transcrever o relato de Hélio
Silva, o qual afirma que o material “era improvisado, foi mal calculada a
espolêta da granada e a explosão se deu
dentro da própria peça, arrebentando-a e atirando os estilhaços longe. Um
fragmento apanhou, de raspão, o coronel Júlio Marcondes Salgado,
seccionando-lhe a carótida, derrubando-o, evaindo-se em sangue, morrendo ali
mesmo. Outro estilhaço atingiu o peito do capitão José Marcelino da Fonseca,
traspassando-o em ferimento grave o que não sobreviveria”. A explosão feriu ainda,
mas sem gravidade, o General Bertholdo Klinger, o Tenente-Coronel Salvador
Moya, o Capitão Heliodoro Tenório da Rocha Marques, incluindo também um
sargento e mais dois civís.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Com a morte do Coronel
Júlio Marcondes Salgado, assume o Comando Geral da Força Pública, o Coronel Herculano
de Carvalho e Silva, que prossegue com a guerra contra as forças do Governo
Provisório. Dentre as várias homenagens póstumas recebidas, a que mais se
destaca é que prestou o Governador Pedro de Toledo no mesmo dia da tragédia.
Através do Decreto nº 5.602, de 23 de julho de 1932, o Coronel Júlio Marcondes
Salgado é promovido ao posto de General Comandante da Força Pública do Estado
de São Paulo, tornando-se assim, post mortem, General Júlio Marcondes Salgado.
A guerra paulista se encerra no dia 02 de outubro, como afirmamos
anteriormente, quando o Coronel Herculano de Carvalho depõe as armas após o
ultimatum do General Góes Monteiro. Quanto a Júlio Marcondes Salgado, o último
general de uma força policial, sua memória está cultuada noas comemorações oficiais
da Revolução Constitucionalista, em nomes de ruas, logradouros,
avenidas,escolas, etc. Mas em sua terra natal, a Academia Pindamonhangabense de
Letras, criada pela Lei Municipal nº 664, de 18 de dezembro de 1962, o
homenageou como Patrono da Cadeira nº 15. Uma justa homenagem, como a de outros
que já ocorreram, como citado neste artigo, incluindo Paulo Virgínio. Porém, vários
tombaram acreditando em um ideal, que não foi levado a sério pelos mesmos que
propagaram a chamada “reconstitucionalização”. Há muitos que merecem a devida
honra. Até a próxima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">
Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Dicas para
consulta.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">BEZERRA, Holien Gonçalves. <b>O Jogo do Poder. Revolução Paulista de 32.</b>
Coleção Polêmica. Editora Moderna. São Paulo, 1989.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">DONATO, Hernâni. <b>A Revolução de 32.</b> Círculo do Livro.
São Paulo, 1982.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">FILHO, Francisco Piorino. <b>Biografias. </b>Mystic Editora. Campinas,
2001.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">FILHO e MELO, José Canavó e
Edilberto de Oliveira. <b>Asas e Glórias de
São Paulo.</b> Imprensa Oficial. São Paulo, 1978.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">FIGUEIREDO, Euclydes. <b>Contribuição para a História da Revolução
Constitucionalista de 1932.</b> Livraria Martins Editora. São Paulo, 1953.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">SILVA, Hélio. <b>1932. A Guerra Paulista.</b> Coleção O
Ciclo de Vargas. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1976.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">RHYMER, Joseph. <b>Os Povos da Bíblia. </b>Editora
Melhoramentos. São Paulo, 1995.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">E-mail:</span></b><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> </span><a href="mailto:eddycarlos6@gmail.com"><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">eddycarlos6@gmail.com</span></a><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Blog:</span></b><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> redescobrindoovale.blogspot.com.br<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment--><div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-39146444471093742562019-07-21T14:05:00.004-07:002020-07-28T06:55:57.057-07:00Ecos Monarquistas.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJLo-KW3m3OqQEATiKtcMxGVsDz_vsskb85Z6nezlZyB7PXav193X6HAhqUePhsgWJko1i5nO_8rPD4B2gfVPw4aidRIhs_sEULyBekmNon0lQDpVV7EHjU7JGtU6D3q07r1o23x-Bfdge/s1600/Recanto+da+Gl%25C3%25B3ria+15a..jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="940" data-original-width="608" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJLo-KW3m3OqQEATiKtcMxGVsDz_vsskb85Z6nezlZyB7PXav193X6HAhqUePhsgWJko1i5nO_8rPD4B2gfVPw4aidRIhs_sEULyBekmNon0lQDpVV7EHjU7JGtU6D3q07r1o23x-Bfdge/s640/Recanto+da+Gl%25C3%25B3ria+15a..jpg" width="413" /></a></div>
Lembrança do 10º aniversário do falecimento do Padre Saint-Clair Monteiro de Barros.<br />
FONTE: Acervo histórico-documental do Recanto da Glória/Prof. Eddy Carlos.<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Desde a Independência até a queda do Império, a Marinha Brasileira, chamada de Armada constituiu junto com o Exército as duas forças que garantiam a soberania e a integridade do território nacional. Porém, o Governo Imperial prestigiava mais a primeira deixando a segunda em plano secundário, somente recorrendo a ela em casos extremos. Comandada entre 1822 e 1823 por mercenários europeus como Thomas Cochrane e John Grenfell, a Armada adquiriu “ares” aristocráticos e nobiliárquicos tornando-se a “menina” dos olhos do Imperador Dom Pedro II. Seus oficiais recebiam os melhores soldos, comparados com os do Exército e a tripulação nos navios recebiam os mesmos tratamentos que os escravos nas fazendas cafeeiras. Com a derrota do Brasil na Guerra da Cisplatina em 1828, na qual o Uruguai adquiriu a sua independência, o Exército Imperial é enviado para as fronteiras, ficando carente de recursos financeiros e materiais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> A criação da Guarda Nacional em 1831, durante a Regência, para manter a ordem interna diante das várias rebeliões, soa também como tentativa de se opor, ou até mesmo se prevenir contra a influência de alguns oficiais. Ainda que não tendo o seu valor reconhecido, determinados oficiais do Exército são fundamentais para a garantia da legalidade. É o caso de Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias que atuou na repressão da Revolta Liberal de 1842 e na Revolução Farroupilha (1835-1845). O Governo Imperial, porém, iria necessitar do auxilio das duas forças armadas, principalmente da terrestre, durante a Guerra do Paraguai (1864-1870). O conflito proporcionou ao Exército a conscientização a respeito de sua importância para o Império. Após o término da guerra, os oficiais voltam para a pátria, influenciados pelos ideais republicanos adquiridos com seus colegas argentinos e uruguaios. Mas a Monarquia não torna conhecimento de tais mudanças e continua a prestigiar a Armada, alheio até mesmo em relação à crescente campanha do Partido Republicano, fundado na Convenção de Itú em 1873.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Mesmo contando com o apoio de alguns oficiais monarquistas, o Exército derruba o Gabinete Ouro Preto, e em seguida, manipulado pelos republicanos, proclama a República em 15 de novembro de 1889, e no dia seguinte a família imperial é banida para a Europa. Antigo oficial leal a Coroa, coube a Manoel Deodoro da Fonseca, além de chefiar o golpe, assumir o Governo Provisório. Porém, o primeiro presidente não era bem visto pelos republicanos e, muito menos pelos monarquistas que o consideravam como um traidor do Império. Em 3 de novembro de 1891, contrariado por uma lei aprovada pelos parlamentares, que autorizava o impeachment do presidente, Deodoro fecha o Congresso Nacional, mas renuncia no dia 23 diante da ameaça de bombardeio do Rio de Janeiro pelo Almirante Custódio de Melo. Segundo o jornalista Eduardo Bueno, Deodoro resolve deixar o poder para evitar uma guerra civil, mais precisamente entre o Exército e a Armada. O episódio ficou conhecido como a primeira Revolta da Armada e com a saída de Deodoro assume o vice Floriano Peixoto, conhecido como o Marechal de Ferro. O clima político, no entanto continua tenso, devido ao autoritarismo de Floriano Peixoto. No Rio Grande do Sul, o Governo Federal passa a apoiar a facção de Júlio de Castilhos, na guerra travada contra os maragatos, durante a Revolta Federalista, entre fevereiro de 1893 e setembro de 1895. E é nesse cenário que tem início a segunda Revolta da Armada. Em 6 de setembro de 1893, o Almirante Custódio de Melo deflagra a rebelião com o intuito de depor o Presidente Floriano Peixoto. Dessa vez, Custódio de Melo teve o apoio de outro oficial monarquista da Armada, o Almirante Saldanha da Gama, contando ainda com 16 vapores de guerra e oito navios mercantes, velhos, mas adaptados para o uso militar. Essa nova revolta durou até março de 1895, quando os rebeldes cansados da luta pedem asilo em navios portugueses. Mesmo combatendo internamente em duas frentes, o Marechal de Ferro consegue manter a supremacia, graças ao uso até a exaustão dos recursos públicos. Como não ousaram dessa vez ameaçar de bombardeio a capital do país, os líderes da revolta tomam rumos distintos. Custódio de Melo parte para o exílio na Europa e Saldanha da Gama e seus subordinados se aliam aos rebeldes federalistas gaúchos, os maragatos. Saldanha da Gama acaba morrendo em combate nos pampas em julho de 1895. Tanto a Revolução Federalista, como a Revolta da Armada, assombraram os políticos republicanos, ampliando-se em toda a Região Sul e por pouco não atingindo São Paulo. No governo de Prudente de Morais as tensões se amenizam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Durante o conflito travado entre o Governo Federal e os rebeldes e, diante da possibilidade do Estado de São Paulo se envolver na contenda, o Presidente paulista Bernardino de Campos adota algumas medidas. Uma delas foi a concentração na capital das unidades dos corpos de Polícia, uma vez que a Força Pública poderia ser requisitada para auxiliar os legalistas. Dessa forma, os municípios acabaram ficando sem policiamento ou patrulhas nas suas localidades. Diante de tal situação, algumas cidades criam a Guarda Civil para manter a ordem nos centros urbanos. Assim ocorreu na Vila da Bocaína, antigo nome de Cachoeira Paulista. Ficando a cidade desguarnecida de sua força policial, atendendo a convocação do Presidente do Estado, coube ao Juiz de Direito, o Promotor Público e o Delegado de Polícia, organizar a Guarda Cívica, composta, segundo o historiador Agostinho Ramos, “de cidadãos qualificados”. Para tanto convocaram uma reunião na Câmara Municipal; dentre os muitos cidadãos presentes que foram voluntários para o serviço ativo da nova corporação, Agostinho Ramos destaca “o Dr Francisco Assis de Oliveira Braga, promotor público, Dr. Cícero Anatólio Vieira do Brasil, advogado, tenente cel. José Antônio de Oliveira Porto, delegado de polícia tenente cel. Domiciano Rodrigues Pinto, Presidente da Câmara Municipal, tenente cel. Joaquim Gonçalves, intendente geral, Major Alacrino Nunes de Melo, Escrivão de Órfãos, cap. Antonio Procópio Rodrigues das Neves, Tabelião e muitos outros”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Entrementes, as autoridades lançavam mão também, do recrutamento forçado, muito comum durante a Guerra do Paraguai. Essa atitude combatida pelos republicanos foi por eles usada naquela época e em outras ocasiões. A função de recrutar combatentes para sufocar a revolta era atribuição da Guarda Nacional. Mantida por fazendeiros e chefes locais, em geral, os recrutados para servirem de “carne de canhão”, eram sempre desafetos ou oposicionistas, mesmo com algum poder econômico. A Guarda Nacional da Vila da Bocaína foi criada em 1892 e para formar o quadro de oficiais, muitos elementos eram oriundos do Embaú, então sede da Vila do Cruzeiro e, antagônicos ao Major Novaes, monarquista convicto. Como comandante superior figurava o Coronel José Joaquim Ferreira, o qual havia exercito o cargo de Presidente da Câmara Municipal da Vila do Cruzeiro (Embaú) em 1887. Além de comandar a Guarda Nacional da Bocaína o Coronel Ferreira ainda era forte influência política no Embaú e contava ainda com o apoio dos irmãos Augusto Costa e Antônio José da Costa Junior. Paralelamente, era Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Embaú, o Padre Saint-Clair Monteiro de Barros, muito respeitado e também de grande influência política. Em 1891 o Padre Saint-Clair ocupou o Conselho de Intendência e a vice-presidência da Câmara Municipal, sendo presidente o Major Novaes. Com a criação da efêmera Vila Novaes, o Padre Saint-Clair pede exoneração do cargo, passando a ocupar-se somente dos assuntos eclesiásticos e de seu rebanho. Com a eclosão da revolta de Saldanha da Gama e Custódio de Melo, os líderes locais procedem ao recrutamento, já mencionado anteriormente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Entretanto, houve reações às diretrizes governamentais, tanto de monarquistas como de republicanos contrários à situação vigente e à administração centralizadora do governo de Floriano Peixoto. É o caso da família Henrique dos Santos, representada, conforme a análise de Humberto Turner, pelos irmãos José Henrique dos Santos e João Henrique dos Santos. Apesar de ter sido considerado como republicano histórico José Henrique caiu em desgraça com os chefes locais da região. Na Vila do Embaú os irmãos citados mantinham um ponto de comércio de molhados, além de serem proprietários de uma olaria. Humberto Turner afirma que José Henrique foi um dos signatários do manifesto republicano pouco antes da Proclamação da República. Em 1893, no contexto dos conflitos mencionados, José Henrique era o sexto suplente de vereador da Vila do Cruzeiro (Embaú). Com o recrutamento forçado levado a termo pelos dirigentes, o clã Henrique dos Santos insurgiu-se contra a medida abertamente. Para Humberto Turner, José Henrique era um idealista, “e como tal portador de uma visão esclarecida; insurgio-se contra a mentalidade apoucada dominante”. Em represália José Henrique foi encarcerado na Cadeia do Embaú, junto com outros opositores e “recalcitrantes”. Todos os que se opunham ao recrutamento, e não só no Embaú, como em qualquer parte do Brasil, eram presos e aguardavam a remoção para a linha de frente do conflito. Segundo Turner, assim ocorria devido ao fato de serem “opposicionistas, pois os situacionistas gozavam da estima e dos benefícios dos chefes locaes, e como tais tinham o privilégio da liberdade... e de não prestar serviços ao governo”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> A prisão de José Henrique dos Santos acabou convulsionando a população do Embaú e adjacências. O descontentamento e a indignação pela prisão de alguém que ousara questionar os desmandos das autoridades fizeram eclodir um levante popular. Liderados pela família Henrique dos Santos, os populares tomaram de assalto a Cadeia do Embaú e libertaram José Henrique e todos os “voluntários” que iriam para o Rio de Janeiro combater os rebeldes da Armada. Humberto Turner não apresenta números, mas afirma que na ação houve mortos e feridos no choque entre os revoltosos e a guarnição policial do Embaú, que acabou debandando em fuga. Diante da euforia, populares enfurecidos e os recrutados libertados resolvem que era hora de “acertar as contas” com os chefes locais da Vila do Cruzeiro e da Bocaína. Novamente tendo à frente a família Henrique dos Santos, a turba marchou em busca dos dirigentes situacionistas para justiçá-los. Humberto Turner afirma que os líderes visados, o Coronel Ferreira e os irmãos Costa Júnior nada tinham a ver com o episódio dos recrutamentos, mas como representavam no Embaú e região o poder central, despótico e autoritário, emanado do Presidente Floriano Peixoto, tornaram-se alvos preferidos da multidão enraivecida. Haveria um linchamento e um banho de sangue sem precedentes no local, pois os três alvos a serem justiçados contavam com homens armados para sua segurança. O confronto foi evitado graças a providencial intervenção do Vigário do Embaú, o Padre Saint-Clair Monteiro de Barros. Embora não exercesse mais a política e cuidasse somente dos ofícios divinos, o sacerdote era muito respeitado pela população do Embaú, independente de classe social ou de situação econômica. Ao tomar conhecimento de que a multidão vitoriosa, após o assalto à Cadeia, resolvera fazer justiça com as próprias mãos contra a liderança governista o Padre Saint-Clair se impôs diante dos rebelados. Deixamos que Humberto Turner “narre” o fato. “Com a autoridade que lhe conferia o cargo de vigário da parochia, o padre Saint-Clair surgio ante a turba enfurecida e exigio que ella retrocedesse e se dispersasse, no que foi plenamente obedecida, evitando assim que se consumasse uma tremenda chacina”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Contudo, mesmo tendo debelado a insurgência popular, evitando um massacre, o Padre Saint-Clair foi acusado de instigar o motim. Seus inimigos, incluindo alguns que ele salvou, chegaram ao extremo de afirmar que o religioso pretendia deflagrar uma réplica da noite de São Bartolomeu, uma alusão à matança de huguenotes na França por católicos em <st1:metricconverter productid="1572 a" w:st="on">1572 a</st1:metricconverter> mando de Catarina de Médicis. Uma acusação absurda, mas como a Igreja e o Governo Republicano mantinham uma relação tensa, o Padre Saint-Clair acabou removido da Paróquia do Embaú, sendo substituído pelo Padre Antônio Olynto Batista Pinto. Como havíamos afirmado anteriormente, os rebeldes da Armada acabam perdendo o espírito combativo; uns se entregam, outros partem para o exílio e outros se unem aos gaúchos federalistas. O governo do Marechal de Ferro concentra o esforço bélico no Sul, mas só com o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes, as armas silenciam, pelos menos no Sul e no Sudeste. No Embaú, os ânimos se acalmam e a família Henrique dos Santos volta ao seu dia-a-dia. Por um longo tempo não se falou mais em recrutamento no Embaú e em Cachoeira. Até a próxima.</span><br />
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Eddy Carlos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">Dicas para consulta. </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">BUENO, Eduardo (Org.). <b>História do Brasil.</b> Publifolha. São Paulo, 1997.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">FEDERICI, Hílton. <b>História de Cruzeiro.</b> Volume II. Publicações da Academia Campinense de Letras. Campinas, 1978.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">FÉLIX, Sandra Regina (Org.). <b>Cachoeira Paulista. Fé, História e Tradição.</b> Editora Noovha América. São Paulo, 2005.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">TURNER, Humberto. <b>O Ex-Brasão do Município.</b> Coletânea de textos históricos publicados no jornal Folha de Cruzeiro. Década de 1930.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">RAMOS, Agostinho. <b>Cachoeira Paulista. 1780-1970.</b> Volume II. IHGSP. São Paulo, 1971.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">E-mail:</span></b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> <a href="mailto:eddycarlos@ymail.com"><span style="color: black;">eddycarlos6@gmail.com</span></a></span><br />
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><a href="mailto:eddycarlos@ymail.com"><span style="color: black;"><br /></span></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">Blog:</span></b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> redescobrindoovale.blogspot.com.br</span></div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-77553723320915025942019-07-21T13:45:00.002-07:002020-07-28T07:00:37.289-07:00O "Algoz" do Embaú. <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnvz5rsmLBHft_TYIZ4mSwcPFxaLj3a9WQH6PFDzbALTwirvK4QJXzuf69GdroM2f5KKKZSQqFEGgz_UDbLL2HZCLcVPHURYv0EU8e1PskeIWh-a36r4npXvsP_Vqo6g_xIEL8xhMuXFRQ/s1600/Pe.+Ernesto..JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="512" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnvz5rsmLBHft_TYIZ4mSwcPFxaLj3a9WQH6PFDzbALTwirvK4QJXzuf69GdroM2f5KKKZSQqFEGgz_UDbLL2HZCLcVPHURYv0EU8e1PskeIWh-a36r4npXvsP_Vqo6g_xIEL8xhMuXFRQ/s640/Pe.+Ernesto..JPG" width="454" /></a></div>
Fotografia sem data, do Padre. Ernesto Maria de Fina, ao lado de Celestina Novaes, neta do<br />
Major Novaes.<br />
FONTE: Blog Grandes Vultos de Cruzeiro.<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 19.95pt;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> O advento da ferrovia impulsionou o desenvolvimento da região valeparaibana com a dinamização dos meios de transporte tanto de passageiros como de mercadorias. Embora a cultura cafeeira já se encontrasse em fase de estagnação e declínio, devido às precárias técnicas de exploração do solo, o sistema ferroviário acabou por otimizar o escoamento das sacas rumo aos portos de embarque para os mercados consumidores da Europa e Estados Unidos. Porém, algumas localidades foram desfavorecidas, pois o traçado ferroviário passava distante de sedes de Vilas, o que acabou por ocasionar a decadência de algumas cidades. Em artigo anterior vimos que os fazendeiros de Bananal resolveram o seu problema, implantando eles mesmos a sua ferrovia, ligando a capital do café até a estação da Saudade, garantindo o transporte do produto pela E.F. Pedro II. Mas cidades como São José do Barreiro, Areias, Silveiras, Jatahy, etc., não conseguiram o mesmo, passando a ficar em segundo plano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 19.95pt;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> É neste contexto que se insere, também o Embaú, então sede da Vila de Nossa Senhora da Conceição do Cruzeiro. Apesar de o traçado da E.F. Pedro II passar em território da Vila do Cruzeiro e, mais tarde surgir o entroncamento com “Minas and Rio Railway”, a estação construída ficou distante da sede (Embaú) em, aproximadamente, 12 quilômetros. Tal fato iniciou o processo de decadência do Embaú como Município, refletido no antagonismo entre o mesmo e o Povoado da Estação que, como centro de entroncamento ferroviário e de intensa atividade econômica acaba tornando-se a sede da atual cidade de Cruzeiro. A diferença entre o Embaú e o Povoado da Estação torna-se mais acentuada, pois de acordo com a análise de Hilton Federici, entre os anos de 1899 e 1900 os impostos arrecadados no Município chegavam a cifra de 22:000$000 (vinte e dois contos de réis), sendo que apenas 6:000$000 eram contabilizados na sede. Dessa forma, em 2 de outubro de 1901, o Governo Estadual autoriza a transferência da estrutura político-administrativa do Embaú para o Povoado da Estação, ficando o primeiro na condição de Distrito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Todavia, antes das autoridades políticas e civis resolverem o impasse entre as duas localidades, a Igreja toma a dianteira em 1897, ao transferir a Paróquia do Embaú para o mesmo povoado. Nesse cenário vislumbramos a figura do Padre Ernesto Maria de Fina, o inicialmente infeliz e, posteriormente glorificado vigário da Paróquia de Cruzeiro. Nascido a 30 de novembro de 1867 <st1:personname productid="em Sala Concilina" w:st="on">em Sala Concilina</st1:personname>, Província de Salerno na Itália, Ernesto Fina ordenou-se padre por volta de 1888 após a visita que fizera ao Papa Leão XIII. Em 1896 vem para o Brasil, estabelecendo-se em Guaratinguetá com o Cônego Costa Bueno, indo depois para Ribeirão Preto. Nessa cidade, recebe a notícia de que fora nomeado Vigário da Paróquia do Embaú, assumindo o posto no dia 14 de março de 1897.Porém, assim como ocorria no âmbito civil, no religioso também havia discrepâncias quanto à arrecadação em dízimos e ofertas, ficando o Embaú na retaguarda. Como os católicos do Povoado acabaram endossando a luta política levando-a para a esfera eclesiástica, ou seja, os primeiros já exigiam a transferência da paróquia junto com a sede administrativa, o Bispo de São Paulo, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti transfere a paróquia do Embaú para o novo local em 22 de junho de 1897. Com a nova situação, o vigário Ernesto Fina estabelece a matriz na Igreja de São Sebastião e Santa Cecília, ainda em obras, devendo dirigir-se periodicamente ao Embaú para celebrar os ofícios divinos. </span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; line-height: 150%;">Porém, os habitantes do Embaú revoltaram-se com a transferência da paróquia e o Padre Ernesto Maria de Fina foi acusado pelo episódio tornando-se o “bode” expiatório. Não podendo atingir diretamente o bispo, os embauenses voltaram-se contra o infeliz padre, hostilizando-o, inclusive com ameaças de morte. Para complicar sua situação, o religioso desentende-se ainda com a Comissão Edificadora da Igreja Matriz. Mesmo sob a proteção do Major Novaes, em cuja casa residia como convidado, na Fazenda Boa Vista, o Padre Ernesto pede remoção da paróquia, uma vez que os ânimos se acirram, somados a efervescência política que se alastrava. Aceito o pedido, o sacerdote é removido para a cidade paulista de Casa Branca, indo em seguida, novamente para Campinas, assumindo em seu lugar o Padre Miguel Eboli, o qual permaneceria no posto de 22 de janeiro de 1898 até 6 de fevereiro de 1900.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Eis que, entretanto, ao obter um período de férias, o Padre Ernesto resolve passear na então nascente da cidade de Cruzeiro, manifestando o propósito de reassumir a paróquia, no que foi atendido. Permanecendo até meados de 1907, o Padre Ernesto deu seqüência às obras da Igreja Matriz, entrando, dessa vez, em entendimento com a Comissão. Como vigário novamente, o religioso cria a Conferência de São Vicente de Paula, promovendo ainda a vinda dos Missionários do Imaculado Coração de Maria. Tais missionários desenvolveram um excelente trabalho de catequização no novo núcleo que viria ser Cruzeiro, bem como em localidades como o Brejetuba e o Embaú, ainda com seus habitantes desgostosos com o Padre Fina. Em 1904, já como centro do Município de Cruzeiro, os paroquianos e munícipes elaboram um opúsculo intitulado “Amor e Gratidão” em homenagem ao Padre Ernesto Maria de Fina, servindo também de protesto e repúdio contra as hostilidades sofridas pelo eclesiástico por parte dos moradores do Embaú. O autor deste texto, guarda com zelo e carinho um exemplar de tal opúsculo que pertenceu a sua bisavó, Ângela Nunes de Oliveira, tendo passado a guarda à filha Maria da Glória, avó materna do referido autor. O citado opúsculo é um importante documento de fonte primária, pois identifica os primeiros moradores de Cruzeiro, já como sede do Município, contendo aproximadamente mil assinaturas em prol do Padre Ernesto. Segundo Hilton Federici, Ernesto Maria de Fina foi um padre que, apesar do infeliz episódio da transferência da paróquia, foi o consolidador da mesma, mais tarde, concluindo a Matriz (atual Igreja Santa Cecília) e dando-lhe amplo vigor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Contudo, devemos ressaltar que, a transferência da paróquia, pode ser interpretada como uma forma da Igreja reafirmar sua autoridade e poder em um ambiente republicano, no qual recentemente, havia ocorrido a separação da mesma do Estado. Ou seja, a Igreja ainda buscava retomar o prestígio que usufruía nos tempos do Império em que, ao reconhecer uma localidade como apta a ser emancipar, era corroborada em seguida pelo poder público. É o caso das freguesias durante a Colônia e o mencionado Império. Quanto ao Embaú, é tradição entre a população de idade avançada de que o local teria sido amaldiçoado por um padre que lá fora hostilizado em épocas passadas. Seria o Padre Ernesto? Como até agora, nenhum documento que afirme tal hipótese foi encontrado, ficamos na dúvida. Amaldiçoado ou abençoado, o velho Embaú segue o seu rumo na História. Até a próxima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Dicas para consulta</span></b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">CARVALHO e COSTA, Acrílson de e Levy Tenório da. <b>A Ferrovia no Vale do Paraíba</b>. <b>Opulência e Decadência.</b> Trabalho de Graduação em História pela UNIVAP. Edição mimeografada. São José dos Campos, 1996. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">FEDERICI, Hilton. <b>História de Cruzeiro. (Volume II). Da Instalação do Município até a Transferência da sua Sede (1873-1901)</b>. Campinas, 1978. Publicações da Academia Campinense de Letras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">PARÓQUIA de Cruzeiro. <b>Amor e Gratidão.</b> Opúsculo elaborado em homenagem ao Padre Ernesto. Edição própria. Cruzeiro, 1904.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. <b>Embaú, Contrastes entre o Passado e a Realidade do Presente de um Núcleo Urbano. </b>Trabalho de Graduação em História pela UNIVAP. Edição mimeografada. São José dos Campos, 2002. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">E-mail:</span></b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> eddycarlos6@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Blog:</span></b><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> redescobrindoovale.blogspot.com.br<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 19.95pt;">
</div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; margin: 0px; orphans: auto; text-align: start; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 1; word-spacing: 0px;">
<br /></div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-1347482463519057682019-07-21T13:31:00.001-07:002019-07-21T13:31:23.874-07:00A Colônia do Major.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnQke7cbAZMUwlBeVyUBUOwyfwzO3sVL7XSJMm9KMohv7rmM9CfUnOCplNnL0uWrZcIOxh7JR2NGMMpAf9RvFRPavwy6GtEZYOj4fIwm2ORyjepjfHhATwWG0AOeTG_z58MBRANJJ0dyxj/s1600/Major.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1195" data-original-width="797" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnQke7cbAZMUwlBeVyUBUOwyfwzO3sVL7XSJMm9KMohv7rmM9CfUnOCplNnL0uWrZcIOxh7JR2NGMMpAf9RvFRPavwy6GtEZYOj4fIwm2ORyjepjfHhATwWG0AOeTG_z58MBRANJJ0dyxj/s640/Major.JPG" width="426" /></a></div>
Fotografia do Major da Guarda Nacional, Manuel de Freitas Novaes, por volta de 1885.<br />
FONTE: Acervo do Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes; Cruzeiro-SP.<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"> Após a fase das Cruzadas, os reinos europeus passaram por diversas modificações que culminaram com a reestruturação da ordem política, fortalecendo o poder real. Isso acontecia ao mesmo tempo em que o sistema feudal estava se desintegrando, surgindo assim os Estados Nacionais e, em muitos casos com as suas respectivas monarquias absolutistas. No plano econômico, a Europa atravessava o, assim chamado, Mercantilismo, ou seja, uma fase transitória entre o Feudalismo e o Capitalismo. Esse período, denominado de Antigo Regime, começou a se esfacelar, por sua vez, com a ascensão dos ideais burgueses, os quais se expandiram pela Europa e outras partes do mundo decorrente da Revolução Industrial e da Revolução Francesa.</span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Até então, as relações de trabalho baseavam-se na mão de obra servil, passando pelos mestres e pequenos artífices de lojas e oficinas burgueses, e o trabalho escravo nas colônias. Os operários do campo e dos burgos ainda detinham a posse dos meios de produção para a sua sobrevivência, pois o acesso a terra já tinha sido extorquido durante a Idade Média. Com o sucesso e consolidação da Revolução Industrial e suas inovações tecnológicas os operários perdem também a propriedade dos meios de produção. A partir daí deveriam “vender” a sua força de trabalho para as nascentes indústrias e fábricas, recebendo por isso a remuneração em forma de salários. Era a afirmação de um novo sistema econômico, o Capitalismo, cujo objetivo primordial é a geração de lucro, extraída da mais-valia, segundo o pensamento de Karl Marx. Por outro lado, o sistema capitalista era incompatível com a escravidão, pois na teoria de Adam Smith, os trabalhadores deveriam receber por seu trabalho para adquirir os produtos por eles fabricados. Ou seja, o sistema pressupõe que todos devem receber salários para sua sobrevivência, mas não garante que haverá trabalho para todos. Ainda assim, a ascensão da burguesia na Europa coincide com o surgimento da classe operária, ou do proletariado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Todavia, a aplicação dos ideais da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, estava restrita ao Velho Mundo. O que os europeus passaram a valorizar não se aplicava às colônias e domínios ultramarinos. Assim, na América, por exemplo, o sistema escravista ainda iria perdurar até fins do século XIX. Paralelamente a Inglaterra, já muito adiantada tecnologicamente e industrializada, decide reprimir o tráfico negreiro, principalmente após a aprovação pelo parlamento britânico, do “Bill Aberdeen”. Através dessa lei as canhoneiras inglesas estavam autorizadas a capturar os navios negreiros em qualquer parte do mundo. Longe de manifestar quaisquer sentimentos humanitários, a repressão ao sistema escravista pelos ingleses, visava a proteger e garantir, além de ampliar, os interesses das indústrias britânicas. </span>Nas nações que adquiriram a independência política, mas que mantinham o sistema escravista, como o Brasil, buscou-se encontrar uma alternativa, diante da pressão inglesa. Lembrando que, baseado no Bill Alberdeen, a Inglaterra aprisionou, julgou e condenou à morte vários traficantes de escravos. Em 1850, a Assembléia Geral do Império do Brasil aprovou a Lei Eusébio de Queiroz, que acabava de vez com o tráfico atlântico. A referida lei foi aprovada sob a mira dos canhões das belonaves inglesas que ameaçavam bombardear o Rio de Janeiro. Sendo assim, o Brasil ficaria só com os escravos que já estavam no país, e para suprir a demanda de centros produtores, como o Vale do Paraíba, a saída era “importar” escravos do Nordeste, onde a atividade açucareira entrara em colapso. A alternativa, encontrada pela elite agrária, sobretudo da Província de São Paulo, foi a introdução de colonos europeus nas diversas colônias agrícolas, sob os regimes de parceria e de meação.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A primeira experiência com colonos de parceria foi realizada por Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, na Fazenda Ibicaba, em Limeira. De acordo com a análise do historiador Caio Prado Júnior, entre 1847 e 1857, Vergueiro introduziu na Fazenda Ibicaba “177 famílias de colonos alemães, suíços, portugueses e belgas. O exemplo foi imitado por muitos outros lavradores de café da província de S. Paulo”. A maioria, porém, era de colonos alemães, vindos da Prússia. Segundo Eduardo Bueno, apesar da inspiração abolicionista, Nicolau Vergueiro era autoritário, assim como a maioria dos fazendeiros que seguiram o seu exemplo. Alguns ainda rotulavam os colonos de escravos brancos, pois apesar “de o trabalho ser assalariado, a mentalidade patriarcal dos donos das terras continuava escravocrata”. Em 1856, os colonos da Ibicaba, inconformados com a situação de semi-escravidão em que viviam, além do descumprimento dos contratos assinados, revoltaram-se e pegaram em armas, sendo necessária a intervenção da Guarda Nacional. Uma comissão do Governo deu ganho de causa aos colonos e, devido à repercussão do caso a Prússia decide em 1859 proibir a imigração para o Brasil. A constante busca para uma alternativa baseada nos colônias de parceria visava superar a crise que se abatera na lavoura, principalmente a do café, decorrente, como já afirmamos, da suspensão definitiva do tráfico atlântico. Mesmo adquirindo os cativos de outras regiões, o preço tornava-se demasiado caro para os senhores, que deveriam ainda garantir alimento, vestuário e medicamentos para os respectivos escravos. Os fazendeiros cafeicultores do Vale do Paraíba ainda resistem, mas alguns acabam por adotar o sistema da colonização baseada no braço do imigrante, colocando-o lado a lado com os escravos do eito. Porém, o que não mudava ainda era a mentalidade escravocrata, como acontecera no caso da Fazenda Ibicaba; fossem escravos ao não, os colonos eram submetidos às variadas formas de humilhação exploração, endividamento constante e maus tratos. Com tudo isso de forma evidente, os proprietários rurais ainda apostavam no trabalho assalariado do imigrante, pois sabiam que o fim da escravidão estava próximo, devido à intensidade da campanha abolicionista.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ao analisar a Vila de Lorena durante o século XIX, o historiador José Geraldo Evangelista afirma que o número de estrangeiros chamou a sua atenção. Segundo o pesquisador eram “colonos que trabalhavam nas fazendas de João José Rodrigues Ferreira, incluindo espanhóis, e de José Novais da Cunha”. De acordo com o Ofício de 25 de dezembro de 1858, analisado pelo autor mencionado, o Delegado de Polícia destaca que eram um total de 57 estrangeiros, sendo 51 alemães e 6 dinamarqueses. Em relação ao segundo fazendeiro citado por José Geraldo Evangelista, o jornalista luso-brasileiro, Augusto Emílio Zaluar, faz uma descrição otimista da fazenda e dos colonos no ano de 1860, quando o mesmo esteve em Lorena. Segundo Zaluar, o “Sr. José Novais da Cunha organizou uma colônia de Alemães em sua fazenda denominada de Santa Cruz, perto de Lorena, no Bairro de Mato-Dentro, núcleo que se compõe já de setenta e dois indivíduos, entre adultos e crianças, o qual trabalha pelo sistema de parceria adotado pelo finado senador Vergueiro com algumas alterações feitas pelo proprietário. Esta gente vive satisfeita, entrega-se com dedicação à cultura do café, e esta animadíssima com a presente colheita”. Os colonos alemães foram introduzidos na Fazenda Santa Cruz antes da proibição da Prússia em 1859, como mencionado anteriormente; mesmo ano da morte de Vergueiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Apesar de a iniciativa da introdução de colonos ser atribuída a políticos “liberais”, alguns conservadores fizeram o mesmo. É o caso de Manoel de Freitas Novaes, futuro Major Novaes da região do Embaú. Personagem controversa na história do Município de Cruzeiro, Manoel de Freitas inicia sua atividade econômica como tropeiro entre as regiões da Serra da Mantiqueira, Serra do Bocaína, do Rio Paraíba e o caminho da Corte. Natural de Pinheiros, Manoel de Freitas exerceu o cargo de vereador na Vila de Queluz entre 1857 e 1861. Segundo alguns pesquisadores, como Carlos Borromeu de Andrade, já possuía grandes extensões de terras entre Pinheiros, Lavrinhas e no Jacú. Sendo assim, em 1850, seguindo, Manoel de Freitas implanta em suas terras (provavelmente em Pinheiros) uma colônia agrícola baseada no trabalho livre e assalariado o qual batizou de Colônia Nacional. Inicialmente utilizando trabalhadores estrangeiros, a Colônia passou aos poucos, a operar com mão de obra interna. Em 1878, ao participar do Congresso Agrícola, o já agora Major Novaes, proprietário da Fazenda Boa Vista na Vila do Cruzeiro, defende o método de colônias de parceria para superar a crise da mão de obra na lavoura cafeeira. Tomando como paradigma a sua própria colônia, o Major Novaes enaltece em discurso a prática do trabalho livre e assalariado. O referido discurso e matérias de jornais, como “Diário do Brazil”, do Rio de Janeiro, foram publicados em livreto em 1882 com o titulo “Colônia Nacional do Major Manoel de Freitas Novaes”. Em um trecho do discurso o Major afirma que é “um lavrador que vem expor o que pratica todos os dias desde 28 de abril de 1850, dia em que comecei a applicar o trabalho livre na minha fazenda, como já o disse no Congresso Agrícola”. Com a colheita de 10 mil arrobas de café, a colônia era operada com 505 cearenses, “que ahi se estabeleceram e ganharam dinheiro, e mantendo a plantação que tenho hoje, 800 mil cafeeiros que espero em Deus em dois ou três annos darão 30 a 40 mil arrobas (...). E tão satisfeitos foram eles do modo porque os tratei e dos lucros que colheram na minha colônia, que muitos delles me tem escripto de sua província pedido que lhes pague a passagem para regressarem (sic.) a minhas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>terras”. Outro trecho do discurso chama a atenção ao referir-se a ausência de contrato. O texto diz que a referida colônia foi iniciada com quatro famílias de caboclos, “mas nella não há um só contracto; o que alli predomina é a mais perfeita espontaneidade dessa gente, é a liberdade que ella tem, não só de trabalhar, como de gozar. (...). Desse modo tem conseguido que seus colonos tirem o resultado annual de 400$000 a 1:800$000 por família”. O livreto destaca ainda que o Major preferia os caboclos na sua Colônia Nacional, por ser melhor que o estrangeiro, pois o proprietário tem “pratica de colonização estrangeira; já teve colonos alemães, franceses, ingleses e italianos dos quais ainda conserva alguns. Tem colonos a meia, a quem paga no dia em que colhem o café, outros que dão o café já preparado e ainda do outros pagos a jornal ou empreitada”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No ano da realização do Congresso Agrícola, 1878, o Major Novaes era vereador da Vila do Cruzeiro, cuja sede localizava-se no Embaú. Ao analisarmos as Atas da Câmara Municipal, em obra publicada pelo Profº. Hílton Fedirici, verificamos que, nas sessões realizadas naquele ano não há nenhum registro da participação do Major, nem da realização de tal congresso. Por outro lado, é marcante o número de ausências do ilustre vereador, mesmo sendo vice-presidente da Câmara. Como por exemplo, entre abril e julho de 1878 não houve sessão devido às ausências dos vereadores e, na Sessão Ordinária de 23 de julho, o Major justifica sua ausência, alegando ter feito uma cirurgia na corte, ou seja, no Rio de Janeiro, onde fora realizado o Congresso Agrícola.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Entretanto, mesmo levando em consideração os resultados obtidos na Colônia Nacional e a exaltação que o Major Novaes faz do trabalho livre e assalariado como sinônimo de progresso e prosperidade, ele era dono de escravos e também possuía uma mentalidade escravocrata, assim como seus pares. Se não possuía cativos em 1850, passou a tê-los quando, sendo viúvo, casa-se, com a também viúva, Fortunata Joaquina do Nascimento. Essa senhora, por sua vez casava-se pela terceira vez e era a proprietária da Fazenda Boa Vista. O casamento foi realizado segundo Carlos Borromeu de Andrade, em 2 de outubro de 1865. Falecendo em 1874, sem filhos (ao que parece não teve nenhum com os outros maridos), o Major Novaes, além da Fazenda Boa Vista, herda também a escravaria. A face escravocrata e autoritária, além de contraditória, é revelada em algumas ocasiões, como a do episódio da Ação de Liberdade da escrava Rita em 1873 e seus pronunciamentos nas sessões da Câmara Municipal da Vila do Cruzeiro (Embaú) contra a Campanha Abolicionista e contra Joaquim Nabuco. Durante o Congresso Agrícola, mesmo expondo o ponto de vista “progressista”, o Major Novaes omite o fato de que era escravista e após a aprovação da Lei Áurea, ao invés de “valorizar” o trabalho assalariado, tanto propagado no referido congresso, utiliza mais uma vez a Tribuna para atacar os libertos conclamando as autoridades policiais a por cobro à onda de “vagabundos e desocupados” que infestavam as ruas e praças das Vilas, o que prejudicaria o trabalho nas fazendas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No crepúsculo do Império, os republicanos “pegaram” carona no movimento abolicionista, prometendo “lutar” pela causa que desdenhavam desde a fundação do Partido Republicano na Conversão de Itu em 1873. Como a Lei Áurea fôra um ato da Monarquia, os republicanos encontraram apoio nos fazendeiros “prejudicados” com a libertação dos escravos sem indenização. Sendo assim, com o movimento militar chefiado por Deodoro que liquidou o Império, os republicanos ascendem ao poder, colocando, porém, os libertos à margem da sociedade. Adotando, enfim, uma política de imigração estrangeira em massa, colocam finalmente em prática na lavoura, a mão de obra assalariada em detrimento dos ex-escravos. A aposta seria, segundo a elite republicana, “branquear” o país para poder fazer frente com as nações européias, “civilizadas” e “evoluídas”. Alguns monarquistas ainda permanecem fiéis à família imperial no exílio, como o Major Novaes que falece em 1898. Outros, ainda que continuassem monarquistas, aderem às novas regras de jogo político do Governo Republicano. Mas até o fim da República Velha em 1930, a maioria dos fazendeiros, com raras exceções, manteria a mentalidade e o espírito escravocratas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Até a próxima.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eddy Carlos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Dicas para consulta.</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">ANDRADE, Carlos Borromeu de. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Os Pioneiros da História de Cruzeiro.</b> Centro Educacional Objetivo. São José dos Campos, 1994.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">BUENO, Eduardo (Org.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">História do Brasil.</b> Publifolha. São Paulo, 1997.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">EVANGELISTA, José Geraldo. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Lorena no Século XIX.</b> Imprensa Oficial. São Paulo, 1978.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">FEDERICI, Hílton. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Atas da Câmara Municipal de Cruzeiro.</b> Volume I. Tomo A. Edição da Câmara Municipal de Cruzeiro. Cruzeiro, 1978.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Mandonismo Político em Cruzeiro. Atuação Política do Major Novaes (1873-1898). </b><span style="mso-bidi-font-weight: normal;">Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação; Especialização em História do Brasil Republicano pela </span>UNITAU. Edição mimeografada. Taubaté, 2004. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;">ZALUAR, Augusto Emílio. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Peregrinação pela Província de São Paulo (1860-1861).</b> Biblioteca Histórica Paulista. Vol. II. Martins Editora. São Paulo, 1976.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: auto; text-align: justify; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 1; word-spacing: 0px;">
<div style="font-weight: normal; margin: 0px;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black;">E-mail:</span></b><span style="color: black;"> eddycarlos6@gmail.com</span></div>
<div style="margin: 0px;">
<span style="color: black;"><b>Blog: </b>redescobrindoovale.blogspot.com.br</span></div>
</div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-17562008860277937972019-07-21T13:19:00.002-07:002019-07-21T13:22:59.105-07:00Os Escravos do Major.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDlNJtVto6MQhiXmx1BmwT3CY4ndMj-6Boj-rk65SPkQHG1Djzhz4Ap8aTTEQJM9eQDoFgqeSzRnYOVI9opwgUuC0-TTdm1NLPR0swenJgixbcuqMhoitzGfwcPvgDMIs53_Eq5pH10B9m/s1600/Major.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1195" data-original-width="797" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDlNJtVto6MQhiXmx1BmwT3CY4ndMj-6Boj-rk65SPkQHG1Djzhz4Ap8aTTEQJM9eQDoFgqeSzRnYOVI9opwgUuC0-TTdm1NLPR0swenJgixbcuqMhoitzGfwcPvgDMIs53_Eq5pH10B9m/s640/Major.JPG" width="426" /></a></div>
Fotografia do Major da Guarda Nacional,Manuel de Freitas Novaes, por volta de 1885.<br />
FONTE: Acervo do Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes; Cruzeiro-SP.<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black;"> <span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">Desde épocas remotas, principalmente após o surgimento das primeiras formas de vida em comunidades, o homem tendeu a dominar e explorar o seu semelhante. Nas antigas civilizações, como a dos Sumérios, Hititas, Caldeus, Assírios, Egípcios, etc., as autoridades determinavam que os seus súditos devessem prestar serviços gratuitos ao Estado. A prática obrigatória era denominada de corvéia e consistia em calçamentos de ruas e estradas, bem como de quaisquer obras públicas, inclusive a drenagem de pântanos para diversos fins. Aos recalcitrantes aplicava-se o confisco de plantações, animais de criação, aprisionamento (também dos familiares), e a obrigação de servir por tempo indeterminado ao Estado. Outra fonte de mão-de-obra provinha das guerras, atitude comum adotada no Império Romano e nas cidades gregas. Entre os povos bíblicos como Arameus, Fenícios e Hebreus era também comum a servidão, sendo que entre os últimos, costumava-se condenar ao trabalho gratuito os devedores. Mas nesse caso o tempo da servidão duraria somente sete anos, quer a dívida fosse paga ou não, conforme descrito na Lei de Moisés.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Com o advento do cristianismo e sua expansão pela Europa após a queda do Império Romano, a servidão adotou uma nova “roupagem”. Interpretando o trabalho braçal como uma maldição, devido ao castigo imposto a Adão e Eva, a Igreja, junto com a nobreza institui o assim chamado contrato de vassalagem. Ao rei, abençoado pelo papa, caberia o direto a terra, que por sua vez a cedia, em várias porções aos senhores ou nobres que por sua vez cediam aos servos que deveriam cultivá-la para manter a estrutura de poder. O sistema, denominado de feudalismo cristalizava a sociedade medieval em três estamentos: em primeiro, o clero, aqueles que rezam; em segundo, a nobreza, aqueles que lutam; em terceiro, os servos aqueles que trabalham; acima de todos, o rei e o papa. Dessa forma, quem estava acima era o suserano, que exercia o poder sobre o vassalo; como os servos estavam no último patamar, eles eram vassalos de todos e suserano de ninguém. Para ternos uma noção do que era o feudalismo, lembremos que o senhor exigia, na maioria das vezes, mais da metade da produção agrícola dos servos, além de impostos e taxas diversas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entretanto, com a transição do feudalismo para o capitalismo, durante a fase mercantilista, as nações ibéricas que haviam se lançado ao mar em busca do caminho das Índias, acabou estabelecendo via América, então “descoberta”, as bases de uma nova estrutura de exploração econômica, dessa vez não mais com servos e, sim com escravos propriamente ditos. Inicialmente, os europeus escravizaram a população autóctone do continente americano. Como a maioria dos colonos não dispunha de capital para a aquisição de escravos, atirou-se sobre os nativos, submetendo-os a trabalhos forçados e a privação de liberdade. Quando havia resistência, a receita era a espada; na América espanhola, os conquistadores escravizaram e exterminaram as nações dos Astecas, Incas e Maias. Na colônia portuguesa os bandeirantes “caçavam” os indígenas, tanto nas selvas, como nas missões jesuíticas, praticando todo o tipo de crueldade. Ao lado dos bandeirantes paulistas, as autoridades coloniais organizavam expedições punitivas contra as silvícolas recalcitrantes. Rotulada de “guerra justa”, tais expedições exterminaram diversas nações como os Cariris, Caetés, Janduins além dos Tamoios e Tupinambás, entre outros. O historiador Júlio José Chiavenato afirma que, a Capitania de São Paulo, estava afastada, “dos centros de comércio, isolado economicamente, o que explica a liberdade com que os paulistas agiam. Diante da impossibilidade para conseguir escravos negros e como a mão-de-obra era vital, mesmo que fosse preciso fazer guerra iam pelos sertões caçando índios”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Todavia, após a pressão dos jesuítas e da Igreja, a Coroa proibiu a escravização dos índios e introduziu na colônia escravos capturados na África. Mesmo assim, os bandeirantes prosseguiam na preagem dos indígenas até o desastre de M’bororé em 1641. Como a caça ao silvícola só gerava lucro para os colonos, a Coroa incentivada pela Companhia de Jesus, incentivou e apoiou, por sua vez, o tráfico negreiro. Mesmo sendo monopólio da Coroa, que cedia a exploração, os traficantes negreiros lucravam alto; capturados em troca de cachaça e fumo, os negros eram baratos no continente africano. Chamados de “peças”, os escravos “retornavam” o capital investido pelos seus senhores dentro de cinco anos. Segundo Eduardo Bueno, o preço da peça vinda da África custava, na época 50$000 e “até mesmo portugueses pobres podiam ter pelo menos uma. E de fato tinham: não ter escravos no Brasil era considerado algo tão humilhante que, dentre os raros adventícios que não conseguiam adquirir o seu, muitos preferiam voltar para o reino”. Os cativos eram oriundos, inicialmente, da região da Guiné e no século XVII, inicia-se o ciclo de Angola, donde aproximadamente 600 mil escravos vieram para o Brasil. No século seguinte, os escravos são adquiridos na Costa da Mina (atuais Benin e Daomé) e a quantia de cativos sobe para 13 milhões. Os povos escravizados e vendidos no Brasil pelos traficantes negreiros eram os Bantos: Congos, Benguelas e Ovambos; e os Sudaneses: Nagôs, Gegês, Minas, Hauçás, Tapas e Bornus.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Após a longa travessia do Oceano Atlântico, que poderia durar até dois meses, os tumbeiros (navios negreiros) desembarcavam os escravos nos portos de Pernambuco, Salvador e Rio de Janeiro. Porém a penosa viagem, os maus tratos e alimentação precária, faziam com que muitos cativos morressem antes de chegar ao Brasil. A historiadora Kátia de Queirós Mattoso afirma que em 1569, “Frei Tomé de Macedo cita o caso de uma nave que transportava 500 cativos. Somente numa noite morreram 120, ou seja, um quarto do carregamento (24%)”. No ano de 1625, o governador de Angola, João Correia de Souza, despacha para o Brasil cinco navios negreiros com uma carga total de 1211 cativos. Apenas 628 chegam vivos à colônia e depois do desembarque morrem mais 68. Depois de desembarcados, os sobreviventes recebiam boa alimentação e cuidados com a aparência antes de serem levados para o mercado de escravos, sendo o do Rio de Janeiro, o do Valongo, o mais famoso. Encaminhados, geralmente à faina agrícola, o escravos tornavam-se propriedade de seu senhor, que podia explorá-lo e castigá-lo da maneira que achasse conveniente. Para muitos, a única saída era o suicídio, pois a fuga, quando descoberta e o cativo preso, passava por uma série de punições. Os instrumentos de castigo mais comuns eram o tronco, o vira-mundo, a gargalheira, a máscara-de-flandres, etc. Como afirmado, a autoridade do senhor era absoluta e inquestionável e o Estado não ousava interferir no interior das propriedades rurais. Em caso de revolta de escravos, que não foram poucas, e de quilombos, os seus lideres eram presos e cabia, nesse caso, ao Estado punir de forma cruel em praça pública. Condenados a levar até 300 chibatadas (100 por dia) no pelourinho das vilas, a maioria sucumbia ao suplício.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Até a Lei Áurea, esse foi o dia-a-dia dos três milhões de escravos que morreram nas fazendas do Brasil colonial e imperial. Primeiro nos engenhos de açúcar do Nordeste, seguida da atividade aurífera nas Minas Gerais, e finalmente nas plantações de café do Sudeste do país. Mas também, em atividades secundárias como o algodão, o anil, criação de suínos e bovinos. Alojados nas senzalas, os cativos eram rigorosamente vigiados pelo feitores, desde antes do amanhecer até o por do sol. E uma das estratégias dos senhores, era agrupar escravos de nações diferentes e que eram rivais na África.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Com a aprovação da Lei Eusébio de Queirós, após pressão da Inglaterra que ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, em 1850, o tráfico atlântico cessou. A alternativa para os cafeicultores do Vale do Paraíba, paulista e fluminense, foi a aquisição de escravos do Nordeste, devido à decadência da atividade açucareira. No caso do Vale paulista, como não poderia ter sido diferente, todas as fazendas cafeeiras contavam com a mão-de-obra escrava, algumas em quantidade surpreendente, outras com o mínimo necessário, tanto para a lavoura, como nos grandes sobrados. Além do mais havia também os escravos urbanos, empregados no comércio e atividades diversas. O café propiciou, graças ao trabalho escravo, o surgimento de gigantescas fortunas como a de Joaquim José de Souza Breves, que, segundo alguns autores, chegou a ter 6.000 escravos espalhados nas suas 70 fazendas; Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, Francisco José Teixeira Leite, etc., estes no Vale fluminense. No Vale paulista, os maiores escravistas foram Luciano José de Almeida, da Fazenda Boa Vista em Bananal, com 812 escravos; Manoel de Aguiar Vallim, da Fazenda Resgate, na mesma vila, com 400 escravos aproximadamente; Francisco de Assis e Oliveira Borges, da Fazenda do Carmo, em Guaratinguetá, com 374 escravos em 1871.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Segundo a análise do historiador Alves Motta Sobrinho, no ano de 1884 foram registrados 167.491 escravos na Província de São Paulo, sendo que aproximadamente 45.279 eram das fazendas e vilas do Vale do Paraíba. Na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Cruzeiro, cuja sede localizava-se no Embaú, havia 1.088 escravos espalhados pelas fazendas da região. Uma dessas, era a Fazenda Boa Vista, do Major Manoel de Freitas Novaes, que foi inicialmente propriedade de Fortunata Joaquina do Nascimento. Essa senhora foi casada três vezes: com o Capitão Joaquim Ferreira da Silva (1815-1837), com o Capitão Antônio Dias Telles de Castro (1840-1853), e com o Major Manuel de Freitas Novaes, (1865-1874). O soberbo casarão, atualmente Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes em Cruzeiro, teria sido construído por volta de 1837 e em 1841 é mencionado pela primeira vez, numa petição judicial o nome de “Fazenda Boa Vista”. Anteriormente atuando como tropeiro Manuel de Freitas Novaes, torna-se dono da fazenda ao casar-se com Fortunata, e também dos escravos que ela possuía. Em 1868 recebe do imperador Dom Pedro II, a patente de Major da Guarda Nacional e entra para a política atuando no Partido Conservador, exercendo a função de Vereador e Presidente da Câmara Municipal da Vila do Cruzeiro (Embaú). Em 1873 envolve-se em uma disputa judicial ao negar a liberdade à escrava Rita, solicitada pelo filho liberto desta, Elizeo Telles de Castro, fruto da união com Antônio Dias Telles de Castro, segundo marido de Fortunata, Elizeo quis comprar a alforria da mãe e diante da truculência do Major Novaes teve o apoio de um advogado de Guaratinguetá. Próximo das eleições municipais em que era candidato, o Major Novaes recuou de sua posição e o processo judicial foi encerrado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Após a morte de Fortunata em 1874, o Major Novaes torna-se o senhor absoluto da Fazenda Boa Vista e da escravaria ali existente. O historiador Carlos Borromeu de Andrade afirma que o referido Major substituíra a maior parte dos escravos por trabalhadores livres em uma Colônia Agrícola, de sua propriedade. Ainda que tal colônia tenha existido, os escravos da Boa Vista ainda permaneciam como tais até a Lei Áurea. No ano de 1882, segundo Carlos Borromeu, foi concluído o inventário de Fortunata e dentre os bens do espólio, constavam aproximadamente 35 cativos. Perfazendo o montante na quantia de 22:900$000 (vinte e dois contos e novecentos mil réis), os cativos da Fazenda Boa Vista, pesquisados pelo historiador citado eram: a escrava Generosa, de 62 anos; o escravo Felício, de 50 anos; o escravo Augusto, de 48 anos; o escravo Alexandre, de 54 anos; o escravo Tibúrcio, de 49 anos; o escravo Patrício, de 58 anos; a escrava Madalena, considerada mentecapta, de 22 anos; a escrava Maria Mulata, 42 anos; o escravo Geraldo, 54 anos; o escravo Manoel Mestiço, 57 anos; a escrava Antonia, 8 anos; o crioulo Quirino, 7 anos; a crioula Zulmira, 4 anos; o escravo Justo e a mulher, ambos com 30 anos; o escravo João, 12 anos; a crioula Gertudes, 5 anos; o crioulo Julio, 4 anos; as ingênuas Benedita e Thomázia, ambas com 2 anos; o escravo Gesuíno, 11 anos; o crioulo Joaquim, 8 anos; a crioula Liria de 4 anos; a escrava Maria, 9 anos; o crioulo Jordão, 14 anos; o escravo Marcelino, 40 anos, o escravo, africano, Fernando, 51 anos; o escravo, também africano, Jeremias, 50 anos; escravo Antonio Preguiça, 52 anos; o escravo Silvério Campinho, 57 anos; o ingênuo Vicente, 9 meses; e a escrava Joana, de 50 anos. Com a aprovação da Lei do Ventre Livre em 28 de setembro de 1871, os filhos de escravas, nascidos a partir desta data, seriam considerados libertos. Como suas mães permanecessem cativas, cabia ao senhor os cuidados dos filhos até a idade de 8 anos. De acordo com Kátia de Queirós Mattoso, quando a criança atingisse essa idade, o senhor que é dono da mãe tem duas opções de escolha: “receber do Estado uma indenização de 600.000 réis ou exercer o direito de utilizar os serviços do menor até que complete 21 anos”. A Lei do Ventre Livre beneficiava mais os senhores e estes sempre escolhiam a segunda opção. Na relação dos escravos de Fazenda Boa Vista analisada por Carlos Borromeu de Andrade, os indivíduos com 11 anos para baixo, eram filhos de escravas nascidos após a aprovação da referida Lei; a exceção é Gesuíno, classificado como escravo, o que nos leva a deduzir<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que nascera antes da promulgação da mesma a Lei. Contudo, o Major Novaes optou por duas indenizações do Estado: a da escrava Balbina, no valor de 100$000 e a de Brás, filho de Rufina, no valor de 170$800. Por outro lado, aparecem registrados como escravos, segundo Carlos Borromeu, Antonia, de 8 anos e Maria, de 9 anos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Até o fim do período imperial, o Major Novaes defendeu suas idéias políticas e apesar de alguns estudiosos louvarem sua iniciativa liberal, referente à Colônia Agrícola, ele manteve o pé firme na questão servil. A partir de 1880, a campanha abolicionista começa a fervilhar no país, tendo à frente o Deputado Geral Joaquim Nabuco, sendo por sua vez combatido por diversos grupos que se opunham à libertação dos escravos como o “Centro do Café” e o “Centro da Lavoura”. De acordo com Hilton Federici, durante a Sessão Ordinária da Câmara Municipal, então sediada no Embaú, datada de 18 de outubro de 1880, o Vereador Major Novaes indicou à Casa que felicitasse o Presidente do Conselho de Ministros, José Antônio Saraiva, por ter ido contra o projeto de Joaquim Nabuco, “projeto de um moço sem experiência e patriotismo, que só sonha o seu futuro, sem pensar no presente e futuro da Pátria, tal é a vaidade do seu pensamento”. Refletindo a mentalidade escravocrata a Câmara aprovou por unanimidade a indicação do Major Novaes. A abolição viria oito anos mais tarde com a Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Novamente como vereador o referido Major, durante a Sessão de 15 de junho do mesmo ano pede que a Câmara cobrasse do Ministro da Justiça atos enérgicos para reprimir vagabundos em ruas e praças dos municípios, os quais dificultavam os trabalhos das fazendas. Com a Proclamação da República, começa a fase do declínio do Major Novaes e da Fazenda Boa Vista, devido à atritos surgidos com os novos dirigentes da nação e até a morte em 1898, Manoel de Freitas Novaes manteria sua lealdade à família imperial exilada na Europa. Contraditoriamente a mesma que decretou a fim do sistema escravista, defendido pelo Major. Até a próxima. </span><br />
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span>
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"> Eddy Carlos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><b>Dicas para consulta.</b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">ANDRADE, Carlos Borromeu de. <span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><b>Os Pioneiros da História de Cruzeiro.</b></span> Centro Educacional Objetivo. São José dos Campos, 1994. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">BUENO, Eduardo (Org). <span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><b>História do Brasil.</b></span> Publifolha. São Paulo, 1997.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">CHIAVENATO, Júlio José. <span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><b>As Lutas do Povo Brasileiro.</b></span> Editora Moderna. São Paulo, 1989.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">FEDERICI, Hilton. <b><span style="mso-bidi-font-weight: normal;">Atas da Câmara Municipal de Cruzeiro.</span> </b>Volume I. Tomo A. Edição da Câmara Municipal de Cruzeiro. Cruzeiro, 1978.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">MATTOSO, Kátia de Queiros. <b><span style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ser Escravo no Brasil.</span> </b>Editora Brasiliense. São Paulo, 1982.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">SOBRINHO, Alves Motta. <span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><b>A Civilização do Café.</b></span> Editora Brasiliense. São Paulo, 1978.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">E-mail:</b><span style="color: black;"> eddycarlos6@gmail.com</span></span><br />
<span style="color: black; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><b>Blog:</b> redescobrindoovale.blogspot.com.br</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-71350542598128139522019-07-21T13:04:00.002-07:002020-07-28T07:04:54.843-07:00A Fazenda Boa Vista (Solar dos Novaes).<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB-uSSTADvF7Y27jJX1V33bECtbpL0f2gKXt9tGodrPBpxh5mFUo9_bYerLk8jpfDcNzKxAtoH0ZaVrbrgmJKihlkhOVxqVJgILL2jBXSp3mJSR4eqjfQPFzl2cnMU7jzAWksgVSUHmgMt/s1600/museu_major_novaes_blog_myheritage_home.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="354" data-original-width="640" height="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB-uSSTADvF7Y27jJX1V33bECtbpL0f2gKXt9tGodrPBpxh5mFUo9_bYerLk8jpfDcNzKxAtoH0ZaVrbrgmJKihlkhOVxqVJgILL2jBXSp3mJSR4eqjfQPFzl2cnMU7jzAWksgVSUHmgMt/s640/museu_major_novaes_blog_myheritage_home.jpg" width="640" /></a></div>
Sede da Fazenda Boa Vista e Museu Major Novaes antes da restauração.<br />
FONTE: www.meon.com.br<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Há algum tempo um jornal de grande circulação no Vale do Paraíba, veiculou uma reportagem referente ao Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes, de Cruzeiro. A matéria trazia a informação de que a Prefeitura Municipal iria interditar o prédio devido às péssimas condições em que o mesmo se encontrava. As autoridades municipais pleiteavam verbas, estadual e federal, para iniciar o processo de restauro a fim de salvar um patrimônio histórico da cidade que preserva a memória de Manoel de Freitas Novaes, figura de destaque na vida política de Cruzeiro no passado. Aliás, desde o ano de <st1:metricconverter productid="1985, a" w:st="on">1985, a</st1:metricconverter> cidade aguardava recursos para tal recuperação, sendo que uma parte do frontispício já ruíra, impedindo o acesso a uma ala superior do imóvel que é imenso. Ainda de acordo com o artigo, a Secretaria Municipal de Cultura já havia cancelado por tempo indeterminado as visitas ao Museu, impendido também, dessa forma pesquisas acadêmicas ou simplesmente para adquirir conhecimento. Ao longo desses anos, sucedendo as diversas administrações, o restauro do Museu foi deixado de lado e, ameaçava ruir, devido ao descaso dos órgãos competentes, até que foi restaurado. Mas, vamos analisar um pouco o histórico do solar de Novaes, desde os seus primórdios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> Além de Cruzeiro, quatro localidades possuem fazendas com o nome de “Boa Vista”: Bananal a qual foi propriedade de Luciano José de Almeida, São Luiz do Paraitinga, Redenção da Serra e a de Roseira Velha que pertenceu ao saudoso mestre José Luiz Pasin, que por sua vez herdara do avô materno; atualmente sede do FARO (Faculdade de Roseira). A Fazenda Boa Vista de Cruzeiro foi construída por volta de 1841 por Antônio Dias Telles de Castro, segundo marido de Fortunata Joaquina do Nascimento, por sua vez viúva de Joaquim Ferreira da Silva. Fortunata nasceu no Embaú aos 11 de maio de 1800 e casa-se pela primeira vez em 1815, fica viúva em 1837 e contrai o segundo matrimônio em 1840. Em 1846, ano da criação da Freguesia do Embaú, o Capitão Antônio Dias Telles de Castro adquire terras no local conhecido como Córrego da Onça e em 1850 no Passa Vinte. Essas aquisições aumentaram o patrimônio da Fazenda Boa Vista, além de seu prestígio, pois a área em que se localizava pertencia à Vila de Lorena, igualando-se, dessa forma, à outras construções dignas de ostentação econômica. Em Lorena Antônio Dias Telles de Castro, tinha uma filha, Ana Antônia de Castro, casada com Joaquim Honorato, irmão do Padre Manoel Theotônio de Castro. Ana era filha do Capitão com a primeira esposa, Maria Inocência de Castilho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Todavia, no ano de 1853, Fortunata fica viúva pela segunda vez e, em 1865 casa-se novamente, dessa vez com Manoel de Freitas Novaes, original de Queluz e viúvo de Eusébia Maria Couto de Magalhães. Em 1868, o terceiro marido de Fortunata recebe a patente de Major da Guarda Nacional, comandando o 5º. Esquadrão de Cavalaria, através de nomeação direta do Imperador D. Pedro II. Em 1874 é Fortunata quem falece e o Major Novaes torna-se o proprietário absoluto da Fazenda Boa Vista, quando a mesma está no auge com a plantação e o cultivo do Café “Coroa”. O referido Major contrai também um terceiro matrimônio, com Eva Maria Ferraz, resultando em três filhos: João Batista Novaes, Francisco de Paulo Novaes e Rosalina de Freitas Novaes. No ano de 1877, o Major Novaes elege-se vereador no Embaú, então sede do Município de Cruzeiro, e estreita laços com a Família Imperial. Em 1882, quando da inspeção das obras do túnel da Mantiqueira, o Monarca convida o Major para acompanhá-lo, fato que ficou registrado em uma foto preservada no referido museu. Beneficiando-se, inicialmente com a instalações da ferrovia em suas terras, o Major Novaes, logo em seguida entra em atrito com os dirigentes da “Minas and Rio Railway” e em 1890, o Governo Republicano de São Paulo desapropria parte da Fazenda, onde atualmente localiza-se a cidade de Cruzeiro. Em 1892, devido a atritos políticos com Manoel de Freitas Novaes, o Presidente de São Paulo, Cerqueira César, ordena a ocupação da Fazenda Boa Vista pela Força Pública (a Polícia Militar da época) e no ano de 1898 o referido Major falece, sendo sepultado nos terrenos própria fazenda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Segundo a análise de Joaquim de Paula Guimarães, a área ocupada pela Fazenda Boa Vista, estendia desde o Rio Paraíba até a Serra da Mantiqueira. Afirma também Guimarães, que a sede era um centro de atividade política e econômica, onde realizavam-se diversas festas organizadas pelo Major Novaes. Antes de falecer, Celestina Novaes Antunes, conhecida como Dona Tita, neta do Major Novaes, doou ao Estado todo o acervo da família, incluindo a sede da fazenda e no ano de 1969, o Governador de São Paulo Abreu Sodré decretou o tombamento da mesma, criando o Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes. Nos anos da década de 1990 o Museu foi municipalizado, mas o descaso, como já mencionado, continuou.</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> A preservação do Museu de Cruzeiro é importantíssima, pois possui um riquíssimo acervo documental composto de inventários, processos criminais, Atas da Câmara, acórdãos judiciais de cidades como Silveiras, Áreas, Bananal, Queluz, Cachoeira Paulista, Embaú (quando era sede municipal), etc. O período compreende os anos finais do século 18 até a década de 1960 aproximadamente. O prédio em questão contém também móveis, utensílios e documentos pessoais do Major Novaes como panfletos políticos, recibos de compra e venda de escravos, etc. </span><br />
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> A partir do ano de 2010 o Museu foi fechado para as obras de restauro, que ora prosseguiam em ritmo lento, ora eram interrompidas. Todo o mobiliário da Família Novaes, além do riquíssimo acervo histórico-documental foi "acomodado", em outro prédio histórico de Cruzeiro, o Solar dos Rossetti. Infelizmente vários ítens do referido acervo simplesmente desapareceram. Até mesmo duas monografias sobre a História de Cruzeiro, por nós ofertadas ao Museu em 2002 e 2004, respectivamente, "misteriosamente" foram parar em Cachoeira Paulista, no Museu Costa Jr. Atualmente integram o acervo da ACLA (Academia cruzeirense de Letras e Artes), fundada em 2016 por Eduardo César Werneck, ilustre incentivador da Cultura em Cruzeiro. Finalmente, entre 2015 e 2016, o Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes foi reinaugurado. São realizadas atividades culturais como peças teatrais, saraus, e feiras literárias. Mas, lamentavelmente o acervo documental, além da mobília da Fazenda Boa Vista continuam no local onde foram alojados. Vamos aguardar seu retorno...; quem sabe um dia qualquer. Um grande abraço e até breve. </span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: center;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">Dicas para consulta.</span></b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">ANDRADE, Carlos Borromeu de. <b>Os Pioneiros da História de Cruzeiro</b>. Cadernos Culturais do Vale do Paraíba. Fundação Nacional do Tropeirismo. CERED. São José dos Campos, 1994.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">GUIMARÃES, Joaquim de Paula. <b>Síntese da História de Cruzeiro</b>. Edição da Prefeitura Municipal de Cruzeiro, 1951.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">GUSSEN, Pedro. <b>História de Cruzeiro. Adenda II</b>. Cruzeiro, 2000.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">SILVA, João Ramos da. <b>Cruzeiro, Binômio: Educação e Indústria</b>. Oficina Gráfica “Prof. João Silveira”. Cruzeiro, 1970.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. <b>O Mandonismo Político em Cruzeiro. Atuação</b> <b>Política Major Novaes (1873-1898)</b><b>.</b> Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação; Especialização em História do Brasil Republicano pela UNITAU. Edição mimeografada. Taubaté, 2004. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">E-mail:</span></b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">eddycarlos6@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><b>Blog: </b>redescobrindoovale.blogspot.com.br</span></div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2149154719434902571.post-91377716917143536212019-07-21T12:24:00.004-07:002020-07-28T07:05:18.464-07:00A Vila Novaes.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbjk3fHnt6wJJbOsa0C8wb1PGO4hyacDF4jAMcp4Xax1TlfPap0h7mmtuOfSt8LFBOf-9zra6yTvs9PHmtgOgCcdiem3TYtY1I8q5M6uJNiseiK1OomwKfaKIaexEqPImxDW5jTir0QcZK/s1600/Boa+Vista+1..jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="283" data-original-width="425" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbjk3fHnt6wJJbOsa0C8wb1PGO4hyacDF4jAMcp4Xax1TlfPap0h7mmtuOfSt8LFBOf-9zra6yTvs9PHmtgOgCcdiem3TYtY1I8q5M6uJNiseiK1OomwKfaKIaexEqPImxDW5jTir0QcZK/s640/Boa+Vista+1..jpg" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; line-height: 24px; text-align: justify;">Fotografia da Fazenda Boa Vista, em época desconhecida (extraída da internet); local de discussão política, que resultou na criação da Vila Novaes.</span><br />
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; line-height: 24px; text-align: justify;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"> <span style="font-size: medium;">A primeira impressão que o leitor terá ao deparar-se com o titulo acima é a de que se trata do bairro do mesmo nome da cidade de Cruzeiro, criado e batizado como tal em homenagem à memória do Major Novaes. Mas voltemos no tempo e analisemos do ponto de vista histórico para averiguarmos de que se refere a outro contexto. De acordo com o Prof. Hilton Federici, ilustre historiador crítico de Cruzeiro, o termo “Vila”, durante os períodos colonial e imperial significava o mesmo que município, pois era o sistema que Portugal criava no Reino e transplantou para a Colônia. Com a independência, mantiveram-se as mesmas estruturas político-administrativas e as suas denominações. O processo de emancipação era gradativo: ao evoluir-se um determinado arraial ou povoado, o mesmo era elevado à Freguesia (equivalente ao atual Distrito) sancionada pelo poder político e pela igreja; em seguida, se confirmada a importância política e econômica era criada a Vila ou município com a instalação da casa da Câmara e cadeia e do pelourinho, na praça central. O pelourinho era símbolo do poder civil e político e onde eram castigados os escravos quando cometessem crimes contra o Estado, chefiando revoltas e quilombos. Algumas localidades, porém, foram elevadas à condição de Vila sem terem sido freguesias alternando a regra geral da evolução política. É o caso, por exemplo, de São José dos Campos, que de um aldeamento indígena jesuítico, tornou-se município em 27 de julho de 1767 com o nome de Vila de São José do Paraíba, desmembrando-se da Vila de Jacareí.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-size: medium;"> Até os últimos momentos do Império somente as Câmaras Municipais exerceram o poder nas Vilas, uma vez que não havia a figura do Prefeito e o Presidente da Câmara era a maior autoridade no município atrás do Delegado de Policia, nomeado pela Província. Com o advento da República, surgem os Conselhos de Intendência em substituição as câmaras, que haviam sido dissolvidas pelas novas autoridades. Com eleições realizadas voltam as câmaras, desta vez, porém, somente para legislar, cabendo ao Conselho de Intendência o papel de agente executivo e seu presidente passa a configurar o que hoje conhecemos por Prefeito. Entrementes, no mesmo dia <st1:personname productid="em que Deodoro" w:st="on">em que Deodoro</st1:personname> depõe a monarquia, os republicanos assumem o governo da Província de São Paulo, instalando um triunvirato composto por Prudente de Moraes Barros, Francisco Rangel Pestana e o Major Joaquim de Souza Mursa. De caráter provisório, o triunvirato cede o poder a Prudente de Moraes em 14 de dezembro de 1889, sendo empossado como Presidente de São Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-size: medium;"> Consequentemente, a Câmara Municipal de Cruzeiro, então sediada no Embaú, durante a sessão extraordinária de 06 de fevereiro de 1890, recebe oficio comunicando a sua dissolução e a posse do Conselho de Intendência. Tal conselho era composto por Antonio José da Costa Júnior, Major Chrispim Bastos, Manoel José da Silva Cunha, Comendador Joaquim Aurélio Ferreira e Capitão Joaquim Ribeiro Gomes. A deposição da família imperial e o seu exílio indignaram muitos monarquistas, entre eles o Major da Guarda Nacional, Manoel de Freitas Novaes e com a dissolução da câmara passou a hostilizar as autoridades republicanas. Paralelamente, o Major Novaes estava envolvido em atritos com os dirigentes da “Minas and Rio”, a ferrovia que ligava Cruzeiro ao Sul de Minas, desde 1884 travando uma batalha judicial em torno dos terrenos utilizados pela companhia inglesa. Como se não bastasse, Prudente de Moraes, através da Resolução nº. 44 de 12 de abril de 1890, decretava a desapropriação de tais terrenos, correspondendo a <st1:metricconverter productid="36 hectares" w:st="on">36 hectares</st1:metricconverter> e 56 ares e dessa parte deveria ser descontada a que pertenceria às ferrovias “Central do Brasil” e “Minas and Rio”. Ora, nessa área desapropriada já havia um pequeno aglomerado, o povoado da Estação (origem da atual cidade de Cruzeiro) e o decreto de Prudente foi considerado uma vitória para os moradores que seriam vitimas do Major Novaes e incitados à emancipação pelo Major Chrispim Bastos e outros. Mesmo sofrendo um duro golpe, o Major Novaes tentaria um contra-golpe, aproveitando-se da turbulência política que viria com o fechamento do Congresso por Deodoro da Fonseca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;"> A nomeação de Prudente de Moraes pelo P.R.P. (Partido Republicano Paulista) contrariou Deodoro que indicara Bernardino de Campos. No entanto, Prudente após menos de um ano renuncia para assumir a vaga na Assembléia Constituinte no Rio de Janeiro, sendo substituído por Jorge Tibiriçá. Este fora indicado por Francisco Glicério e Campos Sales, ministro de Deodoro que, entretanto, afasta por decreto, Tibiriçá em 6 de março de 1891, nomeando no dia seguinte Américo Brasiliense como Presidente de São Paulo. O clima entre Deodoro e os perrepistas torna-se tenso aumentando o antagonismo entre as partes. As ações de Brasiliense propiciam a “virada” do jogo político pelo Major Novaes, quando em 30 de março de 1891, é criado o Distrito de Paz da Estação do Cruzeiro, pertencendo, porém, ao Embaú, sede do município. No mesmo dia toma posse o novo Conselho de Intendência, fazendo parte o Major Novaes, que volta à cena política, e como Presidente do Conselho, o Padre Saint-Clair Monteiro de Barros, Joaquim do Prado e João Alberto da Silva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;"> Todavia, o Major Novaes estava preparando uma cartada decisiva na sua carreira política, auxiliado por Américo Brasiliense. O então Presidente de São Paulo, através do decreto nº. 190 autoriza a criação da Vila Novaes, desmembrando o território do Embaú e dividindo em dois municípios a Vila do Cruzeiro, no dia 3 de junho de 1891. Contraditoriamente, o Major Novaes consegue justamente através de um político republicano a concretização dos seus objetivos. Nesse cenário ocorre a eleição para deputado da Assembléia Constituinte do Estado (atualmente Assembléia Legislativa) sendo escolhido Antônio Celestino dos Santos, genro do Major Novaes. Américo Brasiliense nomeia também o Conselho de Intendência da Vila Novaes, que assume suas funções no dia 30 de junho de 1891. Presidido pelo próprio Manoel de Freitas Novaes, o Conselho era composto por Joaquim do Prado, João Alberto da Silva, José Joaquim de Carvalho, João da Cunha Militão Lisboa, José Adriano Cardoso e Antônio Narciso de Mendonça. A Vila Novaes, contudo tem duração efêmera, pouco mais de um ano, e a leitura do livro de Atas do Conselho de Intendência revela que a mesma não tinha condições financeiras para se manter, pois sempre solicitava socorro ao Estado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> Entretanto, novas turbulências no cenário político nacional repercutem na Vila Novaes que deixa de existir em 10 de agosto de 1892. Analisemos os fatos. No dia 3 de novembro de 1891, Deodoro da Fonseca, diante de pressões políticas, fecha o Congresso Nacional e a exceção do Presidente do Pará, Lauro Sodré, todos os presidentes dos Estados o apoiam, inclusive Américo Brasiliense. O golpe dura 20 dias e Deodoro renuncia a fim de evitar uma guerra civil. Assume o Governo Federal, o vice Floriano Peixoto que inicia as deposições nos Estados, dos políticos que apoiaram Deodoro. Dessa forma, após enfrentar um movimento armado liderado por Campos Sales, Júlio de Mesquita e Bernardino de Campos, Américo Brasiliense é deposto e em seu lugar assume José Alves de Cerqueira César, que permanece até agosto de 1892,</span><span style="color: red; font-family: "calibri" , "sans-serif";"> </span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">quando assume o governo legal e constitucional de Bernardino de Campos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;"> Porém, é justamente neste curto espaço de tempo com Cerqueira César no poder, que o Major Novaes levaria um novo golpe. Indispondo-se novamente com as autoridades republicanas, o Major chega a presenciar a invasão e ocupação da Fazenda Boa Vista pela Força Pública para cumprir uma ordem de busca e apreensão. Desfazendo todos os atos de seu antecessor, Cerqueira César, através da Lei nº. 45, extingue a Vila Novaes, cujo terreno volta a pertencer ao Embaú, reunificando assim o município. A extinção da Vila Novaes “sepulta” praticamente a trajetória política do Major Novaes que, passa a lutar até a morte, em 1898, para a transferência de sede do município, no Embaú, para o Povoado da Estação, o que somente iria ocorrer em 1901. Mais tarde, no entanto, a memória do Major Novaes e a de seus familiares, passam a ser preservadas e cultuadas em Cruzeiro e, dentre outras homenagens, batizam um bairro de Cruzeiro com o nome de Vila Novaes, esta é a que conhecemos. Um grande abraço e até a próxima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: center;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;"> Eddy Carlos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;">Para saber mais.</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;">ANDRADE Carlos Borromeu de. <b>Os Pioneiros da História de Cruzeiro.</b> Caderno Cultural do Vale do Paraíba. CERED. São José dos Campos, 1994.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;">FERERICI, Hilton. <b>História de Cruzeiro. (Volume II). Da instalação do Município até a</b> <b>transferência de sua sede. (1873-1901). </b>Publicações da Academia Campinense de Letras. Campinas, 1978.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;">CARONE Edgard. <b>A República Velha. Evolução Política.</b> Difel. São Paulo, 1971.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: medium;">SOUZA VICENTE, Eddy Carlos. <b>O Mandonismo Político em Cruzeiro. Atuação Política do Major Novaes (1873-1898).</b> Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação; Especialização em História do brasil Republicano pela UNITAU. Edição mimeografada. Taubaté, 2004.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"><b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">E-mail:</span></b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">eddycarlos6@gmail.com</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"><b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">Blog:</span></b><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"> redescobrindoovale.blogspot.com.br </span><span style="color: red; font-family: "calibri" , "sans-serif";"> </span></span><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif";"><span style="font-size: medium;"> </span> </span></div>
Prof. Eddy Carlos.http://www.blogger.com/profile/01382913451341700723noreply@blogger.com0